A complicada arte de ver

Aqueles anéis
perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar
vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de
objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é
que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões… Agora, tudo o que
vejo me causa espanto”.
Ela se calou,
esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá
retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à Cebola” e lhe
disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o
que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: ‘Rosa de
água com escamas de cristal’. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de
poeta… Os poetas ensinam a ver”.
(Rubem Alves)
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