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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Pedro Kilkerry - Poemas

PEDRO KILKERRY


É o silêncio

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz n’algum volume sobre a mesa ...
Mas o sangue da luz em cada folha.

Não sei se é mesmo a minha mão que molha
a pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, um passado. E enfolha
A natureza tua natureza.
Mas é um bulir das coisas... Comovido
Pego da pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido anima...
E a câmara muda. E a sala muda, muda...
Afonamente rufa. A asa da rima
Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma ao som que se aproxima.
Cresce-me a estante, como quem sacuda
um pesadelo de papéis acima...

.................................................................................

E abro a janela. Ainda a lua esfia
últimas notas trêmulas... O dia
Tarde florescerá pela montanha.

E oh! minha amada, o sentimento é cego...
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
Patas de um gato e asas de um morcego.

(Pedro Kilkerry)

Cérbero

É, não vens mais aqui... Pois eu te espero,
Gele-me o frio inverno, o sol adusto
Dê-me a feição de um tronco, a rir, vetusto
-  Meu amor a ulular... E é o teu Cérbero!

É, não vens mais aqui... E eu mais te quero,
Vago o vergel, todo o pomar venusto
E a cada fruto de ouro estendo o busto,
Estendo os braços, e o teu seio espero.

Mas como pesa esta lembrança... a volta
Da aleia em flor que em vão, toda transponho,
E onde te foste, e a cabeleira solta!

Vais corações rompendo em toda a parte!
Virás, um dia... E à porta do meu Sonho
Já Cérbero morreu, para agarrar-te.

(Pedro Kilkerry)

Floresta Morta

Por que, à luz de um sol de primavera,
Urna floresta morta? Um passarinho
Cruzou, fugindo-a, o seio que lhe dera
Abrigo e pouso e que lhe guarda o ninho.

Nem vale, agora, a mesma vida, que era
Como a doçura quente de um carinho,
E onde flores abriram, vai a fera
— Vidrado o olhar — lá vai pelo caminho.

Ah! quanto dói o vê-la, aqui, Setembro,
Inda banhada pela mesma vida!
Floresta morta a mesma cousa lembro;

Sob outro céu assim, que pouco importa,
Abrigo à fera, mas, da ave fugida,
Há no meu peito urna floresta morta.

(Pedro Kilkerry)

O Verme e a Estrela

Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz.
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme,
Eu cantaria a tua luz!

E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! ceguei da tua luz?


(Pedro Kilkerry)

Sob os Ramos

É no Estio. A alma, aqui, vai-me sonora,
No meu cavalo — sob a loira poeira
Que chove o sol — e vai-me a vida inteira
No meu cavalo, pela estrada afora.

Ai! desta em que te escrevo alta mangueira
Sob a copada verde a gente mora.
E em vindo a noite, acende-se a fogueira
Que se fez cinza de fogueira agora.

Passa-me a vida pelo campo... E a vida
Levo-a cantando, pássaros no seio,
Qual se os levasse a minha mocidade...

Cada ilusão floresce renascida;
Flora, renasces ao primeiro anseio
Do teu amor... nas asas da Saudade!


(Pedro Kilkerry)






Ritmo Eterno

Abro as asas da Vida à Vida que há lá fora.
Olha… Um sorriso da alma! — Um sorriso da aurora!
E Deus — ou Bem! ou Mal — é Deus cantando em mim,
Que Deus és tu, sou eu — a Natureza assim.

Árvore! boa ou má, os frutos que darás
Sinto-os sabendo em nós, em mim, árvore, estás.
E o Sol, de cujo olhar meu pensamento inundo,
Casa multiplicando as asas deste mundo…

Oh, braços para a Vida! Oh, vida para amar!
Sendo uma onda do mar, dou-me ilusões de um mar…
Alvor, turquesa, ondula a matéria… É veludo,

É minh’alma, é teu seio, e um firmamento mudo.
Mas, aos ritmos da Terra, és um ritmo do Amor?
Homem! ouve a teus pés a Natureza em flor!

