ENEM 2016 – PROVA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS
QUESTÃO 96 - Ler não é decifrar,
como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser
capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros
textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu
autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou
rebelar-se contra ela, propondo uma outra não prevista.
LAJOLO,
M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.
Nesse
texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos,
valendo-se da metalinguagem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo
fato de o texto
A
ressaltar a importância da intertextualidade.
B
propor leituras diferentes das previsíveis.
C
apresentar o ponto de vista da autora.
D
discorrer sobre o ato de leitura.
E
focar a participação do leitor.
QUESTÃO 97 - O hoax, como é
chamado qualquer boato ou farsa na internet, pode espalhar vírus entre os seus
contatos. Falsos sorteios de celulares ou frases que Clarice Lispector nunca
disse são exemplos de hoax. Trata-se de boatos recebidos por e-mail ou
compartilhados em redes sociais. Em geral, são mensagens dramáticas ou
alarmantes que acompanham imagens chocantes, falam de crianças doentes ou avisam
sobre falsos vírus. O objetivo de quem cria esse tipo de mensagem pode ser
apenas se divertir com a brincadeira (de mau gosto), prejudicar a imagem de uma
empresa ou espalhar uma ideologia política.
Se o hoax for do tipo phishing (derivado de
fishing, pescaria, em inglês) o problema pode ser mais grave: o usuário que
clicar pode ter seus dados pessoais ou bancários roubados por golpistas. Por
isso é tão importante ficar atento.
VIMERCATE,
N. Disponível em: www.techtudo.com.br. Acesso em: 1 maio 2013 (adaptado).
Ao
discorrer sobre os hoaxes, o texto sugere ao leitor, como estratégia para
evitar essa ameaça,
A
recusar convites de jogos e brincadeiras feitos pela internet.
B
analisar a linguagem utilizada nas mensagens recebidas.
C
classificar os contatos presentes em suas redes sociais.
D
utilizar programas que identifiquem falsos vírus.
E
desprezar mensagens que causem comoção.
QUESTÃO 98
TOZZI,
C. Colcha de retalhos
www.arteforadomuseu.com.br.
Acesso em: 8 mar. 2013.
Colcha
de retalhos representa a essência do mural e convida o público a
A
apreciar a estética do cotidiano.
B
interagir com os elementos da composição.
C
refletir sobre elementos do inconsciente do artista.
D
reconhecer a estética clássica das formas.
E
contemplar a obra por meio da movimentação física.
QUESTÃO 99
PINHÃO
sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA:
Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO:
Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.
BENONA:
Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO:
Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA:
Isso são coisas passadas.
EURICÃO:
Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo
aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio
a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um
tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive
farejando ouro, como um cachorro da molest’a, como um urubu, atrás do sangue
dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e
minha devoção.
SUASSUNA,
A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).
Nesse
texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molest'a”
contribui para
A
marcar a classe social das personagens.
B
caracterizar usos linguísticos de uma região.
C
enfatizar a relação familiar entre as personagens.
D
sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
E
demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.
QUESTÃO 100
Soneto VII
Onde
estou? Este sítio desconheço:
Quem
fez tão diferente aquele prado?
Tudo
outra natureza tem tomado;
E
em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma
fonte aqui houve; eu não me esqueço
De
estar a ela um dia reclinado:
Ali
em vale um monte está mudado:
Quando
pode dos anos o progresso!
Árvores
aqui vi tão florescentes.
Que
faziam perpétua a primavera:
Nem
troncos vejo agora decadentes.
Eu
me engano: a região esta não era;
Mas
que venho a estranhar, se estão presentes
Meus
males, com que tudo degenera.
COSTA,
C. M. Poemas. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012.
No
soneto de Claudio Manuel da Costa, a contemplação da paisagem permite ao eu
lírico uma reflexão em que transparece uma:
A
angústia provocada pela sensação de solidão.
B
resignação diante das mudanças do meio ambiente.
C
dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
D
intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
E
empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.
QUESTÃO 101
O senso comum é que só os seres humanos são
capazes de rir. Isso não é verdade?
Não. O riso básico – o da brincadeira, da
diversão, da expressão física do riso, do movimento da face e da vocalização —
nós compartilhamos com diversos animais. Em ratos, já foram observadas
vocalizações ultrassônicas – que nós não somos capazes de perceber – e que eles
emitem quando estão brincando de “rolar no chão”. Acontecendo de o cientista
provocar um dano em um local específico no cérebro, o rato deixa de fazer essa
vocalização e a brincadeira vira briga séria. Sem o riso, o outro pensa que
está sendo atacado. O que nos diferencia dos animais é que não temos apenas
esse mecanismo básico. Temos um outro mais evoluído. Os animais têm o senso de
brincadeira, como nós, mas não têm senso de humor. O córtex, a parte
superficial do cérebro deles, não é tão evoluído como o nosso. Temos mecanismos
corticais que nos permitem, por exemplo, interpretar uma piada.
Disponível
em: http://globonews.globo.com. Acesso em: 31 maio 2012 (adaptado).
A
coesão textual é responsável por estabelecer relações entre as partes do texto.
Analisando o trecho “Acontecendo de o cientista provocar um dano em um local
específico no cérebro”, verifica-se que ele estabelece com a oração seguinte
uma relação de
A
finalidade, porque os danos causados ao cérebro têm por finalidade provocar a
falta de vocalização dos ratos.
B
oposição, visto que o dano causado em um local específico no cérebro é
contrário à vocalização dos ratos.
C
condição, pois é preciso que se tenha lesão específica no cérebro para que não
haja vocalização dos ratos.
D
consequência, uma vez que o motivo de não haver mais vocalização dos ratos é o
dano causado no cérebro.
E
proporção, já que à medida que se lesiona o cérebro não é mais possível que
haja vocalização dos ratos.
QUESTÃO 102 – Mandinga — Era a
denominação que, no período das grandes navegações, os portugueses davam à
costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de feitiçaria porque os
exploradores lusitanos consideravam bruxos os africanos que ali habitavam — é
que eles davam indicações sobre a existência de ouro na região. Em idioma nativo,
manding designava terra de feiticeiros. A palavra acabou virando sinônimo de
feitiço, sortilégio.
