FUVEST 2015 – 1º FASE
– PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
22 - Examine a figura.
Os versos de Carlos Drummond de Andrade que mais adequadamente traduzem a principal mensagem da figura acima são:
a) Stop.
A vida parou
Ou foi o automóvel?
b) As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
Não houvesse tantos desejos.
c) Um silvo breve. Atenção, siga.
Dois silvos breves: Pare.
Um silvo breve à noite: Acenda a lanterna.
Um silvo longo: Diminua a marcha.
Um silvo longo e breve: Motoristas a postos.
(A este sinal todos os motoristas tomam lugar nos
Seus veículos para movimentá-los imediatamente.)
d) proibido passear sentimentos
ternos ou
nesse museu do pardo indiferente
e) Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
TEXTO PARA AS QUESTÕES 23 E 24
Como sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo
no que se refere à simples informação, depende de muita coisa além do valor que
ele possa ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso conhecimento,
da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e pouco sabe, um
compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para quem sabe muito, um livro
importante não passa de chuva no molhado. Além disso, há as afinidades profundas,
que nos fazem afinar com certo autor (e portantoa proveitá-lo ao máximo) e não com
outro, independente da valia de ambos.
Antonio Candido, “Dez livros para entender o Brasil”. Teoria e debate.
Ed.45, 01/07/2000.
23 - Traduz uma ideia presente no texto a seguinte afirmação:
a) O efeito de um livro sobre o leitor é condicionado pela quantidade de informações que o texto veicula.
b) A recepção de um livro pode ser influenciada pela situação vivida pelo leitor.
c) A verdadeira erudição não dispensa a leitura dos bons manuais escolares.
d) A leitura de um livro a qual tem finalidades meramente práticas prejudica a assimilação do conhecimento.
e) O reconhecimento do valor de um livro depende, primordialmente, dos sentimentos pessoais do leitor.
24 - Constitui recurso estilístico do texto
I. a combinação da variedade culta da língua escrita, que nele é predominante, com expressões mais comuns na língua oral;
II. a repetição de estruturas sintáticas, associada ao emprego de vocabulário corrente, com feição didática;
III. o emprego dominante do jargão científico, associado à exploração intensiva da intertextualidade.
Está correto apenas o que se indica em
a) I. b) II. c) I e II. d) III. e) I e III.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 25 A 28
Tornando da malograda espera do tigre, alcançou o capanga um casal de velhinhos, que seguiam diante dele o mesmo caminho, e
conversavam acerca de seus negócios particulares. Das poucas palavras que apanhara, percebeu Jão Fera que destinavam eles uns cinquenta mil-réis, tudo quanto possuíam, à compra de mantimentos, a fim de fazer um moquirão*, com que pretendiam abrir uma boa roça.
- Mas chegará, homem? perguntou a velha.
- Há de se espichar bem, mulher!
Uma voz os interrompeu:
- Por este preço dou eu conta da roça!
- Ah! É nhô Jão!
Conheciam os velhinhos o capanga, a quem tinham por homem de palavra, e de fazer o que prometia. Aceitaram sem mais hesitação; e foram mostrar o lugar que estava destinado para o roçado. Acompanhou-os Jão Fera; porém, mal seus olhos descobriram entre os utensílios a enxada, a qual ele esquecera um momento no afã de ganhar a soma precisa, que sem mais deu costas ao par de velhinhos e foi-se deixando-os embasbacados.
José de Alencar, Til.
* moquirão = mutirão (mobilização coletiva para auxílio mútuo, de caráter gratuito).
25 - Considere os seguintes comentários sobre diferentes elementos linguísticos presentes no texto:
I. Em “alcançou o capanga um casal de velhinhos” (L. 1-2), o contexto permite identificar qual é o sujeito, mesmo este estando posposto.
II. O verbo sublinhado no trecho “que seguiam diante dele o mesmo caminho” (L. 2-3) poderia estar no singular sem prejuízo para a correção gramatical.
III. No trecho “que destinavam eles uns cinquenta mil-réis” (L. 5), pode-se apontar um uso informal do pronome pessoal reto “eles”, como na frase “Você tem visto eles por aí?”.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas. b) II, apenas. c) III, apenas. d) I e II, apenas. e) I, II e III.
26 - Considerada no contexto, a palavra sublinhada no trecho “mal seus olhos descobriram entre os utensílios a enxada” (L. 17-18) expressa ideia de
a) tempo. b) qualidade. c) intensidade. d) modo. e) negação.
