FUVEST 2017 – 1º FASE
– PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
ps. Foi mantida a numeração original da prova.
01 – Examine este cartaz, cuja finalidade é
divulgar uma exposição de obras de Pablo Picasso.
Nas expressões “Mão erudita” e “Olho selvagem”, que
compõem o texto do anúncio, os adjetivos “erudita” e “selvagem” sugerem que as
obras do referido artista conjugam, respectivamente,
a) civilização e barbárie. b) requinte e despojamento.
c) modernidade e primitivismo. d) liberdade e autoritarismo. e) tradição e
transgressão.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 02 E 03
A adoção do cardápio indígena
introduziu nas cozinhas e zonas de serviço das moradas brasileiras equipamentos
desconhecidos no Reino. Instalou nos alpendres roceiros a prensa de espremer
mandioca ralada para farinha. Nos inventários paulistas é comum a menção de tal
fato. No inventário de Pedro Nunes, por exemplo, efetuado em 1623, fala-se num sítio nas bandas do Ipiranga “com seu
alpendre e duas camarinhas no dito alpendre com a prensa no dito sítio” que
deveria comprimir nos tipitis toda a massa proveniente do mandiocal também
inventariado. Mas a farinha não exigia somente a prensa – pedia, também, raladores,
cochos de lavagem e forno ou fogão. Era normal, então, a casa de fazer farinha,
no quintal, ao lado dos telheiros e próxima à cozinha.
Carlos A. C. Lemos, Cozinhas, etc.
02 – Traduz
corretamente uma relação espacial expressa no texto o que se encontra em:
a) A prensa é paralela aos tipitis.
b) A casa de fazer farinha é adjacente aos
telheiros.
c) As duas camarinhas são transversais à cozinha.
d) O alpendre é perpendicular às zonas de serviço.
e) O mandiocal e o Ipiranga são equidistantes do
sítio.
03 – Além de “tipitis”, constituem contribuição
indígena para a língua portuguesa do Brasil as seguintes palavras empregadas no texto:
a) “cardápio” e “roceiros”. b) “alpendre” e “fogão”.
c) “mandioca” e “Ipiranga”. d) “sítio” e “forno”. e) “prensa” e “quintal”.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 04 A 06
Nasceu o dia e expirou.
Já brilha na cabana de Araquém o fogo,
companheiro da noite. Correm lentas e silenciosas no azul do céu, as estrelas,
filhas da lua, que esperam a volta da mãe ausente.
Martim se embala docemente; e como a
alva rede que vai e vem, sua vontade oscila de um a outro pensamento. Lá o
espera a virgem loura dos castos afetos; aqui lhe sorri a virgem morena dos
ardentes amores.
Iracema recosta-se langue ao punho da rede; seus olhos negros e
fúlgidos, ternos olhos de sabiá, buscam o estrangeiro, e lhe entram n’alma. O
cristão sorri; a virgem palpita; como o saí, fascinado pela serpente, vai
declinando o lascivo talhe, que se debruça enfim sobre o peito do guerreiro.
José de Alencar, Iracema.
04 – Atente
para as seguintes afirmações, extraídas e adaptadas de um estudo do crítico
Augusto Meyer sobre José de Alencar:
I. “Nesta obra, assim como nos ‘poemas americanos’
dos nossos poetas, palpita um sentimento sincero de distância poética e exotismo,
de coisa notável por estranha para nós, embora a rotulemos como nativa.”
II. “Mais do que diante de um relato, estamos
diante de um poema, cujo conteúdo se concentra a cada passo na magia do ritmo e
na graça da imagem.”
III. “O tema do bom selvagem foi, neste caso,
aproveitado para um romance histórico, que reproduz o enredo típico das
narrativas de capa e espada, oriundas da novela de cavalaria.”
É compatível com o trecho de Iracema aqui
reproduzido, considerado no contexto dessa obra, o que se afirma em
a) I, apenas. b) III, apenas. c) I e II, apenas. d)
II e III, apenas. e) I, II e III.
05 - No texto,
corresponde a uma das convenções com que o Indianismo construía suas
representações do indígena
a) o emprego de sugestões de cunho mitológico compatíveis
com o contexto.
b) a caracterização da mulher como um ser dócil e desprovido
de vontade própria.
c) a ênfase na efemeridade da vida humana sob os trópicos.
d) o uso de vocabulário primitivo e singelo, de
extração oral-popular.
e) a supressão de interdições morais relativas às
práticas eróticas.