COTRIM,
M. O pulo do gato 3.
No
texto, evidencia-se que a construção do significado da palavra mandinga resulta
de um(a)
A
contexto sócio-histórico.
B
diversidade étnica.
C
descoberta geográfica.
D
apropriação religiosa.
E
contraste cultural.
QUESTÃO 103
TEXTO I - Nesta época do ano, em
que comprar compulsivamente é a principal preocupação de boa parte da
população, é imprescindível refletirmos sobre a importância da mídia na
propagação de determinados comportamentos que induzem ao consumismo exacerbado.
No clássico livro O capital, Karl Marx aponta que no capitalismo os bens
materiais, ao serem fetichizados, passam a assumir qualidades que vão além
da mera materialidade. As coisas são personificadas e as pessoas são
coisificadas. Em outros termos, um automóvel de luxo, uma mansão em um bairro
nobre ou a ostentação de objetos de determinadas marcas famosas são alguns dos
fatores que conferem maior valorização e visibilidade social a um indivíduo.
LADEIRA,
F. F. Reflexões sobre o consumismo. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br.
Acesso em 18 Jan.2015.
TEXTO II – Todos os dias, em
algum nível, o consumo atinge nossa vida, modifica nossas relações, gera e rege
sentimentos, engendra fantasias, aciona comportamentos, faz sofrer, faz gozar.
Às vezes constrangendo-nos em nossas ações no mundo, humilhando e aprisionando,
às vezes ampliando nossa imaginação e nossa capacidade de desejar, consumimos e
somos consumidos. Numa época toda codificada como a nossa, o código da alma (o
código do ser) virou código do consumidor! Fascínio pelo consumo, fascínio do
consumo. Felicidade, luxo, bem-estar, boa forma, lazer, elevação espiritual,
saúde, turismo, sexo, família e corpo são hoje reféns da engrenagem do consumo.
BARCELLOS,
G. A alma do consumo. Disponível em: www.diplomatique.org.br. Acesso
em 18 jan 2015.
Esses
textos propõem uma reflexão crítica sobre o consumismo. Ambos partem do ponto
de vista de que esse hábito
A
desperta o desejo de ascensão social.
B
provoca mudanças nos valores sociais.
C
advém de necessidades suscitadas pela publicidade.
D
deriva da inerente busca por felicidade pelo ser humano.
E
resulta de um apelo do mercado em determinadas datas.
QUESTÃO 104 – Quem procura a
essência de um conto no espaço que fica entre a obra e seu autor comete um
erro: é muito melhor procurar não no terreno que fica entre o escritor e sua
obra, mas justamente no terreno que fica entre o texto e seu leitor.
OZ,
A. De amor e trevas. São Paulo: Cia. das Letras, 2005 (fragmento).
A
progressão temática de um texto pode ser estruturada por meio de diferentes
recursos coesivos, entre os quais se destaca a pontuação. Nesse texto, o
emprego dos dois pontos caracteriza uma operação textual realizada com a
finalidade de
A
comparar elementos opostos.
B
relacionar informações gradativas.
C
intensificar um problema conceitual.
D
introduzir um argumento esclarecedor.
E
assinalar uma consequência hipotética.
QUESTÃO
105
A
ÁGUA
INVISÍVEL
National
Geographic Brasil, n. 151, out. 2012 (adaptado).
Nessa
campanha publicitária, para estimular a economia de água, o leitor é incitado a
A
adotar práticas de consumo consciente.
B
alterar hábitos de higienização pessoal e residencial.
C
contrapor-se a formas indiretas de exportação de água.
D
optar por vestuário produzido com matéria-prima reciclável.
E
conscientizar produtores rurais sobre os custos de produção.
QUESTÃO 106 - Até que ponto
replicar conteúdo é crime? “A internet e a pirataria são inseparáveis”, diz o
diretor do instituto de pesquisas americano Social Science Research Council.
“Há uma infraestrutura pequena para controlar quem é o dono dos arquivos que
circulam na rede. Isso acabou com o controle sobre a propriedade e tem sido
descrito como pirataria, mas é inerente à tecnologia”, afirma o diretor. O ato
de distribuir cópias de um trabalho sem a autorização dos seus produtores pode,
sim, ser considerado crime, mas nem sempre essa distribuição gratuita lesa os
donos dos direitos autorais. Pelo contrário. Veja o caso do livro
O alquimista, do escritor Paulo Coelho. Após publicar,
para download gratuito, uma versão traduzida da obra em
seu blog, Coelho viu as vendas do livro em papel explodirem.
BARRETO,
J.; MORAES, M. A internet existe sem pirataria? Veja, n. 2 308, 13 fev. 2013
(adaptado).
De
acordo com o texto, o impacto causado pela internet propicia a
A
banalização da pirataria na rede.
B
adoção de medidas favoráveis aos editores.
C
implementação de leis contra crimes eletrônicos.
D
reavaliação do conceito de propriedade intelectual.
E
ampliação do acesso a obras de autores reconhecidos.
QUESTÃO 107 – Em casa, Hideo ainda
podia seguir fiel ao imperador japonês e às tradições que trouxera no navio que
aportara em Santos. […] Por isso Hideo exigia que, aos domingos, todos
estivessem juntos durante o almoço. Ele se sentava à cabeceira da mesa; à
direita ficava Hanashiro, que era o primeiro filho, e Hitoshi, o segundo, e à
esquerda, Haruo, depois Hiroshi, que era o mais novo. […] A esposa, que também
era mãe, e as filhas, que também eram irmãs, aguardavam de pé ao redor da mesa
[…]. Haruo reclamava, não se cansava de reclamar: que se sentassem também as
mulheres à mesa, que era um absurdo aquele costume. Quando se casasse, se
sentariam à mesa a esposa e o marido, um em frente ao outro, porque não era o
homem melhor que a mulher para ser o primeiro […]. Elas seguiam de pé, a mãe um
pouco cansada dos protestos do filho, pois o momento do almoço era sagrado, não
era hora de levantar bandeiras inúteis […].
