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quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

INSPER – Prova de Análise Verbal – 2008 – 2º Semestre

INSPER – Prova de Análise Verbal – 2008 – 2º Semestre


Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 1 a 3.

Vem aí a Sessão Saudade de 1968

FALTAM cinco dias para o início da efeméride dos 40 anos de 1968. Os sessentões revisitarão aquele grande ano da aurora de suas vidas, que o tempo não traz mais. Virão as doces lembranças das passeatas e dos festivais de música, até o amargo desfecho da noite de 13 de dezembro, quando a ditadura militar escancarou-se.
Há uma aura mágica em torno de 1968, como se tivesse sido um ano que mudou o mundo. Ele teve muitos acontecimentos inesquecíveis, mas poucos resultados. No Brasil, começou na rua e terminou na sala de jantar do Palácio das Laranjeiras, onde se baixou o AI-5. Na França, teve a revolta dos estudantes em maio e a vitória eleitoral do presidente imperial Charles de Gaulle em junho. Nos Estados Unidos, destroçado pela impopularidade da Guerra do Vietnã, o presidente Lyndon Johnson anunciou em março que não disputaria um novo mandato e, em novembro, foi eleito o republicano Richard Nixon. Em agosto a União Soviética invadiu a Tchecoslováquia, acabando com o que se denominara de Primavera de Praga.
O historiador inglês Tony Judt matou a charada: "Os anos 60 foram a grande era da teoria". Os fatos perderam importância, substituídos pelo que se supunha ser a grande compreensão dos fenômenos. Havia até a expressão "racionar em bloco".
A sacralização de 1968 omite o culto dos jovens rebeldes à violência das massas. Exemplo disso foi o apoio recebido pela Revolução Cultural de Mao Zedong. Da mesma forma, fazia-se de conta que os valentes vietcongs seriam incapazes de instalar uma ditadura que levaria centenas de milhares de pessoas a fugir do país em jangadas de junco.
Até a utopia rural de Pol Pot no Camboja tinha seu charme.
O grande ano da segunda metade do século passado não foi 1968, mas 1989. O colapso do império soviético e a destruição dos regimes socialistas europeus, bem como a inviabilização dos projetos bicentenários de revolução política e social redesenharam o mundo. Foi 1989 que permitiu aos revolucionários de 1968 a acomodação de suas idéias e biografias ao século 21. (Numa perfídia dos algarismos, 89 é 68 invertido e de cabeça para baixo.)
A brutalidade da ditadura militar cobriu com um manto sagrado a natureza autoritária dos projetos de quase toda a esquerda brasileira.
Passado o tempo, essas militâncias são explicadas a partir da ideia de que aquela foi uma geração que correu atrás de um sonho. Tudo bem, pois ninguém pode discutir com uma pessoa que teve um sonho há 40 anos. A sacralização do 1968 brasileiro tem seu melhor momento na gloriosa passeata dos Cem Mil, ocorrida no Rio de Janeiro, na tarde de 26 de junho de 1968. É pena, mas por mais que ela tenha assustado os generais, foi outro fato quem levou todas as águas do São Francisco para a moenda da ditadura escancarada. Naquela madrugada, um comando da VPR jogara um veículo com explosivos contra o portão do QG do 2º Exército, em São Paulo, matando o sentinela Mário Kozel Filho.
No Brasil, 1968 foi o ano de um terrível desencontro provocado pela radicalização política. Talvez não pudesse ser evitado mas, ao contrário de 1989, teria sido melhor que não tivesse existido.

(Elio Gaspari, Folha de São Paulo, 26 de dezembro de 2007.)

1. Considere as afirmações abaixo. Está(ão) correta(s)

I – No período “Os sessentões revisitarão aquele grande ano da aurora de suas vidas, que o tempo não traz mais”, o autor recorre à intertextualidade, retomando os versos do poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu, a fim de ironizar a aura de nostalgia de que se cobriram os anos 60.
II – A antítese, presente em “Virão as doces lembranças das passeatas e dos festivais de música até o amargo desfecho da noite de 13 de dezembro, quando a ditadura escancarou-se”, reforça a tese de que existe uma idealização dos acontecimentos ocorridos no ano de 1968.
III – A metalinguagem foi usada como recurso estilístico em “Talvez não pudesse ser evitado mas, ao contrário de 1989, teria sido melhor que não tivesse existido.”

