ENEM 2013 – PROVA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS
Questões de 96 a 135
QUESTÃO 96
Grupo Escolar de Palmeiras - 3º anno 18-11-911 - Descripção J B Pereira
A nossa bandeira
“Auri verde pendão de minha terra
Que a brisa do Brazil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra
As promessas divinas da Esperança.”
A bandeira brazileira é a mais bonita de todas; vou
descrevel-a. O rectangulo verde indica a cor de nossas mattas. O losango amarello
indica a cor das riquezas naturais que o nosso caro Brazil encerra como o ouro.
No centro da bandeira vê-se uma esphera azul que indica a terra, e as estrellas
que se acham dentro da esphera representam os estados. Na faixa dentro da
esphera está escripto o lema Ordem e Progresso, o qual representa a base da
republica e a organização do povo brazileiro. Salve! Bandeira Brazileira GRUPO
ESCOLAR DE PALMEIRAS.
Redações de Maria Anna de Biase e J. B. Pereira sobre a Bandeira
Nacional. Palmeiras (SP), 18 nov. 1911. Acervo APESP. Coleção
DAESP. C10279. Disponível em: www.arquivoestado.sp.gov.br.
Acesso em: 15 maio 2013.
O documento foi retirado de uma exposição on-line de manuscritos
do estado de São Paulo do início do século XX. Quanto à relevância social para
o leitor da atualidade, o texto
A funciona como veículo de transmissão de valores patrióticos próprios
do período em que foi escrito.
B cumpre uma função instrucional de ensinar regras de comportamento em
eventos cívicos.
C deixa subentendida a ideia de que o brasileiro preserva as riquezas
naturais do país.
D argumenta em favor da construção de uma nação com igualdade de
E apresenta uma metodologia de ensino restrita a uma determinada época.
QUESTÃO 97
TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles;
e daí a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam, este dia, à praia,
quatrocentos ou quatrocentos e
cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. [...]
Andavam todos tão bem-dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas
que muito agradavam.
CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre:
L&PM, 1996 (fragmento).
TEXTO II
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo sobre tela,
199 x 169 cm
Disponível em: www.portinari.org.br. Acesso em: 12 jun. 2013.
Pertencentes ao patrimônio cultural brasileiro, a carta de Pero Vaz de
Caminha e a obra de Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil. Da
leitura dos textos, constata-se que
A a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das primeiras
manifestações artísticas dos portugueses em terras brasileiras e preocupa-se
apenas com a estética literária.
B a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos pintados, cuja grande significação é a
afirmação da arte acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem
moderna.
C a carta, como testemunho histórico-político, mostra o olhar do
colonizador sobre a gente da terra, e a pintura destaca, em primeiro plano, a
inquietação dos nativos.
D as duas produções, embora usem linguagens diferentes — verbal e não verbal —, cumprem
a mesma função social e artística.
E a pintura e a carta de Caminha são manifestações de grupos étnicos
diferentes, produzidas em um mesmo momento histórico, retratando a colonização.
QUESTÃO 98
Querô
DELEGADO — Então
desce ele. Vê o que arrancam desse sacana.
SARARÁ — Só que tem
um porém. Ele é menor.
DELEGADO — Então
vai com jeito. Depois a gente entrega pro juiz. (Luz apaga
no delegado e acende no repórter, que se dirige ao público.)
REPÓRTER — E o
Querô foi espremido, empilhado, esmagado de corpo e
alma num cubículo imundo, com outros meninos. Meninos todos espremidos,
empilhados, esmagados de corpo e alma, alucinados pelos seus desesperos, cegados por muitas aflições.
Muitos meninos, com seus desesperos e seus ódios,
empilhados, espremidos, esmagados de corpo e alma no imundo cubículo do
reformatório. E foi lá que o Querô cresceu.
MARCOS, P. Melhor teatro. São Paulo: Global, 2003 (fragmento).
No discurso do repórter, a repetição causa um efeito de sentido de intensificação, construindo a
ideia de
A opressão física e moral, que gera rancor nos meninos.
B repressão policial e social, que gera apatia nos meninos.
C polêmica judicial e midiática, que gera confusão entre os meninos.
D concepção educacional e carcerária, que gera comoção nos meninos.
E informação crítica e jornalística, que gera indignação entre os
meninos.
QUESTÃO 99
Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse, o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia.
Brasília: Alhambra, 1995.
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na
condução temática, o soneto de Raimundo
Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo
são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela
que
A a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de
forma dissimulada.
B o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um
grupo social.
C a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o
sentimento de inveja.
D o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do
próximo.
E a transfiguração da
angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio
social.
QUESTÃO 100
Secretaria de Cultura
EDITAL
NOTIFICAÇÃO — Síntese da
resolução publicada no Diário Oficial da Cidade, 29/07/2011 — página 41 — 511ª
Reunião Ordinária, em 21/06/2011. Resolução nº
08/2011 — TOMBAMENTO dos imóveis da Rua Augusta, nº 349 e n° 353,
esquina com a Rua Marquês de Paranaguá, nº 315, n° 327 e n° 329 (Setor 010,
Quadra 026, Lotes 0016-2 e 00170-0), bairro da Consolação, Subprefeitura da Sé,
conforme o processo administrativo nº 1991-0.005.365-1.
Folha de S. Paulo, 5 ago. 2011 (adaptado).
Um leitor interessado nas decisões governamentais escreve uma carta para
o jornal que publicou o edital, concordando com a resolução sintetizada no
Edital da Secretaria de Cultura. Uma frase adequada para expressar sua
concordância é:
A Que sábia iniciativa! Os prédios em péssimo estado de conservação
devem ser derrubados.
B Até que enfim! Os
edifícios localizados nesse trecho descaracterizam o
conjunto arquitetônico da Rua Augusta.
C Parabéns! O poder público precisa mostrar sua força como guardião das
tradições dos moradores locais.
D Justa decisão! O governo dá mais um passo rumo à eliminação do
problema da falta de moradias populares.
E Congratulações! O patrimônio histórico da cidade merece todo empenho
para ser preservado.
