ENEM 2014 – PROVA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS
QUESTÃO 96
TEXTO I
Seis estados zeram fila de espera para transplante da córnea
Seis estados brasileiros aproveitaram o aumento no número
de doadores e de transplantes feitos no primeiro semestre de 2012 no país e
entraram para uma lista privilegiada: a de não ter mais pacientes esperando por
uma córnea.
Até julho desse ano, Acre, Distrito Federal,
Espírito Santo, Paraná, Rio Grande do Norte e São Paulo eliminaram a lista de
espera no transplante de córneas, de acordo com balanço divulgado pelo
Ministério da Saúde, no Dia Nacional de Doação de Órgãos e Tecidos. Em 2011, só
São Paulo e Rio Grande do Norte conseguiram zerar essa fila.
TEXTO II
Disponível em: http://noticias.uol.com.br. Acesso em: 11 ago. 2013
(adaptado).
A notícia e o cartaz abordam a questão da doação de órgãos. Ao
relacionar os dois textos, observa-se que o cartaz é
A contraditório, pois a notícia informa que o país superou a necessidade
de doação de órgãos.
B complementar, pois a notícia diz que a doação de órgãos cresceu e o
cartaz solicita doações.
C redundante, pois a notícia e o cartaz têm a intenção de influenciar as
pessoas a doarem seus órgãos.
D indispensável, pois
a notícia fica incompleta sem o cartaz, que apela
para a sensibilidade das pessoas.
E discordante, pois ambos os textos apresentam posições distintas sobre
a necessidade de doação de órgãos.
QUESTÃO 97
Óia eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo para xaxar
Vou mostrar pr’esses cabras
Que eu ainda dou no couro
Isso é um desaforo
Que eu não posso levar
Que eu aqui de novo cantando
Que eu aqui de novo xaxando
Óia eu aqui de novo mostrando
Como se deve xaxar
Vem cá morena linda
Vestida de chita
Você é a mais bonita
Desse meu lugar
Vai, chama Maria, chama Luzia
Vai, chama Zabé, chama Raque
Diz que eu tou aqui com alegria
BARROS, A. Óia eu aqui de novo. Disponível em:
www.luizluagonzaga.mus.br.
Acesso em: 5 maio 2013 (fragmento).
A letra da canção de Antônio de Barros manifesta aspectos do repertório
linguístico e cultural do Brasil. O verso que singulariza uma forma
característica do falar popular regional é:
A “Isso é um desaforo”.
B “Diz que eu tou aqui com alegria”.
C “Vou mostrar pr’esses cabras”.
D “Vai, chama Maria, chama Luzia”.
E “Vem cá morena linda, vestida de chita”.
QUESTÃO 98
Em uma escala de 0 a 10, o Brasil está entre 3 e 4
no quesito segurança da informação. “Estamos começando a acordar para o
problema. Nessa história de espionagem corporativa, temos muita lição a fazer.
Falta consciência institucional e um longo aprendizado. A sociedade caiu em si
e viu que é uma coisa que nos afeta”, diz S.P., pós-doutor em segurança da
informação. Para ele, devem ser estabelecidos canais de denúncia para esse tipo
de situação. De acordo com o conselheiro do Comitê Gestor da Internet (CGI), o
Brasil tem condições de desenvolver tecnologia própria para garantir a
segurança dos dados do país, tanto do governo quanto da população. “Há uma
massa de conhecimento dentro das universidades e em empresas inovadoras que
podem contribuir propondo medidas para que possamos mudar isso [falta de
segurança] no longo prazo”. Ele acredita que o governo tem de usar o seu poder
de compra de softwares e hardwares para a área da segurança
cibernética, de forma a fomentar essas empresas, a produção de conhecimento na
área e a construção de uma cadeia de produção nacional.
SARRES, C. Disponível em: www.ebc.com.br. Acesso em: 22 nov. 2013
(adaptado).
Considerando-se o surgimento da espionagem corporativa em decorrência do
amplo uso da internet, o texto aponta uma necessidade advinda desse impacto,
que se resume em
A alertar a sociedade sobre os riscos de ser espionada.
B promover a indústria de segurança da informação.
C discutir a espionagem em fóruns internacionais.
D incentivar o aparecimento de delatores.
E treinar o país em segurança digital.
QUESTÃO 99
WILL. Disponível em: www.willtirando.com.br. Acesso em: 7 nov. 2013.
Opportunity é o nome de um veículo explorador que aterrissou em Marte com
a missão de enviar informações à Terra. A charge apresenta uma crítica ao(à)
A gasto exagerado com o envio de robôs a outros planetas.
B exploração indiscriminada de outros planetas.
C circulação digital excessiva de autorretratos.
D vulgarização das descobertas espaciais.
E mecanização das atividades humanas.
QUESTÃO 100
Só há uma saída para a escola se ela quiser ser mais
bem-sucedida: aceitar a mudança da língua como um fato. Isso deve significar
que a escola deve aceitar qualquer forma da língua em suas atividades escritas? Não deve mais
corrigir? Não! Há outra dimensão a ser considerada: de fato, no mundo real da
escrita, não existe apenas um português correto, que valeria para todas as
ocasiões: o estilo dos contratos não é o mesmo do dos manuais de instrução; o
dos juízes do Supremo não é o mesmo do dos cordelistas; o dos editoriais dos
jornais não é o mesmo do dos cadernos de cultura dos mesmos jornais. Ou do de
seus colunistas.
POSSENTI, S. Gramática na cabeça. Língua Portuguesa, ano 5, n.
67, maio 2011 (adaptado).
Sírio Possenti defende a tese de que não existe um único “português
correto”. Assim sendo, o domínio da língua portuguesa implica, entre outras
coisas, saber
A descartar as marcas de informalidade do texto.
B reservar o emprego da norma padrão aos textos de circulação ampla.
C moldar a norma padrão do português pela linguagem do discurso
jornalístico.
D adequar as formas da língua a diferentes tipos de texto e contexto.
E desprezar as formas da língua previstas pelas gramáticas e manuais
divulgados pela escola.
QUESTÃO 101
Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br. Acesso em: 29 out. 2013
(adaptado).
Os meios de comunicação podem contribuir para a resolução de problemas
sociais, entre os quais o da violência sexual infantil. Nesse sentido, a
propaganda usa a metáfora do pesadelo para
A informar crianças vítimas de abuso sexual sobre os perigos dessa
prática, contribuindo para erradicá-la.
B denunciar ocorrências de abuso sexual contra meninas, com o objetivo
de colocar criminosos na cadeia.