(a) Apenas I e II (b) Apenas I e III (c) Apenas II e III (d) Apenas III. (e) I, II e III

2. Assinale a alternativa correta sobre o texto.

(a) O autor defende que a extinção da União Soviética e a queda do muro de Berlim – fatos ocorridos em 1989 – foram menos significativos para o mundo do que os acontecimentos de 1968.
(b) Segundo o autor, o AI-5 no Brasil, a Primavera de Praga na Tchecoslováquia e a eleição de Charles de Gaulle na França foram inesquecíveis porque representaram vitórias da esquerda.
(c) A expressão “racionar em bloco”, usada nos anos 60, era um indício de que a radicalização política ignorava a violação dos direitos humanos na China e no Vietnã.
(d) Para Elio Gaspari, nem a passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, nem o atentado praticado pela VPR contra o QG do 2º Exército, em São Paulo, foram levados a sério pelos militares da época.
(e) O autor relativiza a celebração dos 40 anos de 1968, uma vez que os acontecimentos daquele ano, apesar de inesquecíveis, efetivamente não mudaram o mundo.

3. Releia estas passagens do texto:

• “... o início da efeméride dos 40 anos de 1968.”
• “A sacralização de 1968 omite o culto dos jovens rebeldes à violência das massas”.
• “Numa perfídia dos algarismos, 89 é 68 invertido e de cabeça para baixo.”
• “... essas militâncias são explicadas a partir da idéia de que aquela foi uma geração que correu atrás de um sonho”.

Considerando o significado dos vocábulos destacados e o contexto em que foram empregados, eles poderiam ser substituídos, respectivamente, pelas seguintes palavras e expressões:

(a) homenagem, ufanismo, ironia do destino, militares.
(b) comemoração, consagração, cilada, grupos engajados.
(c) futilidade, exaltação, tramóia, jovens rebeldes.
(d) sandice, idealização, gracejo, apologias.
(e) banalidade, iconoclastia, quimera, milícias.

4. Assinale a alternativa correta quanto ao emprego das formas verbais.

(a) Os grandes bancos não interviram no mercado.
(b) É fundamental que os empresários se precavejam contra a iminente alta dos juros.
(c) Poderei colaborar, se você não se opor.
(d) Diversos professores daquela universidade já requereram a aposentadoria.
(e) Os advogados já haviam entregue o documento.

Utilize a tirinha abaixo para responder ao teste 5.

(Scott Adams, O princípio Dilbert, 3.ª ed. Rio de Janeiro, Ediouro, 1997, p. 90)

5. Levando-se em conta os aspectos textuais e visuais da tirinha, assinale a alternativa correta.

(a) A surpresa e o absurdo, que constroem o humor da tira, restringem-se ao uso da pergunta feita pelo executivo no último quadrinho.
(b) O contexto permite inferir que o funcionário que faz a pergunta inicial é um indivíduo dissimulado.
(c) A sequência de quadrinhos autoriza afirmar que, no mundo corporativo, o trabalho em equipe é condição essencial para o sucesso profissional.
(d) A expressão facial e a resposta ambígua do chefe, no segundo quadrinho, evidenciam que ele não compreendeu a pergunta do funcionário.
(e) O efeito de humor constrói-se a partir da presença da ironia na resposta do chefe, no segundo quadrinho.

6. A campanha publicitária “Heróis pela Democracia” lançada, em março deste ano, pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) provocou uma “polêmica linguística”. Para conscientizar os jovens sobre a importância do voto, foi produzida uma série de filmes que apresentava o seguinte texto: Heróis existem. Não desperdice o direito que eles tanto lutaram e conquistaram para você. Professores apontaram erro de português na propaganda. Para a W/Brasil  (agência responsável pela criação dos filmes), o texto não apresenta erro algum. Analise atentamente a frase da propaganda e assinale a alternativa que contém a afirmação correta.