NAKASATO,
O. Nihonjin. São Paulo: Benvirá, 2011 (fragmento).
Referindo-se
a práticas culturais de origem nipônica, o narrador registra as reações que
elas provocam na família e mostra um contexto em que
A
a obediência ao imperador leva ao prestígio pessoal.
B
as novas gerações abandonam seus antigos hábitos.
C
a refeição é o que determina a agregação familiar.
D
os conflitos de gênero tendem a ser neutralizados.
E
o lugar à mesa metaforiza uma estrutura de poder.
QUESTÃO 108
Centro das atenções em um planeta cada vez
mais interconectado, a Floresta Amazônica expõe inúmeros dilemas. Um dos mais
candentes diz respeito à madeira e sua exploração econômica, uma saga que
envolve os muitos desafios para a conservação dos recursos naturais às gerações
futuras.
Com o olhar jornalístico, crítico e ao mesmo
tempo didático, adentramos a Amazônia em busca de histórias e sutilezas que os
dados nem sempre revelam. Lapidamos estatísticas e estudos científicos para
construir uma síntese útil a quem direciona esforços para conservar a floresta,
seja no setor público, seja no setor privado, seja na sociedade civil.
Guiada como uma reportagem, rica em
informações ilustradas, a obra Madeira de ponta a ponta revela a diversidade de
fraudes na cadeia de produção, transporte e comercialização da madeira, bem
como as iniciativas de boas práticas que se disseminam e trazem esperança rumo
a um modelo de convivência entre desenvolvimento e manutenção da floresta.
VILLELA,
M.; SPINK, P. In: ADEODATO, S. et al. Madeira de ponta a ponta: o caminho
desde a floresta até o consumo. São Paulo: FGVRAE, 2011 (adaptado)
A
fim de alcançar seus objetivos comunicativos, os autores escreveram esse texto
para
A
apresentar informações e comentários sobre o livro.
B
noticiar as descobertas científicas oriundas da pesquisa.
C
defender as práticas sustentáveis de manejo da madeira.
D
ensinar formas de combate à exploração ilegal de madeira.
E
demonstrar a importância de parcerias para a realização da pesquisa.
QUESTÃO 109
Disponível
em: www.paradapelavida.com.br. Acesso em: 15 nov. 2014.
Nesse
texto, a combinação de elementos verbais e não verbais configura-se como
estratégia argumentativa para
A
manifestar a preocupação do governo com a segurança dos pedestres.
B
associar a utilização do celular às ocorrências de atropelamento de crianças.
C
orientar pedestres e motoristas quanto à utilização responsável do telefone
móvel.
D
influenciar o comportamento de motoristas em relação ao uso de celular no
trânsito.
E
alertar a população para os riscos da falta de atenção no trânsito das grandes
cidades.
QUESTÃO 110 – Pérolas
absolutas
Há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda
que imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula
qualquer, diminuta e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como
a boca que tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o
núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage,
imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma
tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma paciência de
fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando
por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa
solidificação que nascem as pérolas.
As pérolas são, assim, o resultado de uma
contaminação. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a transformação da
dor. […] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a
pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva
para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas,
jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem
em si uma parcela faiscante da eternidade.
SEIXAS,
H. Uma ilha chamada livro. Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).
Considerando
os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto, a imagem da pérola
configura uma percepção que
A
reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo criativo.
B
ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento exótico.
C
concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.
D
expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e involuntária.
E
destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado e com o
desconhecido.
QUESTÃO 111 - Querido
diário
Hoje
topei com alguns conhecidos meus
Me
dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem
para eu ter muita luz, ficar com Deus
Eles
têm pena de eu viver sozinho
[...]
Hoje
o inimigo veio me espreitar
Armou
tocaia lá na curva do rio
Trouxe
um porrete a mó de me quebrar
Mas
eu não quebro porque sou macio, viu
HOLANDA,
C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013 (fragmento).
Uma
característica do gênero diário que aparece na letra da canção de Chico Buarque
é o(a)
A
diálogo com interlocutores próximos.
B
recorrência de verbos no infinitivo.
C
predominância de tom poético.
D
uso de rimas na composição.
E
n arrativa autorreflexiva.
QUESTÃO 112 – Galinha
cega
O dono correu atrás de sua branquinha,
agarrou-a, lhe examinou os olhos. Estavam direitinhos, graças a Deus, e muito
pretos. Soltou-a no terreiro e lhe atirou mais milho. A galinha continuou a
bicar o chão desorientada. Atirou ainda mais, com paciência, até que ela se
fartasse. Mas não conseguiu com o gasto de milho, de que as outras se
aproveitaram, atinar com a origem daquela desorientação. Que é que seria
aquilo, meu Deus do céu? Se fosse efeito de uma pedrada na cabeça e se soubesse
quem havia mandado a pedra, algum moleque da vizinhança, aí… Nem por sombra
imaginou que era a cegueira irremediável que principiava.
Também a galinha, coitada, não compreendia
nada, absolutamente nada daquilo. Por que não vinham mais os dias luminosos em
que procurava a sombra das pitangueiras? Sentia ainda o calor do sol, mas tudo
quase sempre tão escuro. Quase que já não sabia onde é que estava a luz, onde é
que estava a sombra.
GUIMARAENS,
J. A. Contos e novelas. Rio de Janeiro: Imago, 1976 (fragmento).
Ao
apresentar uma cena em que um menino atira milho às galinhas e observa com
atenção uma delas, o narrador explora um recurso que conduz a uma
expressividade fundamentada na
A
captura de elementos da vida rural, de feições peculiares.
B
caracterização de um quintal de sítio, espaço de descobertas.
C
confusão intencional da marcação do tempo, centrado na infância.
D
apropriação de diferentes pontos de vista, incorporados afetivamente.
E
fragmentação do conflito gerador, distendido como apoio à emotividade.
QUESTÃO 113 – Sem
acessórios nem som
Escrever
só para me livrar
de
escrever.