QUESTÃO 101
Adolescentes: mais altos, gordos e preguiçosos
A oferta de produtos industrializados e a falta de tempo
têm sua parcela de responsabilidade no aumento da silhueta dos jovens. “Os
nossos hábitos alimentares, de
modo geral, mudaram muito”, observa Vivian Ellinger, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
(SBEM), no Rio de Janeiro. Pesquisas mostram que, aqui no Brasil, estamos
exagerando no sal e no açúcar, além de tomar pouco leite e comer menos frutas e
feijão.
Outro pecado, velho conhecido de quem exibe excesso
de gordura por causa da gula, surge como marca da nova geração: a preguiça.
“Cem por cento das meninas que participam do Programa não praticavam nenhum esporte”, revela a psicóloga
Cristina Freire, que monitora o desenvolvimento emocional das
voluntárias. Você provavelmente já sabe quais são as consequências de uma
rotina sedentária e cheia de gordura. “E não é novidade que os obesos têm uma sobrevida menor”, acredita Claudia Cozer, endocrinologista da Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade e da Síndrome Metabólica. Mas, se há cinco anos os estudos projetavam
um futuro sombrio para os jovens, no cenário atual as doenças que viriam na
velhice já são parte da rotina deles. “Os adolescentes já estão sofrendo com hipertensão e diabete”, exemplifica
Claudia.
DESGUALDO, P. Revista Saúde. Disponível em: http://saude.abril.com.br. Acesso em: 28
jul. 2012 (adaptado).
Sobre a relação entre os hábitos da população adolescente e as suas
condições de saúde, as informações apresentadas no texto indicam que
A a falta de atividade física somada a uma alimentação nutricionalmente
desequilibrada constituem fatores relacionados ao aparecimento de doenças
crônicas entre os adolescentes.
B a diminuição do consumo de alimentos fontes de carboidratos combinada
com um maior consumo de alimentos ricos em proteínas contribuíram para o aumento
da obesidade entre os adolescentes.
C a maior participação dos alimentos industrializados e gordurosos na
dieta da população adolescente tem tornado escasso o consumo de sais e
açúcares, o que prejudica o equilíbrio metabólico.
D a ocorrência de casos de hipertensão e diabetes entre os adolescentes
advém das condições de alimentação, enquanto que na população adulta os fatores
hereditários são preponderantes.
E a prática regular de atividade física é um importante fator de
controle da diabetes entre a população adolescente, por provocar um constante
aumento da pressão arterial sistólica.
QUESTÃO 102
KUCZYNSKIEGO, P. Ilustração, 2008. Disponível em: http://capu.pl. Acesso
em: 3 ago. 2012.
O artista gráfico polonês Pawla
Kuczynskiego nasceu em 1976 e recebeu diversos prêmios por suas
ilustrações. Nessa obra, ao abordar o trabalho infantil, Kuczynskiego usa sua
arte para
A difundir a origem de marcantes diferenças sociais.
B estabelecer uma postura proativa da sociedade.
C provocar a reflexão
sobre essa realidade.
D propor alternativas para solucionar esse problema.
E retratar como a questão é enfrentada em vários países do mundo.
QUESTÃO 103
O jogo é uma atividade ou ocupação voluntária, exercida
dentro de certos e determinados limites de tempo e de espaço, segundo regras
livremente consentidas, mas absolutamente
obrigatórias, dotado de um fim em si mesmo, acompanhado de um
sentimento de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da “vida quotidiana”.
HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São
Paulo: Perspectiva, 2004.
Segundo o texto, o jogo comporta a possibilidade de fruição. Do ponto de
vista das práticas corporais, essa fruição se estabelece por meio do(a)
A fixação de táticas,
que define a padronização para maior alcance popular.
B competitividade, que impulsiona o interesse pelo sucesso.
C refinamento
técnico, que gera resultados satisfatórios.
D caráter lúdico, que permite experiências inusitadas.
E uso tecnológico, que amplia as opções de lazer.
QUESTÃO 104
Novas tecnologias
Atualmente, prevalece na mídia um discurso de exaltação
das novas tecnologias, principalmente aquelas ligadas às atividades de
telecomunicações. Expressões frequentes
como “o futuro já chegou”, “maravilhas tecnológicas” e “conexão total com o
mundo” “fetichizam” novos produtos, transformando-os em objetos do
desejo, de consumo obrigatório. Por esse motivo carregamos hoje nos bolsos, bolsas e mochilas o
“futuro” tão festejado.
Todavia, não podemos reduzir-nos a meras
vítimas de um aparelho midiático perverso, ou de um aparelho capitalista
controlador. Há perversão, certamente, e controle, sem sombra de dúvida.
Entretanto, desenvolvemos uma relação simbiótica de dependência mútua
com os veículos de comunicação, que se estreita a cada imagem compartilhada e a
cada dossiê pessoal transformado em objeto público de entretenimento.
Não mais como aqueles acorrentados na caverna de Platão,
somos livres para nos aprisionar, por espontânea vontade, a esta relação
sadomasoquista com as estruturas midiáticas, na qual tanto controlamos quanto
somos controlados.
SAMPAIO, A. S. A microfísica do espetáculo. Disponível em: http://observatoriodaimprensa.com.br.
Acesso em: 1 mar. 2013 (adaptado).
Ao escrever um artigo de opinião, o produtor precisa criar uma base de
orientação linguística que permita alcançar os leitores e convencê-los com
relação ao ponto de vista defendido. Diante disso, nesse texto, a escolha das formas
verbais em destaque objetiva
A criar relação de subordinação entre leitor e autor, já que ambos usam
as novas tecnologias.
B enfatizar a probabilidade de que toda população brasileira esteja
aprisionada às novas tecnologias.
C indicar, de forma clara, o ponto de vista de que hoje as pessoas são
controladas pelas novas tecnologias.
D tornar o leitor copartícipe do ponto de vista de que ele manipula as
novas tecnologias e por elas é manipulado.
E demonstrar ao leitor sua parcela de responsabilidade por deixar que as
novas tecnologias controlem as pessoas.
QUESTÃO 105
Olá! Negro
Os netos de teus mulatos e de teus cafuzos
e a quarta e a quinta gerações de teu sangue sofredor
tentarão apagar a tua cor!
E as gerações dessas gerações quando apagarem
a tua tatuagem execranda,
não apagarão de suas almas, a tua alma, negro!