(a) Na frase da propaganda, há um erro no emprego da preposição “para”, que deveria ser substituída pela preposição “por”.
(b) Admitindo que a frase esteja incorreta, seria possível propor a seguinte correção: Heróis existem. Não desperdice o direito por que eles tanto lutaram e que conquistaram para você.
(c) Não há propriamente um erro gramatical, pois pode-se entender que a palavra “direito” não tem relação sintática com o verbo “lutar”, mas sim com o infinitivo “conquistaram”, do qual é objeto direto.
(d) Na frase da propaganda, há um erro porque “lutar” e “conquistar” apresentam regências diferentes, mas foram empregados com o mesmo complemento: o objeto indireto “para você”.
(e) Para evitar a ambiguidade, bastaria acrescentar uma preposição antes do pronome relativo “que”.

7. Considere estas afirmações sobre o poema abaixo:

Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

(ANJOS, Augusto dos. Eu e outras poesias. 42. ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 1998.)

I - O soneto retrata o ciclo da vida, permeado de dor, de sofrimento e da presença constante e ameaçadora da morte inevitável.
II - O poeta inaugura a temática do Parnasianismo, apresentando imagens repulsivas, inspiradas na morte e na decomposição da matéria.
III - O amoníaco representa uma metáfora de alma, pois, segundo o poeta, o homem é composto de corpo (carbono) e alma (amoníaco). No fim da vida, o corpo (orgânico) apodrece, enquanto a alma (inorgânica) mantém-se viva na terra.

Está(ão) correta(s):

(a) Apenas I. (b) Apenas II. (c) Apenas III. (d) Apenas I e III. (e) Apenas II e III.

8. A prosódia trata da correta pronúncia das palavras, segundo a tonicidade da sílaba.
Observe, a seguir, o trecho da canção "Não serve pra mim", um antigo sucesso de Roberto Carlos regravado pelo grupo Ira!. Muitas pessoas têm dúvidas quanto à correta pronúncia da palavra destacada.

Não quero mais seu amor,
não pense que eu sou ruim.
Vou procurar outro alguém
você não serve pra mim...

Nas palavras abaixo, as sílabas tônicas estão destacadas com letras maiúsculas. Identifique a única alternativa que apresenta erro de prosódia.

(a) ruBRIca, ruIM, chanceLER.
(b) aVAro, iBEro, liBIdo
(c) gratuIto, puDIco, RUim
(d) caracTEres, forTUIto, reCORde
(e) cartomanCIa, conDOR, cirCUIto

9. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas das frases abaixo.

Ignoramos ......................... o governo não alterou a tabela do imposto de renda.
O time teve um ....................... desempenho.
Conheci o apartamento ..................... aconteceu aquela tragédia.

(a) por que, mau, onde
(b) porque, mal, onde
(c) porquê, mal aonde
(d) por que, mau, aonde
(e) porque, mau, aonde

Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 10 a 12.