Escrever
sem ver, com riscos
sentindo
falta dos acompanhamentos
com
as mesmas lesmas
e
figuras sem força de expressão.
Mas
tudo desafina:
o
pensamento pesa
tanto
quanto o corpo
enquanto
corto os conectivos
corto
as palavras rentes
com
tesoura de jardim
cega
e bruta
com
facão de mato.
Mas
a marca deste corte
tem
que ficar
nas
palavras que sobraram.
Qualquer
coisa do que desapareceu
continuou
nas margens, nos talos
no
atalho aberto a talhe de foice
no
caminho de rato.
FREITAS
FILHO, A. Máquina de escrever: poesia reunida e revista. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2003.
Nesse
texto, a reflexão sobre o processo criativo aponta para uma concepção de
atividade poética que põe em evidência o(a)
A
angustiante necessidade de produção, presente em “Escrever só para me livrar/
de escrever”.
B
imprevisível percurso da composição, presente em “no atalho aberto a talhe de
foice/ no caminho de rato”.
C
agressivo trabalho de supressão, presente em “corto as palavras rentes/ com
tesoura de jardim/ cega e bruta”.
D
inevitável frustração diante do poema, presente em “Mas tudo desafina:/ o
pensamento pesa/ tanto quanto o corpo”.
E
conflituosa relação com a inspiração, presente em “sentindo falta dos
acompanhamentos/ e figuras sem força de expressão”.
QUESTÃO 114
A origem da obra de arte (2002) é uma
instalação seminal na obra de Marilá Dardot. Apresentada originalmente em sua
primeira exposição individual, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte,
a obra constitui um convite para a interação do espectador, instigado a compor
palavras e sentenças e a distribuí-las pelo campo. Cada letra tem o feitio de
um vaso de cerâmica (ou será o contrário?) e, à disposição do espectador,
encontram-se utensílios de plantio, terra e sementes. Para abrigar a obra e
servir de ponto de partida para a criação dos textos, foi construído um pequeno
galpão, evocando uma estufa ou um ateliê de jardinagem. As 1 500 letras-vaso
foram produzidas pela cerâmica que funciona no Instituto Inhotim, em Minas, num
processo que durou vários meses e contou com a participação de dezenas de
mulheres das comunidades do entorno. Plantar palavras, semear ideias é o que
nos propõe o trabalho. No contexto de Inhotim, onde natureza e arte dialogam de
maneira privilegiada, esta proposição se torna, de certa maneira, mais perto da
possibilidade.
Disponível
em: www.inhotim.org.br. Acesso em: 22 maio 2013 (adaptado).
A
função da obra de arte como possibilidade de experimentação e de construção
pode ser constatada no trabalho de Marilá Dardot porque
A
o projeto artístico acontece ao ar livre.
B
o observador da obra atua como seu criador.
C
a obra integra-se ao espaço artístico e botânico.
D
as letras-vaso são utilizadas para o plantio de mudas.
E
as mulheres da comunidade participam na confecção das peças.
QUESTÃO 115 – O nome do inseto
pirilampo (vaga-lume) tem uma interessante certidão de nascimento. De repente,
no fim do século XVII, os poetas de Lisboa repararam que não podiam cantar o
inseto luminoso, apesar de ele ser um manancial de metáforas, pois possuía um
nome “indecoroso” que não podia ser “usado em papéis sérios”: caga-lume. Foi
então que o dicionarista Raphael Bluteau inventou a nova palavra, pirilampo, a
partir do grego pyr, significando “fogo”, e lampas, “candeia”.
FERREIRA,
M. B. Caminhos do português: exposição comemorativa do Ano Europeu das Linguas.
Portugal: Biblioteca Nacional, 2001 (adaptado).
O
texto descreve a mudança ocorrida na nomeação do inseto, por questões de tabu
linguístico. Esse tabu diz respeito à
A
recuperação histórica do significado.
B
ampliação do sentido de uma palavra.
C
produção imprópria de poetas portugueses.
D
denominação científica com base em termos gregos.
E
restrição ao uso de um vocábulo pouco aceito socialmente.
QUESTÃO 116 – Primeira
lição
Os
gêneros de poesia são: lírico, satírico, didático, épico, ligeiro. O gênero
lírico compreende o lirismo. Lirismo é a tradução de um sentimento subjetivo,
sincero e pessoal. É a linguagem do coração, do amor. O lirismo é assim
denominado porque em outros tempos os versos sentimentais eram declamados ao
som da lira. O lirismo pode ser:
a)
Elegíaco, quando trata de assuntos tristes, quase sempre a morte.
b)
Bucólico, quando versa sobre assuntos campestres.
c)
Erótico, quando versa sobre o amor.
O
lirismo elegíaco compreende a elegia, a nênia, a endecha, o epitáfio e o epicédio.
Elegia
é uma poesia que trata de assuntos tristes.
Nênia
é uma poesia em homenagem a uma pessoa morta.
Era
declamada junto à fogueira onde o cadáver era
incinerado.
Endecha
é uma poesia que revela as dores do coração.
Endecha
é uma poesia que revela as dores do coração.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epitáfio é um pequeno verso gravado em pedras tumulares.
Epicédio
é uma poesia onde o poeta relata a vida de uma
pessoa
morta.
CESAR,
A. C. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
No
poema de Ana Cristina Cesar, a relação entre as definições apresentadas e o
processo de construção do texto indica que o(a)
A
caráter descritivo dos versos assinala uma concepção irônica de lirismo.
B
tom explicativo e contido constitui uma forma peculiar de expressão poética.
C
seleção e o recorte do tema revelam uma visão pessimista da criação artística.
D
enumeração de distintas manifestações líricas produz um efeito de
impessoalidade.
E
referência a gêneros poéticos clássicos expressa a adesão do eu lírico às
tradições literárias.
QUESTÃO 117 – Você
pode não acreditar
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em
que os leiteiros deixavam as garrafinhas de leite do lado de fora das casas,
seja ao pé da porta, seja na janela.