Pai-João, Mãe-negra, Fulô, Zumbi,
negro-fujão, negro cativo, negro rebelde
negro cabinda, negro congo, negro ioruba,
negro que foste para o algodão de USA
para os canaviais do Brasil,
para o tronco, para o colar de ferro, para a canga
de todos os senhores do mundo;
eu melhor compreendo agora os teus blues
nesta hora triste da raça branca, negro!
Olá, Negro! Olá, Negro!
A raça que te enforca, enforca-se de tédio, negro!
LIMA, J. Obras completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1958
(fragmento).
O conflito de gerações e de grupos étnicos
reproduz, na visão do eu lírico, um contexto social assinalado
por
A modernização dos modos de produção e consequente enriquecimento dos
brancos.
B preservação da memória ancestral e resistência negra à apatia cultural
dos brancos.
C superação dos costumes antigos por meio da incorporação de valores dos
colonizados.
D nivelamento social de descendentes de escravos e de senhores pela
condição de pobreza.
E antagonismo entre grupos de trabalhadores e lacunas de
hereditariedade.
QUESTÃO 106
Até quando?
Não adianta olhar pro céu
Com muita fé e pouca luta
Levanta aí que você tem muito protesto pra fazer
E muita greve, você pode, você deve, pode crer
Não adianta olhar pro chão
Virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus
Sofreu não quer dizer que você tenha que sofrer!
GABRIEL, O PENSADOR. Seja você mesmo (mas não seja sempre o mesmo).
Rio de Janeiro: Sony Music, 2001 (fragmento).
As escolhas linguísticas feitas pelo autor conferem ao texto
A caráter atual, pelo uso de linguagem própria da internet.
B cunho apelativo, pela predominância de imagens metafóricas.
C tom de diálogo, pela recorrência de gírias.
D espontaneidade, pelo uso da linguagem coloquial.
E originalidade, pela concisão da linguagem.
QUESTÃO 107
CAULOS. Disponível em: www.caulos.com. Acesso em: 24 set. 2011.
O cartum faz uma crítica social. A figura
destacada está em oposição às outras e representa a
A opressão das minorias sociais.
B carência de recursos tecnológicos.
C falta de liberdade de expressão.
D defesa da
qualificação profissional.
E reação ao controle do pensamento coletivo.
QUESTÃO 108
Própria dos festejos juninos, a quadrilha nasceu
como dança aristocrática, oriunda dos salões franceses, depois difundida por
toda a Europa.
No Brasil, foi introduzida como dança de salão e,
por sua vez, apropriada e adaptada pelo gosto popular. Para sua ocorrência, é
importante a presença de um mestre
“marcante” ou “marcador”, pois é quem determina as
figurações diversas que os dançadores desenvolvem. Observa-se a constância das
seguintes marcações: “Tour”, “En avant”, “Chez des dames”, “Chez des
chevaliê”, “Cestinha de
flor”, “Balancê”, “Caminho da roça”, “Olha a chuva”, “Garranchê”, “Passeio”,
“Coroa de flores”, “Coroa de espinhos” etc.
No Rio de Janeiro, em contexto urbano, apresenta transformações: surgem novas figurações, o
francês aportuguesado inexiste, o uso de gravações
substitui a música ao vivo, além do aspecto de competição, que sustenta os
festivais de quadrilha, promovidos por órgãos de turismo.
CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro:
Melhoramentos, 1976.
As diversas formas de dança são demonstrações da diversidade cultural do
nosso país. Entre elas, a quadrilha é considerada uma dança folclórica por
A possuir como característica principal os atributos divinos e religiosos e, por isso,
identificar uma nação ou região.
B abordar as tradições e costumes de determinados povos ou regiões
distintas de uma mesma nação.
C apresentar cunho artístico e técnicas apuradas, sendo, também,
considerada dança-espetáculo.
D necessitar de
vestuário específico para a sua prática, o qual define seu país de origem.
E acontecer em salões
e festas e ser influenciada por diversos gêneros musicais.
QUESTÃO 109
Jogar limpo
Argumentar não é ganhar uma discussão a qualquer preço.
Convencer alguém de algo é, antes de tudo, uma alternativa à prática de ganhar
uma questão no grito ou na violência
física — ou não física. Não física, dois pontos. Um político que mente descaradamente pode cativar eleitores. Uma
publicidade que joga baixo pode constranger multidões a consumir um produto
danoso ao ambiente. Há manipulações psicológicas não só na religião. E é comum
pessoas agirem emocionalmente,
porque vítimas de ardilosa — e cangoteira — sedução. Embora a eficácia a todo
preço não seja argumentar, tampouco se trata de admitir só verdades científicas
— formar opinião apenas depois de ver a demonstração
e as evidências, como a ciência faz. Argumentar é matéria da vida cotidiana,
uma forma de retórica, mas é um raciocínio que tenta convencer sem se tornar
mero cálculo manipulativo, e pode
ser rigoroso sem ser científico.
Língua Portuguesa, São Paulo, ano 5, n. 66, abr.
2011 (adaptado).
No fragmento, opta-se por uma construção linguística bastante diferente
em relação aos padrões normalmente empregados na escrita. Trata-se da frase
“Não física, dois pontos”. Nesse
contexto, a escolha por se representar por extenso o sinal de
pontuação que deveria ser utilizado
A enfatiza a metáfora de que o autor se vale para desenvolver seu ponto
de vista sobre a arte de argumentar.
B diz respeito a um recurso de metalinguagem, evidenciando as relações e
as estruturas presentes no enunciado.
C é um recurso estilístico que promove satisfatoriamente a sequenciação
de ideias, introduzindo apostos exemplificativos.
D ilustra a
flexibilidade na estruturação do gênero textual, a qual se concretiza no emprego da linguagem conotativa.
E prejudica a sequência do texto, provocando estranheza no leitor ao não
desenvolver explicitamente o raciocínio a partir de argumentos.
QUESTÃO 110
A diva
Vamos ao teatro, Maria José?
Quem me dera,
desmanchei em rosca quinze kilos de farinha,
tou podre. Outro dia a gente vamos.
Falou meio triste, culpada,
e um pouco alegre por recusar com orgulho.