C dar a devida dimensão do que é o abuso sexual para uma criança,
enfatizando a importância da denúncia.
D destacar que a violência sexual infantil predomina durante a noite, o
que requer maior cuidado dos responsáveis nesse período.
E chamar a atenção para o fato de o abuso infantil ocorrer durante o
sono, sendo confundido por algumas crianças com um pesadelo.
QUESTÃO 102
eu acho um fato interessante... né... foi como meu pai
e minha mãe vieram se conhecer... né... que... minha mãe morava no Piauí com
toda família... né... eu... meu avô...
materno no caso... era maquinista... ele sofreu um acidente... infelizmente
morreu... minha mãe tinha cinco anos... né... e o irmão mais velho dela... meu
padrinho... tinha dezessete e ele foi obrigado a trabalhar... foi trabalhar no
banco... e... ele foi... o banco... no caso... estava... com um número de
funcionários cheio e ele teve que ir para outro local e pediu transferência
prum local mais perto de Parnaíba que era a cidade onde eles moravam e por
engano o... o... escrivão entendeu Paraíba... né... e meu... e minha família
veio parar em Mossoró que era exatamente o local mais perto onde tinha vaga pra
funcionário do Banco do Brasil e:: ela foi parar na rua do meu pai... né... e
começaram a se conhecer... namoraram onze anos... né... pararam algum tempo...
brigaram... é lógico... porque todo relacionamento tem uma briga... né... e eu
achei esse fato muito interessante porque foi uma coincidência incrível...
né... como vieram a se conhecer... namoraram e hoje... e até hoje estão juntos...
dezessete anos de casados…
CUNHA, M. A. F. (Org.) . Corpus
discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade do
Natal. Natal: EdUFRN, 1998.
Na transcrição de fala, há um breve relato de experiência pessoal, no
qual se observa a frequente repetição de “né”. Essa repetição é um(a)
A índice de baixa escolaridade do falante.
B estratégia típica de manutenção da interação oral.
C marca de conexão lógica entre conteúdos na fala.
D manifestação característica da fala regional nordestina.
E recurso enfatizador da informação mais relevante da narrativa.
QUESTÃO 103
O boxe está perdendo cada vez mais espaço para um
fenômeno relativamente recente do esporte, o MMA. E o maior evento de Artes
Marciais Mistas do planeta é o Ultimate
Fighting Championship, ou simplesmente UFC. O ringue, com oito cantos, foi
desenhado para deixar os lutadores com mais espaço para as lutas. Os atletas podem
usar as mãos e aplicar golpes de jiu-jitsu. Muitos podem falar que a modalidade
é uma espécie de vale-tudo, mas isso já ficou no passado: agora, a modalidade tem regras e
acompanhamento médico obrigatório para que o esporte apague o estigma negativo.
CORREIA, D. UFC: saiba como o MMA nocauteou o boxe em oito golpes.
Veja, 10 jun. 2011 (fragmento).
O processo de modificação das regras do MMA
retrata a tendência de redimensionamento de algumas
práticas corporais, visando enquadrá-las em um determinado formato. Qual o
sentido atribuído a essas transformações incorporadas historicamente ao MMA?
A A modificação das
regras busca associar valores lúdicos ao MMA, possibilitando
a participação de diferentes populações como atividade de lazer.
B As transformações do MMA aumentam o grau de violência das lutas,
favorecendo a busca de emoções mais fortes tanto aos competidores como ao
público.
C As mudanças de regras do MMA atendem à necessidade de tornar a
modalidade menos violenta, visando sua introdução nas academias de ginástica
na dimensão da saúde.
D As modificações
incorporadas ao MMA têm por finalidade aprimorar as técnicas das diferentes artes marciais, favorecendo o desenvolvimento da modalidade enquanto
defesa pessoal.
E As transformações do MMA visam delimitar a violência das lutas,
preservando a integridade dos atletas e enquadrando a modalidade no formato do
esporte de espetáculo.
QUESTÃO 104
Uso de suplementos alimentares por adolescentes
Evidências médicas sugerem que a suplementação alimentar pode ser benéfica para um pequeno
grupo de pessoas, aí incluídos atletas competitivos, cuja
dieta não seja balanceada. Tem-se observado que adolescentes envolvidos em
atividade física ou atlética estão usando cada vez mais tais suplementos. A
prevalência desse uso varia entre os tipos de esportes, aspectos culturais,
faixas etárias (mais comum em adolescentes) e sexo (maior prevalência em
homens). Poucos estudos se referem a frequência, tipo e quantidade de
suplementos usados, mas parece ser comum que as doses recomendadas sejam
excedidas.
A mídia é um dos importantes estímulos ao uso de suplementos
alimentares ao veicular, por exemplo, o mito do corpo ideal. Em 2001, a
indústria de suplementos alimentares investiu globalmente US$ 46 bilhões em
propaganda, como meio de persuadir potenciais consumidores a adquirir seus
produtos. Na adolescência, período
de autoafirmação, muitos deles não medem esforços para
atingir tal objetivo.
ALVES, C.; LIMA, R. J. Pediatr. v.85, n.4, 2009 (fragmento).
Sobre a associação entre a prática de atividades físicas e o uso de
suplementos alimentares, o texto informa que a ingestão desses suplementos
A é indispensável para as pessoas que fazem atividades físicas
regularmente.
B é estimulada pela indústria voltada para adolescentes que buscam um
corpo ideal.
C é indicada para atividades físicas como a musculação com fins de promoção da saúde.
D direciona-se para adolescentes com distúrbios metabólicos e que
praticam atividades físicas.
E melhora a saúde do indivíduo que não tem uma dieta balanceada e nem
pratica atividades físicas.
QUESTÃO 105
TEXTO I
João Guedes, um dos assíduos frequentadores do boliche
do capitão, mudara-se da campanha havia três anos. Três anos de pobreza na
cidade bastaram para o degradar. Ao morrer, não tinha um vintém nos bolsos e fazia
dois meses que saíra da cadeia, onde estivera preso por roubo de ovelha.
A história de sua desgraça se confunde com a da maioria
dos que povoam a aldeia de Boa Ventura, uma cidadezinha distante, triste e
precocemente envelhecida, situada nos confins da fronteira do Brasil com o
Uruguai.
MARTINS, C. Porteira fechada. Porto Alegre: Movimento, 2001
(fragmento).
