FUVEST
2012 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Texto
para as questões de 34 a 36
Todas as variedades linguísticas são
estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades
de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura
social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta
das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e
estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades
de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma,
como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua
função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável
força contrária à variação.
Celso
Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.
34 - Depreende-se do
texto que uma determinada língua é um
a)
conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor
social e passa a ser considerada exemplar.
b)
sistema de signos estruturado segundo as normas instituídas pelo grupo de maior
prestígio social.
c)
conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação é vedada pela norma
culta.
d)
complexo de sistemas e subsistemas cujo funcionamento é prejudicado pela
heterogeneidade social.
e)
conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais algumas são dotadas de
normas e outras não o são.
35 - De acordo com o
texto, em relação às demais variedades do idioma, a língua padrão se comporta
de modo
a)
inovador. b) restritivo. c) transigente. d) neutro. e) aleatório.
36 - Considere as
seguintes afirmações sobre os quatro períodos que compõem o texto:
I.
Tendo em vista as relações de sentido constituídas no texto, o primeiro período
estabelece uma causa cuja consequência aparece no segundo período.
II.
O uso de orações subordinadas, tal como ocorre no terceiro período, é muito
comum em textos dissertativos.
III.
Por formarem um parágrafo tipicamente dissertativo, os quatro períodos se
organizam em uma sequência constituída de introdução, desenvolvimento e conclusão.
IV.
O procedimento argumentativo do texto é dedutivo, isto é, vai do geral para o
particular.
Está
correto apenas o que se afirma em
a)
I e II. b) I e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) II, III e IV.
Texto para as
questões 37 e 38
Leia o seguinte
trecho de uma entrevista concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal,
Joaquim Barbosa:
Entrevistador:
- O protagonismo do STF dos últimos tempos tem usurpado as funções do
Congresso?
Entrevistado:
- Temos uma Constituição muito boa, mas excessivamente detalhista, com um
número imenso de dispositivos e, por isso, suscetível a fomentar interpretações
e toda sorte de litígios. Também temos um sistema de jurisdição constitucional,
talvez único no mundo, com um rol enorme de agentes e instituições dotadas da
prerrogativa ou de competência para trazer questões ao Supremo. É um leque
considerável de interesses, de visões, que acaba causando a intervenção do STF
nas mais diversas questões, nas mais diferentes áreas, inclusive dando margem a
esse tipo de acusação. Nossas decisões não deveriam passar de duzentas,
trezentas por ano. Hoje, são analisados cinquenta mil, sessenta mil processos.
É uma insanidade.
Veja,
15/06/2011.
37 - Tendo em vista
o contexto, a palavra do texto que sintetiza o teor da acusação referida na
entrevista é
a)
“usurpado”. b) “detalhista”. c) “fomentar”. d) “litígios”. e) “insanidade”.
38 - No trecho
“dotadas da prerrogativa ou de competência”, a presença de artigo antes do
primeiro substantivo e a sua ausência antes do segundo fazem que o sentido de
cada um desses substantivos seja, respectivamente,
a)
figurado e próprio. b) abstrato e concreto. c) específico e genérico.
d)
técnico e comum. e) lato e estrito.
39 - Como não
expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e
rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa
como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de
realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação
intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações
aplicam-se ao modo como, na obra
a)
Auto da barca do inferno, são representados os judeus, marginalizados na
sociedade portuguesa medieval.
b)
Memórias de um sargento de milícias, são figuradas Luisinha e as crias da casa
de D. Maria.
c)
Dom Casmurro, são figurados os escravos da casa de D. Glória.
d)
A cidade e as serras, são representados os camponeses de Tormes.
e)
Vidas secas, são figurados Fabiano, sinha Vitória e os meninos.
Texto para as
questões de 40 a 46
Passaram-se semanas. Jerônimo tomava
agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e
tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”.
Uma transformação, lenta e profunda,
operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe
os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia
afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza
do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam;
esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades
novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais
amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e
volvia-se preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor,
muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio
entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram
reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo
abrasileirou-se. (...)
E o curioso é que, quanto mais ia ele
caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se
apuravam, posto que em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido
menos grosseiro para a música, compreendia até as intenções poéticas dos
sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes; seus olhos, dantes
só voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de
um
marujo, que se habituaram aos largos horizontes de céu e mar, já se não
revoltavam com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se
amplamente defronte dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das
cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que
o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes
de cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos.
Aluísio
Azevedo, O cortiço.
40 - Considere as
seguintes afirmações, relacionadas ao excerto de O cortiço:
I.
O sol, que, no texto, se associa fortemente ao Brasil e à “pátria”, é um
símbolo que percorre o livro como manifestação da natureza tropical e, em
certas passagens, representa o princípio masculino da fertilidade.
II.