Bolsos

Ganhei uma camiseta. Não tem bolso. Uma camiseta sem bolso tem sua utilidade limitada à função de vestir – desculpe se pareço malagradecido. Com o bolsinho, ela serve mais, acrescenta ao vestir o levar alguma coisa: óculos, cartão, anotação, caneta, talão de cheques, palpite da Mega-sena.
Bolsos das calças não servem para essas coisas, quebram ou entortam os óculos, deformam ou racham cartões de plástico, partem canetas ou elas nos espetam, amarrotam o volante da loteria, são difíceis de alcançar enquanto estamos dirigindo um automóvel. No bolsinho da camiseta essas coisas se acomodam bem. Sentado no carro, onde enfiar rapidinho o tíquete do estacionamento do shopping para procurar a vaga? Li no jornal que um homem escapou da morte porque uma caneta no bolso da camisa desviou a bala destinada ao coração. Não digo que bolsinhos e seu conteúdo sejam um bom escudo, estou só lembrando o caso, de passagem.
Gosto de bolsos. O homem que inventou as calças jeans no século XIX, Levi Strauss, foi previdente. Imaginou que os homens do futuro, nós, sem paletós nem coletes, iríamos ficar com a vida complicada se não tivéssemos bolsos suficientes, pois iríamos ter muita miudeza para levar conosco, e bolou logo cinco bolsos. Imaginem os jeans sem eles: não teriam pegado.
Houve um tempo, sim, em que os homens citadinos tinham, na soma das roupas que vestiam, muito mais bolsos, e curiosamente era um tempo em que talvez carregassem menos coisas consigo. Bolsos tinham um sinônimo até mais usado: algibeiras. As roupas masculinas somavam uma dezena deles, ou mais. Vamos contar. Nas calças, pelo menos dois laterais e dois traseiros. São quatro. Usavam coletes: estes tinham dois bolsinhos na barriga e um do lado esquerdo do peito. São sete. Usavam paletós: duas algibeiras maiores dos lados, um bolsinho no lado esquerdo do peito, onde ia o lencinho fino, mero detalhe elegante, e pelo menos dois maiores internos, no forro, um de cada lado. São mais cinco, com sete: doze. Doze bolsos.
E que levavam esses homens, na época dos coletes? Relógio de bolso, caixinha de rapé, um ou dois charutos, moedas, eventualmente óculos, lenço, lápis ou caneta-tinteiro, algum papel... – algo mais? Consta na cultura geral da língua que nos bolsos dos coletes se levavam soluções mágicas para os problemas, sacadas criativas em que ninguém tinha pensado. Dizia-se com alguma admiração para alguém que apresentava uma solução inesperada: "Essa você tirou do bolso do colete". Também se tirava desse bolsinho algum nome salvador para resolver um impasse político. Donde se conclui que os coletes tinham bolsos para neles se levarem surpresas.
Para que mesmo os antigos precisariam de tantos bolsos? Não havia talão de cheques, cartão do banco, cartão de crédito, cartão do convênio médico, cartão de refeição, passe do ônibus, Carteira Nacional de Habilitação, cartão do seguro, RG, CPF, telefone celular, chaveiro cheio, iPod, pen drive, boletos bancários, óculos de sol... Livros de bolso só foram inventados mais tarde, e nunca ouvi dizer que alguém levasse livro no bolso.
Houve uma época, recente, em que tentaram habituar os homens a usar bolsas a tiracolo. Não deu certo. As fotos da época, anos da década de 1970, mostram homens desajeitados com aquela tira de couro atravessada no peito, senhores de paletó e gravata com aquele sacolão pendurado do lado. A bolsa prejudica a agilidade do homem, atrapalha a corrida, estorva a reação dos muito machos a provocações, tchê.
Por que fizeram as roupas das mulheres sem bolsos? Desde o começo os inventores da moda pensaram na mulher para vender bolsas. Só a mulher teria coragem de pagar mais de 20.000 reais por uma delas.

(Ivan Angelo, Veja SP, 06.09.2007)

10. Assinale a alternativa em que a palavra “bolso” exerce a mesma função sintática que nesta frase: “Uma camiseta sem bolso tem sua utilidade limitada”.

(a) “Bolsos das calças não servem para essas coisas.”
(b) “Gosto de bolsos”.
(c) “Para que mesmo os antigos precisariam de tantos bolsos?”
(d) “Livros de bolso só foram inventados mais tarde.”
(e) “Nunca ouvi dizer que alguém levasse livro no bolso.”

11. Transpondo corretamente para a voz ativa a oração “...nos bolsos dos coletes se levavam soluções mágicas para os problemas...”, obtém-se:

(a) Soluções mágicas para os problemas eram levadas nos bolsos dos coletes.
(b) Levavam nos bolsos dos coletes soluções mágicas para os problemas.
(c) Nos bolsos dos coletes, soluções mágicas para os problemas foram levadas.
(d) Levava-se, nos bolsos dos coletes, soluções mágicas para os problemas.
(e) Eram levados nos bolsos dos coletes soluções mágicas para os problemas.

12. Baseando-se em seus conhecimentos gramaticais, marque V (verdadeiro) ou
F (falso) para as afirmações a seguir.

( ) O travessão usado no primeiro parágrafo tem a função de introduzir um aposto que se refere à utilidade de vestir camisas sem bolso.
( ) Em “... quebram ou entortam os óculos...”, ambos os verbos são formados pelo processo de derivação parassintética.
( ) Embora a gramática normativa indique que advérbios apresentem apenas os graus comparativo e superlativo, é comum, na linguagem informal, o uso de advérbios no diminutivo como em “...enfiar rapidinho o tíquete...”
A sequência correta é

(a) V, F, V (b) F, V, F (c) F, F, V (d) V, V, V (e) V, V, F

Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 13 a 15.