(Pedro Kilkerry)

Amor volat

Não, não é comigo que ele nasceu... A sua asa
Só a um tempo ruflou desse modo, tamanho!
Bateu-me o coração... E outro não sei que, estranho,
Rudamente o rasgou como o seu bico em brasa...

Entrou-mo todo, enfim, como quem entra em casa
E em meu sangue, a cantar, fez de um boêmio no banho!
Oh! Que pássaro mau! E eu nunca mais o apanho!
Vês: estou velho já. Treme-me o passo, e atrasa...

Olha-me bem, no peito, o rubro ninho aberto!
Hoje fúnebre, a piar, uma estrige ao telhado
E o meu seio vazio! e o meu leito deserto!

E vivo só por ver, como curvo aqui fico,
Esse pássaro voar largamente, um bocado
de músculos pingando a levar-me no bico!


(Pedro Kilkerrry)


"O mundo de Cristina". Andrew Wyeth.
O Muro

Movendo os pés doirados, lentamente,
Horas brancas lá vão, de amor e rosas 

As impalpáveis formas no ar, cheirosas...
Sombras, sombras que são da alma doente!

E eu, magro, espio... e um muro, magro, em frente,
Abrindo à tarde as órbitas musgosas.
- Vazias? Menos do que misteriosas –
Pestaneja, estremece... O muro sente!

E que cheiro sai dos nervos dele,
Embora o caio roído, cor de brasa.
E lhe doa talvez aquela pele!

Mas um prazer ao sofrimento casa...
Pois o ramo em que o vento à dor lhe impele
É onde a volúpia está de uma asa e outra asa...


(Pedro Kilkerrry)


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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Texto: "A Viajante" - Rubem Braga

A Viajante




              Com franqueza, não me animo a dizer que você não vá. 
        Eu, que sempre andei no rumo de minhas venetas, e tantas vezes troquei o sossego de uma casa pelo assanhamento triste dos ventos da vagabundagem, eu não direi que fique. 
        Em minhas andanças, eu quase nunca soube se estava fugindo de alguma coisa ou caçando outra. Você talvez esteja fugindo de si mesma, e a si mesma caçando; nesta brincadeira boba passamos todos, os inquietos, a maior parte da vida — e às vezes reparamos que é ela que se vai, está sempre indo, e nós (às vezes) estamos apenas quietos, vazios, parados, ficando. Assim estou eu. E não é sem melancolia que me preparo para ver você sumir na curva do rio — você que não chegou a entrar na minha vida, que não pisou na minha barranca, mas, por um instante, deu um movimento mais alegre à corrente, mais brilho às espumas e mais doçura ao murmúrio das águas. Foi um belo momento, que resultou triste, mas passou. 
        Apenas quero que dentro de si mesma haja, na hora de partir, uma determinação austera e suave de não esperar muito; de não pedir à viagem alegrias muito maiores que a de alguns momentos. Como este, sempre maravilhoso, em que no bojo da noite, na poltrona de um avião ou de um trem, ou no convés de um navio, a gente sente que não está deixando apenas uma cidade, mas uma parte da vida, uma pequena multidão de caras e problemas e inquietações que pareciam eternas e fatais e, de repente, somem como a nuvem que fica para trás. Esse instante de libertação é a grande recompensa do vagabundo; só mais tarde ele sente que uma pessoa é feita de muitas almas, e que várias, dele, ficaram penando na cidade abandonada. E há também instantes bons, em terra estrangeira, melhores que os das excitações e descobertas, e as súbitas visões de belezas sonhadas. São aqueles momentos mansos em que, de uma janela ou da mesa de um bar, ele vê, de repente, a cidade estranha, no palor do crepúsculo, respirar suavemente como velha amiga, e reconhece que aquele perfil de casas e chaminés já é um pouco, e docemente, coisa sua. 
        Mas há também, e não vale a pena esconder nem esquecer isso, aqueles momentos de solidão e de morno desespero; aquela surda saudade que não é de terra nem de gente, e é de tudo, é de um ar em que se fica mais distraído, é de um cheiro antigo de chuva na terra da infância, é de qualquer coisa esquecida e humilde – torresmo, moleque passando na bicicleta assobiando samba, goiabeira, conversa mole, peteca, qualquer bobagem. Mas então as bobagens do estrangeiro não rimam com a gente, as ruas são hostis e as casas se fecham com egoísmo, e a alegria dos outros que passam rindo e falando alto em sua língua dói no exilado como bofetadas injustas. Há o momento em que você defronta o telefone na mesa da cabeceira e não tem com quem falar, e olha a imensa lista de nomes desconhecidos com um tédio cruel. 
        Boa viagem, e passe bem. Minha ternura vagabunda e inútil, que se distribui por tanto lado, acompanha, pode estar certa, você. 

