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sexta-feira, 21 de abril de 2017

FUVEST 2012 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

FUVEST 2012 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

ps. Foi mantida a numeração original da prova.

Texto para as questões de 34 a 36

Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação.

Celso Cunha. Nova gramática do português contemporâneo. Adaptado.

34 - Depreende-se do texto que uma determinada língua é um

a) conjunto de variedades linguísticas, dentre as quais uma alcança maior valor social e passa a ser considerada exemplar.
b) sistema de signos estruturado segundo as normas instituídas pelo grupo de maior prestígio social.
c) conjunto de variedades linguísticas cuja proliferação é vedada pela norma culta.
d) complexo de sistemas e subsistemas cujo funcionamento é prejudicado pela heterogeneidade social.
e) conjunto de modalidades linguísticas, dentre as quais algumas são dotadas de normas e outras não o são.

35 - De acordo com o texto, em relação às demais variedades do idioma, a língua padrão se comporta de modo

a) inovador. b) restritivo. c) transigente. d) neutro. e) aleatório.

36 - Considere as seguintes afirmações sobre os quatro períodos que compõem o texto:

I. Tendo em vista as relações de sentido constituídas no texto, o primeiro período estabelece uma causa cuja consequência aparece no segundo período.
II. O uso de orações subordinadas, tal como ocorre no terceiro período, é muito comum em textos dissertativos.
III. Por formarem um parágrafo tipicamente dissertativo, os quatro períodos se organizam em uma sequência constituída de introdução, desenvolvimento e conclusão.
IV. O procedimento argumentativo do texto é dedutivo, isto é, vai do geral para o particular.

Está correto apenas o que se afirma em

a) I e II. b) I e III. c) III e IV. d) I, II e IV. e) II, III e IV.

Texto para as questões 37 e 38

Leia o seguinte trecho de uma entrevista concedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa:

Entrevistador: - O protagonismo do STF dos últimos tempos tem usurpado as funções do Congresso?
Entrevistado: - Temos uma Constituição muito boa, mas excessivamente detalhista, com um número imenso de dispositivos e, por isso, suscetível a fomentar interpretações e toda sorte de litígios. Também temos um sistema de jurisdição constitucional, talvez único no mundo, com um rol enorme de agentes e instituições dotadas da prerrogativa ou de competência para trazer questões ao Supremo. É um leque considerável de interesses, de visões, que acaba causando a intervenção do STF nas mais diversas questões, nas mais diferentes áreas, inclusive dando margem a esse tipo de acusação. Nossas decisões não deveriam passar de duzentas, trezentas por ano. Hoje, são analisados cinquenta mil, sessenta mil processos. É uma insanidade.

Veja, 15/06/2011.

37 - Tendo em vista o contexto, a palavra do texto que sintetiza o teor da acusação referida na entrevista é

a) “usurpado”. b) “detalhista”. c) “fomentar”. d) “litígios”. e) “insanidade”.

38 - No trecho “dotadas da prerrogativa ou de competência”, a presença de artigo antes do primeiro substantivo e a sua ausência antes do segundo fazem que o sentido de cada um desses substantivos seja, respectivamente,

a) figurado e próprio. b) abstrato e concreto. c) específico e genérico.
d) técnico e comum.  e) lato e estrito.

39 - Como não expressa visão populista nem elitista, o livro não idealiza os pobres e rústicos, isto é, não oculta o dano causado pela privação, nem os representa como seres desprovidos de vida interior; ao contrário, o livro trata de realçar, na mente dos desvalidos, o enlace estreito e dramático de limitação intelectual e esforço reflexivo.
Essas afirmações aplicam-se ao modo como, na obra

a) Auto da barca do inferno, são representados os judeus, marginalizados na sociedade portuguesa medieval.
b) Memórias de um sargento de milícias, são figuradas Luisinha e as crias da casa de D. Maria.
c) Dom Casmurro, são figurados os escravos da casa de D. Glória.
d) A cidade e as serras, são representados os camponeses de Tormes.
e) Vidas secas, são figurados Fabiano, sinha Vitória e os meninos.

Texto para as questões de 40 a 46

Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati “pra cortar a friagem”.
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição, para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso, resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. (...)
E o curioso é que, quanto mais ia ele caindo nos usos e costumes brasileiros, tanto mais os seus sentidos se apuravam, posto que em detrimento das suas forças físicas. Tinha agora o ouvido menos grosseiro para a música, compreendia até as intenções poéticas dos sertanejos, quando cantam à viola os seus amores infelizes; seus olhos, dantes só voltados para a esperança de tornar à terra, agora, como os olhos de
um marujo, que se habituaram aos largos horizontes de céu e mar, já se não revoltavam com a turbulenta luz, selvagem e alegre, do Brasil, e abriam-se amplamente defronte dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante, que o sol veste de ouro e ricas pedrarias refulgentes e as nuvens toucam de alvos turbantes de cambraia, num luxo oriental de arábicos príncipes voluptuosos.