TEXTO II
Comecei a procurar emprego, já topando o que desse e
viesse, menos complicação com os homens, mas não tava fácil. Fui na feira, fui
nos bancos de sangue, fui nesses lugares que sempre dão para descolar algum, fui
de porta em porta me oferecendo de faxineiro, mas tava todo mundo escabreado
pedindo referências, e referências eu só tinha do diretor do presídio.
FONSECA, R. Feliz Ano Novo. São Paulo: Cia. das Letras, 1989
(fragmento).
A oposição entre campo e cidade esteve entre as temáticas tradicionais
da literatura brasileira. Nos fragmentos dos dois autores contemporâneos, esse
embate incorpora um elemento novo: a questão da violência e do desemprego. As narrativas apresentam confluência, pois
nelas o(a)
A criminalidade é algo inerente ao ser humano, que sucumbe a suas
manifestações.
B meio urbano, especialmente o das grandes cidades, estimula uma vida
mais violenta.
C falta de oportunidades na cidade dialoga com a pobreza do campo rumo à
criminalidade.
D êxodo rural e a falta de escolaridade são causas da violência nas
grandes cidades.
E complacência das leis e a inércia das personagens são estímulos à
prática criminosa.
QUESTÃO 106
Jornal Zero Hora, 2 mar. 2006.
Na criação do texto, o chargista Iotti usa
criativamente um intertexto: os traços reconstroem uma cena de Guernica, painel de Pablo Picasso que
retrata os horrores e a destruição provocados pelo bombardeio a uma pequena cidade
da Espanha. Na charge, publicada no período de carnaval, recebe destaque a
figura do carro, elemento introduzido por Iotti no intertexto. Além dessa
figura, a linguagem verbal contribui para estabelecer um diálogo entre a obra de
Picasso e a charge, ao explorar
A uma referência ao contexto, “trânsito no feriadão”, esclarecendo-se o
referente tanto do texto de Iotti quanto da obra de Picasso.
B uma referência ao tempo presente, com o emprego da forma verbal “é”,
evidenciando-se a atualidade do tema abordado tanto pelo pintor espanhol quanto
pelo chargista brasileiro.
C um termo pejorativo, “trânsito”, reforçando-se a imagem negativa de
mundo caótico presente tanto em Guernica
quanto na charge.
D uma referência temporal, “sempre”, referindo-se à permanência de
tragédias retratadas tanto em Guernica
quanto na charge.
E uma expressão polissêmica, “quadro dramático”, remetendo-se tanto à
obra pictórica quanto ao contexto do trânsito brasileiro.
QUESTÃO 107
Tarefa
Morder o fruto amargo e não cuspir
Mas avisar aos outros quanto é amargo
Cumprir o trato injusto e não falhar
Mas avisar aos outros quanto é injusto
Sofrer o esquema falso e não ceder
Mas avisar aos outros quanto é falso
Dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a não pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
Então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
CAMPOS, G. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.
Na organização do poema, os empregos da conjunção “mas” articulam, para
além de sua função sintática,
A a ligação entre verbos semanticamente semelhantes.
B a oposição entre ações aparentemente inconciliáveis.
C a introdução do argumento mais forte de uma sequência.
D o reforço da causa apresentada no enunciado introdutório.
E a intensidade dos problemas sociais presentes no mundo.
QUESTÃO 108
Linotipos
O Museu da Imprensa exibe duas linotipos. Trata-se de
um tipo de máquina de composição de tipos de chumbo, inventada em 1884 em
Baltimore, nos Estados Unidos, pelo alemão Ottmar Mergenthaler. O invento foi de grande importância por ter significado
um novo e fundamental avanço na história das artes gráficas. A linotipia provocou, na verdade, uma revolução porque venceu a lentidão
da composição dos textos executada na tipografia nacional, em que o texto era composto à mão,
juntando tipos móveis um por um. Constituía-se, assim, no principal meio de
composição tipográfica até
1950. A linotipo, a partir do final do século XIX, passou
a produzir impressos a baixo custo, o que levou informação às massas,
democratizou a informação. Promoveu uma revolução na educação. Antes da linotipo,
os jornais e revistas eram escassos, com poucas páginas e caros. Os livros
didáticos eram também caros, pouco acessíveis.
Disponível em: http://portal.in.gov.br. Acesso em: 23 fev. 2013
(adaptado).
O texto apresenta um histórico da linotipo, uma máquina tipográfica
inventada no século XIX e responsável pela dinamização da imprensa. Em termos sociais, a contribuição da
linotipo teve impacto direto na
A produção vagarosa de materiais didáticos.
B composição aprimorada de tipos de chumbo.
C montagem acelerada de textos para impressão.
D produção acessível de materiais informacionais.
E impressão dinamizada de imagens em revistas.
QUESTÃO 109
Cordel resiste à tecnologia gráfica
O Cariri mantém uma das mais ricas tradições da cultura
popular. É a literatura de cordel, que atravessa os séculos sem ser destruída
pela avalanche de modernidade que invade o sertão lírico e telúrico. Na
contramão do progresso, que
informatizou a indústria gráfica, a Lira Nordestina, de
Juazeiro do Norte, e a Academia dos Cordelistas do Crato conservam, em suas
oficinas, velhas máquinas para impressão dos seus cordéis.
A chapa para impressão do cordel é feita à mão, letra
por letra, um trabalho artesanal que dura cerca de uma hora para confecção de
uma página. Em seguida, a chapa é levada para a impressora, também manual, para
imprimir. A manutenção desse sistema antigo de impressão faz parte da filosofia
do trabalho. A outra etapa
é a confecção da xilogravura para a capa do cordel.
As xilogravuras são ilustrações populares obtidas
por gravuras talhadas em madeira. A origem da xilogravura nordestina até hoje é
ignorada. Acredita-se que os missionários portugueses tenham ensinado sua
técnica aos índios, como uma atividade extra-catequese, partindo do princípio
religioso que defende a necessidade de ocupar as mãos para que a mente não fique livre sujeita aos maus pensamentos, ao pecado. A xilogravura antecedeu ao
clichê, placa fotomecanicamente gravada em relevo sobre metal, usualmente
zinco, que era utilizada nos jornais impressos em rotoplanas.
VICELMO, A. Disponível em: www.onordeste.com. Acesso em: 24 fev. 2013
(adaptado).
A estratégia gráfica constituída pela união
entre a técnicas da impressão manual e da confecção da xilogravura
na produção de folhetos de cordel
A realça a importância da xilogravura sobre o clichê.
B oportuniza a renovação dessa arte na modernidade.
C demonstra a utilidade desses textos para a catequese.
D revela a necessidade da busca das origens dessa literatura.
E auxilia na manutenção da essência identitária dessa tradição popular.
