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domingo, 30 de abril de 2017

FUVEST 2016 – 1º FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

FUVEST 2016 – 1º FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

ps. Foi mantida a numeração original da prova.


46 – Para obter o efeito de humor presente no cartum, o autor se vale, entre outros, do seguinte recurso:

a) utilização paródica de um provérbio de uso corrente.
b) emprego de linguagem formal em circunstâncias informais.
c) representação inverossímil de um convívio pacífico de cães e gatos.
d) uso do grotesco na caracterização de seres humanos e de animais.
e) inversão do sentido de um pensamento bastante repetido.

47 – No contexto do cartum, a presença de numerosos animais de estimação permite que o juízo emitido pela personagem seja considerado

a) incoerente. b) parcial. c) anacrônico. d) hipotético. e) enigmático.

TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 48 A 50

A ARMA DA PROPAGANDA

O governo Médici não se limitou à repressão. Distinguiu claramente entre um setor significativo mas minoritário da sociedade, adversário do regime, e a massa da população que vivia um dia a dia de alguma esperança nesses anos de prosperidade econômica. A repressão acabou com o primeiro setor, enquanto a propaganda encarregou-se de, pelo menos, neutralizar gradualmente o segundo. Para alcançar este último objetivo, o governo contou com o grande avanço das telecomunicações no país, após 1964. As facilidades de crédito pessoal permitiram a expansão do número de residências que possuíam televisão: em 1960, apenas 9,5% das residências urbanas tinham televisão; em 1970, a porcentagem chegava a 40%. Por essa época, beneficiada pelo apoio do governo, de quem se transformou em porta-voz, a TV Globo expandiu-se até se tornar rede nacional e alcançar praticamente o controle do setor. A propaganda governamental passou a ter um canal de expressão como nunca existira na história do país. A promoção do “Brasil grande potência” foi realizada a partir da Assessoria Especial de Relações Públicas (AERP), criada no governo Costa e Silva, mas que não chegou a ter importância nesse governo. Foi a época do “Ninguém segura este país”, da marchinha Prá Frente, Brasil, que embalou a grande vitória brasileira na Copa do Mundo de 1970.

Boris Fausto, História do Brasil. Adaptado.

48 – A frase que expressa uma ideia contida no texto é:

a) A marchinha “Prá Frente, Brasil” também contribuiu para o processo de neutralização da grande massa da população.
b) A repressão no Governo Médici foi dirigida a um setor que, além de minoritário, era também irrelevante no conjunto da sociedade brasileira.
c) O tricampeonato de futebol conquistado pelo Brasil em 1970 ajudou a mascarar inúmeras dificuldades econômicas daquele período.
d) Uma característica do governo Médici foi ter conseguido levar a televisão à maioria dos lares brasileiros.
e) A TV Globo foi criada para ser um veículo de divulgação das realizações dos governos militares.

49 – A estratégia de dominação empregada pelo governo Médici, tal como descrita no texto, assemelha-se, sobretudo, à seguinte recomendação feita ao príncipe – ou ao governante – por um célebre pensador da política:

a) “Deve o príncipe fazer-se temer, de maneira que, se não se fizer amado, pelo menos evite o ódio, pois é fácil ser ao mesmo tempo temido e não odiado”.
b) “O mal que se tiver que fazer, deve o príncipe fazê-lo de uma só vez; o bem, deve fazê-lo aos poucos (...)”.
c) “Não se pode deixar ao tempo o encargo de resolver todas as coisas, pois o tempo tudo leva adiante e pode transformar o bem em mal e o mal em bem”.
d) “Engana-se quem acredita que novos benefícios podem fazer as grandes personagens esquecerem as antigas injúrias (...)”.
e) “Deve o príncipe, sobretudo, não tocar na propriedade alheia, porque os homens esquecem mais depressa a morte do pai que a perda do patrimônio”.

50 – Nos trechos “acabou com o primeiro setor” (L. 6) e “alcançar praticamente o controle do setor” (L. 16-17), a palavra sublinhada refere-se, respectivamente, a

a) aliados; população.                     b) adversários; telecomunicações.
c) população; residências urbanas. d) maiorias; classe média.        e) repressão; facilidades de crédito.