Aluísio Azevedo, O cortiço.

40 - Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao excerto de O cortiço:

I. O sol, que, no texto, se associa fortemente ao Brasil e à “pátria”, é um símbolo que percorre o livro como manifestação da natureza tropical e, em certas passagens, representa o princípio masculino da fertilidade.
II. A visão do Brasil expressa no texto manifesta a ambiguidade do intelectual brasileiro da época em que a obra foi escrita, o qual acatava e rejeitava a sua terra, dela se orgulhava e envergonhava, nela confiava e dela desesperava.
III. O narrador aceita a visão exótico-romântica de uma natureza (brasileira) poderosa e transformadora, reinterpretando-a em chave naturalista.
Aplica-se ao texto o que se afirma em

a) I, somente. b) II, somente. c) II e III, somente. d) I e III, somente. e) I, II e III.

41 - O papel desempenhado pela personagem Ritinha (Rita Baiana), no processo sintetizado no excerto, assemelha-se ao da personagem

a) Iracema, do romance homônimo, na medida em que ambas simbolizam o poder de sedução da terra brasileira sobre o português que aqui chegava.
b) Vidinha, de Memórias de um sargento de milícias, tendo em vista que uma e outra constituem fatores decisivos para o desencaminhamento de personagens masculinas anteriormente bem orientadas.
c) Capitu, de Dom Casmurro, a qual, como a baiana, também lança mão de seus encantos femininos para obter ascensão social.
d) Joaninha, de A cidade e as serras, pois ambas representam a simplicidade natural das mulheres do campo, em oposição à beleza artificiosa das mulheres das cidades.
e) Dora, de Capitães da areia, na medida em que ambas são responsáveis diretas pela regeneração física e moral de seus respectivos pares amorosos.

42 - Ao comparar Jerônimo com uma crisálida, o narrador alude, em linguagem literária, a fenômenos do desenvolvimento da borboleta, por meio das seguintes expressões do texto:

I. “transformação, lenta e profunda” (L. 5);
II. “reviscerando” (L. 6);
III. “alando” (L. 7);
IV. “trabalho misterioso e surdo” (L. 7).
Tais fenômenos estão corretamente indicados em

a) I, apenas. b) I e II, apenas. c) III e IV, apenas. d) II, III e IV, apenas. e) I, II, III e IV.

43 - Os costumes a que adere Jerônimo em sua transformação, relatada no excerto, têm como referência, na época em que se passa a história, o modo de vida

a) dos degredados portugueses enviados ao Brasil sem a companhia da família.
b) dos escravos domésticos, na região urbana da Corte, durante o Segundo Reinado.
c) das elites produtoras de café, nas fazendas opulentas do Vale do Paraíba fluminense.
d) dos homens livres pobres, particularmente em região urbana.
e) dos negros quilombolas, homiziados em refúgios isolados e anárquicos.

44 - Um traço cultural que decorre da presença da escravidão no Brasil e que está implícito nas considerações do narrador do excerto é a

a) desvalorização da mestiçagem brasileira.
b) promoção da música a emblema da nação.
c) desconsideração do valor do trabalho.
d) crença na existência de um caráter nacional brasileiro.
e) tendência ao antilusitanismo.

45 - No trecho “dos maravilhosos despenhadeiros ilimitados e das cordilheiras sem fim, donde, de espaço a espaço, surge um monarca gigante” (L. 35 a 37), o narrador tem como referência

a) a Chapada dos Guimarães, anteriormente coberta por vegetação de cerrado.
b) os desfiladeiros de Itaimbezinho, outrora revestidos por exuberante floresta tropical.
c) a Chapada Diamantina, então coberta por florestas de araucárias.
d) a Serra do Mar, que abrigava originalmente a densa Mata Atlântica.
e) a Serra da Borborema, caracterizada, no passado, pela vegetação da caatinga.

46 - Destes comentários sobre os trechos sublinhados, o único que está correto é:

a) “tragava dois dedos de parati” (L. 3): expressão típica da variedade linguística predominante no discurso do narrador.
b) “‘pra cortar a friagem’” (L. 3 e 4): essa expressão está entre aspas, no texto, para indicar que se trata do uso do discurso indireto livre.
c) “patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos” (L. 10 e 11): assume o sentido de “registravam oficialmente”.
d) “posto que em detrimento das suas forças físicas” (L. 26 e 27): equivale, quanto ao sentido, a “desde que em favor”.
e) “tornava-se (...) imprevidente” (L. 13 e 14) e “resignando-se (...) às imposições do sol” (L. 16 e 17): trata-se do mesmo prefixo, apresentando, portanto, idêntico sentido.