A gente ia de uniforme azul e branco para o
grupo, de manhãzinha, passava pelas casas e não ocorria que alguém pudesse
roubar aquilo.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em
que os padeiros deixavam o pão na soleira da porta ou na janela que dava
para a rua. A gente passava e via aquilo como uma coisa normal.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em
que você saía à noite para namorar e voltava andando pelas ruas da cidade,
caminhando displicentemente, sentindo cheiro de jasmim e de alecrim, sem olhar
para trás, sem temer as sombras.
Você pode não acreditar: houve um tempo em que
as pessoas se visitavam airosamente. Chegavam no meio da tarde ou à noite,
contavam casos, tomavam café, falavam da saúde, tricotavam sobre a vida alheia
e voltavam de bonde às suas casas.
Você pode não acreditar: mas houve um tempo em
que o namorado primeiro ficava andando com a moça numa rua perto da casa dela,
depois passava a namorar no portão, depois tinha ingresso na sala da família.
Era sinal de que já estava praticamente noivo e seguro.
Houve um tempo em que havia tempo.
Houve um tempo.
SANT'ANNA,
A. R. Estado de Minas. 5 maio 2013 (fragmento).
Nessa
crônica, a repetição do trecho “Você pode não acreditar: mas houve um tempo em
que…” configura-se como uma estratégia argumentativa que visa
A
surpreender o leitor com a descrição do que as pessoas faziam durante o seu
tempo livre antigamente.
B
sensibilizar o leitor sobre o modo como as pessoas se relacionavam entre si num
tempo mais aprazível.
C
advertir o leitor mais jovem sobre o mau uso que se faz do tempo nos dias
atuais.
D
incentivar o leitor a organizar melhor o seu tempo sem deixar de ser
nostálgico.
E
convencer o leitor sobre a veracidade de fatos relativos à vida no passado.
QUESTÃO 118
O livro A fórmula Secreta conta a
história de um episódio fundamental para o nascimento da matemática moderna e
retrata uma das disputas mais virulentas da ciência renascentista. Fórmulas
misteriosas, duelos públicos, traições, genialidade, ambição – e matemática!
Esse é o instigante universo apresentado no livro, que resgata a história dos
italianos Tartaglia e Cardano e da fórmula revolucionária para resolução de
equações de terceiro grau. A obra reconstitui um episódio polêmico que marca,
para muitos, o início do período moderno da matemática.
Em última análise, A fórmula secreta
apresenta-se como uma ótima opção para conhecer um pouco mais sobre a história
da matemática e acompanhar um dos debates científicos mais inflamados do século
XVI no campo. Mais do que isso, é uma obra de fácil leitura e uma boa mostra de
que é possível abordar temas como álgebra de forma interessante, inteligente e
acessível ao grande público.
GARCIA,
M. Duelos, segredos e matemática. Disponível em:
http://cienciahoje.uol.com.br, Acesso em: 6 Out 2015 (adaptado).
Na
construção textual, o autor realiza escolhas para cumprir determinados
objetivos. Nesse sentido, a função social desse texto é
A
interpretar a obra a partir dos acontecimentos da narrativa.
B
apresentar o resumo do conteúdo da obra de modo impessoal.
C
fazer a apreciação de uma obra a partir de uma síntese crítica.
D
informar o leitor sobre a veracidade dos fatos descritos na obra.
E
classificar a obra como uma referência para estudiosos da matemática.
QUESTÃO 119 – A partida
de trem
Marcava seis horas da manhã, Angela Prain
pagou o táxi e pegou sua pequena valise, Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas
Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha
bem vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um
nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e
sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi não importa.
Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado
de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no
vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a
locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não
esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o
caminho.
Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e
perguntou:
— A senhora deseja trocar de lugar comigo?
Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza,
disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo, Mas parecia ter-se perturbado.
Passou a mão sobre o camafeu filligranado de ouro espetado no peito,
passou a mão pelo broche.
Seca. Ofendida? Perguntou afinal
a Angela Pralini:
— É por causa de mim que a senhorita deseja
trocar de lugar?
LISPECTOR,
C. Onde estiveste de noite. Rio de Janeiro. Nova Fronteira.
A
descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na
obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)
A
comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.
B
anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
C
incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.
D
constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.
E
sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.
QUESTÃO 120 – Esses
chopes dourados
[...]
quando
a geração de meu pai
batia
na minha
a
minha achava que era normal
que
a geração de cima
só
podia educar a de baixo
batendo
quando
a minha geração batia na de vocês
ainda
não sabia que estava errado
mas
a geração de vocês já sabia
e
cresceu odiando a geração de cima
aí
chegou esta hora
em
que todas as gerações já sabem de tudo
e
é péssimo
ter
pertencido à geração do meio
tendo
errado quando apanhou da de cima
e
errado quando bateu na de baixo
e
sabendo que apesar de amaldiçoados
éramos
todos inocentes.
WANDERLEY,
J. In: MORICONI, I. (Org.). Os cem melhores poemas brasileiros do século. Rio
de Janeiro: Objetiva, 2001 (fragmento).
Ao
expressar uma percepção de atitudes e valores situados na passagem do tempo, o
eu lírico manifesta uma angústia sintetizada na
A
compreensão da efemeridade das convicções antes vistas como sólidas.
B
consciência das imperfeições aceitas na construção do senso comum.
C
revolta das novas gerações contra modelos tradicionais de educação.
D
incerteza da expectativa de mudança por parte das futuras gerações.
E
crueldade atribuída à forma de punição praticada pelos mais velhos.
QUESTÃO 121 – Antiode
Poesia,
não será esse
o
sentido em que
ainda
te escrevo:
flor!
(Te escrevo:
flor!
Não uma
flor,
nem aquela
flor-Virtude
– em disfarçados urinóis).
Flor
é a palavra
flor;
verso inscrito
no
verso, como as
manhãs
no tempo.
Flor
é o salto
da
ave para o voo:
o
saltofora do sono
quando
seu tecido
se
rompe; é uma explosão
posta
a funcionar,
como
uma máquina,
uma
jarra de flores.