(Rubem Braga, in “A Borboleta Amarela”)

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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA – CARGO: AGENTE DE POLÍCIA FEDERAL

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA – CONCURSO PÚBLICO – CARGO: AGENTE DE POLÍCIA FEDERAL (2009)


De acordo com o comando a que cada um dos itens a seguir se refira, marque, na folha de respostas, para cada item: o campo designado com o código C, caso julgue o item CERTO; ou o campo designado com o código E, caso julgue o item ERRADO.


PROVA OBJETIVA


     Nossos projetos de vida dependem muito do futuro
     do país no qual vivemos. E o futuro de um país não é
     obra do acaso ou da fatalidade. Uma nação se constrói.
4   E constrói-se no meio de embates muito intensos — e, às
     vezes, até violentos — entre grupos com visões de futuro,
     concepções de desenvolvimento e interesses distintos e
7   conflitantes.
     Para muitos, os carros de luxo que trafegam pelos
     bairros elegantes das capitais ou os telefones celulares não
10 constituem indicadores de modernidade.
     Modernidade seria assegurar a todos os habitantes
     do país um padrão de vida compatível com o pleno exercício
13 dos direitos democráticos. Por isso, dão mais valor a um
     modelo de desenvolvimento que assegure a toda a população
     alimentação, moradia, escola, hospital, transporte coletivo,
16 bibliotecas, parques públicos. Modernidade, para os que
     pensam assim, é sistema judiciário eficiente, com aplicação
     rápida e democrática da justiça; são instituições públicas
19 sólidas e eficazes; é o controle nacional das decisões
     econômicas.

Plínio Arruda Sampaio. O Brasil em construção. In: Márcia Kupstas (Org.). Identidade nacional em debate. São Paulo: Moderna, 1997, p. 27-9 (com adaptações).

Considerando a argumentação do texto acima bem como as estruturas linguísticas nele utilizadas, julgue os itens a seguir.

1Na linha 2, mantendo-se a correção gramatical do texto, pode-se empregar em que ou onde em lugar de “no qual”.

2Infere-se da leitura do texto que o futuro de um país seria “obra do acaso” (R.3) se a modernidade não assegurasse um padrão de vida democrático a todos os seus cidadãos.

3. Para evitar o emprego redundante de estruturas sintático-semânticas, como o que se identifica no trecho “Uma nação se constrói. E constrói-se no meio de embates muito
intensos” (R.3-4), poder-se-ia unir as ideias em um só período sintático — Uma nação se constrói no meio de embates —, o que preservaria a correção gramatical do texto, mas reduziria a intensidade de sua argumentação.

4. Se o terceiro parágrafo do texto constituísse o corpo de um documento oficial, como um relatório ou parecer, por exemplo, seria necessário preservar o paralelismo entre as
ideias a respeito de “Modernidade” (R.11 e 16), por meio da conjugação do verbo ser, nas linhas 11 e 17, no mesmo tempo verbal.

5. O trecho “os que pensam assim” (R.16-17) retoma, por coesão, o referente de “muitos” (R.8), bem como o sujeito implícito da oração “dão mais valor a um modelo de desenvolvimento” (R.13-14).

6. O emprego do sinal de ponto-e-vírgula, no último período sintático do texto, apresenta a dupla função de deixar claras as relações sintático-semânticas marcadas por vírgulas dentro do período e deixar subentender “Modernidade” (R.16) como o sujeito de “é sistema” (R.17), “são instituições” (R.18) e “é o controle” (R.19).