TEATRO! Disse no espelho.
TEATRO! Mais alto, desgrenhada.
TEATRO! E os cacos voaram
sem nenhum aplauso.
Perfeita.
PRADO, A. Oráculos de maio. São Paulo: Siciliano, 1999.
Os diferentes gêneros textuais desempenham funções sociais diversas,
reconhecidas pelo leitor com base em suas características específicas, bem como na situação comunicativa em que ele é produzido. Assim, o texto A diva
A narra um fato real vivido por Maria José.
B surpreende o leitor pelo seu efeito poético.
C relata uma
experiência teatral profissional.
D descreve uma ação típica de uma mulher sonhadora.
E defende um ponto de vista relativo ao exercício teatral.
QUESTÃO 111
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse
sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a
pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não
sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. [...]
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei
a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de
acontecer? Se antes da prépré-história já havia os monstros apocalípticos? Se
esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu
que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi
palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes. Como
eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual — há dois anos e meio
venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência
de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora
mesma em que sou lido. Só não inicio
pelo fim que justificaria o começo — como a morte parece dizer sobre a vida —
porque preciso registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco,
1998 (fragmento).
A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória
literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela,
de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade
porque o narrador
A observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo
indiferente aos fatos e às personagens.
B relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que
levaram aos eventos que a compõem.
C revela-se um
sujeito que reflete sobre questões existenciais e
sobre a construção do discurso.
D admite a
dificuldade de escrever uma história em razão da
complexidade para escolher as palavras exatas.
E propõe-se a
discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de
ficção.
QUESTÃO 112
TEXTO I
É evidente que a
vitamina D é importante — mas como obtê-la? Realmente,
a vitamina D pode ser produzida naturalmente pela exposição à luz do sol, mas
ela também existe em alguns alimentos comuns. Entretanto, como fonte dessa
vitamina, certos alimentos são melhores do que outros. Alguns possuem uma quantidade significativa de vitamina D, naturalmente, e são alimentos que talvez você não queira
exagerar: manteiga, nata, gema de ovo e fígado.
Disponível em: http://saude.hsw.uol.com.br. Acesso em: 31 jul. 2012.
TEXTO II
Todos nós sabemos que a vitamina D (colecalciferol)
é crucial para sua saúde. Mas a vitamina D é realmente uma vitamina? Está presente
nas comidas que os humanos normalmente consomem? Embora exista em algum
percentual na gordura do peixe, a vitamina D não está em nossas dietas, a não
ser que os humanos artificialmente
incrementem um produto alimentar, como o leite enriquecido
com vitamina D. A natureza planejou que você a produzisse em sua pele, e não a
colocasse direto em sua boca. Então, seria a vitamina D realmente uma vitamina?
Disponível em: www.umaoutravisao.com.br. Acesso em: 31 jul. 2012.
Frequentemente circulam na mídia textos de divulgação científica que apresentam informações
divergentes sobre um mesmo tema. Comparando os dois textos, constata-se
que o Texto II contrapõe-se ao I quando
A comprova
cientificamente que a vitamina D não é uma vitamina.
B demonstra a verdadeira importância da vitamina D para a saúde.
C enfatiza que a vitamina D é mais comumente produzida pelo corpo que
absorvida por meio de alimentos.
D afirma que a
vitamina D existe na gordura dos peixes e no leite, não em
seus derivados.
E levanta a possibilidade de o corpo humano produzir artificialmente a vitamina D.
QUESTÃO 113
O bit na galáxia de Gutenberg
Neste século, a escrita divide terreno com diversos
meios de comunicação. Essa questão nos faz pensar na necessidade da
“imbricação, na coexistência e interpretação recíproca dos diversos circuitos
de produção e difusão do
saber...”.
É necessário relativizar nossa postura frente às modernas
tecnologias, principalmente à informática. Ela é um campo novidativo, sem
dúvida, mas suas bases estão nos modelos informativos anteriores, inclusive, na
tradição oral e na capacidade natural de simular mentalmente os acontecimentos
do mundo e antecipar as consequências de nossos atos. A impressão é a matriz que deflagrou todo esse processo comunicacional eletrônico. Enfatizo, assim, o
parentesco que há entre o computador e os outros meios de comunicação,
principalmente a escrita, uma visão da informática como um “desdobramento
daquilo que a produção literária impressa e, anteriormente, a tradição oral já traziam consigo”.
NEITZEL, L. C. Disponível em: www.geocities.com. Acesso em: 1 ago. 2012
(adaptado).
Ao tecer considerações sobre as tecnologias da contemporaneidade e os
meios de comunicação do passado, esse texto concebe que a escrita contribui
para uma evolução das novas tecnologias por
A se desenvolver paralelamente nos meios tradicionais de comunicação e
informação.
B cumprir função essencial na contemporaneidade por meio das impressões
em papel.
C realizar transição relevante da tradição oral para o progresso das
sociedades humanas.
D oferecer melhoria sistemática do padrão de vida e do desenvolvimento
social humano.
E fornecer base essencial para o progresso das tecnologias de
comunicação e informação.
QUESTÃO 114
Manta que costura causos e histórias no seio de uma família serve de
metáfora da memória em obra escrita por autora portuguesa
O que poderia valer mais do que a manta para aquela
família? Quadros de pintores famosos? Joias de rainha? Palácios? Uma manta
feita de centenas de retalhos de roupas velhas aquecia os pés das crianças e a
memória da avó, que a cada quadrado apontado por seus netos resgatava de suas
lembranças uma história. Histórias fantasiosas como a do vestido com um bolso que
abrigava um gnomo comedor de biscoitos; histórias de traquinagem como a do
calção transformado em farrapos no dia em que o menino, que gostava de andar de
bicicleta de olhos fechados, quebrou o braço; histórias de saudades, como o
avental que carregou uma carta por mais de um mês... Muitas histórias formavam
aquela manta. Os protagonistas eram pessoas da família, um tio, uma tia, o avô,
a bisavó, ela mesma, os antigos donos das roupas. Um dia, a avó morreu, e as
tias passaram a disputar a manta, todas a queriam, mais do que aos quadros,
joias e palácios deixados por ela. Felizmente, as tias conseguiram chegar a um
acordo, e a manta passou a ficar cada mês na
casa de uma delas. E os retalhos, à medida que iam se
acabando, eram substituídos por outros retalhos, e novas e antigas histórias
foram sendo incorporadas à manta mais valiosa do mundo.