QUESTÃO 110
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas
secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa
mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A
própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico
cai em desuso. Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou
minha atenção para os que falam assim:
- Assisti a uma fita
de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator
que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à
praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em
vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um
defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada.
Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de
apresentar sua mulher.
SABINO, F. Folha de S. Paulo, 13 abr. 1984 (adaptado).
A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais.
O texto exemplifica essa característica da língua, evidenciando que
A o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das
antigas.
B a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de
gerações.
C o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
D a pronúncia e o
vocabulário são aspectos identificadores da classe social a
que pertence o falante.
E o modo de falar
específico de pessoas de diferentes faixas etárias é
frequente em todas as regiões.
QUESTÃO 111
CLARK, L. Bicho de bolso. Placas de metal, 1966.
O objeto escultórico produzido por Lygia Clark, representante do
Neoconcretismo, exemplifica o início de uma vertente importante na arte
contemporânea, que amplia as funções da arte. Tendo como referência a obra Bicho de bolso, identifica-se essa vertente
pelo(a)
A participação efetiva do espectador na obra, o que determina a
proximidade entre arte e vida.
B percepção do uso de objetos cotidianos para a confecção da obra de
arte, aproximando arte e realidade.
C reconhecimento do uso de técnicas artesanais na arte, o que determina
a consolidação de valores culturais.
D reflexão sobre a
captação artística de imagens com meios óticos,
revelando o desenvolvimento de uma linguagem própria.
E entendimento sobre o uso de métodos de produção em série para a
confecção da obra de arte, o que atualiza as linguagens artísticas.
QUESTÃO 112
Por onde houve colonização portuguesa, a música popular
se desenvolveu basicamente com o mesmo instrumental. Podemos ver cavaquinho e
violão atuarem juntos aqui, em Cabo Verde, em Jacarta, na Indonésia, ou em Goa.
O caráter nostálgico, sentimental, é outro ponto comum da música das colônias
portuguesas em todo o mundo. O kronjong, a música típica de Jacarta, é uma espécie
de lundu mais lento, tocado comumente com flauta, cavaquinho e violão. Em Goa não é muito diferente.
De acordo com o texto de Henrique Cazes, grande
parte da música popular desenvolvida nos países colonizados por Portugal
compartilham um instrumental, destacando-se o cavaquinho e o violão. No Brasil,
são exemplos de música popular que empregam esses mesmos instrumentos:
A Maracatu e ciranda.
B Carimbó e baião.
C Choro e samba.
D Chula e siriri.
E Xote e frevo.
QUESTÃO 113
Vida obscura
Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro,
ó ser humilde entre os humildes seres,
embriagado, tonto de prazeres,
o mundo para ti foi negro e duro.
Atravessaste no silêncio escuro
a vida presa a trágicos deveres
e chegaste ao saber de altos saberes
tornando-te mais simples e mais puro.
Ninguém te viu o sentimento inquieto,
magoado, oculto e aterrador, secreto,
que o coração te apunhalou no mundo,
Mas eu que sempre te segui os passos
sei que cruz infernal prendeu-te os braços
e o teu suspiro como foi profundo!
SOUSA, C. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1961.
Com uma obra densa e expressiva no Simbolismo brasileiro, Cruz e Sousa
transpôs para seu lirismo uma sensibilidade em conflito com a realidade
vivenciada. No soneto, essa percepção traduz-se em
A sofrimento tácito diante dos limites impostos pela discriminação.
B tendência latente ao vício como resposta ao isolamento social.
C extenuação condicionada a uma rotina de tarefas degradantes.
D frustração amorosa canalizada para as atividades intelectuais.
E vocação religiosa manifesta na aproximação com a fé cristã.
QUESTÃO 114
A História, mais ou menos
Negócio seguinte. Três reis magrinhos ouviram um plá
de que tinha nascido um Guri. Viram o cometa no Oriente e tal e se flagraram que o Guri tinha
pintado por lá. Os profetas, que não eram de dar cascata,
já tinham dicado o troço: em Belém, da Judeia, vai nascer o Salvador, e tá
falado. Os três magrinhos se mandaram. Mas deram o maior fora. Em vez de irem
direto para Belém, como mandava o catálogo, resolveram dar uma incerta no velho
Herodes, em Jerusalém. Pra quê! Chegaram lá de boca aberta e entregaram toda a
trama. Perguntaram: Onde está o rei
que acaba de nascer? Vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo. Quer dizer, pegou mal. Muito mal. O velho
Herodes, que era um oligão, ficou grilado. Que rei era aquele? Ele é que era o dono da praça. Mas comeu em boca e
disse: Joia. Onde é que esse guri vai se apresentar? Em que canal? Quem é o
empresário? Tem baixo elétrico? Quero saber tudo. Os magrinhos disseram que iam
flagrar o Guri e na volta dicavam tudo para
o coroa.
VERISSIMO, L. F. O nariz e outras crônicas.
São Paulo: Ática, 1994.
Na crônica de Verissimo, a estratégia para
gerar o efeito de humor decorre do(a)
A linguagem rebuscada utilizada pelo narrador
no tratamento do assunto.
B inserção de perguntas diretas acerca do
acontecimento narrado.
C caracterização dos lugares onde se passa a
história.
D emprego de termos bíblicos de forma descontextualizada.
E contraste entre o tema abordado e a linguagem
utilizada.
QUESTÃO 115
FABIANA, arrepelando-se de
raiva — Hum! Ora, eis aí está para que se
casou meu filho, e trouxe a mulher para minha casa. É isto constantemente. Não sabe o senhor meu filho que
quem casa quer casa... Já não posso, não posso, não posso! (Batendo com o pé). Um dia arrebento, e então veremos!
PENA, M. Quem casa quer casa.
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 dez. 2012.
As rubricas em itálico, como as trazidas no
trecho de Martins Pena, em uma atuação teatral, constituem
A necessidade, porque as encenações precisam
ser fiéis às diretrizes do autor.
B possibilidade, porque o texto pode ser
mudado, assim como outros elementos.
C preciosismo, porque são irrelevantes para o
texto ou para a encenação.
D exigência, porque elas determinam as
características do texto teatral.
E imposição, porque elas anulam a autonomia
do diretor.
QUESTÃO 116
Psicologia de um vencido
Eu,
filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
ANJOS, A. Obra completa. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1994.
A poesia de Augusto dos Anjos revela aspectos
de uma literatura de transição designada como pré-modernista. Com relação à
poética e à abordagem temática presentes no soneto, identificam-se marcas dessa
literatura de transição, como
A a forma do soneto, os versos metrificados, a presença de rimas e o vocabulário requintado,
além do ceticismo, que antecipam conceitos estéticos vigentes no Modernismo.