MELO
NETO, J. C. Psicologia da composição Rio de Janeiro Nova Fronteira, 1997
(fragmento)
A
poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem
necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da
geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de
A
uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de
assumir novos significados.
B
um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do
século XX.
C
uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à
palavra poética
D
uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso
técnico-científico pós-Revolução Industrial.
E
um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu
lírico.
QUESTÃO 122 - Qual é a
segurança do sangue?
Para que o sangue esteja disponível para
aqueles que necessitam, os indivíduos saudáveis devem criar o hábito de doar
sangue e encorajar amigos e familiares saudáveis a praticarem o mesmo ato.
A prática de selecionar criteriosamente os
doadores, bem como as rígidas normas aplicadas para testar, transportar,
estocar e transfundir o sangue doado fizeram dele um produto muito mais seguro
do que já foi anteriormente.
Apenas pessoas saudáveis e que não sejam de
risco para adquirir doenças infecciosas transmissíveis pelo sangue, como
hepatites B e C, HIV, sífilis e Chagas, podem doar sangue.
Se você acha que sua saúde ou comportamento
pode colocar em risco a vida de quem for receber seu sangue, ou tem a real
intenção de apenas realizar o teste para o vírus HIV, NÃO DOE SANGUE.
Cumpre destacar que apesar de o sangue doado
ser testado para as doenças transmissíveis conhecidas no momento, existe um
período chamado de janela imunológica em que um doador contaminado por um
determinado vírus pode transmitir a doença através do seu sangue.
DA SUA HONESTIDADE DEPENDE A VIDA DE QUEM VAI
RECEBER SEU SANGUE.
Disponível
em: www.prosangue.sp.gov.br. Acesso em: 24 abr. 2015 (adaptado).
Nessa
campanha, as informações apresentadas têm como objetivo principal
A
conscientizar o doador de sua corresponsabilidade pela qualidade do sangue.
B
garantir a segurança de pessoas de grupos de risco durante a doação de sangue.
C
esclarecer o público sobre a segurança do processo de captação do sangue.
D
alertar os doadores sobre as dificuldades enfrentadas na coleta de sangue.
E
ampliar o número de doadores para manter o banco de sangue.
QUESTÃO 123
TEXTO
I
Entrevistadora
— eu vou conversar aqui com a professora A. D. ... o português então não é uma
língua difícil?
Professora
— olha se você parte do princípio… que a língua portuguesa não é só regras
gramaticais… não se você se apaixona pela língua que você… já domina que você
já fala ao chegar na escola se o teu professor cativa você a ler obras da
literatura… obras da/ dos meios de comunicação… se você tem acesso a revistas…
é... a livros didáticos… a... livros de literatura o mais formal o e/ o difícil
é porque a escola transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em
análises gramaticais.
TEXTO II
Entrevistadora
— Vou conversar com a professora A. D. O português é uma língua difícil?
Professora
— Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só regras
gramaticais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o professor
motivá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a livros
didáticos, você se apaixona pela língua. O que torna difícil é que a escola
transforma as aulas de língua portuguesa em análises gramaticais.
MARCUSCHI,
L. A. Da fala para a escrita: atividades de retextualização.
São
Paulo: Cortez, 2001 (adaptado).
O
Texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de
português a um programa de rádio. O Texto II é a adaptação dessa entrevista
para a modalidade escrita. Em comum, esses textos
A
apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
B
são modelos de emprego de regras gramaticais.
C
são exemplos de uso não planejado da língua.
D
apresentam marcas da linguagem literária.
E
são amostras do português culto urbano.
QUESTÃO 124
De domingo
– Outrossim…
–
O quê?
–
O que o quê?
–
O que você disse.
–
Outrossim?
–
É.
–
O que é que tem?
–
Nada. Só achei engraçado.
–
Não vejo a graça.
–
Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
–
Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
–
Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
–
Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
–
“Ônus”.
–
“Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
–
“Resquício” é de domingo.
–
Não, não. Segunda. No máximo terça.
–
Mas “outrossim”, francamente…
–
Qual o problema?
–
Retira o “outrossim”.
–
Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil de usar. Não é qualquer
um que usa “outrossim”.
VERISSIMO,
L. F. Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM, 1996 (fragmento).
No
texto, há uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa.
Esse uso promove o(a)
A
marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indicativas dos dias
da semana.
B
tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em contextos
formais.
C
caracterização da identidade linguística dos interlocutores, percebida pela
recorrência de palavras regionais.
D
distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras com
significados pouco conhecidos.
E
inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas por
parte de um dos interlocutores do diálogo.
QUESTÃO 125 – Receita
Tome-se um poeta não cansado,
Uma
nuvem de sonho e uma flor,
Três
gotas de tristeza, um tom dourado,
Uma
veia sangrando de pavor.
Quando
a massa já ferve e se retorce
Deita-se
a luz dum corpo de mulher,
Duma
pitada de morte se reforce,
Que
um amor de poeta assim requer.
SARAMAGO,
J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.
Os
gêneros textuais caracterizam-se por serem relativamente estáveis e podem
reconfigurar-se em função do propósito comunicativo. Esse texto constitui uma
mescla de gêneros, pois
A
introduz procedimentos prescritivos na composição do poema.
B
explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
C
explora elementos temáticos presentes em uma receita.
D
apresenta organização estrutural típica de um poema.
E
utiliza linguagem figurada na construção do poema.
QUESTÃO 126
Espetáculo
Romeu e Julieta, Grupo Galpão.
GUTO
MUNIZ. Disponível em: www.focoincena.com.br. Acesso em: 30 maio 2016.
A
principal razão pela qual se infere que o espetáculo retratado na fotografia é
uma manifestação do teatro de rua é o fato de
A
dispensar o edifício teatral para a sua realização.
B
utilizar figurinos com adereços cômicos.
C
empregar elementos circenses na atuação.
D
excluir o uso de cenário na ambientação.
E
negar o uso de iluminação artificial.