Os meninos sumiam-se numa curva do caminho. Fabiano adiantou-se para alcançá-los. Era preciso aproveitar a disposição deles, deixar que andassem à vontade. Sinhá Vitória acompanhou o marido, chegou-se aos filhos. Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos; o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia esmoreceram no seu espírito.
E a conversa recomeçou. Agora Fabiano estava meio otimista. Endireitou o saco da comida, examinou o rosto carnudo e as pernas grossas da mulher. Bem. Desejou fumar. Como segurava a boca do saco e a coronha da espingarda, não pôde realizar o desejo. Temeu arriar, não prosseguir na caminhada. Continuou a tagarelar, agitando a cabeça para afugentar uma nuvem que, vista de perto, escondia o patrão, o soldado amarelo e a cachorra Baleia. Os pés calosos, duros como cascos, metidos em alpercatas novas, caminhariam meses. Ou não caminhariam? Sinhá Vitória achou que sim. [...] Por que haveriam de ser sempre desgraçados, fugindo no mato como bichos? Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias. Podiam viver escondidos, como bichos? Fabiano respondeu que não podiam.
–– O mundo é grande.
Realmente para eles era bem pequeno, mas afirmavam que era grande –– e marchavam, meio confiados, meio inquietos. Olharam os meninos que olhavam os montes distantes, onde havia seres misteriosos. Em que estariam pensando? zumbiu Sinhá Vitória. Fabiano estranhou a pergunta e rosnou uma objeção. Menino é bicho miúdo, não pensa. Mas Sinhá Vitória renovou a pergunta –– e a certeza do marido abalou-se. Ela devia ter razão. Tinha sempre razão. Agora desejava saber que iriam fazer os filhos quando crescessem.
–– Vaquejar, opinou Fabiano.
Sinhá Vitória, com uma careta enjoada, balançou a cabeça negativamente, arriscando-se a derrubar o baú de folha. Nossa Senhora os livrasse de semelhante desgraça. Vaquejar, que ideia! Chegariam a uma terra distante, esqueceriam a catinga onde havia montes baixos, cascalhos, rios secos, espinhos, urubus, bichos morrendo, gente morrendo. Não voltariam nunca mais, resistiriam à saudade que ataca os sertanejos na mata. Então eles eram bois para morrer tristes por falta de espinhos? Fixar-se-iam muito longe, adotariam costumes diferentes.

(RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 71. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. p. 120-122.)

13. A respeito desse trecho do romance de Graciliano Ramos, é correto afirmar:

(a) O narrador faz uma crítica ao trabalhador rural nordestino, representado pelo protagonista Fabiano, que não tem ambição e conforma-se com a sua insignificância.
(b) As palavras e os pensamentos de Fabiano evidenciam sua inconformidade com a
opressão social e apontam para seu desejo de reformar a sociedade agrária à custa da luta armada.
(c) As reflexões de Sinhá Vitória revelam que, no drama dos retirantes que fogem da seca, há espaço para o sonho de dias melhores.
(d) Fabiano e Sinhá Vitória consideram fundamental a imersão dos meninos no mundo urbano, longe da hostilidade do sertão.
(e) Na narrativa, a família, por mais privações que enfrente, não se abala, já que conta com a mais profunda fé religiosa.

14. A presença do discurso indireto livre é constante em “Vidas Secas”. Esse tipo de discurso ocorre de modo evidente em

(a) “Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos”.
(b) “Como segurava a boca do saco e a coronha da espingarda, não pôde realizar o desejo”.
(c) “–– O mundo é grande”.
(d) “Mas Sinhá Vitória renovou a pergunta”.
(e) “Então eles eram bois para morrer tristes por falta de espinhos?”

15. Ocorre oração sem sujeito em

(a) “Era preciso aproveitar a disposição deles...”.
(b) “Por que haveriam de ser sempre desgraçados?”
(c) “Com certeza existiam no mundo coisas extraordinárias”.
(d) “... onde havia seres misteriosos”.
(e) “Vaquejar, que ideia!”


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