ENEM 1998 – PROVA DE
LINGUAGENS E CÓDIGOS
Texto para as questões de 3 a 5.
Para falar e escrever bem, é preciso, além de
conhecer o padrão formal da Língua Portuguesa, saber adequar o uso da linguagem
ao contexto discursivo. Para exemplificar este fato, seu professor de Língua
Portuguesa convida-o a ler o texto Aí, Galera, de Luís Fernando
Veríssimo. No texto, o autor brinca com situações de discurso oral que fogem à
expectativa do ouvinte.
Aí, Galera
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação.
Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”
? E, no entanto, por que não?
- Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
-Minha saudação aos aficionados do clube e aos
demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
- Como é?
- Aí, galera.
- Quais são as instruções do técnico?
- Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de
contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as
probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo
com parcimônia de meios e extrema objetividade, valendo-nos da desestruturação
momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da
ação.
- Ahn?
- É pra dividir no meio e ir pra cima pra pegá eles
sem calça.
- Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
- Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental,
algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado
por razões, inclusive, genéticas?
- Pode.
- Uma saudação para a minha progenitora.
- Como é?
- Alô, mamãe!
- Estou vendo que você é um, um...
- Um jogador que confunde o entrevistador, pois não
corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com
dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
- Estereoquê?
- Um chato?
- Isso.
Correio Braziliense, 13/05/1998.
Questão 03 - O texto retrata duas situações relacionadas que
fogem à expectativa do público. São elas:
(A) a saudação do jogador aos fãs do clube, no início da entrevista, e a
saudação final dirigida à sua mãe.
(B) a linguagem muito formal do jogador, inadequada à situação da
entrevista, e um jogador que fala, com desenvoltura, de modo muito rebuscado.
(C) o uso da expressão “galera” , por parte do entrevistador, e da
expressão “progenitora” , por parte do jogador.
(D) o desconhecimento, por parte do entrevistador, da palavra
“estereotipação” , e a fala do jogador em “é pra dividir no meio e ir pra cima
pra pegá eles sem calça” .
(E) o fato de os jogadores de futebol serem vítimas de estereotipação e
o jogador entrevistado não corresponder ao estereótipo.
Questão 04 - O texto mostra uma situação em que a linguagem
usada é inadequada ao contexto. Considerando as diferenças entre língua
oral e língua escrita, assinale a opção que representa também uma inadequação
da linguagem usada ao contexto:
(A) “o carro bateu e capotô, mas num deu pra vê direito” - um pedestre
que assistiu ao acidente comenta com o outro que vai passando.
(B) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” - um jovem que fala para um
amigo.
(C) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação” -
alguém comenta em uma reunião de trabalho.
(D) “Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de
Secretária Executiva desta conceituada empresa” - alguém que escreve uma carta
candidatando-se a um emprego.
(E) “Porque se a gente não resolve as coisas como têm que ser, a gente
corre o risco de termos, num futuro próximo, muito pouca comida nos lares
brasileiros” - um professor universitário em um congresso internacional.
Questão 05 - A expressão “pegá eles sem calça” poderia ser
substituída, sem comprometimento de sentido, em língua culta, formal, por:
(A) pegá-los na mentira.
(B) pegá-los desprevenidos.
(C) pegá-los em flagrante.
(D) pegá-los rapidamente.
(E) pegá-los momentaneamente
Questão 08
Texto 1
“Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,
Quando a teus pés um homem terno e curvo
jurar amor, chorar pranto de sangue,
Não creias, não, mulher: ele te engana!
As lágrimas são gotas da mentira
E o juramento manto da perfídia.”
Joaquim Manoel de Macedo
Texto 2
“Teresa, se algum sujeito bancar o
sentimental em cima de você
E te jurar uma paixão do tamanho de um
bonde
Se ele chorar
Se ele ajoelhar
Se ele se rasgar todo
Não acredite não Teresa
É lágrima de cinema
É tapeação
Mentira
CAI FORA”
Manuel Bandeira
Os autores, ao fazerem alusão às imagens da lágrima sugerem que:
(A) há um tratamento idealizado da relação homem/mulher.
(B) há um tratamento realista da relação homem/mulher.
(C) a relação familiar é idealizada.
(D) a mulher é superior ao homem.
(E) a mulher é igual ao homem.