TEXTO PARA AS QUESTÕES 51 E 52

Seria ingenuidade procurar nos provérbios de qualquer povo uma filosofia coerente, uma arte de viver. É coisa sabida que a cada provérbio, por assim dizer, responde outro, de sentido oposto. A quem preconiza o sábio limite das despesas, porque “vintém poupado, vintém ganhado”, replicará o vizinho farrista, com razão igual: “Da vida nada se leva”. (...)
Mais aconselhável procurarmos nos anexins não a sabedoria de um povo, mas sim o espelho de seus costumes peculiares, os sinais de seu ambiente físico e de sua história. As diferenças na expressão de uma sentença observáveis de uma terra para outra podem divertir o curioso e, às vezes, até instruir o etnógrafo.
Povo marítimo, o português assinala semelhança grande entre pai e filho, lembrando que “filho de peixe, peixinho é”. Já os húngaros, ao formularem a mesma verdade, não pensavam nem em peixe, nem em mar; ao olhar para o seu quintal, notaram que a “maçã não cai longe da árvore”.

Paulo Rónai, Como aprendi o português e outras aventuras.

51 – No texto, a função argumentativa do provérbio “Da vida nada se leva” é expressar uma filosofia de vida contrária à que está presente em “vintém poupado, vintém ganhado”. Também é contrário a esse último provérbio o ensinamento expresso em:

a) Mais vale pão hoje do que galinha amanhã.
b) A boa vida é mãe de todos os vícios.
c) De grão em grão a galinha enche o papo.
d) Devagar se vai ao longe.
e) É melhor prevenir do que remediar.

52 – Considere as seguintes afirmações sobre os dois provérbios citados no terceiro parágrafo do texto.
I. A origem do primeiro, de acordo com o autor, está ligada à história do povo que o usa.
II. Em seu sentido literal, o segundo expressa costumes peculiares dos húngaros.
III. A observação das diferenças de expressão entre esses provérbios pode, segundo o pensamento do autor, ter interesse etnográfico.
Está correto apenas o que se afirma em

a) I.   b) II.   c) III.   d) I e II.   e) I e III.


TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 53 A 57

Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d’África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
Ele é mesmo nosso pai
e é quem pode nos ajudar...
Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
Ora, adeus, ó meus filhinhos,
Qu’eu vou e torno a vortá...
E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

Jorge Amado, Capitães da Areia.

*lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

53 – Considere as seguintes afirmações referentes ao texto de Jorge Amado:
I. Do ponto de vista do excerto, considerado no contexto da obra a que pertence, a religião de origem africana comporta um aspecto de resistência cultural e política.
II. Fica pressuposta no texto a ideia de que, na época em que se passa a história nele narrada, o Brasil ainda conservava formas de privação de direitos e de exclusão social advindas do período colonial.
III. Os contrastes de natureza social, cultural e regional que o texto registra permitem concluir corretamente que o Brasil passou por processos de modernização descompassados e desiguais.
Está correto o que se afirma em

a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente.    d) II e III, somente. e) I, II e III.

54 – Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado “romance de 1930”, que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

a) o experimentalismo estético, de caráter vanguardista, visível no abundante emprego de neologismos.
b) o tratamento preferencial de realidades bem determinadas, com foco nos problemas sociais nelas envolvidos.
c) a utilização do determinismo geográfico e racial, na interpretação dos fatos narrados.
d) a adoção do primitivismo da “Arte Negra” como modelo formal, à semelhança do que fizera o Cubismo europeu.
e) o uso de recursos próprios dos textos jornalísticos, em especial, a preferência pelo relato imparcial e objetivo.

55 – As informações contidas no texto permitem concluir corretamente que a doença de que nele se fala caracteriza-se como

a) moléstia contagiosa, de caráter epidêmico, causada por vírus.
b) endemia de zonas tropicais, causada por vírus, prevalente no período chuvoso do ano.
c) surto infeccioso de etiologia bacteriana, decorrente de más condições sanitárias.
d) infecção bacteriana que, em regra, apresenta-se simultaneamente sob uma forma branda e uma grave.
e) enfermidade endêmica que ocorre anualmente e reflui de modo espontâneo.

56 – Apesar das diferenças notáveis que existem entre estas obras, um aspecto comum ao texto de Capitães da Areia, considerado no contexto do livro, e Vidas secas, de Graciliano Ramos, é

a) a consideração conjunta e integrada de questões culturais e conflitos de classe.
b) a reprodução fiel da variante oral-popular da linguagem, como recurso principal na caracterização das personagens.
c) o engajamento nas correntes literárias nacionalistas, que rejeitavam a opção por temas regionais.
d) o emprego do discurso doutrinário, de caráter panfletário e didatizante, próprio do “realismo socialista”.
e) o tratamento enfático e conjugado da mestiçagem racial e da desigualdade social.

