Questões de vestibulares e concursos I – Interpretação de texto
Questões de interpretação baseadas em textos dos dois maiores escritores brasileiros (em minha opinião, claro): Guimarães Rosa e Machado de Assis. Segue o gabarito no final da página.
Questões de interpretação baseadas em textos dos dois maiores escritores brasileiros (em minha opinião, claro): Guimarães Rosa e Machado de Assis. Segue o gabarito no final da página.
(FUVEST – 2003) – Texto para as questões de 1 a 4.
Zoo
Uma cascavel, nas encolhas. Sua massa infame.
Crime: prenderam, na gaiola da cascavel, um ratinho branco. O pobrinho se comprime num dos cantos do alto da parede de tela, no lugar mais longe que pôde. Olha para fora, transido, arrepiado, não ousando choramingar. Periodicamente, treme. A cobra ainda dorme.
*
Meu Deus, que pelo menos a morte do ratinho branco seja instantânea!
*
Tenho de subornar um guarda, para que liberte o ratinho branco da jaula da cascavel. Talvez ainda não seja tarde.
*
Mas, ainda que eu salve o ratinho branco, outro terá de morrer em seu lugar. E, deste outro, terei sido eu o culpado.
(Guimarães Rosa, fragmentos extraídos de “Ave, palavra”)
1. A situação do ratinho branco, preso na gaiola da cascavel, provocou no narrador:
a) imediato sentimento de culpa, que o levou a declarar-se responsável pela situação.
b) desejo imediato de intervenção, a fim de antecipar o previsível desfecho.
c) reação espontânea e indignada, da qual veio a se arrepender mais tarde.
d) compaixão e desejo de intervir, seguidos de uma reflexão moral.
e) curiosidade e repulsa, a que se seguiu a indiferença diante do inevitável.
2. Por meio de frases como “A cobra ainda dorme”, “Talvez ainda não seja tarde” e “ainda que eu salve o ratinho branco”, o narrador:
a) prolonga a tensão, alimentando expectativas.
b) exprime a inevitabilidade dos fatos, ao empregar os verbos no presente.
c) entrega-se a fantasias, desligando-se das circunstâncias presentes.
d) formula hipóteses vagas, argumentando de modo abstrato.
e) precipita a ação do tempo, apressando a narração dos fatos.
3. O último parágrafo permite inferir que a convicção final do narrador é a de que:
a) a culpa maior está na omissão permanente.
b) os atos bem-intencionados são inocentes.
c) nenhuma escolha é isenta de responsabilidade.
d) não há como discordar da lei do mais forte.
e) não há culpa em quem aperfeiçoa as leis da natureza.
4. Neste texto, o parágrafo em que ocorrem elementos descritivos expressos por meio de frases nominais é o:
a) primeiro. b) segundo. c) terceiro. d) quarto. e) quinto.
(FUVEST) – Texto para as questões de 5 a 18.
17 de julho
Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:
- Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas-de-leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas...
E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona trazia entre os dedos esta pérola:
“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M. R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.”
Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma cousa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras; mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.
E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as cousas do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.
Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjôo do mar.” Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjôo. Vês que a travessia ainda é longa, porque a tua idade está entre trinta e dous e trinta e oito anos, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.
(Machado de Assis, texto publicado na coluna “A Semana”, 1892)
5. Em qual dos elementos abaixo se baseia a imagem mais recorrente no texto?
a) água b) terra c) ar d) fogo e) sol
6. No trecho “Ficam desde já excluídos os sonhadores...”, entende-se que os sonhadores ficam excluídos do grupo dos que:
b) desejam comprar um bilhete de loteria.
c) sacrificam os outros.
d) querem um diálogo de amor.
e) amam o mistério.
7. No trecho “...precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível.”, o “mal” é:
a) a falta de amor. b) o tédio da solidão.
c) o enjoo de mar. d) a saudade do casamento. e) a aproximação da velhice.
8. De acordo com o texto, o cronista teve desejo de ver a viúva porque:
a) ela era distinta e interessante.
b) ela possuía bens que a tornavam independentes.
c) ela lhe parecia superior às outras mulheres.
d) ela estava triste e precisava de consolo.
e) ele também estava cansado de viver só.
9. De acordo com o texto, o capitão:
b) não suportava mais a solidão das prolongadas viagens marítimas.
c) tinha a saúde abalada pelo sacudir constante do navio.
d) estava aborrecido porque tinha conflitos com seus companheiros de trabalho.
e) devia procurar a solução para o seu problema dentro de si mesmo.
