Seguidores

quinta-feira, 26 de julho de 2012

FUVEST 2009 – 1ª Fase – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

FUVEST 2009 – 1ª FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

ps. Foi mantida a numeração original da prova.

Observe a charge para responder às questões 10 e 11.


10 – A  crítica contida na charge visa, principalmente, ao

a) ato de reivindicar a posse de um bem, o qual, no entanto, já pertence ao Brasil.
b) desejo obsessivo de conservação da natureza brasileira.
c) lançamento da campanha de preservação da floresta amazônica.
d) uso de  slogan semelhante ao da campanha “O petróleo é nosso”.
e) descompasso entre a reivindicação de posse e o tratamento dado à floresta.

11 – O pressuposto da frase escrita no cartaz que compõe a charge é o de que a Amazônia está ameaçada de

a) fragmentação.
b) estatização.
c) descentralização.
d) internacionalização.
e) partidarização.

Texto para as questões de 12 a 14

     Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.

(João do Rio. A alma encantadora das ruas.)

12 – Em “nas cidades, nas aldeias, nos povoados”, “hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia” e “levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis”, ocorrem, respectivamente, os seguintes recursos expressivos:

a) eufemismo, antítese, metonímia.
b) hipérbole, gradação, eufemismo.
c) metáfora, hipérbole, inversão.
d) gradação, inversão, antítese.
e) metonímia, hipérbole, metáfora.

13 – No texto, observa-se que o narrador se

a) equipara ao leitor, por meio de sentimentos diversos como o amor, o ódio e o egoísmo.
b) distancia do leitor, porque o amor à rua, assim como o ódio e o egoísmo, é passageiro.
c) identifica com o leitor, por meio de um sentimento perene, que é o amor à rua.
d) aproxima do leitor, por meio de sentimentos duradouros como o amor à rua e o ódio à polícia.
e) afasta do leitor, porque, ao contrário deste, valoriza as coisas fúteis.

14 – Prefixos que têm o mesmo sentido ocorrem nas seguintes palavras do texto:

a) íntima / agremia.
b) resiste / deslizam.
c) desprazeres / indissolúvel.
d) imperturbável / transforma.
e) revelado / persiste.

Texto para as questões 15 e 16

     Artistas, costureiras, soldadores e desenhistas manejam ferro, madeira, isopor e tecido. No galpão do boi Garantido, o do coração vermelho, todos se esmeram (nunca usam o verbo caprichar) para preparar um espetáculo que supere o do rival. No ano passado, foi o Caprichoso, o da estrela azul, o ganhador da disputa de bois-bumbá do famoso Festival de Parintins, que todo final de junho atrai cerca de cem mil pessoas para a doce ilha situada na margem direita do rio Amazonas. No curral da torcida caprichosa, “alegoristas”, passistas e percussionistas preferem não dizer que uma nova vitória está garantida. Dizem, sim, com todas as letras, que está assegurada.

(Fernanda Pompeu. Caprichada e garantida.)

15 – As marcas lingüísticas e o modo de organização do discurso que caracterizam o texto são, respectivamente,

a) verbos no presente e no passado; descritivo-narrativo.
b) substantivos e adjetivos; descritivo-dissertativo.
c) substantivos; narrativo-dissertativo.
d) frases nominais; apenas narrativo.
e) adjetivos substantivados; apenas descritivo.

16 – De acordo com o texto, a escolha das palavras “esmeram” (linha 3) e “assegurada” (linha 13) é motivada pelo

a) despreparo dos habitantes de Parintins.
b) antagonismo entre os dois grupos.
c) desejo de falar difícil.
d) entrosamento entre as duas equipes.
e) sentido irônico contido nesses dois termos.
Texto para as questões de 17 a 20

     Vestindo água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto, a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas.  Chu-áa! Chu-áa... — ruge o rio, como chuva deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais, nada de graça; nem um arranco, fora de hora. Assim.

(João Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana)

17 – Em trecho anterior do mesmo conto, o narrador chama Sete-de-Ouros de “sábio”. No excerto, a sabedoria do burrinho consiste, principalmente, em

a) procurar adaptar-se o melhor possível às forças adversas, que busca utilizar em benefício próprio.
b) firmar um pacto com as potências mágicas que se ocultam atrás das aparências do mundo natural.
c) combater frontalmente e sem concessões as atitudes dos homens, que considera confusas e desarrazoadas.
d) ignorar os perigos que o mundo apresenta, agindo como se eles não existissem.
e) escolher a inação e a inércia, confiando inteiramente seu destino às forças do puro acaso e da sorte.