A visão do Brasil expressa no texto manifesta a ambiguidade do intelectual
brasileiro da época em que a obra foi escrita, o qual acatava e rejeitava a sua
terra, dela se orgulhava e envergonhava, nela confiava e dela desesperava.
III.
O narrador aceita a visão exótico-romântica de uma natureza (brasileira)
poderosa e transformadora, reinterpretando-a em chave naturalista.
Aplica-se
ao texto o que se afirma em
a)
I, somente. b) II, somente. c) II e III, somente. d) I e III, somente. e) I, II
e III.
41 - O papel
desempenhado pela personagem Ritinha (Rita Baiana), no processo sintetizado no
excerto, assemelha-se ao da personagem
a)
Iracema, do romance homônimo, na medida em que ambas simbolizam o poder de
sedução da terra brasileira sobre o português que aqui chegava.
b)
Vidinha, de Memórias de um sargento de milícias, tendo em vista que uma e outra
constituem fatores decisivos para o desencaminhamento de personagens masculinas
anteriormente bem orientadas.
c)
Capitu, de Dom Casmurro, a qual, como a baiana, também lança mão de seus
encantos femininos para obter ascensão social.
d)
Joaninha, de A cidade e as serras, pois ambas representam a simplicidade natural
das mulheres do campo, em oposição à beleza artificiosa das mulheres das
cidades.
e)
Dora, de Capitães da areia, na medida em que ambas são responsáveis diretas
pela regeneração física e moral de seus respectivos pares amorosos.
42 - Ao comparar
Jerônimo com uma crisálida, o narrador alude, em linguagem literária, a
fenômenos do desenvolvimento da borboleta, por meio das seguintes expressões do
texto:
I.
“transformação, lenta e profunda” (L. 5);
II.
“reviscerando” (L. 6);
III.
“alando” (L. 7);
IV.
“trabalho misterioso e surdo” (L. 7).
Tais
fenômenos estão corretamente indicados em
a)
I, apenas. b) I e II, apenas. c) III e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e)
I, II, III e IV.
43 - Os costumes a
que adere Jerônimo em sua transformação, relatada no excerto, têm como referência,
na época em que se passa a história, o modo de vida
a)
dos degredados portugueses enviados ao Brasil sem a companhia da família.
b)
dos escravos domésticos, na região urbana da Corte, durante o Segundo Reinado.
c)
das elites produtoras de café, nas fazendas opulentas do Vale do Paraíba
fluminense.
d)
dos homens livres pobres, particularmente em região urbana.
e)
dos negros quilombolas, homiziados em refúgios isolados e anárquicos.
44 - Um traço
cultural que decorre da presença da escravidão no Brasil e que está implícito
nas considerações do narrador do excerto é a
a)
desvalorização da mestiçagem brasileira.
b)
promoção da música a emblema da nação.
c)
desconsideração do valor do trabalho.
d)
crença na existência de um caráter nacional brasileiro.
e)
tendência ao antilusitanismo.
45 - No trecho “dos
maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de
espaço a espaço, surge um monarca gigante” (L. 35 a 37), o narrador tem como
referência
a)
a Chapada dos Guimarães, anteriormente coberta por vegetação de cerrado.
b)
os desfiladeiros de Itaimbezinho, outrora revestidos por exuberante floresta
tropical.
c)
a Chapada Diamantina, então coberta por florestas de araucárias.
d)
a Serra do Mar, que abrigava originalmente a densa Mata Atlântica.
e)
a Serra da Borborema, caracterizada, no passado, pela vegetação da caatinga.
46 - Destes
comentários sobre os trechos sublinhados, o único que está correto é:
a)
“tragava dois dedos de parati” (L. 3): expressão típica da variedade
linguística predominante no discurso do narrador.
b)
“‘pra cortar a friagem’” (L. 3 e 4): essa expressão está entre aspas, no texto,
para indicar que se trata do uso do discurso indireto livre.
c)
“patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos” (L. 10 e 11): assume o sentido de
“registravam oficialmente”.
d)
“posto que em detrimento das suas forças físicas” (L. 26 e 27): equivale,
quanto ao sentido, a “desde que em favor”.
e)
“tornava-se (...) imprevidente” (L. 13 e 14) e “resignando-se (...) às
imposições do sol” (L. 16 e 17): trata-se do mesmo prefixo, apresentando,
portanto, idêntico sentido.
Texto
para as questões de 47 a 49
Não era e não podia o pequeno reino
lusitano ser uma potência colonizadora à feição da antiga Grécia. O surto
marítimo que enche sua história do século XV não resultara do extravasamento de
nenhum excesso de população, mas fora apenas provocado por uma burguesia
comercial sedenta de lucros, e que não encontrava no reduzido território pátrio
satisfação à sua desmedida ambição. A ascensão do fundador da Casa de Avis ao
trono português trouxe esta burguesia para um primeiro plano. Fora ela quem,
para se livrar da ameaça castelhana e do poder da nobreza, representado pela
Rainha Leonor Teles, cingira o Mestre de Avis com a coroa lusitana. Era ela,
portanto, quem devia merecer do novo rei o melhor das suas atenções. Esgotadas
as possibilidades do reino com as pródigas dádivas reais, restou apenas o
recurso da expansão externa para contentar os insaciáveis companheiros de D.