Questão 17 - A discussão sobre gramática na classe está
“quente”. Será que os brasileiros sabem gramática? A professora de Português
propõe para debate o seguinte texto: PRA MIM BRINCAR
Não há nada mais gostoso do que o mim sujeito de
verbo no infinito. Pra mim brincar. As cariocas que não sabem gramática falam
assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as cariocas que não
sabem gramática. ¾ As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá,
alhures e miúde.
(BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4ª
ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. Pág. 19)
Com a orientação da professora e após o debate sobre o texto de Manuel
Bandeira, os alunos chegaram à seguinte conclusão:
(A) uma das propostas mais ousadas do Modernismo foi a busca da
identidade do povo brasileiro e o registro, no texto literário, da diversidade
das falas brasileiras.
(B) apesar de os modernistas registrarem as falas regionais do Brasil,
ainda foram preconceituosos em relação às cariocas.
(C) a tradição dos valores portugueses foi a pauta temática do movimento
modernista.
(D) Manuel Bandeira e os modernistas brasileiros exaltaram em seus
textos o primitivismo da nação brasileira.
(E) Manuel Bandeira considera a diversidade dos
falares brasileiros uma agressão à Língua Portuguesa.
Questão 33
Amor é fogo que arde sem se ver;
é ferida que dói e não se sente;
é um contentamento descontente;
é dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
é solitário andar por entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
O poema tem, como característica, a figura de linguagem denominada
antítese, relação de oposição de palavras ou ideias. Assinale a opção em que
essa oposição se faz claramente presente.
(A) “Amor é fogo que arde sem se ver.”
(B) “É um contentamento descontente.”
(C) “É servir a quem se vence, o vencedor.”
(D) “Mas como causar pode seu favor.”
(E) “Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Questão 34 – O poema pode ser considerado como um texto:
(A) argumentativo.
(B) narrativo.
(C) épico.
(D) de propaganda.
(E) teatral.
Questão 55 - Em uma disputa por
terras, em Mato Grosso do Sul, dois depoimentos são colhidos: o do proprietário
de uma fazenda e o de um integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem
Terras:
Depoimento 1
“A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus
antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo
manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala. Esse povo tem que
saber que a Constituição do Brasil garante a propriedade privada. Além disso,
se esse governo quiser as minhas terras para a Reforma Agrária terá que pagar,
em dinheiro, o valor que eu quero.”
Proprietário de uma fazenda no Mato Grosso do Sul.
Depoimento 2
“Sempre lutei muito. Minha família veio para a cidade porque fui
despedido quando as máquinas chegaram lá na Usina. Seu moço, acontece que eu
sou um homem da terra. Olho pro céu, sei quando é tempo de plantar e de colher.
Na cidade não fico mais. Eu quero um pedaço de terra, custe o que custar. Hoje
eu sei que não estou sozinho. Aprendi que a terra tem um valor social. Ela é
feita para produzir alimento. O que o homem come vem da terra. O que é duro é
ver que aqueles que possuem muita terra e não dependem dela para sobreviver,
pouco se preocupam em produzir nela.”
Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de
Corumbá – MS.
A partir da leitura do depoimento 1, os argumentos utilizados para
defender a posição do proprietário de terras são:
I. A Constituição do país garante o direito à
propriedade privada, portanto, invadir terras é crime.
II. O MST é um movimento político controlado por
partidos políticos.
III. As terras são o fruto do árduo trabalho das
famílias que as possuem.
IV. Este é um problema político e depende unicamente da
decisão da justiça.
Estão corretas as proposições:
(A) I, apenas.
(B) I e IV, apenas.
(C) II e IV, apenas.
(D) I , II e III, apenas.
(E) I, III e IV, apenas.
Questão 56 – A partir da leitura do depoimento 2, quais os argumentos utilizados
para defender a posição de um trabalhador rural sem terra?
I. A distribuição mais justa da terra no país está
sendo resolvida, apesar de que muitos ainda não têm acesso a ela.
II. A terra é para quem trabalha nela e não para quem a
acumula como bem material.
III. É necessário que se suprima o valor social da
terra.
IV. A mecanização do campo acarreta a dispensa de
mão-de-obra rural.
Estão corretas as proposições:
(A) I, apenas.
(B) II, apenas.
(C) II e IV, apenas.
(D) I, II e III, apenas.
(E) III, I, IV, apenas.
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