B o empenho do eu lírico pelo resgate da
poesia simbolista, manifesta em metáforas como “Monstro de escuridão e rutilância”
e “influência má dos
signos do zodíaco”.
C a seleção lexical emprestada ao
cientificismo, como se lê em “carbono e
amoníaco”, “epigênesis da infância” e “frialdade inorgânica”, que restitui a
visão naturalista do homem.
D a manutenção de elementos formais
vinculados à estética do Parnasianismo e do Simbolismo, dimensionada pela inovação
na expressividade poética, e o desconcerto existencial.
E a ênfase no processo de construção de uma
poesia descritiva e ao mesmo tempo filosófica, que incorpora valores morais e
científicos mais tarde renovados pelos modernistas.
QUESTÃO 117
O negócio
Grande sorriso do canino
de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abastecem de pão e banana:
— Como é o negócio?
De cada três dá certo
com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa:
— Deus me livre, não!
Hoje não...
Abílio interpelou a
velha:
— Como é o negócio?
Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele
se chegou:
— Como é o negócio?
Ela sorriu, olhinho
baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal
combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal,
cuidadosa de não acordar os filhos. Ele trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada. O vizinho espionou os
dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas
pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não era dia do Abílio.
Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho repetiu:
— Como é o negócio?
Diante da recusa, ele
ameaçou:
— Então você quer o
velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!
TREVISAN, D. Mistérios de Curitiba.
Rio de Janeiro: Record, 1979 (fragmento).
Quanto à abordagem do tema e aos recursos
expressivos, essa crônica tem um caráter
A filosófico, pois reflete sobre as mazelas
sofridas pelos vizinhos.
B lírico, pois relata com nostalgia o
relacionamento da vizinhança.
C irônico, pois apresenta com malícia a
convivência entre vizinhos.
D crítico, pois deprecia o que acontece nas
relações de vizinhança.
E didático, pois expõe uma conduta a ser
evitada na relação entre vizinhos.
QUESTÃO 118
A última edição deste
periódico apresenta mais uma vez tema relacionado ao tratamento dado ao lixo
caseiro, aquele que produzimos no dia a dia. A informação agora passa pelo
problema do material jogado na estrada vicinal que liga o município de Rio
Claro ao distrito de Ajapi. Infelizmente, no local em questão, a reportagem
encontrou mais uma forma errada de destinação do lixo: material atirado ao lado
da pista como se isso fosse o ideal. Muitos moradores, por exemplo, retiram o
lixo de suas residências e, em vez de um destino correto, procuram dispensá-lo em
outras regiões. Uma situação no mínimo incômoda. Se você sai de casa para jogar
o lixo em outra localidade, por que não o fazer no local ideal? É muita falta
de educação achar que aquilo que não é correto para sua região possa ser para
outra. A reciclagem do lixo doméstico é um passo inteligente e de consciência.
Olha o exemplo que passamos aos mais jovens! Quem aprende errado coloca em
prática o errado. Um perigo!
Disponível em:
http://jornaldacidade.uol.com.br. Acesso em: 10 ago. 2012 (adaptado).
Esse editorial faz uma leitura diferenciada
de uma notícia veiculada no jornal. Tal diferença traz à tona uma das funções
sociais desse gênero textual, que é
A apresentar fatos que tenham sido noticiados
pelo próprio veículo.
B chamar a atenção do leitor para temas
raramente abordados no jornal.
C provocar a indignação dos cidadãos por
força dos argumentos apresentados.
D interpretar criticamente fatos noticiados e
considerados relevantes para a opinião pública.
E trabalhar uma informação previamente
apresentada com base no ponto de vista do autor da notícia.
QUESTÃO 119
O exercício da crônica
Escrever prosa é uma
arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista: não a prosa de um
ficcionista, na qual este é levado
meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis.
Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de sua
máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato
qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que,
com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada
houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um
processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos
de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última
instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual,
no ato de escrever, pode surgir o inesperado.
MORAES, V. Para viver um grande amor:
crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
Predomina nesse texto a função da linguagem
que se constitui
A nas diferenças entre o cronista e o
ficcionista.
B nos elementos que servem de inspiração ao
cronista.
C nos assuntos que podem ser tratados em uma
crônica.
D no papel da vida do cronista no processo de
escrita da crônica.
E nas dificuldades de se escrever uma crônica
por meio de uma crônica.
QUESTÃO 120
E se a água potável
acabar? O que aconteceria se a água potável do mundo acabasse? As teorias mais
pessimistas dizem que a água potável deve acabar logo, em 2050. Nesse ano,
ninguém mais tomará banho todo dia. Chuveiro com água só duas vezes por semana.
Se alguém exceder 55 litros de consumo (metade do que a ONU recomenda), seu
abastecimento será interrompido. Nos mercados, não haveria carne, pois, se não há
água para você, imagine para o gado. Gastam-se 43 mil litros de água para
produzir 1 kg de carne. Mas, não é só ela que faltará. A Região Centro-Oeste do
Brasil, maior produtor de grãos da América Latina em 2012, não conseguiria
manter a produção. Afinal, no país, a agricultura e a agropecuária são, hoje, as maiores consumidoras de água,
com mais de 70% do uso. Faltariam arroz, feijão, soja, milho e outros grãos.
Disponível em: http://super.abril.com.br.
Acesso em: 30 jul. 2012.
A língua portuguesa dispõe de vários recursos
para indicar a atitude do falante em relação ao conteúdo de seu enunciado. No
início do texto, o verbo “dever” contribui para expressar
A uma constatação sobre como as pessoas
administram os recursos hídricos.
B a habilidade das comunidades em lidar com
problemas ambientais contemporâneos.
C a capacidade humana de substituir recursos
naturais renováveis.
D uma previsão trágica a respeito das fontes
de água potável.
E uma situação ficcional com base na realidade ambiental brasileira.
QUESTÃO 121
Disponível em: http://info.abril.com.br.
Acesso em: 9 maio 2013 (adaptado).
O texto introduz uma reportagem a respeito do
futuro da televisão, destacando que as tecnologias a ela incorporadas serão
responsáveis por
A estimular a substituição dos antigos
aparelhos de TV.
B contemplar os desejos individuais com
recursos de ponta.
C transformar a televisão no principal meio
de acesso às redes sociais.
D renovar técnicas de apresentação de
programas e de captação de imagens.