Texto para as questões de 47 a 49

Não era e não podia o pequeno reino lusitano ser uma potência colonizadora à feição da antiga Grécia. O surto marítimo que enche sua história do século XV não resultara do extravasamento de nenhum excesso de população, mas fora apenas provocado por uma burguesia comercial sedenta de lucros, e que não encontrava no reduzido território pátrio satisfação à sua desmedida ambição. A ascensão do fundador da Casa de Avis ao trono português trouxe esta burguesia para um primeiro plano. Fora ela quem, para se livrar da ameaça castelhana e do poder da nobreza, representado pela Rainha Leonor Teles, cingira o Mestre de Avis com a coroa lusitana. Era ela, portanto, quem devia merecer do novo rei o melhor das suas atenções. Esgotadas as possibilidades do reino com as pródigas dádivas reais, restou apenas o recurso da expansão externa para contentar os insaciáveis companheiros de D. João I.

Caio Prado Júnior, Evolução política do Brasil. Adaptado.

47 - Infere-se da leitura desse texto que Portugal não foi uma potência colonizadora como a antiga Grécia, porque seu

a) peso político-econômico, apesar de grande para o século, não era comparável ao dela.
b) interesse, diferentemente do dela, não era conquistar o mundo.
c) aparato bélico, embora considerável para a época, não era comparável ao dos gregos.
d) objetivo não era povoar novas terras, mas comercializar produtos nelas obtidos.
e) projeto principal era consolidar o próprio reino, libertando-se do domínio espanhol.

48 - O pronome "ela" da frase "Era ela, portanto, quem devia merecer do novo rei o melhor das suas atenções", refere-se a

a) “desmedida ambição”.  b) “Casa de Avis”. c) “esta burguesia”.
d) “ameaça castelhana”.    e) “Rainha Leonor Teles”.

49 - No contexto, o verbo “enche” indica

a) habitualidade no passado.     b) simultaneidade em relação ao termo “ascensão”.
c) ideia de atemporalidade.       d) presente histórico.
e) anterioridade temporal em relação a “reino lusitano”.

50 - Tendo em vista o conjunto de proposições e teses desenvolvidas em A cidade e as serras, pode-se concluir que é coerente com o universo ideológico dessa obra o que se afirma em:

a) A personalidade não se desenvolve pelo simples acúmulo passivo de experiências, desprovido de empenho radical, nem, tampouco, pela simples erudição ou pelo privilégio.
b) A atividade intelectual do indivíduo deve-se fazer acompanhar do labor produtivo do trabalho braçal, sem o que o homem se infelicita e desviriliza.
c) O sentimento de integração a um mundo finalmente reconciliado, o sujeito só o alcança pela experiência avassaladora da paixão amorosa, vivida como devoção irracional e absoluta a outro ser.
d) Elites nacionais autênticas são as que adotam, como norma de sua própria conduta, os usos e costumes do país profundo, constituído pelas populações pobres e distantes dos centros urbanos.
e) Uma vida adulta equilibrada e bem desenvolvida em todos os seus aspectos implica a participação do indivíduo na política partidária, nas atividades religiosas e na produção literária.

Texto para as questões 51 e 52

RECEITA DE MULHER

As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental. É preciso
Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso
Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de
[haute couture*
Em tudo isso (ou então
Que a mulher se socialize elegantemente em azul,
[como na República Popular Chinesa).
Não há meio-termo possível. É preciso
Que tudo isso seja belo. É preciso que súbito
Tenha-se a impressão de ver uma garça apenas
[pousada e que um rosto
Adquira de vez em quando essa cor só encontrável no
[terceiro minuto da aurora.

Vinicius de Moraes.
* “haute couture”: alta costura.

51 - No conhecido poema “Receita de mulher”, de que se reproduziu aqui um excerto, o tratamento dado ao tema da beleza feminina manifesta a

a) oscilação do poeta entre a angústia do pecador (tendo em vista sua educação jesuítica) e o impudor do libertino.
b) conjugação, na sensibilidade do poeta, de interesse sexual e encantamento estético, expresso de modo provocador e bem-humorado.
c) idealização da mulher a que chega o poeta quando, na velhice, arrefeceu-lhe o desejo sexual.
d) crítica ao caráter frívolo que, por associar-se ao consumo, o amor assume na contemporaneidade.
e) síntese, pela via do erotismo, das tendências europeizantes e nacionalistas do autor.

52 - Tendo em vista o contexto, o modo verbal predominante no excerto e a razão desse uso são:

a) indicativo; expressar verdades universais.
b) imperativo; traduzir ordens ou exortações.
c) subjuntivo; indicar vontade ou desejo.
d) indicativo; relacionar ações habituais.
e) subjuntivo; sugerir condições hipotéticas.

GABARITO:

34 – A  35 – B  36 – E  37 – A  38 – C  39 – E  40 – E  41 – A  42 – E  43 – D 
44 – C  45 – D  46 – B  47 – D  48 – C  49 – D  50 – A  51 – B 52 – C

Leia também:
FUVEST 2003 – 1º Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA


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