LASEVICIUS, A. Língua Portuguesa, São Paulo, n. 76, 2012
(adaptado).
A autora descreve a importância da manta para aquela família, ao
verbalizar que “novas e antigas histórias foram sendo incorporadas à manta mais valiosa do mundo”. Essa valorização evidencia-se pela
A oposição entre os objetos de valor, como joias, palácios e quadros, e
a velha manta.
B descrição detalhada dos aspectos físicos da manta, como cor e tamanho
dos retalhos.
C valorização da manta como objeto de herança familiar disputado por
todos.
D comparação entre a manta que protege do frio e a manta que aquecia os
pés das crianças.
E correlação entre os retalhos da manta e as muitas histórias de
tradição oral que os formavam.
QUESTÃO 115
O hipertexto permite
— ou, de certo modo, em
alguns casos, até mesmo exige — a
participação de
diversos autores na sua construção, a
redefinição
dos papéis de autor e leitor e a revisão dos modelos
tradicionais de leitura e de escrita. Por seu enorme
potencial para se estabelecerem conexões, ele facilita
o desenvolvimento de trabalhos coletivamente, o
estabelecimento da comunicação e a aquisição de
informação de maneira cooperativa.
Embora haja quem identifique o hipertexto
exclusivamente com os textos eletrônicos, produzidos
em determinado tipo de meio ou de tecnologia, ele não
deve ser limitado a isso, já que consiste numa forma
organizacional que tanto pode ser concebida para o
papel como para os ambientes digitais. É claro que o
texto virtual permite concretizar certos aspectos que, no
papel, são praticamente inviáveis: a conexão imediata,
a comparação de trechos de textos na mesma tela, o
“mergulho” nos diversos aprofundamentos de
um tema,
como se o texto tivesse camadas, dimensões ou planos.
RAMAL, A. C. Educação na cibercultura: hipertextualidade,
leitura, escrita e aprendizagem.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
Considerando-se a linguagem específica de
cada sistema
de comunicação, como rádio, jornal, TV, internet, segundo
o texto, a hipertextualidade configura-se
como um(a)
A elemento originário dos textos eletrônicos.
B conexão imediata e reduzida ao texto digital.
C novo modo de leitura e de organização da escrita.
D estratégia de manutenção do papel do leitor com
perfil definido.
E modelo de leitura baseado nas informações da
superfície do texto.
QUESTÃO 116
Disponível em: http://orion-oblog.blogspot.com.br. Acesso em: 6 jun.
2012 (adaptado).
O cartaz aborda a questão do aquecimento global.
A relação entre os recursos verbais e não verbais
nessa propaganda revela que
A o discurso ambientalista propõe formas radicais de
resolver os problemas climáticos.
B a preservação da vida na Terra depende de ações de
dessalinização da água marinha.
C a acomodação da
topografia terrestre desencadeia o
natural degelo das calotas polares.
D o descongelamento das calotas polares diminui a
quantidade de água doce potável do mundo.
E a agressão ao planeta é dependente da posição
assumida pelo homem frente aos problemas
ambientais.
QUESTÃO 117
Mesmo tendo a trajetória do movimento interrompida com
a prisão de seus dois líderes, o tropicalismo não deixou de cumprir seu papel
de vanguarda na música popular brasileira. A partir da década de 70 do século passado,
em lugar do produto musical de exportação de nível internacional prometido
pelos baianos com a “retomada da linha
evolutória”, instituiu-se nos meios de comunicação e na
indústria do lazer uma nova era musical.
TINHORÃO, J. R. Pequena história da música popular: da modinha ao
tropicalismo. São Paulo: Art, 1986 (adaptado).
A nova era musical mencionada no texto evidencia um gênero que
incorporou a cultura de massa e se adequou à realidade brasileira. Esse gênero
está representado pela obra cujo trecho da letra é:
A A estrela d'alva / No céu desponta / E a lua anda tonta / Com tamanho
esplendor. (As pastorinhas, Noel Rosa e João de Barro)
B Hoje / Eu quero a rosa mais linda que houver / Quero a primeira
estrela que vier / Para enfeitar a noite do meu bem. (A noite do meu bem,
Dolores Duran)
C No rancho fundo /
Bem pra lá do fim do mundo / Onde a dor e a saudade /
Contam coisas da cidade. (No rancho fundo, Ary Barroso e Lamartine Babo)
D Baby Baby / Não adianta chamar / Quando alguém está perdido /
Procurando se encontrar. (Ovelha negra, Rita Lee)
E Pois há menos peixinhos a nadar no mar / Do que os beijinhos que eu
darei / Na sua boca. (Chega de saudade, Tom Jobim e Vinicius de Moraes)
QUESTÃO 118
Futebol: “A rebeldia é que muda o mundo”
Conheça a história de Afonsinho, o primeiro jogador do futebol
brasileiro a derrotar a cartolagem e a conquistar o Passe Livre, há exatos 40
anos
Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez,
então com a camisa do Santos (porque depois voltaria a atuar pelo New York
Cosmos, dos Estados Unidos), em 1972,
quando foi questionado se, finalmente, sentia-se um homem
livre. O Rei respondeu sem titubear:
— Homem livre no
futebol só conheço um: o Afonsinho. Este sim pode dizer, usando as suas
palavras, que deu o grito de independência ou morte. Ninguém mais. O resto é
conversa.
Apesar de suas declarações serem motivo de chacota
por parte da mídia futebolística e até dos torcedores brasileiros, o Atleta do
Século acertou. E provavelmente acertaria novamente hoje. Pela admiração por um
de seus colegas de clube daquele ano. Pelo reconhecimento do caráter e personalidade
de um dos jogadores mais contestadores do futebol nacional. E principalmente em
razão da história de luta — e vitória
— de Afonsinho sobre os cartolas.
ANDREUCCI, R. Disponível em: http://carosamigos.terra.com.br. Acesso em:
19 ago. 2011.