E minimizar a importância dessa ferramenta
como meio de comunicação de massa.
QUESTÃO 122
Quando Deus redimiu da tirania
Da mão do Faraó endurecido
O Povo Hebreu amado, e esclarecido,
Páscoa ficou da
redenção do dia.
Páscoa de flores,
dia de alegria
Àquele Povo foi
tão afligido
O dia, em que por Deus foi redimido;
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia.
Pois mandado pela alta Majestade
Nos remiu de tão triste cativeiro,
Nos livrou de tão vil calamidade.
Quem pode ser senão um verdadeiro
Deus, que veio estirpar desta cidade
O Faraó do povo brasileiro.
DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas:
Gregório de Matos. São Paulo: Globo, 2006.
Com uma elaboração de linguagem e uma visão
de mundo que apresentam princípios barrocos, o soneto de Gregório de Matos
apresenta temática expressa por
A visão cética sobre as relações sociais.
B preocupação com a identidade brasileira.
C crítica velada à forma de governo vigente.
D reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
E questionamento das práticas pagãs na Bahia.
QUESTÃO 123
O Brasil é sertanejo
Que tipo de música
simboliza o Brasil? Eis uma questão discutida há muito tempo, que desperta
opiniões extremadas. Há fundamentalistas que desejam impor ao público um tipo
de som nascido das raízes socioculturais do país. O samba. Outros, igualmente
nacionalistas, desprezam tudo aquilo que não tem estilo. Sonham com o império
da MPB de Chico Buarque e Caetano Veloso. Um terceiro grupo, formado por gente
mais jovem, escuta e cultiva apenas a música internacional, em todas as vertentes.
E mais ou menos ignora o resto.
A realidade dos hábitos
musicais do brasileiro agora está claro, nada tem a ver com esses estereótipos.
O gênero que encanta mais da metade do país é o sertanejo, seguido de longe
pela MPB e pelo pagode. Outros gêneros em ascensão, sobretudo entre as classes C,
D e E, são o funk e o religioso, em especial o gospel. Rock e música eletrônica são músicas de
minoria.
É o que demonstra uma
pesquisa pioneira feita entre agosto de 2012 e agosto de 2013 pelo Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). A pesquisa Tribos musicais
– o comportamento dos ouvintes de rádio sob uma nova ótica faz um retrato do ouvinte brasileiro e traz algumas
novidades. Para quem pensava que a MPB e o samba ainda resistiam como baluartes
da nacionalidade, uma má notícia: os dois gêneros foram superados em popularidade. O
Brasil moderno não tem mais o perfil sonoro dos anos 1970, que muitos gostariam que se eternizasse. A cara
musical do país agora é outra.
GIRON, L. A. Época, n. 805, out. 2013
(fragmento).
O texto objetiva
convencer o leitor de que a configuração da preferência musical dos brasileiros não é mais a mesma da dos anos
1970. A estratégia de argumentação para comprovar essa posição baseia-se no(a)
A apresentação dos resultados de uma pesquisa
que retrata o quadro atual da preferência popular relativa à música brasileira.
B caracterização das opiniões relativas a
determinados gêneros, considerados os mais representativos da brasilidade, como
meros estereótipos.
C uso de estrangeirismos, como rock, funk e gospel, para compor um estilo próximo ao leitor, em
sintonia com o ataque aos nacionalistas.
D ironia com relação ao apego a opiniões
superadas, tomadas como expressão de conservadorismo e anacronismo, com o uso
das designações “império” e “baluarte”.
E contraposição a impressões fundadas em
elitismo e preconceito, com a alusão a artistas de renome para melhor
demonstrar a consolidação da mudança do gosto musical popular.
QUESTÃO 124
Scientific
American Brasil, ano 11, n. 134, jul. 2013 (adaptado).
Para atingir o objetivo de recrutar talentos,
esse texto publicitário
A afirma, com a frase “Queremos seu talento
exatamente como ele é”, que qualquer pessoa com talento pode fazer parte da
equipe.
B apresenta como estratégia a formação de um
perfil por meio de perguntas
direcionadas, o que dinamiza a interação texto-leitor.
C utiliza a descrição da empresa como argumento
principal, pois atinge diretamente os interessados em informática.
D usa estereótipo negativo de uma figura
conhecida, o nerd, pessoa
introspectiva e que gosta de informática.
E recorre a imagens tecnológicas ligadas em
rede, para simbolizar como a tecnologia é interligada.
QUESTÃO 125
Blog é concebido como um
espaço onde o blogueiro é livre para expressar e discutir o que quiser na
atividade da sua escrita, com a escolha de imagens e sons que compõem o todo do
texto veiculado pela internet, por meio dos posts. Assim, essa
ferramenta deixa de ter como única função a exposição de vida e/ou rotina de alguém
— como em um diário pessoal —, função para qual serviu inicialmente e que o
popularizou, permitindo também que seja um espaço para a discussão de ideias, trocas
e divulgação de informações.
A produção dos blogs
requer uma relação de troca, que acaba unindo pessoas em torno de um ponto de interesse
comum. A força dos blogs está em possibilitar que qualquer pessoa, sem nenhum
conhecimento técnico, publique suas ideias e opiniões na web e que milhões de outras
pessoas publiquem comentários sobre o que foi escrito, criando um grande debate
aberto a todos.
LOPES, B. O. A linguagem dos blogs e as
redes sociais. Disponível em: www.fateczl.edu.br.
Acesso em: 29 abr. 2013 (adaptado).
De acordo com o texto, o blog ultrapassou sua
função inicial e vem se destacando como
A estratégia para estimular relações de
amizade.
B espaço para exposição de opiniões e
circulação de ideias.
C gênero discursivo substituto dos tradicionais
diários pessoais.
D ferramenta para aperfeiçoamento da
comunicação virtual escrita.
E recurso para incentivar a ajuda mútua e a
divulgação da rotina diária.
QUESTÃO 126
Camelôs
Abençoado seja o camelô dos brinquedos de
tostão:
O que vende balõezinhos de cor
O macaquinho que trepa no coqueiro
O cachorrinho que bate com o rabo
Os homenzinhos que jogam boxe
A perereca verde que de repente dá um pulo
que
engraçado
E as canetinhas-tinteiro que jamais
escreverão coisa
alguma.
Alegria das calçadas
Uns falam pelos cotovelos:
- “O cavalheiro
chega em casa e diz: Meu filho, vai
buscar um
pedaço de banana para eu acender o charuto.
Naturalmente o menino pensará: Papai está
malu...”