18 – Quando nos apresentam os homens vistos pelos olhos dos animais, as narrativas em que aparecem o burrinho pedrês, do conto homônimo (Sagarana), os bois de “Conversa de bois” (Sagarana) e a cachorra Baleia (Vidas secas) produzem um efeito de

a) indignação, uma vez que cada um desses animais é morto por algozes humanos.
b) infantilização, uma vez que esses animais pensantes são exclusivos da literatura infantil.
c) maravilhamento, na medida em que os respectivos narradores servem-se de sortilégios e de magia para penetrar na mente desses animais.
d) estranhamento, pois nos fazem enxergar de um ponto de vista inusitado o que antes parecia natural e familiar.
e) inverossimilhança, pois não conseguem dar credibilidade a esses animais dotados de interioridade.

19 – No conto de Guimarães Rosa a que pertence o excerto, a presença de um animal que é “sábio” e forma juízos supõe uma concepção da natureza

a) contrária àquela que é expressa pelo Anjo, no Auto da barca do inferno.
b) idêntica à de Jacinto (A cidade e as serras), que se converte ao culto da natureza virgem e intocável, quando escolhe a vida rural.
c) contrária à que, predominantemente, se afirma na poesia de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa.
d) idêntica àquela que é exposta pelo autor de Vidas secas, no prefácio que escreveu para o livro.
e) semelhante à que se manifesta, sobretudo, nos capítulos finais de Memórias de um sargento de milícias.

20 – Como exemplos da expressividade sonora presente neste excerto, podemos citar a onomatopeia, em “Chu-áa! Chu-áa...”, e a fusão de onomatopéia com aliteração, em

a) “vestindo água”.   b) “ruge o rio”.   c) “poço doido”.   d) “filho do fundo”.   e) “fora de hora”.

Texto para as questões de 21 a 23

   Assim se explicam a minha estada debaixo da janela de Capitu e a passagem de um cavaleiro, um  dandy, como então dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão esquerda, a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me era desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros viriam atrás; todos iam às suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: “Porque um estudante (dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas coisas, um cavalo e uma namorada”. Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias é destinada a contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada no Catete, alugara um cavalo por três mil-réis... 

(Machado de Assis. Dom Casmurro.)

21 – As formas verbais “Tinham passado” e  “viriam” traduzem idéia, respectivamente, de anterioridade e de posterioridade em relação ao fato expresso pela palavra

a) “explicam”.   b) “estada”.   c) “passagem”.   d) “dizíamos”.   e) “montava”.

22 – Com a frase “como então dizíamos”, o narrador tem por objetivo, principalmente,

a) comentar um uso lingüístico de época anterior ao presente da narração.
b) criticar o uso de um estrangeirismo que caíra em desuso.
c) marcar o uso da primeira pessoa do plural.
d) registrar a passagem do cavaleiro diante da janela de Capitu.
e) condenar o modo como se falava no passado.

23 – Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afirmar corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo revelam que, em Dom Casmurro, Machado de Assis

a) expôs, embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua conseqüente recusa de leituras estrangeiras.
b) negou ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vista o hábito romântico de tudo idealizar e exagerar.
c) recusou, finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições românticas que irá caracterizar seus últimos romances.
d) declarou que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os escritores de outras épocas não mais merecem ser lidos.
e) utilizou, como em outras obras suas, elementos do legado de seus predecessores locais, alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.

24 – Em um poema escrito em louvor de Iracema, Manuel Bandeira afirma que, ao compor esse livro, Alencar “

"[...] escreveu o que é mais poema
Que romance, e poema menos
Que um mito, melhor que Vênus.”

Segundo Bandeira, em Iracema,

a) Alencar parte da ficção literária em direção à narrativa mítica, dispensando referências a coordenadas e personagens históricas.
b) o caráter poemático dado ao texto predomina sobre a narrativa em prosa, sendo, por sua vez, superado pela constituição de um mito literário.
c) a mitologia tupi está para a mitologia clássica, predominante no texto, assim como a prosa está para a poesia.
d) ao fundir romance e poema, Alencar, involuntariamente, produziu uma lenda do Ceará, superior à mitologia clássica.
e) estabelece-se uma hierarquia de gêneros literários, na qual o termo superior, ou dominante, é a prosa romanesca, e o termo inferior, o mito.