57 – Das propostas de substituição para os trechos sublinhados nas seguintes frases do texto, a única que faz, de maneira adequada, a correção de um erro gramatical presente no discurso do narrador é:

a) “Assim mesmo morrera negro, morrera pobre.”: havia morrido negro, havia morrido pobre.
b) “Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara.”: Omolu dizia, no entanto, que não fora.
c) “Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina.”: mas tão pouco sabiam da vacina.
d) “Mas para que seus filhos negros não o esqueçam [...].”: não lhe esqueçam.
e) “E numa noite que os atabaques batiam nas macumbas [...].”: numa noite em que os atabaques.

58 – Nesse livro, ousadamente, varriam-se de um golpe o sentimentalismo superficial, a fictícia unidade da pessoa humana, as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a concepção do predomínio do amor sobre todas as outras paixões; afirmava-se a possibilidade de construir um grande livro sem recorrer à natureza, desdenhava-se a cor local; surgiram afinal homens e mulheres, e não brasileiros (no sentido pitoresco) ou gaúchos, ou nortistas, e, finalmente, mas não menos importante, patenteava-se a influência inglesa em lugar da francesa.

Lúcia Miguel_Pereira, História da Literatura Brasileira - Prosa de ficção _ de 1870 a 1920. Adaptado.

O livro a que se refere a autora é

a) Memórias de um sargento de milícias.
b) Til.
c) Memórias póstumas de Brás Cubas.
d) O cortiço.
e) A cidade e as serras.

TEXTO PARA AS QUESTÕES 59 E 60

– Pois, Grilo, agora realmente bem podemos dizer que o sr. D. Jacinto está firme.
O Grilo arredou os óculos para a testa, e levantando para o ar os cinco dedos em curva como pétalas de uma tulipa:
– Sua Excelência brotou!
Profundo sempre o digno preto! Sim! Aquele ressequido galho da Cidade, plantado na Serra, pegara, chupara o húmus do torrão herdado, criara seiva, afundara raízes, engrossara de tronco, atirara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela grande árvore, e por ela nutridos, cem casais* em redor o bendiziam.

Eça de Queirós, A cidade e as serras.
*casal: pequena propriedade rústica; pequeno povoado.

59 – O teor das imagens empregadas no texto para caracterizar a mudança pela qual passara Jacinto indica que a causa principal dessa transformação foi

a) o retorno a sua terra natal.
b) a conversão religiosa.
c) o trabalho manual na lavoura.
d) a mudança da cidade para o campo.
e) o banimento das inovações tecnológicas.

60 – Tal como se encontra caracterizado no excerto, o destino alcançado pela personagem Jacinto contrasta de modo mais completo com a maneira pela qual culmina a trajetória de vida da personagem

a) Leonardo (filho), de Memórias de um sargento de milícias.
b) Jão Fera, de Til.
c) Brás Cubas, de Memórias póstumas de Brás Cubas.
d) Jerônimo, de O cortiço.
e) Pedro Bala, de Capitães da Areia.

TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 61 A 63

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem
[horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói!

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.

61 – Tendo em vista que o poema de Drummond contém referências a aspectos geográficos e históricos determinados, considere as seguintes afirmações:
I. O poeta é “de ferro” na medida em que é nativo de região caracterizada pela existência de importantes jazidas de minério de ferro, intensamente exploradas.
II. O poeta revela conceber sua identidade como tributária não só de uma geografia, mas também de uma história, que é, igualmente, a da linhagem familiar a que pertence.
III. A ausência de mulheres de que fala o poeta refere-se à ampla predominância de população masculina, na zona de mineração intensiva de que ele é originário.
Está correto o que se afirma em

a) I, somente. b) III, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III.

62 – No texto de Drummond, o eu lírico

a) considera sua origem itabirana como causadora de deficiências que ele almeja superar.
b) revela-se incapaz de efetivamente comunicar-se, dado o caráter férreo de sua gente.
c) ironiza a si mesmo e satiriza a rusticidade de seu passado semirrural mineiro.
d) dirige-se diretamente ao leitor, tornando assim patente o caráter confidencial do poema.
e) critica, em chave modernista, o bucolismo da poesia árcade mineira.

63 – Na última estrofe, a expressão que justifica o uso da conjunção sublinhada no verso “Mas como dói!” é:

a) “Hoje”. b) “funcionário público”. c) “apenas”. d) “fotografia”. e) “parede”.

GABARITO

46 – E  47 – B  48 – A  49 – B  50 – B  51 – A  52 – E  53 – E  54 – B 
55 – A  56 – A  57 – E  58 – C  59 – D  60 – C  61 – C  62 – D  63 – C

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