O autor utiliza marcas linguísticas que dão ao texto um caráter informal. Uma dessas marcas é
identificada em:
A “[...] o Atleta do
Século acertou.”
B “O Rei respondeu
sem titubear [...]”.
C “E provavelmente
acertaria novamente hoje.”
D “Pelé estava se aposentando pra valer pela primeira vez [...]”.
E “Pela admiração por um de seus colegas de clube daquele ano.”
QUESTÃO 119
Disponível em: http://clubedamafalda.blogspot.com.br. Acesso em: 21 set.
2011.
Nessa charge, o recurso morfossintático que colabora para o efeito de
humor está indicado pelo(a)
A emprego de uma oração adversativa, que orienta a quebra da expectativa ao final.
B uso de conjunção aditiva, que cria uma relação de causa e efeito entre
as ações.
C retomada do substantivo "mãe", que desfaz a ambiguidade dos
sentidos a ele atribuídos.
D utilização da forma
pronominal "la", que reflete um tratamento formal do filho em relação
à "mãe".
E repetição da forma verbal "é", que reforça a relação de
adição existente entre as orações.
QUESTÃO 120
Disponível em: www.filosofia.com.br. Acesso
em: 30 abr. 2010.
Pelas características da linguagem visual e pelas escolhas vocabulares,
pode-se entender que o texto possibilita a
reflexão sobre uma problemática contemporânea ao
A criticar o transporte rodoviário brasileiro, em razão da grande
quantidade de caminhões nas estradas.
B ironizar a
dificuldade de locomoção no trânsito urbano, devida ao grande fluxo de
veículos.
C expor a questão do movimento como um problema existente desde tempos
antigos, conforme frase citada.
D restringir os problemas de tráfego a veículos particulares, defendendo,
como solução, o transporte público.
E propor a ampliação de vias nas estradas, detalhando o espaço exíguo
ocupado pelos veículos nas ruas.
QUESTÃO 121
Gripado, penso entre espirros em como a palavra gripe
nos chegou após uma série de contágios entre línguas. Partiu da Itália em 1743
a epidemia de gripe que disseminou pela Europa, além do vírus propriamente dito,
dois vocábulos virais: o italiano influenza e o francês grippe. O
primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava “influência dos astros sobre
os homens”. O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper, isto é, “agarrar”. Supõe-se que fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo
infectado.
RODRIGUES, S. Sobre palavras.Veja, São Paulo, 30 nov. 2011.
Para se entender o trecho como uma unidade de sentido, é preciso que o
leitor reconheça a ligação entre seus elementos. Nesse texto, a coesão é
construída predominantemente pela retomada de um termo por outro e pelo uso da
elipse. O fragmento do texto em que há coesão por elipse do sujeito é:
A “[...] a palavra gripe nos chegou após uma série de contágios entre línguas.”
B “Partiu da Itália
em 1743 a epidemia de gripe [...]”.
C “O primeiro era um termo derivado do latim medieval influentia, que significava ‘influência dos astros
sobre os homens’.”
D “O segundo era apenas a forma nominal do verbo gripper [...]”.
E “Supõe-se que
fizesse referência ao modo violento como o vírus se apossa do organismo
infectado.”
QUESTÃO 122
Capítulo LIV — A pêndula
Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir;
estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da
noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito
mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que
eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado
entre dois sacos, o da vida e o da morte, e a contá-las assim:
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
— Outra de menos...
O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe
corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os
meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é
definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol
frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que
morre.
Naquela noite não padeci essa triste sensação de enfado,
mas outra, e deleitosa. As fantasias tumultuavam-me cá dentro, vinham umas
sobre outras, à semelhança de devotas que se abalroam para ver o anjo-cantor
das procissões. Não ouvia os instantes perdidos, mas os minutos ganhados.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1992 (fragmento).
O capítulo apresenta o instante em que Brás Cubas revive a sensação do
beijo trocado com Virgília, casada com Lobo Neves. Nesse contexto, a metáfora
do relógio desconstrói certos paradigmas românticos, porque
A o narrador e Virgília não têm percepção do tempo em seus encontros
adúlteros.
B como “defunto
autor”, Brás Cubas reconhece a inutilidade de tentar acompanhar o fluxo do
tempo.
C na contagem das horas, o narrador metaforiza o desejo de triunfar e
acumular riquezas.
D o relógio representa a materialização do tempo e redireciona o
comportamento idealista de Brás Cubas.
E o narrador compara a duração do sabor do beijo à perpetuidade do
relógio.
QUESTÃO 123
Para Carr, internet atua no comércio da distração
Autor de “A Geração Superficial” analisa a influência da tecnologia na
mente
O jornalista americano Nicholas Carr acredita que a
internet não estimula a inteligência de ninguém. O autor explica descobertas científicas sobre o
funcionamento do cérebro humano e teoriza sobre a influência da internet em nossa forma de pensar.
Para ele, a rede torna o raciocínio de quem navega mais
raso, além de fragmentar a atenção de seus usuários. Mais: Carr afirma que há empresas obtendo
lucro com a recente fragilidade de nossa atenção. “Quanto
mais tempo passamos on-line e quanto mais rápido passamos de uma
informação para a outra, mais dinheiro as empresas de internet fazem”, avalia.
“Essas empresas estão no comércio da distração e são
experts em nos manter cada vez mais famintos por informação fragmentada
em partes pequenas. É claro que elas têm interesse em nos estimular e tirar
vantagem da nossa compulsão
por tecnologia.”
ROXO, E. Folha de S. Paulo, 18 fev. 2012 (adaptado).
A crítica do jornalista norte-americano que justifica o título do texto é a de que
a internet
A mantém os usuários cada vez menos preocupados com a qualidade da
informação.
B torna o raciocínio de quem navega mais raso, além de fragmentar a
atenção de seus usuários.
C desestimula a inteligência, de acordo com descobertas científicas sobre o cérebro.
D influencia nossa
forma de pensar com a superficialidade dos meios eletrônicos.
E garante a empresas a obtenção de mais lucro com a recente fragilidade
de nossa atenção.