QUESTÃO 127 – O humor
e a língua
Há algum tempo, venho estudando as piadas, com
ênfase em sua constituição linguística. Por isso, embora a a afirmação a seguir
possa parecer surpreendente, creio que posso garantir que se trata de uma
verdade quase banal: as piadas fornecem simultaneamente um dos melhores retratos
dos valores e problemas de uma sociedade, por um lado, e uma coleção de fatos e
dados impressionantes para quem quer saber o que é e como funciona uma língua,
por outro. Se se quiser descobrir os problemas com os quais uma sociedade se
debate, uma coleção de piadas fornecerá excelente pista: sexualidade,
etnia/raça e outras diferenças, instituições (igreja, escola, casamento,
política), morte, tudo isso está sempre presente nas piadas que circulam
anonimamente e que são ouvidas e contadas por todo mundo em todo o mundo. Os
antropólogos ainda não prestaram a devida atenção a esse material, que poderia substituir
com vantagem muitas entrevistas e pesquisas participantes. Saberemos mais a
quantas andam o machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos uma coleção
de piadas do que qualquer outro corpus.
POSSENTI,
S. Ciência Hoje, n. 176, out. 2001 (adaptado).
A
piada é um gênero textual que figura entre os mais recorrentes na cultura
brasileira, sobretudo na tradição oral. Nessa reflexão, a piada é enfatizada
por
A
sua função humorística.
B
sua ocorrência universal.
C
sua diversidade temática.
D
seu papel como veículo de preconceitos.
E
seu potencial como objeto de investigação.
QUESTÃO 128
O filme Menina de ouro conta a
história de Maggie Fitzgerald, uma garçonete de 31 anos que vive sozinha em
condições humildes e sonha em se tornar uma boxeadora profissional treinada por
Frankie Dunn.
Em uma cena, assim que o treinador atravessa a
porta do corredor onde ela se encontra, Maggie o aborda e, a caminho da saída,
pergunta a ele se está interessado em treiná-la. Frankie responde: “Eu não
treino garotas”. Após essa fala, ele vira as costas e vai embora. Aqui,
percebemos, em Frankie, um comportamento ancorado na representação de que boxe
é esporte de homem e, em Maggie, a superação da concepção de que os ringues são
tradicionalmente masculinos.
Historicamente construída, a feminilidade
dominante atribui a submissão, a fragilidade e a passividade a uma “natureza
feminina”. Numa concepção hegemônica dos gêneros, feminilidades e
masculinidades encontram-se em extremidades opostas.
No entanto, algumas mulheres, indiferentes às
convenções sociais, sentem-se seduzidas e desafiadas a aderirem à prática das
modalidades consideradas masculinas. É o que observamos em Maggie, que se
mostra determinada e insiste em seu objetivo de ser treinada por Frankie.
FERNANDES,
V.; MOURÃO, L. Menina de ouro e a representação de feminilidades plurais.
Movimento, n. 4, out.-dez. 2014 (adaptado).
Movimento, n. 4, out.-dez. 2014 (adaptado).
A
inserção da personagem Maggie na prática corporal do boxe indica a
possibilidade da construção de uma feminilidade marcada pela
A
adequação da mulher a uma modalidade esportiva alinhada a seu gênero.
B
valorização de comportamentos e atitudes normalmente associados à mulher.
C
transposição de limites impostos à mulher num espaço de predomínio masculino.
D
aceitação de padrões sociais acerca da participação da mulher nas lutas
corporais.
E
naturalização de barreiras socioculturais responsáveis pela exclusão da mulher
no boxe.
QUESTÃO 129 – Entrevista
com Terezinha Guilhermina
Terezinha Guilhermina é uma das atletas mais
premiadas da história paraolímpica do Brasil e um dos principais nomes do
atletismo mundial. Está no Guinness Book de 2013/2014 como a “cega” mais rápida
do mundo.
Observatório: Quais
os desafios você teve que superar para se consagrar como atleta profissional?
Terezinha
Guilhermina: Considero a ausência de recursos financeiros, nos três
primeiros anos da minha carreira, como meu principal desafio. A falta de um
atleta-guia, para me auxiliar nos treinamentos, me obrigava a treinar sozinha
e, por não enxergar bem, acabava sofrendo alguns acidentes como trombadas e
quedas.
Observatório: Como
está a preparação para os Jogos Paraolímpicos de 2016?
Terezinha Guilhermina: Estou trabalhando intensamente, com vistas a chegar lá bem melhor do que estive em Londres. E, por isso, posso me dedicar a treinos diários, trabalhos preventivos de lesões e acompanhamento psicológico e nutricional da melhor qualidade.
Terezinha Guilhermina: Estou trabalhando intensamente, com vistas a chegar lá bem melhor do que estive em Londres. E, por isso, posso me dedicar a treinos diários, trabalhos preventivos de lesões e acompanhamento psicológico e nutricional da melhor qualidade.
Revista
do Observatório Brasil de Igualdade de Gênero, n. 6, dez. 2014 (adaptado).
O
texto permite relacionar uma prática corporal com uma visão ampliada de saúde.
O fator que possibilita identificar essa perspectiva é o(a)
A
aspecto nutricional.
B
condição financeira.
C
prevenção de lesões.
D
treinamento esportivo.
E
acompanhamento psicológico.
QUESTÃO 130 – É possível considerar
as modalidades esportivas coletivas dentro de uma mesma lógica, pois possuem
uma estrutura comum: seis princípios operacionais divididos em dois grupos, o
ataque e a defesa. Os três princípios operacionais de ataque são: conservação
individual e coletiva da bola, progressão da equipe com a posse da bola em
direção ao alvo adversário e finalização da jogada, visando a obtenção de
ponto. Os três princípios operacionais da defesa são: recuperação da bola,
impedimento do avanço da equipe contrária com a posse da bola e proteção do
alvo para impedir a finalização da equipe adversária.
DAOLIO,
J. Jogos esportivos coletivos: dos princípios operacionais aos gestos técnicos –
modelo pendular a partir das ideias de Claude Bayer. Revista Brasileira de
Ciência e Movimento, out. 2002 (adaptado).
Considerando
os princípios expostos no texto, o drible no handebol caracteriza o princípio
de
A
recuperação da bola.
B
progressão da equipe.