João I.
Caio
Prado Júnior, Evolução política do Brasil. Adaptado.
47 - Infere-se da
leitura desse texto que Portugal não foi uma potência colonizadora como a
antiga Grécia, porque seu
a)
peso político-econômico, apesar de grande para o século, não era comparável ao
dela.
b)
interesse, diferentemente do dela, não era conquistar o mundo.
c)
aparato bélico, embora considerável para a época, não era comparável ao dos
gregos.
d)
objetivo não era povoar novas terras, mas comercializar produtos nelas obtidos.
e)
projeto principal era consolidar o próprio reino, libertando-se do domínio
espanhol.
48 - O pronome
"ela" da frase "Era ela, portanto, quem devia merecer do novo
rei o melhor das suas atenções", refere-se a
a)
“desmedida ambição”. b)
“Casa de Avis”. c)
“esta burguesia”.
d)
“ameaça castelhana”. e)
“Rainha Leonor Teles”.
49 - No contexto, o
verbo “enche” indica
a)
habitualidade no passado. b)
simultaneidade em relação ao termo “ascensão”.
c)
ideia de atemporalidade. d)
presente histórico.
e)
anterioridade temporal em relação a “reino lusitano”.
50 - Tendo em vista
o conjunto de proposições e teses desenvolvidas em A cidade e as serras,
pode-se concluir que é coerente com o universo ideológico dessa obra o que se
afirma em:
a)
A personalidade não se desenvolve pelo simples acúmulo passivo de experiências,
desprovido de empenho radical, nem, tampouco, pela simples erudição ou pelo
privilégio.
b)
A atividade intelectual do indivíduo deve-se fazer acompanhar do labor
produtivo do trabalho braçal, sem o que o homem se infelicita e desviriliza.
c)
O sentimento de integração a um mundo finalmente reconciliado, o sujeito só o
alcança pela experiência avassaladora da paixão amorosa, vivida como devoção
irracional e absoluta a outro ser.
d)
Elites nacionais autênticas são as que adotam, como norma de sua própria
conduta, os usos e costumes do país profundo, constituído pelas populações
pobres e distantes dos centros urbanos.
e)
Uma vida adulta equilibrada e bem desenvolvida em todos os seus aspectos
implica a participação do indivíduo na política partidária, nas atividades religiosas
e na produção literária.
Texto para as
questões 51 e 52
RECEITA DE MULHER
As
muito feias que me perdoem
Mas
beleza é fundamental. É preciso
Que
haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer
coisa de dança, qualquer coisa de
[haute
couture*
Em
tudo isso (ou então
Que
a mulher se socialize elegantemente em azul,
[como
na República Popular Chinesa).
Não
há meio-termo possível. É preciso
Que
tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se
a impressão de ver uma garça apenas
[pousada
e que um rosto
Adquira
de vez em quando essa cor só encontrável no
[terceiro
minuto da aurora.
Vinicius
de Moraes.
*
“haute couture”: alta costura.
51 - No conhecido
poema “Receita de mulher”, de que se reproduziu aqui um excerto, o tratamento
dado ao tema da beleza feminina manifesta a
a)
oscilação do poeta entre a angústia do pecador (tendo em vista sua educação
jesuítica) e o impudor do libertino.
b)
conjugação, na sensibilidade do poeta, de interesse sexual e encantamento
estético, expresso de modo provocador e bem-humorado.
c)
idealização da mulher a que chega o poeta quando, na velhice, arrefeceu-lhe o
desejo sexual.
d)
crítica ao caráter frívolo que, por associar-se ao consumo, o amor assume na
contemporaneidade.
e)
síntese, pela via do erotismo, das tendências europeizantes e nacionalistas do
autor.
52 - Tendo em vista o
contexto, o modo verbal predominante no excerto e a razão desse uso são:
a)
indicativo; expressar verdades universais.
b)
imperativo; traduzir ordens ou exortações.
c)
subjuntivo; indicar vontade ou desejo.
d)
indicativo; relacionar ações habituais.
e)
subjuntivo; sugerir condições hipotéticas.
GABARITO:
34
– A 35 – B 36 – E
37 – A 38 – C 39 – E
40 – E 41 – A 42 – E
43 – D
44 – C 45
– D 46 – B 47 – D
48 – C 49 – D 50 – A
51 – B 52 – CLeia também:
FUVEST 2016 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2015 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
FUVEST 2011 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
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