06 – É correto
afirmar que, no texto, o narrador
a) prioriza a ordem direta da frase, como se pode
verificar nos dois primeiros parágrafos do texto.
b) usa o verbo “correr” (2º parágrafo) com a mesma acepção
que se verifica na frase “Travam das armas os rápidos guerreiros, e correm ao
campo” (também extraída do romance Iracema).
c) recorre à adjetivação de caráter objetivo para
tornar a cena mais real.
d) emprega, a partir do segundo parágrafo, o
presente do indicativo, visando dar maior vivacidade aos fatos narrados,
aproximando-os do leitor.
e) atribui, nos trechos “aqui lhe sorri” e “lhe
entram n’alma”, valor possessivo ao pronome “lhe”.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 07 A 09
Evidentemente, não se pode esperar que
Dostoiévski seja traduzido por outro Dostoiévski, mas desde que o tradutor
procure penetrar nas peculiaridades da linguagem primeira, aplique-se com afinco e faça com que sua criatividade
orientada pelo original permita, paradoxalmente, afastar-se do texto
para ficar mais próximo deste, um passo importante será dado. Deixando de lado
a fidelidade mecânica, frase por frase, tratando o original como um conjunto de
blocos a serem transpostos, e transgredindo sem receio, quando necessário, as
normas do “escrever bem”, o tradutor poderá trazê-lo com boa margem de
fidelidade para a língua com a qual está trabalhando.
Boris Schnaiderman, Dostoiévski Prosa Poesia.
07 – De acordo
com o texto, a boa tradução precisa
a) evitar a transposição fiel dos conteúdos do
texto original.
b) desconsiderar as características da linguagem
primeira para poder atingir a língua de chegada.
c) desviar-se da norma-padrão tanto da língua
original quanto da língua de chegada.
d) privilegiar a inventividade, ainda que em
detrimento das peculiaridades do texto original.
e) buscar, na língua de chegada, soluções que correspondam
ao texto original.
08 – Tendo em
vista que algumas das recomendações do autor, relativas à prática da tradução,
fogem do senso comum, pode-se qualificá-las com o seguinte termo, de uso relativamente
recente:
a) dubitativas. b) contraintuitivas. c)
autocomplacentes. d) especulativas. e) aleatórias.
09 – O prefixo
presente na palavra “transpostos” tem o mesmo sentido do prefixo que ocorre em
a) ultrapassado. b) retrocedido. c) infracolocado. d)
percorrido. e) introvertido.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 10 A 12
CAPÍTULO LIII
. . . . . . .
Virgília é que já se não lembrava da
meia dobra; toda ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha vida,
no meu pensamento; —era o que dizia, e era verdade.
Há umas plantas que nascem e crescem
depressa; outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal
ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e
exuberante criatura dos bosques. Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que
durou esse crescimento. Lembra-me,
sim, que, em certa noite, abotoou-se a flor, ou o beijo, se assim lhe
quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula, — coitadinha, — trêmula de
medo, porque era ao portão da chácara. Uniu-nos esse beijo único, —
breve como a ocasião, ardente como o amor, prólogo de uma vida de delícias, de
terrores, de remorsos, de prazeres que rematavam em dor, de aflições que
desabrochavam em alegria, — uma hipocrisia paciente e sistemática, único freio de
uma paixão sem freio, — vida de agitações, de cóleras, de desesperos e de
ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra; mas outra hora vinha e engolia
aquela, como tudo mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do
resto, que é o fastio e a saciedade: tal foi o livro daquele prólogo.
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás
Cubas.
10 – Considerado
no contexto de Memórias póstumas de
Brás Cubas, o “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília, apresentado
no breve capítulo aqui reproduzido, configura uma
a) demonstração da tese naturalista que postula o fundamento
biológico das relações amorosas.
b) versão mais intensa e prolongada da típica
sequência de animação e enfado, característica da trajetória de Brás Cubas.
c) incorporação, ao romance realista, dos
triângulos amorosos, cuja criação se dera durante o período romântico.
d) manifestação da liberdade que a condição de
defunto-autor dava a Brás Cubas, permitindo-lhe tratar de assuntos proibidos em
sua época.
e) crítica à devassidão que grassava entre as
famílias da elite do Império, em particular, na Corte.