C
finalização da jogada.
D
proteção do próprio alvo.
E
impedimento do avanço adversário.
QUESTÃO 131 – BONS
DIAS!
14
de junho de 1889
Ó doce, ó longa, ó inexprimível melancolia dos
jornais velhos! Conhece-se um homem diante de um deles. Pessoa que não sentir
alguma coisa ao ler folhas de meio século, bem pode crer que não terá nunca uma
das mais profundas sensações da vida, – igual ou quase igual à que dá a vista
das ruínas de uma civilização. Não é a saudade piegas, mas a recomposição do
extinto, a revivescência do passado.
ASSIS,
M. Bons dias! (Crônicas 1888-1889). Campinas: Editora da Unicamp; São
Paulo: Hucitec, 1990.
O
jornal impresso é parte integrante do que hoje se compreende por tecnologias de
informação e comunicação. Nesse texto, o jornal é reconhecido como
A
objeto de devoção pessoal.
B
elemento de afirmação da cultura.
C
instrumento de reconstrução da memória.
D
ferramenta de investigação do ser humano.
E
veículo de produção de fatos da realidade.
QUESTÃO 132
TEXTO
I
BACON,
F. Três estudos para um autorretrato. Óleo sobre tela, 37,5 x 31,8 cm (cada),
1974.
Disponível
em: www.metmuseum.org. Acesso em: 30 maio 2016.
TEXTO
II
Tenho um rosto lacerado por rugas secas e
profundas, sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece com pessoas
de traços delicados, o contorno é o mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um
rosto destruído.
DURAS,
M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Na
imagem e no texto do romance de Marguerite Duras, os dois autorretratos apontam
para o modo de representação da subjetividade moderna. Na pintura e na literatura
modernas, o rosto humano deforma-se, destrói-se ou fragmenta-se em razão
A
da adesão à estética do grotesco, herdada do romantismo europeu, que trouxe
novas possibilidades de representação.
B
das catástrofes que assolaram o século XX e da descoberta de uma realidade
psíquica pela psicanálise.
C
da opção em demonstrarem oposição aos limites estéticos da revolução permanente
trazida pela arte moderna.
D
do posicionamento do artista do século XX contra a negação do passado, que se
torna prática dominante na sociedade burguesa.
E
da intenção de garantir uma forma de criar obras de arte independentes da
matéria presente em sua história pessoal.
QUESTÃO 133 – Lições
de motim
DONA
COTINHA – É claro! Só gosta de solidão quem nasceu pra ser solitário. Só o
solitário gosta de solidão. Quem vive só e não gosta da solidão não é um
solitário, é só um desacompanhado. (A reflexão escorrega lá pro fundo da alma.)
Solidão é vocação, besta de quem pensa que é sina. Por isso, tem de ser
valorizada. E não é qualquer um que pode ser solitário, não. Ah, mas não é
mesmo! É preciso ter competência pra isso. (De súbito, pedagógica, volta-se
para o homem.) É como poesia, sabe, moço? Tem de ser recitada em voz alta, que
é pra gente sentir o gosto. (FAZ UMA PAUSA.) Você gosta de poesia? (O HOMEM
TORNA A SE DEBATER. A VELHA INTERROMPE O DISCURSO E VOLTA A LHE DAR AS COSTAS,
COMO SEMPRE, IMPASSÍVEL. O HOMEM, MAIS UMA VEZ, CANSADO, DESISTE.) Bem, como eu
ia dizendo, pra viver bem com a solidão temos de ser proprietários dela e não
inquilinos, me entende? Quem é inquilino da solidão não passa de um abandonado.
É isso aí.
ZORZETTI,
H. Lições de motim. Goiânia: Kelps, 2010 (adaptado).
Nesse
trecho, o que caracteriza Lições de motim como texto teatral?
A
O tom melancólico presente na cena.
B
As perguntas retóricas da personagem.
C
A interferência do narrador no desfecho da cena.
D
O uso de rubricas para construir a ação dramática.
E
As analogias sobre a solidão feitas pela personagem.
QUESTÃO 134 - A obra de Túlio Piva
poderia ser objeto de estudo nos bancos escolares, ao lado de Noel, Ataulfo e
Lupicínio. Se o criador optou por permanecer em sua querência – Santiago, e
depois Porto Alegre, a obra alçou voos mais altos, com passagens na Rússia,
Estados Unidos e Venezuela. Tem que ter mulata, seu samba maior, é coisa de
craque. Um retrato feito de ritmo e poesia, uma ode ao gênero que amou desde
sempre. E o paradoxo: misto de gaúcho e italiano, nascido na fronteira com a
Argentina, falando de samba, morro e mulata, com categoria. E que categoria!
Uma batida de violão que fez história. O tango transmudado em samba.
RAMIREZ,
H.; PIVA, R. (Org.). Túlio Piva: pra ser samba brasileiro.
Porto Alegre: Programa Petrobras Cultural, 2005 (adaptado).
Porto Alegre: Programa Petrobras Cultural, 2005 (adaptado).
O
texto é um trecho da crítica musical sobre a obra de Túlio Piva. Para enfatizar
a qualidade do artista, usou-se como recurso argumentativo o(a)
A
contraste entre o local de nascimento e a escolha pelo gênero samba.
B
exemplo de temáticas gaúchas abordadas nas letras de sambas.
C
alusão a gêneros musicais brasileiros e argentinos.
D
comparação entre sambistas de diferentes regiões.
E
aproximação entre a cultura brasileira e a argentina.
QUESTÃO 135
L.J.C.
—
5 tiros?
—
É.
—
Brincando de pegador?
—
É. O PM pensou que…
—
Hoje?
—
Cedinho.
COELHO,
M. In: FREIRE, M. (Org.). Os cem menores contos brasileiros do século. São
Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
Os
sinais de pontuação são elementos com importantes funções para a progressão
temática. Nesse miniconto, as reticências foram utilizadas para indicar
A
uma fala hesitante.
B
uma informação implícita.
C
uma situação incoerente.
D
a eliminação de uma ideia.
E
a interrupção de uma ação.
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