25 – Dos termos sublinhados nas frases abaixo, o único que está inadequado ao contexto ocorre em:

a) O mundo está na iminência de enfrentar o recrudescimento da fome devido à escassez de alimentos.
b) Para atender a todos os interessados no concurso, foi preciso dilatar o prazo das inscrições.
c) Ao fazer cópias de músicas e filmes pela internet, é preciso ter cuidado para não infringir a lei.
d) O município que se tornou símbolo da emigração brasileira para os EUA tenta se adaptar ao movimento migratório inverso.
e) A cobrança de juros excessivos, com o objetivo de aferir lucro exagerado, desestimula o crescimento da produção.

GABARITO

10 – E   11 – D   12 – D   13 – C   14 – C   15 – A   16 – B  17 – A   
18 – D   19 – C   20 – B   21 – C   22 – A   23 – E   24 – B   25 – E   

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Olavo Bilac – Poemas

Olavo Bilac – Poemas




Remorso

Às vezes, uma dor me desespera...
Nestas ânsias e dúvidas em que ando.
Cismo e padeço, neste outono, quando
Calculo o que perdi na primavera.

Versos e amores sufoquei calando,
Sem os gozar numa explosão sincera...
Ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
Mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
Choro, neste começo de velhice,
Mártir da hipocrisia ou da virtude,

Os beijos que não tive por tolice,
Por timidez o que sofrer não pude,
E por pudor os versos que não disse!

(Olavo Bilac)

Ciclo

Manhã. Sangue em delírio, verde gomo,
Promessa ardente, berço e liminar:
A árvore pulsa, no primeiro assomo
Da vida, inchando a seiva ao sol... Sonhar!

Dia. A flor - o noivado e o beijo, como
Em perfumes um tálamo e um altar:
A árvore abre-se em riso, espera o pomo,
E canta à voz dos pássaros... Amar!

Tarde. Messe e esplendor, glória e tributo;
A árvore maternal levanta o fruto,
A hóstia da idéia em perfeição... Pensar!

Noite. Oh! Saudade!... A dolorosa rama
Da árvore aflita pelo chão derrama
As folhas, como lágrimas... Lembrar!

(Olavo Bilac)

Via Láctea, VI

Em mim também, que descuidado vistes,
Encantado e aumentando o próprio encanto,
Tereis notado que outras cousas canto
Muito diversas das que outrora ouvistes.

Mas amastes, sem dúvida ... Portanto,
Meditai nas tristezas que sentistes:
Que eu, por mim, não conheço cousas tristes,
Que mais aflijam, que torturem tanto.

Quem ama inventa as penas em que vive;
E, em lugar de acalmar as penas, antes
Busca novo pesar com que as avive.

Pois sabei que é por isso que assim ando:
Que é dos loucos somente e dos amantes
Na maior alegria andar chorando.

(Olavo Bilac)

Maldição

Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,

— Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão. 

E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...

(Olavo Bilac)



Este, que um deus cruel arremessou à vida,
Marcando-o com o sinal da sua maldição,
— Este desabrochou como a erva má, nascida
Apenas para aos pés ser calcada no chão.

De motejo em motejo arrasta a alma ferida...
Sem constância no amor, dentro do coração
Sente, crespa, crescer a selva retorcida
Dos pensamentos maus, filhos da solidão.

Longos dias sem sol! noites de eterno luto!
Alma cega, perdida à toa no caminho!
Roto casco de nau, desprezado no mar!

E, árvore, acabará sem nunca dar um fruto;
E, homem há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!

(Olavo Bilac)

Quando adivinha

Quando adivinha que vou vê-Ia, e à escada
Ouve-me a voz e o meu andar conhece,
Fica pálida, assusta-se, estremece,
E não sei por que foge envergonhada.

Volta depois. À porta, alvoroçada,
Sorrindo, em fogo as faces, aparece:
E talvez entendendo a muda prece
De meus olhos, adianta-se apressada.

Corre, delira, multiplica os passos;
E o chão, sob os seus passos murmurando,
Segue-a de um hino, de um rumor de festa

E ah! que desejo de a tomar nos braços,
O movimento rápido sustando
Das duas asas que a paixão lhe empresta.