27 - As práticas de Jão Fera que permitem ao narrador classificá-lo como “capanga” assemelham-se, sobretudo, às da personagem citadina do
a) valentão Chico-Juca, nas Memórias de um sargento de milícias.
b) malandro Prudêncio, nas Memórias póstumas de Brás Cubas.
c) arrivista Miranda, em O cortiço.
d) agregado Zé Fernandes, em A cidade e as serras.
e) soldado amarelo, em Vidas secas.
28 - Considerada no contexto histórico-social figurado no romance Til, a brusca reação de Jão Fera, narrada no final do excerto, explica-se
a) pela ambição ou ganância que, no período, caracterizava os homens livres não proprietários.
b) por sua condição de membro da Guarda Nacional, que lhe interditava o trabalho na lavoura.
c) pela indolência atribuída ao indígena, da qual era herdeiro o “bugre”.
d) pelo estigma que a escravidão fazia recair sobre o trabalho braçal.
e) pela ojeriza ao labor agrícola, inerente a sua condição de homem letrado.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 29 A 31
Capítulo CVII - Bilhete
“Não houve nada, mas ele suspeita alguma cousa; está muito sério e não fala; agora saiu. Sorriu uma vez somente, para Nhonhô, depois de o fitar muito tempo, carrancudo. Não me tratou mal nem bem. Não sei o que vai acontecer; Deus queira que isto passe. Muita cautela, por ora, muita cautela.”
Capítulo CVIII - Que se não entende
Eis aí o drama, eis aí a ponta da orelha trágica de Shakespeare. Esse retalhinho de papel, garatujado em partes, machucado das mãos, era um documento de análise, que eu não farei neste capítulo, nem no outro, nem talvez em todo o resto do livro. Poderia eu tirar ao leitor o gosto de notar por si mesmo a frieza, a perspicácia e o ânimo dessas poucas linhas traçadas à pressa; e por trás delas a tempestade de outro cérebro, a raiva dissimulada, o desespero que se constrange e medita, porque tem de resolver-se na lama, ou no sangue, ou nas lágrimas?
Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.
29 - Atente para o excerto, considerando-o no contexto da obra a que pertence. Nele, figura, primeiramente, o bilhete enviado a Brás Cubas por Virgília, na ocasião em que se torna patente que o marido da dama suspeita de suas relações adúlteras. Segue-se ao bilhete um comentário do narrador (cap. CVIII). Feito isso, considere a afirmação que segue:
No excerto, o narrador frisa aspectos cuja presença se costuma reconhecer no próprio romance machadiano da fase madura, entre eles,
I. o realce da argúcia, da capacidade de exame acurado das situações e da firmeza de propósito, ainda quando impliquem malignidade;
II. a relevância da observação das relações interpessoais e dos funcionamentos mentais correspondentes;
III. a operação consciente dos elementos envolvidos no processo de composição literária: narração, personagens, motivação, trama, intertextualidade, recepção etc.
Está correto o que se indica em
a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d)
II e III, somente. e) I, II e III.
30 - Ao comentar o bilhete de Virgília, o narrador se vale, principalmente, do seguinte recurso retórico:
a) Hipérbato: transposição ou inversão da ordem natural das palavras de uma oração, para efeito estilístico.
b) Hipérbole: ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística.
c) Preterição: figura pela qual se finge não querer falar de coisas sobre as quais se está, todavia, falando.
d) Sinédoque: figura que consiste em tomar a parte pelo todo, o todo pela parte; o gênero pela espécie, a espécie pelo gênero; o singular pelo plural, o plural pelo singular etc.
e) Eufemismo: palavra, locução ou acepção mais agradável, empregada em lugar de outra menos agradável ou grosseira.
31 - Os seguintes aspectos compositivos considerados pelo narrador do excerto: concentração e economia de meios expressivos, orientação realista e analítica, previsão do papel do leitor na construção do sentido do texto, suprindo o que, neste, é implícito ou lacunar, podem também caracterizar, principalmente, a obra
a) Viagens na minha terra, de Almeida Garrett.
b) Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida.
c) Til, de José de Alencar.
d) Vidas secas, de Graciliano Ramos.
e) Capitães da Areia, de Jorge Amado.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 32 A 36
E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados. Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.
Aluísio Azevedo, O cortiço.
32 - O conceito de hiperônimo (vocábulo de sentido mais genérico em relação a outro) aplica-se à palavra “planta” em relação a “palmeira”, “trevos”, “baunilha” etc., todas _____ presentes no texto. Tendo em vista a relação que estabelece com outras palavras do texto, constitui também um hiperônimo a palavra
a) “alma”. b) “impressões”. c) “fazenda”. d) “cobra”. e) “saudade”.