QUESTÃO 124
Na verdade, o que se chama genericamente de índios é
um grupo de mais de trezentos povos que, juntos, falam mais de 180 línguas
diferentes. Cada um desses povos possui diferentes histórias, lendas,
tradições, conceitos e olhares sobre a vida, sobre a liberdade, sobre o tempo e
sobre a natureza. Em comum, tais comunidades apresentam a profunda comunhão com
o ambiente em que vivem, o respeito em relação aos indivíduos mais velhos, a preocupação
com as futuras gerações, e o senso de que a felicidade individual depende do
êxito do grupo. Para eles, o sucesso é resultado de uma construção coletiva. Estas
ideias, partilhadas pelos povos indígenas, são indispensáveis para construir
qualquer noção moderna de civilização. Os verdadeiros representantes do atraso
no nosso país não são os índios, mas aqueles que se pautam por visões preconceituosas e ultrapassadas
de “progresso”.
AZZI, R. As razões de ser guarani-kaiowá. Disponível em: www.outraspalavras.net. Acesso em: 7
dez. 2012.
Considerando-se as informações abordadas no texto, ao iniciá-lo com a expressão “Na verdade”, o
autor tem como objetivo principal
A expor as características comuns entre os povos indígenas no Brasil e
suas ideias modernas e civilizadas.
B trazer uma abordagem inédita sobre os povos indígenas no Brasil e,
assim, ser reconhecido como especialista no assunto.
C mostrar os povos indígenas vivendo em comunhão com a natureza, e, por
isso, sugerir que se deve respeitar o meio ambiente e esses povos.
D usar a conhecida oposição entre moderno e antigo como uma forma de
respeitar a maneira ultrapassada como vivem os povos indígenas em diferentes
regiões do Brasil.
E apresentar informações pouco divulgadas a respeito dos indígenas no
Brasil, para defender o caráter desses povos como civilizações, em
contraposição a visões preconcebidas.
QUESTÃO 125
CURY, C. Disponível em: http://tirasnacionais.blogspot.com. Acesso em:
13 nov. 2011.
A tirinha denota a postura assumida por seu produtor frente ao uso social da tecnologia para
fins de interação e de informação. Tal posicionamento é expresso, de
forma argumentativa, por meio de uma atitude
A crítica, expressa pelas ironias.
B resignada, expressa pelas enumerações.
C indignada, expressa pelos discursos diretos.
D agressiva, expressa pela contra-argumentação.
E alienada, expressa pela negação da realidade.
QUESTÃO 126
Dúvida
Dois compadres viajavam de carro por uma estrada de
fazenda quando um bicho cruzou a frente do carro. Um dos compadres falou:
— Passou um largato
ali!
O outro perguntou:
— Lagarto ou
largato?
O primeiro respondeu:
— Num sei não, o
bicho passou muito rápido.
Piadas coloridas. Rio de Janeiro: Gênero, 2006.
Na piada, a quebra de expectativa contribui para produzir o efeito de
humor. Esse efeito ocorre porque um dos personagens
A reconhece a espécie do animal avistado.
B tem dúvida sobre a pronúncia do nome do réptil.
C desconsidera o conteúdo linguístico da pergunta.
D constata o fato de um bicho cruzar a frente do carro.
E apresenta duas possibilidades de sentido para a
QUESTÃO 127
(Tradução da placa: “Não me esqueçam quando
eu for um nome importante.”)
NAZARETH, P. Mercado de Artes / Mercado de Bananas. Miami Art
Basel, EUA, 2011. Disponível em: www.40forever.com.br. Acesso em: 31 jul. 2012.
A contemporaneidade identificada na performance / instalação do artista mineiro Paulo Nazareth
reside principalmente na forma como ele
A resgata conhecidas referências do modernismo mineiro.
B utiliza técnicas e suportes tradicionais na construção das formas.
C articula questões de identidade, território e códigos de linguagens.
D imita o papel das celebridades no mundo contemporâneo.
E camufla o aspecto
plástico e a composição visual de sua montagem.
QUESTÃO 128
Quadrinho quadrado
XAVIER, C. Disponível em: www.releituras.com. Acesso em: 24 abr. 2010.
Os objetivos que motivam os seres humanos a estabelecer comunicação
determinam, em uma situação de interlocução, o predomínio de uma ou de outra
função de linguagem. Nesse texto, predomina a função que se caracteriza por
A tentar persuadir o leitor acerca da necessidade de se tomarem certas
medidas para a elaboração de um livro.
B enfatizar a percepção subjetiva do autor, que projeta para sua obra
seus sonhos e histórias.
C apontar para o estabelecimento de interlocução de modo superficial e automático, entre o
leitor e o livro.
D fazer um exercício
de reflexão a respeito dos princípios que estruturam a
forma e o conteúdo de um livro.
E retratar as etapas do processo de produção de um livro, as quais
antecedem o contato entre leitor e obra.
QUESTÃO 129
MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo.
27 set. 2011 a 29 jan. 2012. São Paulo:
Prol Gráfica, 2012.
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está
relacionada ao futebol. Quanto à questão da identidade nacional, as anotações
em torno dos versos constituem
A direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais.
B forma clássica da construção poética brasileira.
C rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
D intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética.
E lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das
originais.
QUESTÃO 130
O que a internet esconde de você
Sites de busca manipulam resultados. Redes
sociais decidem quem vai ser seu amigo — e descartam as pessoas sem avisar. E,
para cada site que você pode acessar, há 400 outros invisíveis.
Prepare-se para conhecer o lado oculto da internet.
GRAVATÁ, A. Superinteressante, São Paulo, ed. 297, nov. 2011
(adaptado).
Analisando-se as informações verbais e a imagem associada a uma cabeça
humana, compreende-se que a venda
A representa a amplitude de informações que compõem a internet, às quais
temos acesso em redes sociais e sites de busca.
B faz uma denúncia quanto às informações que são omitidas dos usuários
da rede, sendo empregada no sentido conotativo.
C diz respeito a um buraco negro digital, onde estão escondidas as
informações buscadas pelo usuário nos sites que acessa.
D está associada a um conjunto de restrições sociais presentes na vida
daqueles que estão sempre conectados à internet.
E remete às bases de dados da web, protegidas por senhas ou
assinaturas e às quais o navegador não tem acesso.