1   Na verdade, o que hoje definimos como democracia
     só foi possível em sociedades de tipo capitalista, mas não
     necessariamente de mercado. De modo geral, a
4   democratização das sociedades impõe limites ao mercado,
     assim como desigualdades sociais em geral não contribuem
     para a fixação de uma tradição democrática. Penso que temos
7   de refletir um pouco a respeito do que significa democracia.
     Para mim, não se trata de um regime com características
     fixas, mas de um processo que, apesar de constituir formas
10 institucionais, não se esgota nelas. É tempo de voltar ao
     filósofo Espinosa e imaginar a democracia como uma
     potencialidade do social, que, se de um lado exige a criação
13 de formas e de configurações legais e institucionais, por
     outro não permite parar. A democratização no século XX
     não se limitou à extensão de direitos políticos e civis. O tema
16 da igualdade atravessou, com maior ou menor força, as
     chamadas sociedades ocidentais.

Renato Lessa. Democracia em debate. In: Revista
Cult, n.º 137, ano 12, jul./2009, p. 57 (com adaptações).

Com base nas estruturas linguísticas e nas relações argumentativas do texto acima, julgue os itens seguintes.

7. Seria mantida a coerência entre as ideias do texto caso o segundo período sintático fosse introduzido com a expressão “Desse modo”, em lugar de “De modo geral” (R.3).

8. Preservam-se a correção gramatical e a coerência textual ao se optar pela determinação do substantivo “respeito” (R.7), juntando-se o artigo definido à preposição “a”, escrevendo-se ao respeito.

9. Na linha 8, a flexão de singular em “não se trata” deve-se ao emprego do singular em “um regime”.

10. Depreende-se da argumentação do texto que o autor considera as instituições como as únicas “características fixas” (R.8-9) aceitáveis de “democracia” (R.1 e 7).

11. Pela acepção usada no texto, o emprego da forma verbal pronominal “se limitou” (R.15) exige a presença da preposição “a” no complemento verbal; a substituição pela
forma não-pronominal — não limitou a extensão —, sem uso da preposição, preservaria a correção gramatical, mas mudaria o efeito da ideia de “democratização” (R.14).

12. Em textos de normatização mais rígida do que o texto jornalístico, como os textos de documentos oficiais, a contração de preposição com artigo, com em “da igualdade”
(R.16), deve ser desfeita, devendo-se escrever de a igualdade, para que o sujeito da oração seja claramente identificado.

     A visão do sujeito indivíduo — indivisível —
     pressupõe um caráter singular, único, racional e pensante em
     cada um de nós. Mas não há como pensar que existimos
4   previamente a nossas relações sociais: nós nos fazemos em
     teias e tensões relacionais que conformarão nossas
     capacidades, de acordo com a sociedade em que vivemos.
7   A sociologia trabalha com a concepção dessa relação entre
     o que é “meu” e o que é “nosso”. A pergunta que propõe
     é: como nos fazemos e nos refazemos em nossas relações
10 com as instituições e nas relações que estabelecemos com os
     outros? Não há, assim, uma visão de homem como uma
     unidade fechada em si mesma, como Homo clausus.
13 Estaríamos envolvidos, constantemente, em tramas
     complexas de internalização do “exterior” e, também, de
     rejeição ou negociação próprias e singulares do “exterior”.
16 As experiências que o homem vai adquirindo na relação com
     os outros são as que determinarão as suas aptidões, os seus
     gostos, as suas formas de agir.

Flávia Schilling. Perspectivas sociológicas. Educação & psicologia.
In: Revista Educação, vol. 1, p. 47 (com adaptações).

Julgue os seguintes itens, a respeito das estruturas linguísticas e do desenvolvimento argumentativo do texto acima.

13. Ao ligar dois períodos sintáticos, o conectivo “Mas” (R.3) introduz a oposição entre a ideia de um sujeito único e indivisível e a ideia de um sujeito moldado por teias de relações sociais.