Outros, coitados, têm a língua atada.
Todos porém sabem mexer nos cordéis como o
tino
ingênuo de
demiurgos de inutilidades.
E ensinam no tumulto das ruas os mitos
heroicos da
meninice...
E dão aos homens que passam preocupados ou
tristes
uma lição de infância.
BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
Uma das diretrizes do Modernismo foi a
percepção de elementos do cotidiano como matéria de inspiração poética. O poema
de Manuel Bandeira exemplifica essa tendência e alcança expressividade porque
A realiza um inventário dos elementos lúdicos
tradicionais da criança brasileira.
B promove uma reflexão sobre a realidade de
pobreza dos centros urbanos.
C traduz em linguagem lírica o mosaico de
elementos de significação corriqueira.
D introduz a interlocução como mecanismo de construção
de uma poética nova.
E constata a condição melancólica dos homens distantes
da simplicidade infantil.
QUESTÃO 127
Talvez pareça excessivo
o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente
honrado. Eu mesmo fui injusto com ele durante os anos que se seguiram ao
inventário de meu pai. Reconheço que era um modelo. Arguíam-no de avareza, e
cuido que tinham razão; mas a avareza é apenas a exageração de uma virtude, e as
virtudes devem ser como os orçamentos: melhor é o saldo que o déficit. Como era
muito seco de maneiras, tinha inimigos
que chegavam a acusá-lo de bárbaro. O único fato alegado neste particular era o
de mandar com frequência escravos ao calabouço, donde eles desciam a escorrer sangue;
mas, além de que ele só mandava os perversos e os fujões, ocorre que, tendo
longamente contrabandeado em escravos, habituara-se de certo modo ao trato um pouco
mais duro que esse gênero de negócio requeria, e não se pode honestamente
atribuir à índole original de um homem o que é puro efeito de relações sociais.
A prova de que o Cotrim tinha sentimentos pios encontrava-se no seu amor aos
filhos, e na dor que padeceu quando morreu Sara, dali a alguns meses; prova irrefutável, acho eu, e não única. Era
tesoureiro de uma confraria, e irmão de várias irmandades, e até irmão remido
de uma destas, o que não se coaduna muito com a reputação da avareza; verdade é
que o benefício não caíra no chão: a irmandade (de que ele fora juiz)
mandara-lhe tirar o retrato a óleo.
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992.
Obra que inaugura o Realismo na literatura
brasileira, Memórias póstumas de Brás Cubas condensa uma expressividade
que caracterizaria o estilo machadiano: a ironia. Descrevendo a moral de seu
cunhado, Cotrim, o narrador-personagem de Brás Cubas refina a percepção irônica
ao
A acusar o cunhado de ser avarento para
confessar-se injustiçado na divisão da herança paterna.
B atribuir a “efeito de relações sociais” a
naturalidade com que Cotrim prendia e torturava os escravos.
C considerar os “sentimentos pios”
demonstrados pelo pelo personagem quando da perda da filha Sara.
D menosprezar Cotrim por ser tesoureiro de
uma confraria e membro remido de várias irmandades.
E insinuar que o cunhado era um homem vaidoso
e egocêntrico, contemplado com um retrato a óleo.
QUESTÃO 128
TEXTO I
Ditado popular é uma
frase sentenciosa, concisa, de verdade comprovada, baseada na secular
experiência do povo, exposta de forma poética, contendo uma norma de conduta ou
qualquer outro ensinamento.
WEITZEL, A. H. Folclore literário e
linguístico. Juiz de Fora: Esdeva, 1984 (fragmento).
TEXTO II
Rindo brincalhona,
dando-lhe tapinhas nas costas, prima Constança disse isto, dorme no assunto,
ouça o travesseiro, não tem melhor conselheiro. Enquanto prima Biela dormia no
assunto, toda a casa se alvoroçava. [Prima Constança] ia rezar, pedir a Deus
para iluminar prima Biela. Mas ia também tomar suas providências. Casamento e
mortalha, no céu se talha. Deus escreve direito por linhas tortas. O que for
soará. Dizia os ditados todos, procurando interpretar os desígnios de Deus,
transformar os seus desejos nos desígnios de Deus. Se achava um instrumento de
Deus.
DOURADO, A. Uma vida em segredo. Rio
de Janeiro: Francisco Alves, 1990 (fragmento).
O uso que prima Constança faz dos ditados
populares, no Texto II, constitui uma maneira de utilizar o tipo de saber definido no Texto
I, porque
A cita-os pela força do hábito.
B aceita-os como verdade absoluta.
C aciona-os para justificar suas ações.
D toma-os para solucionar um problema.
E considera-os como uma orientação divina.
QUESTÃO 129
No Brasil, a origem do
funk e do hip-hop remonta aos anos 1970, quando da proliferação dos chamados “bailes
black” nas periferias dos grandes centros urbanos. Embalados pela black music
americana, milhares de jovens encontravam nos bailes de final de semana uma alternativa de lazer antes inexistente. Em
cidades como o Rio de Janeiro ou São Paulo, formavam-se equipes de som que
promoviam bailes onde foi se disseminando um estilo que buscava a valorização
da cultura negra, tanto na música como nas roupas e nos penteados. No Rio de
Janeiro, ficou conhecifo como “Black Rio”. A indústria fonográfica descobriu o
filão e, lançando discos de “equipe”
com as músicas de sucesso nos bailes, difundia a moda pelo restante do país.
DAYRELL, J. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da juventude. Belo
Horizonte: UFMG, 2005.
A presença da cultura hip-hop no Brasil caracteriza-se como uma forma de
A lazer gerada pela diversidade de práticas
artísticas nas periferias urbanas.
B entretenimento inventada pela indústria
fonográfica nacional.
C subversão de sua proposta original já nos
primeiros bailes.
D afirmação de identidade dos jovens que a
praticam.
E reprodução da cultura musical norte-americana.
QUESTÃO 130
A forte presença de
palavras indígenas e africanas e de termos trazidos pelos imigrantes a partir
do século XIX é um dos traços que distinguem o português do Brasil e o português
de Portugal. Mas, olhando para a história dos
empréstimos que o português brasileiro
recebeu de línguas europeias a partir do século XX, outra diferença também aparece:
com a vinda ao Brasil da família real portuguesa (1808) e, particularmente, com
a Independência, Portugal deixou de ser o intermediário obrigatório da
assimilação desses empréstimos e, assim, Brasil e Portugal começaram a divergir, não
só por terem sofrido influências diferentes, mas também pela maneira como reagiram a elas.