QUESTÃO 131
O que é bullying virtual ou cyberbullying?
É o bullying que ocorre em meios
eletrônicos, com mensagens difamatórias ou ameaçadoras circulando por e-mails,
sites, blogs (os diários virtuais), redes sociais e celulares. É quase uma
extensão do que dizem e fazem na escola, mas com o agravante de que as pessoas envolvidas
não estão cara a cara. Dessa forma, o anonimato pode aumentar a crueldade dos
comentários e das ameaças e os efeitos podem ser tão graves ou piores. “O
autor, assim como o alvo, tem
dificuldade de sair de seu papel e retomar valores esquecidos ou formar novos”,
explica Luciene Tognetta, doutora em Psicologia Escolar e pesquisadora
da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 3 ago. 2012
(adaptado).
Segundo o texto, com as tecnologias de informação e comunicação, a
prática do bullying ganha novas nuances de perversidade e é
potencializada pelo fato de
A atingir um grupo maior de espectadores.
B dificultar a
identificação do agressor incógnito.
C impedir a retomada de valores consolidados pela vítima.
D possibilitar a participação de um número maior de autores.
E proporcionar o uso de uma variedade de ferramentas da internet.
QUESTÃO 132
Casados e independentes
Um novo levantamento do IBGE mostra que o número de
casamentos entre pessoas na faixa dos 60 anos cresce, desde 2003, a um ritmo
60% maior que o observado na população brasileira como um todo... ...e um fator
determinante é que cada vez mais pessoas nessa idade estão no mercado de
trabalho, o que lhes garante a independência financeira necessária para o
matrimônio.
Aumento no número de casamentos (entre 2003 e 2008)
População com mais de 60 anos no mercado de trabalho
Fontes: IBGE e Organização Internacional do Trabalho (OIT)
* Com base no último dado disponível, de 2008
Entre pessoas
acima dos 60
Na população
brasileira
Em 2003 Hoje*
44% 28%
31% 38%
Veja, São Paulo, 21 abr. 2010 (adaptado).
Os gráficos expõem dados estatísticos por
meio de linguagem verbal e não verbal. No texto, o uso
desse recurso
A exemplifica o
aumento da expectativa de vida da população.
B explica o
crescimento da confiança na instituição do casamento.
C mostra que a população brasileira aumentou nos últimos cinco anos.
D indica que as taxas de casamento e emprego cresceram na mesma
proporção.
E sintetiza o crescente número de casamentos e de ocupação no mercado de
trabalho.
QUESTÃO 133
Lusofonia
rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova; moça; menina; (Brasil),
meretriz.
Escrevo um
poema sobre a rapariga que está sentada
no café, em
frente da chávena de café, enquanto
alisa os
cabelos com a mão. Mas não posso escrever este
poema sobre
essa rapariga porque, no brasil, a palavra
rapariga não
quer dizer o que ela diz em portugal. Então,
terei de
escrever a mulher nova do café, a jovem do café,
a menina do
café, para que a reputação da pobre rapariga
que alisa os
cabelos com a mão, num café de lisboa, não
fique estragada para sempre quando este poema
atravessar o
atlântico
para desembarcar no rio de janeiro. E isto tudo
sem pensar
em áfrica, porque aí lá terei
de escrever
sobre a moça do café, para
evitar o tom
demasiado continental da rapariga, que é
uma palavra
que já me está a pôr com dores
de cabeça
até porque, no fundo, a única coisa que eu queria
era escrever
um poema sobre a rapariga do
café. A
solução, então, é mudar de café, e limitar-me a
escrever um
poema sobre aquele café onde nenhuma rapariga se
pode sentar à mesa porque só servem café ao balcão.
JÚDICE, N. Matéria do Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008.
O texto traz em relevo as funções metalinguística e poética. Seu caráter metalinguístico
justifica-se pela
A discussão da
dificuldade de se fazer arte inovadora no mundo
contemporâneo.
B defesa do movimento artístico da pós-modernidade, típico do século XX.
C abordagem de temas do cotidiano, em que a arte se volta para assuntos
rotineiros.
D tematização do fazer artístico, pela discussão do ato de construção da
própria obra.
E valorização do efeito de estranhamento causado no público, o que faz a
obra ser reconhecida.
QUESTÃO 134
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta
Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre
doze e dezoito anos de idade. [...]
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todosos
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção
integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da
sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. [...]
BRASIL. Lei n. 8 069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da criança e
do adolescente. Disponível em: www.planalto.gov.br (fragmento).
Para cumprir sua função social, o Estatuto da criança e do
adolescente apresenta características próprias desse gênero quanto ao uso
da língua e quanto à composição textual. Entre essas características, destaca-se
o emprego de
A repetição vocabular para facilitar o entendimento.
B palavras e construções que evitem ambiguidade.
C expressões informais para apresentar os direitos.
D frases na ordem direta para apresentar as informações mais relevantes.
E exemplificações que
auxiliem a compreensão dos conceitos formulados.
QUESTÃO 135
O sociólogo espanhol Manuel Castells sustenta que “a
comunicação de valores e a mobilização em torno do sentido são fundamentais. Os
movimentos culturais (entendidos como movimentos que têm como objetivo defender
ou propor modos próprios de vida e sentido) constroem-se em torno de sistemas de comunicação — essencialmente a internet e os meios de comunicação — porque esta é a principal via que esses
movimentos encontram para chegar àquelas pessoas que podem eventualmente
partilhar os seus valores, e a partir daqui atuar na consciência da sociedade no seu conjunto”.
Disponível em: www.compolitica.org. Acesso em: 2 mar. 2012 (adaptado).
Em 2011, após uma forte mobilização popular via redes sociais, houve a
queda do governo de Hosni Mubarak, no Egito. Esse evento ratifica o argumento de que
A a internet atribui verdadeiros valores culturais aos seus usuários.
B a consciência das sociedades foi estabelecida com o advento da
internet.
C a revolução tecnológica tem como principal objetivo a deposição de
governantes antidemocráticos.
D os recursos tecnológicos estão a serviço dos opressores e do
fortalecimento de suas práticas políticas.
E os sistemas de comunicação são mecanismos importantes de adesão e
compartilhamento de valores sociais.
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