33 - Em que pese a oposição programática do Naturalismo ao Romantismo, verifica-se no excerto – e na obra a que pertence – a presença de uma linha de continuidade entre o movimento romântico e a corrente naturalista brasileira, a saber, a
a) exaltação patriótica da mistura de raças.
b) necessidade de autodefinição nacional.
c) aversão ao cientificismo.
d) recusa dos modelos literários estrangeiros.
e) idealização das relações amorosas.
34 - Entre as características atribuídas, no texto, à natureza brasileira, sintetizada em Rita Baiana, aquela que corresponde, de modo mais completo, ao teor das transformações que o contato com essa mesma natureza provocará em Jerônimo é a que se expressa em:
a) “era o calor vermelho das sestas da fazenda”.
b) “era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta”.
c) “era o veneno e era o açúcar gostoso”.
d) “era a cobra verde e traiçoeira”.
e) “[era] a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele”.
35 - O efeito expressivo do texto – bem como seu pertencimento ao Naturalismo em literatura – baseiam-se amplamente no procedimento de explorar de modo intensivo aspectos biológicos da natureza. Entre esses procedimentos empregados no texto, só NÃO se encontra a
a) representação do homem como ser vivo em interação constante com o ambiente.
b) exploração exaustiva dos receptores sensoriais humanos (audição, visão, olfação, gustação), bem como dos receptores mecânicos.
c) figuração variada tanto de plantas quanto de animais, inclusive observados em sua interação.
d) ênfase em processos naturais ligados à reprodução humana e à metamorfose em animais.
e) focalização dos processos de seleção natural como principal força direcionadora do processo evolutivo.
36 - Para entender as impressões de Jerônimo diante da natureza brasileira, é preciso ter como pressuposto que há
a) um contraste entre a experiência prévia da personagem e sua vivência da diversidade biológica do país em que agora se encontra.
b) uma continuidade na experiência de vida da personagem, posto que a diversidade biológica aqui e em seu local de origem são muito semelhantes.
c) uma ampliação no universo de conhecimento da personagem, que já tinha vivência de diversidade biológica semelhante, mas a expande aqui.
d) um equívoco na forma como a personagem percebe e vivencia a diversidade biológica local, que não comporta os organismos que ele julga ver.
e) um estreitamento na experiência de vida do personagem, que vem de um local com maior diversidade de ambientes e de organismos.
TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 37 A 39
O OPERÁRIO NO MAR
Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
37 - Dentre estas propostas de substituição para diferentes trechos do texto, a única que NÃO está correta do ponto de vista da norma-padrão é:
a) “Para onde vai ele, (...)?” = Aonde vai ele, (...)?
b) “O operário não lhe sobra tempo de perceber” = Ao operário não lhe sobra tempo de perceber.
c) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão” = Teria vergonha de chamá-lo de meu irmão.
d) “Tenho vergonha e vontade de encará-lo” = Tenho vergonha e vontade de o encarar.
e) “quem sabe se um dia o compreenderei” = quem sabe um dia compreenderei-o.
38 - Atente para as seguintes afirmações relativas ao texto de Drummond, considerado no contexto da obra a que pertence:
I. A referência inicial aos modos de se representar o operário sugere uma crítica do poeta aos estereótipos presentes na literatura da época em que o texto foi escrito.
II. O alcance simbólico da figura do operário depende, inclusive, do fato de que, no texto, ele é constituído por tensões que o fazem, ao mesmo tempo, comum e extraordinário, familiar e enigmático, próximo e longínquo etc.
III. A imagem do operário que anda sobre o mar pode simbolizar a criação prodigiosa de um mundo novo - a “vida futura” -, igualmente anunciado em símbolos como o das “mãos dadas”, o da “aurora”, o do “sangue redentor”, também presentes no livro.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas. b) II, apenas. c) I e II, apenas. d) II e III, apenas. e) I, II e III.
39 - Embora o texto de Drummond e o romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, assemelhem-se na sua especial atenção às classes populares, um trecho do texto que NÃO poderia, sem perda de coerência formal e ideológica, ser enunciado pelo narrador do livro de Jorge Amado é, sobretudo, o que está em:
a) “Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa.”
b) “Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros (...).”
c) “Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando.”
d) “Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca.”
e) “Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos.”
GABARITO
22 – D 23 – B 24 – C
25 – D 26 – A 27 – A
28 – D 29 – E 30 – C
31 – D 32
– B 33 – B 34 – C
35 – E 36 – A 37 – E 38 – E
39 – D
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