ILARI, R.; BASSO, R. O português da gente:
a língua que estudamos, a língua que falamos. São Paulo: Contexto, 2006.
Os empréstimos linguísticos, recebidos de
diversas línguas, são importantes na constituição do português do Brasil porque
A deixaram marcas da história vivida pela
nação, como a colonização e a imigração.
B transformaram em um só idioma línguas
diferentes, como as africanas, as indígenas e as europeias.
C promoveram uma língua acessível a falantes
de origens distintas, como o africano, o indígena e o europeu.
D guardaram uma relação de identidade entre
os falantes do português do Brasil e os do português de Portugal.
E tornaram a língua do Brasil mais complexa
do que as línguas de outros países que também tiveram colonização portuguesa.
QUESTÃO 131
Disponível em: www.portaldapropaganda.com.br.
Acesso em: 28 jul. 2013.
Essa propaganda defende a transformação
social e a diminuição da violência por meio da palavra. Isso se evidencia pela
A predominância de tons claros na composição
da peça publicitária.
B associação entre uma arma de fogo e um
megafone.
C grafia com inicial maiúscula da palavra “voz”
no slogan.
D imagem de uma mão segurando um megafone.
E representação gráfica da propagação do som.
QUESTÃO 132
O correr da vida
embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega
e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
ROSA, J. G. Grande sertão: veredas.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
No romance Grande sertão: veredas, o
protagonista Riobaldo narra sua trajetória de jagunço. A leitura do trecho
permite identificar que o desabafo de Riobaldo se aproxima de um(a)
A diário, por trazer lembranças pessoais.
B fábula, por apresentar uma lição de moral.
C notícia, por informar sobre um
acontecimento.
D aforismo, por expor uma máxima em poucas
palavras.
E crônica, por tratar de fatos do cotidiano.
QUESTÃO 133
Há qualquer coisa de
especial nisso de botar a cara na janela em crônica de jornal — eu não
fazia isso há muitos anos, enquanto me escondia em poesia e ficção. Crônica algumas vezes também é feita,
intencionalmente, para provocar. Além do mais, em certos dias mesmo o escritor
mais escolado não está lá grande coisa. Tem os que mostram sua cara escrevendo
para reclamar: moderna demais, antiquada demais. Alguns discorrem sobre
o assunto, e é gostoso compartilhar ideias. Há os textos que parecem passar
despercebidos, outros rendem um montão de recados: “Você escreveu exatamente o que
eu sinto”, “Isso é exatamente o que falo com meus pacientes”, “É isso que digo
para meus pais”, “Comentei com minha namorada”. Os estímulos são valiosos pra quem
nesses tempos andava meio assim: é como me botarem no colo — também eu
preciso. Na verdade, nunca fui tão posta no colo por leitores como na janela do
jornal. De modo que está sendo ótima, essa brincadeira séria, com alguns textos
que iam acabar neste livro, outros espalhados por aí. Porque eu levo a sério
ser sério... mesmo quando parece que estou brincando: essa é uma das
maravilhas de escrever. Como escrevi há muitos anos e continua sendo a minha
verdade: palavras são meu jeito mais secreto de calar.
LUFT, L. Pensar é transgredir. Rio de
Janeiro: Record, 2004. Os textos fazem uso constante de recursos que permitem a
articulação entre suas partes. Quanto à construção do fragmento, o elemento
A “nisso” introduz o fragmento “botar a cara
na janela em crônica de jornal”.
B “assim” é uma paráfrase de “é como me
botarem no colo”.
C “isso” remete a “escondia em poesia e ficção”.
D “alguns” antecipa a informação “É isso que
digo para meus pais”.
E “essa” recupera a informação anterior
“janela do jornal”.
QUESTÃO 134
Era um dos meus
primeiros dias na sala de música. A fim de descobrirmos o que deveríamos estar
fazendo ali, propus à classe um
problema. Inocentemente perguntei: — O que é música?
Passamos dois dias inteiros
tateando em busca de uma definição. Descobrimos que tínhamos de rejeitar todas
as definições costumeiras porque elas não eram suficientemente abrangentes.
O simples fato é que, à
medida que a crescente margem a que chamamos de vanguarda continua suas explorações
pelas fronteiras do som, qualquer definição se torna difícil. Quando John Cage abre a porta da sala de concerto e
encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições, ele ventila a arte da
música com conceitos novos e aparentemente sem forma.
SCHAFER, R. M. O ouvido pensante. São
Paulo: Unesp, 1991 (adaptado).
A frase “Quando John Cage abre a porta da
sala de concerto e encoraja os ruídos da rua a atravessar suas composições”, na
proposta de Schafer de formular uma nova conceituação de música, representa a
A acessibilidade à sala de concerto como
metáfora, num momento em que a arte deixou de ser elitizada.
B abertura da sala de concerto, que permitiu
que a música fosse ouvida do lado de fora do teatro.
C postura inversa à música moderna, que
desejava se enquadrar em uma concepção conformista.
D intenção do compositor de que os sons
extramusicais sejam parte integrante da música.
E necessidade do artista contemporâneo de
atrair maior público para o teatro.
QUESTÃO 135
Censura moralista
Há tempos que a leitura
está em pauta. E, diz-se, em crise. Comenta-se esta crise, por exemplo,
apontando a precariedade das práticas de leitura, lamentando a falta de
familiaridade dos jovens com livros, reclamando da falta de bibliotecas em
tantos municípios, do preço dos livros em livrarias, num nunca acabar de
problemas e de carências. Mas, de um tempo para cá, pesquisas acadêmicas vêm
dizendo que talvez não seja exatamente assim, que brasileiros leem, sim, só que
leem livros que as pesquisas tradicionais não levam em conta. E, também de um
tempo para cá, políticas educacionais têm tomado a peito investir em livros e
em leitura.
LAJOLO, M. Disponível em: www.estadao.com.br.
Acesso em: 2 dez. 2013 (fragmento).
Os falantes, nos textos que produzem, sejam
orais ou escritos, posicionam-se frente a assuntos que geram consenso ou
despertam polêmica. No texto, a autora
A ressalta a importância de os professores
incentivarem os jovens às práticas de leitura.
B critica pesquisas tradicionais que atribuem
a falta de leitura à precariedade de bibliotecas.
C rebate a ideia de que as políticas
educacionais são eficazes no combate à crise de leitura.
D questiona a existência de uma crise de
leitura com base nos dados de pesquisas acadêmicas.
E atribui a crise da leitura à falta de
incentivos e ao desinteresse dos jovens por livros de qualidade.
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