14. A inserção do sinal indicativo de crase em “existimos previamente a nossas relações sociais” (R.3-4) preservaria a correção gramatical e a coerência do texto, tornando
determinado o termo “relações”.

15. Na linha 4, para se evitar a sequência “nós nos”, o pronome átono poderia ser colocado depois da forma verbal “fazemos”, sem que a correção gramatical do trecho fosse prejudicada, prescindindo-se de outras alterações gráficas.

16. O emprego do sinal de dois-pontos, na linha 9, anuncia que uma consequência do que foi dito é explicitar a pergunta proposta pela sociologia.

17. O emprego das aspas nos termos das linhas 8, 14 e 15 ressalta, no contexto, o valor significativo não usual desses termos.

18. O uso da forma verbal flexionada na primeira pessoa do plural “Estaríamos” (R.13) inclui autor e leitores no desenvolvimento da argumentação, de tal modo que seria
coerente e gramaticalmente correto substituir “o homem vai adquirindo” (R.16) por vamos adquirindo, no período seguinte.

19. Na linha 15, a flexão de plural em “próprias e singulares” estabelece relações de coesão tanto com “rejeição” quanto com “negociação” e indica que esses substantivos têm referentes distintos e não podem ser tomados como sinônimos.

1   O uso do espaço público nas grandes cidades é um
     desafio. Sobretudo porque algumas regras básicas de boa
     convivência não são respeitadas. Por exemplo, tentar sair de
4   um vagão do metrô com a multidão do lado de fora querendo
     entrar a qualquer preço, sem esperar e dar passagem aos
     demais usuários. Ou andar por ruas sujas de lixo, com fezes
7   de cachorro e cheiro de urina. São situações que transformam
     o convívio urbano em uma experiência ruim. A saída é a
     educação. Convencidos disso, empresas e governos estão
10 bombardeando a população com campanhas de
     conscientização — e multas, quando só as advertências não
     funcionarem. Independentemente da estratégia, o senso de
13 urgência para uma mudança de comportamento na sociedade
     brasileira veio para ficar.
     As iniciativas são louváveis. Caso a população,
16 porém, se sinta apenas punida ou obrigada a uma atitude, e
     não parte da comunidade, os benefícios não se tornarão
     duradouros.

Suzane G. Frutuoso. Vai doer no bolsão.
In: Istoé, 22/7/2009, p. 74-5 (com adaptações).


A respeito da organização das estruturas linguísticas do texto acima e da redação de correspondências oficiais, julgue os itens subsequentes.

20. Respeitam-se a coerência da argumentação do texto e a sua correção gramatical, se, em vez de se empregar “do espaço público” (R.1), no singular, esse termo for usado no plural: dos espaços públicos.

21. A fragmentação sintática de ideias coordenadas, decorrente do emprego do ponto-final antes de “Sobretudo” (R.2), de “Ou” (R.6) e de “São situações” (R.7), que é admitida em textos jornalísticos, deve ser evitada, para facilitar a objetividade e a clareza, na redação de documentos oficiais.

22. Na relação entre as ideias do texto, subentende-se ao imediatamente antes de “tentar” (R.3) e de “andar” (R.6); por isso, a inserção de ao nessas posições tornaria o texto mais claro, além de manter a sua correção gramatical.

23. Na linha 11, a presença da conjunção “e” torna desnecessário o uso do travessão, que tem apenas a função de enfatizar a aplicação de “multas”; por isso, a retirada
desse sinal de pontuação não prejudicaria a correção nem a coerência do texto.

24. A substituição de “Caso” (R.15) pela conjunção Se preservaria a correção gramatical da oração em que se insere, não demandaria outras modificações no trecho e
respeitaria a função condicional dessa oração.

GABARITO OFICIAL

1 – C
2 – E
3 – C
4 – E
5 – C
6 – C
7 – E
8 – E
9 – E
10 – E
11 – C
12 – E
13 – C
14 – E
15 – E
16 – C
17 – C
18 – E
19 – C
20 – C
21 – C
22 – E
23 – E
24 – E

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