11 – No último
período do texto, o ritmo que o narrador imprime ao relato de seus amores
corresponde sobretudo ao que se encontra expresso em
a) “prólogo de uma vida de delícias” (L. 13-14).
b) “prazeres que rematavam em dor” (L. 14-15).
c) “hipocrisia paciente e sistemática” (L. 16).
d) “paixão sem freio” (L. 17).
e) “o livro daquele prólogo” (L. 21-22).
12 – Dentre os
recursos expressivos empregados no texto, tem papel preponderante a
a) metonímia (uso de uma palavra fora do seu
contexto semântico normal, com base na relação de contiguidade existente entre
ela e o referente).
b) hipérbole (ênfase expressiva resultante do
exagero da significação linguística).
c) alegoria (sequência de metáforas logicamente ordenadas).
d) sinestesia (associação de palavras ou expressões
em que ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão).
e) prosopopeia (atribuição de sentimentos humanos
ou de palavras a seres inanimados ou a animais).
13
- Se pudesse mudar-se, gritaria bem alto que o roubavam.
Aparentemente resignado, sentia um ódio imenso a qualquer coisa que era aomesmo
tempo a campina seca, o patrão, os soldados e os agentes da prefeitura. Tudo na
verdade era contra ele. Estava acostumado, tinha a casca muito grossa, mas às
vezes se arreliava. Não havia aciência
que suportasse tanta coisa.
- Um dia um homem faz besteira e se
desgraça.
Graciliano Ramos, Vidas secas.
Tendo em vista as causas que a provocam, a revolta
que vem à consciência de Fabiano, apresentada no texto como ainda contida e
genérica, encontrará foco e uma expressão coletiva militante e organizada, em
época posterior à publicação de Vidas secas, no movimento
a) carismático de Juazeiro do Norte, orientado pelo
Padre Cícero Romão Batista.
b) das Ligas Camponesas, sob a liderança de
Francisco Julião.
c) do Cangaço, quando chefiado por Virgulino
Ferreira da Silva (Lampião).
d) messiânico de Canudos, conduzido por Antônio Conselheiro.
e) da Coluna Prestes, encabeçado por Luís Carlos
Prestes.
Observe a imagem e leia o texto, para responder às
questões de 14 a 16.
O Comissário apertou-lhe mais a mão, querendo transmitir-lhe
o sopro de vida. Mas a vida de Sem Medo esvaía-se para o solo do
Mayombe, misturando-se às folhas em decomposição.
[...]
Mas o Comissário não ouviu o que o
Comandante disse. Os lábios já mal se moviam. A amoreira gigante à sua frente.
O tronco destaca-se do sincretismo da mata, mas se
eu percorrer com os olhos o tronco para cima, a folhagem dele mistura-se
à folhagem geral e é de novo o sincretismo. Só o tronco se destaca, se individualiza.
Tal é o Mayombe, os gigantes só o são em parte, ao nível do tronco, o resto
confunde-se na massa. Tal o homem. As impressões visuais são menos
nítidas e a mancha verde predominante faz esbater progressivamente a claridade
do tronco da amoreira gigante. As manchas verdes são cada vez mais sobrepostas,
mas, num sobressalto, o tronco da amoreira ainda se afirma, debatendo-se.
Tal é a vida.
[...]
Os olhos de Sem Medo ficaram abertos,
contemplando o tronco já invisível do gigante que para sempre desaparecera no
seu elemento verde.
Pepetela, Mayombe.
14 – Considerando-se
o excerto no contexto de Mayombe,
os paralelos que nele são estabelecidos entre aspectos da natureza e da vida
humana podem ser interpretados como uma
a) reflexão relacionada ao próprio Comandante Sem
Medo e a seu dilema característico entre a valorização do indivíduo e o
engajamento emum projeto eminentemente coletivo.
b) caracterização flagrante da dificuldade de
aceder ao plano do raciocínio abstrato, típica da atitude pragmática do
militante revolucionário.
c) figuração da harmonia que reina no mundo
natural, em contraste com as dissensões que caracterizam as relações humanas,
notadamente nas zonas urbanizadas.
d) representação do juízo do Comissário a respeito
da manifesta incapacidade que tem o Comandante Sem Medo de ultrapassar o
dogmatismo doutrinário.
e) crítica esclarecida à mentalidade animista - que
tende a personificar os elementos da natureza - e ao tribalismo, ainda muito
difundidos entre os guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola
(MPLA).