(Olavo Bilac)

"O Beijo". Gustav Klimt.
Um Beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
Ou talvez o pior...Glória e tormento,
Contigo à luz subi do firmamento,
Contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
Queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
E do teu gosto amargo me alimento,
E rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
Batismo e extrema-unção, naquele instante
Por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-te o ardor, e o crepitar te escuto,
Beijo divino! e anseio, delirante,
Na perpétua saudade de um minuto...

(Olavo Bilac)


Velhas árvores 

Olha estas velhas árvores, — mais belas,
Do que as árvores mais moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas . . .

O homem, a fera e o inseto à sombra delas
Vivem livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E alegria das aves tagarelas . . .

Não choremos jamais a mocidade!
Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,

Na glória da alegria e da bondade
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

(Olavo Bilac)

Pomba e Chacal

Ó Natureza! ó mãe piedosa e pura!
Ó cruel, implacável assassina!
— Mão, que o veneno e o bálsamo propina
E aos sorrisos as lágrimas mistura!

Pois o berço, onde a boca pequenina
Abre o infante a sorrir, é a miniatura
A vaga imagem de uma sepultura,
O gérmen vivo de uma atroz ruína?!

Sempre o contraste! Pássaros cantando
Sobre túmulos... flores sobre a face
De ascosas águas pútridas boiando...

Anda a tristeza ao lado da alegria...
E esse teu seio, de onde a noite nasce,
É o mesmo seio de onde nasce o dia...

(Olavo Bilac)

Vanitas

Cego, em febre a cabeça, a mão nervosa e fria,
Trabalha. A alma lhe sai da pena, alucinada,
E enche-lhe, a palpitar, a estrofe iluminada
De gritos de triunfo e gritos de agonia.

Prende a ideia fugaz: doma a rima bravia;
Trabalha... E a obra, por fim, resplandece acabada:
"Mundo, que as minhas mãos arrancaram do nada!
Filha do meu trabalho! ergue-te à luz do dia!

Cheia de minha febre e da minha alma cheia,
Arranquei-te da vida ao ádito profundo,
Arranquei-te do amor à mina ampla e secreta!

Posso agora morrer, porque vives!" E o Poeta
Pensa que vai cair, exausto, ao pé de um mundo,
E cai — vaidade humana! — ao pé de um grão de areia...

(Olavo Bilac)

A Montanha

Calma, entre os ventos, em lufadas cheias
De um vago sussurrar de ladainha,
Sacerdotisa em prece, o vulto alteias
Do vale, quando a noite se avizinha:

Rezas sobre os desertos e as areias,
Sobre as florestas e a amplidão marinha;
E, ajoelhadas, rodeiam-te as aldeias,
Mudas servas aos pés de uma rainha.

Ardes, num holocausto de ternura...
E abres, piedosa, a solidão bravia
Para as águias e as nuvens, a acolhê-las;

E invades, como um sonho, a imensa altura,
— Última a receber o adeus do dia,
Primeira a ter a bênção das estrelas!

(Olavo Bilac)

Dualismo

Não és bom, nem és mau: és triste e humano... 
Anne Bachelier.
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.

(Olavo Bilac)

Longe de ti

Longe de ti, se escuto, porventura,
Teu nome, que uma boca indiferente
Entre outros nomes de mulher murmura,
Sobe-me o pranto aos olhos, de repente...

Tal aquele, que, mísero, a tortura
Sofre de amargo exílio, e tristemente
A linguagem natal, maviosa e pura,
Ouve falada por estranha gente...

Porque teu nome é para mim o nome
De uma pátria distante e idolatrada,
Cuja saudade ardente me consome:

E ouvi-lo é ver a eterna primavera
E a eterna luz da terra abençoada,
Onde, entre flores, teu amor me espera.

(Olavo Bilac)


www.veredasdalingua.blogspot.com.br

Leia também:

“O Ateneu” – Raul Pompeia
Carlos Nejar – Poemas
“Um Fluminense tão Flaubert” – Nelson Rodrigues 

Menotti Del Picchia - Poemas
Olavo Bilac – O Príncipe dos poetas brasileiros


Conheça as apostilas de literatura do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.














ATENÇÃO: Além das apostilas, o aluno recebe também, GRATUITAMENTE, o programa em Powerpoint: 500 TEMAS DE REDAÇÃO