10. Infere-se do texto que, na opinião do cronista:
a) a viúva, tendo sido feliz no primeiro casamento, desejava retomar no segundo o ritmo daqueles dias que se haviam ido.
b) o primeiro marido da viúva fora uma pessoa séria e aborrecida, que poucas alegrias lhe dera enquanto vivo.
c) a viúva pretendia encontrar, no segundo casamento, uma vida mais cheia de aventuras e viagens emocionantes.
d) o verdadeiro objetivo da viúva era constituir uma fortuna razoável, juntando suas posses às do futuro marido.
e) a morte do primeiro marido deixara na vida de sua mulher um vazio que ela desejava preencher com outro casamento.
11. De acordo com o texto:
a) o eventual pretendente à viúva deve procurar resposta a sua carta na redação do jornal.
b) a viúva, ou alguém em seu lugar, procurará na redação a carta do eventual pretendente.
c) o jornal veiculará novo anúncio, em respostas aos eventuais pretendentes da viúva
d) a viúva deixará na redação do jornal uma carta, em resposta ao pretendente eventualmente escolhido.
e) um novo anúncio fará saber ao eventual pretendente que a viúva oportunamente o procurará.
12. Entre os excertos abaixo, assinale aquele em que o autor cria uma metáfora de “vida”:
a) ... como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais
b) ... o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo.
c) ... a meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor púrpurea e o viço eterno.
d) ... a travessia ainda é longa, o mar é agitado, o navio joga muito.
e) ... o remédio é a solidão, a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego.
13. A frase do capitão em sua carta a Sêneca – referida em discurso indireto – apresentaria, em discurso direto, a seguinte forma:
a) Sinto tédio, mas como se há de curar!
b) Quero curar-me do tédio que sinto.
c) Como hei de curar-me do tédio que sinto?
d) Sente-se um tédio, mas como curá-lo!
e) Qual há de ser a cura para o tédio que sinto?
14. A transformação passiva da frase “A religião te inspirou esse anúncio.” apresentará o seguinte resultado:
a) Tu te inspiraste na religião para esse anúncio.
b) Esse anúncio inspirou-se na tua religião.
c) Tu foste inspirado pela religião nesse anúncio.
d) Esse anúncio te foi inspirado pela religião.
e) Tua religião foi inspirada nesse anúncio.
15. “Eu não sou o homem que tu procuras, mas desejava ver-te, ou quando menos, possuir o teu retrato.”
Se o pronome tu fosse substituído por Vossa Excelência, em lugar das palavras grifadas no trecho acima transcrito teríamos, respectivamente, as seguintes formas:
a) procurais, ver-vos, vosso.
b) procura, vê-la, seu.
b) procura, vê-la, seu.
c) procura, vê-lo, vosso.
d) procurais, vê-la, vosso.
e) procurais, ver-vos, seu.
16. “Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida.”
Se a primeira frase fosse volitiva, e o segundo e terceiro verbos grifados conotassem ação no plano da realidade, teríamos, respectivamente, as seguintes formas verbais:
a) fiquem, amassem, procurassem.
b) ficavam, tenham amado, tenham procurado.
b) ficavam, tenham amado, tenham procurado.
c) ficariam, amariam, procurariam.
d) fiquem, amam, procuram.
e) ficariam, tivessem amado, tivessem procurado.
17. “Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade.”
O segmento grifado poderia ser substituído, sem alteração do sentido da frase, por:
a) desde que imponhas. b) se bem que impões.
c) contanto que imponhas. d) conquanto que imponhas. e) porquanto impões.
18. Foram formadas pelo mesmo processo as seguintes palavras do texto:
a) vendavais, naufrágios, polêmicas.
b) descompõem, desempregados, desejava.
c) estendendo, escritório, espírito.
d) quietação, sabonete, nadador.
e) religião, irmão, solidão.
GABARITO
1 - D, 2 – A, 3 – C, 4 – A, 5 – A, 6 – A, 7 – B, 8 – C, 9 – E,
10- E, 11 – B, 12 – D, 13 – B, 14 – D, 15 – B, 16 – D, 17 – E, 18 - D
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amei responde essas questões e muito bom sempre ler um pouco amei o texto 17 de julho.beijos
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelos elogios. Grande abraço.
ResponderExcluirOlá! Tens as questões comentadas?
ResponderExcluirEstou com dúvidas sobre Orações Subordinadas Adjetivas , poderia explicar-me :?
ResponderExcluirOlá, Júlia! Verifique esse post sobre as adjetivas:
ResponderExcluirhttp://veredasdalingua.blogspot.com.br/search/label/Ora%C3%A7%C3%B5es%20Subordinadas%20Adjetivas
Olá tudo bem, gostaria de saber porque a 9 é a E?
ResponderExcluirO CONCEITO DOS PROCESSOS DE DENOTAÇAO E CONOTAÇAO QUAIS SAO
ResponderExcluirotimo amei o texto eu recomendo
ResponderExcluirvao se foder
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