15 – Consideradas
no âmbito dos valores que são postos em jogo em Mayombe, as relações entre a árvore e a floresta, tal como
concebidas e expressas no excerto, ensejam a valorização de uma conduta que
corresponde à da personagem
a) João Romão, de O cortiço, observadas as
relações que estabelece com a comunidade dos encortiçados.
b) Jacinto, de A cidade e as serras, tendo
em vista suas práticas de beneficência junto aos pobres de Paris.
c) Fabiano, de Vidas secas, na medida em que
ele se integrava na comunidade dos sertanejos, seus iguais e vizinhos.
d) Pedro Bala, de Capitães da Areia, em
especial ao completar sua trajetória de politização.
e) Augusto Matraga, do conto “A hora e vez de
Augusto Matraga”, de Sagarana, na sua fase inicial, quando era o valentão
do lugar.
16 – Mayombe refere-se a uma região montanhosa em
Angola, dominada por floresta pluvial densa, rica em árvores de grande porte, e
localizada emárea de baixa latitude (4o40’S). Levando em conta essas
características geográficas e vegetacionais, é correto afirmar que
a) esse tipo de vegetação predomina na maior parte
do continente africano, circundando áreas de savana e deserto.
b) se trata da única floresta pluvial sobre áreas montanhosas,
pois esse tipo de floresta não ocorre em outras áreas do mundo.
c) a vegetação da região é semelhante à da floresta
encontrada, no Brasil, na mesma faixa latitudinal.
d) nessa mesma faixa latitudinal, no Brasil, há
regiões áridas, de altas altitudes, em que predominam ervas rasteiras.
e) tais florestas pluviais só ocorrem no hemisfério
sul, devido ao regime de chuvas e às altas temperaturas nesse hemisfério, onde
ocupam todo tipo de relevo.
Considere as imagens e o texto, para responder às
questões 17 e 18.
II / São Francisco de Assis*
Senhor, não mereço isto.
Não creio em vós para vos amar.
Trouxestes-me
a São Francisco
e me fazeis vosso escravo.
Não entrarei, senhor, no templo,
seu frontispício me basta.
Vossas flores e querubins
são matéria de muito amar.
Dai-me,
senhor, a só beleza
destes ornatos. E não a alma.
Pressente-se
dor de homem,
paralela à das cinco chagas.
Mas entro e, senhor, me perco
na rósea nave triunfal.
Por que tanto baixar o céu?
por que esta nova cilada?
Senhor, os púlpitos mudos
entretanto me sorriem.
Mais que vossa igreja, esta
sabe a voz de me embalar.
Perdão, senhor, por não amar-vos.
Carlos Drummond de Andrade
*O texto faz parte do conjunto de poemas “Estampas
de Vila Rica”, que integra a edição crítica de Claro enigma. São Paulo:
Cosac Naify, 2012.
17 – Analise as
seguintes afirmações relativas à arquitetura das igrejas sob a estética do
Barroco:
I. Unem-se, no edifício, diferentes artes, para
assaltar de uma vez os sentidos, de modo que o público não possa escapar.
II. O arquiteto procurava surpreender o observador,
suscitando nele uma reação forte de maravilhamento.
III. A arquitetura e a ornamentação dos templos
deviam encenar, entre outras coisas, a preeminência da Igreja.
A experiência que se expressa no poema de Drummond registra,
em boa medida, as reações do eu lírico ao que se encontra registrado em
a) I, apenas. b) II, apenas. c) II e III, apenas. d)
I e III, apenas. e) I, II e III.
18 – Um aspecto
do poema em que se manifesta a persistência de um valor afirmado também no Modernismo
da década de 1920 é o
a) destaque dado às características regionais.
b) uso da variante oral-popular da linguagem.
c) elogio do sincretismo religioso.
d) interesse pelo passado da arte no Brasil.
e) delineamento do poema em feitio de oração.
GABARITO
01 – E 02 – B 03
– C 04 – C 05 – A 06
– D 07 – E 08 – B 09
– A
10 – B 11
– D 12 – C 13 – B 14
– A 15 – D 16 – C 17
– E 18 – D
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