Seguidores

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Questões de vestibulares e concursos I – Interpretação de texto

Questões de vestibulares e concursos I – Interpretação de texto

Questões de interpretação baseadas em textos dos dois maiores escritores brasileiros (em minha opinião, claro): Guimarães Rosa e Machado de Assis. Segue o gabarito no final da página.

(FUVEST – 2003) – Texto para as questões de 1 a 4.

Zoo

  Uma cascavel, nas encolhas. Sua massa infame.
 Crime: prenderam, na gaiola da cascavel, um ratinho branco. O pobrinho se comprime num dos cantos do alto da parede de tela, no lugar mais longe que pôde. Olha para fora, transido, arrepiado, não ousando choramingar. Periodicamente, treme. A cobra ainda dorme.
                                                   
                                *
 Meu Deus, que pelo menos a morte do ratinho branco seja instantânea!
*
 Tenho de subornar um guarda, para que liberte o ratinho branco da jaula da cascavel. Talvez ainda não seja tarde.
*
 Mas, ainda que eu salve o ratinho branco, outro terá de morrer em seu lugar. E, deste outro, terei sido eu o culpado.

(Guimarães Rosa, fragmentos extraídos de “Ave, palavra”)

1. A situação do ratinho branco, preso na gaiola da cascavel, provocou no narrador:

a) imediato sentimento de culpa, que o levou a declarar-se responsável pela situação.
b) desejo imediato de intervenção, a fim de antecipar o previsível desfecho.
c) reação espontânea e indignada, da qual veio a se arrepender mais tarde.
d) compaixão e desejo de intervir, seguidos de uma reflexão moral.
e) curiosidade e repulsa, a que se seguiu a indiferença diante do inevitável.

2. Por meio de frases como  “A cobra ainda dorme”, “Talvez ainda não seja tarde” e “ainda que eu salve o ratinho branco”, o narrador:

a) prolonga a tensão, alimentando expectativas.
b) exprime a inevitabilidade dos fatos, ao empregar os verbos no presente.
c) entrega-se a fantasias, desligando-se das circunstâncias presentes.
d) formula hipóteses vagas, argumentando de modo abstrato.
e) precipita a ação do tempo, apressando a narração dos fatos.

3. O último parágrafo permite inferir que a convicção final do narrador é a de que:

a) a culpa maior está na omissão permanente.
b) os atos bem-intencionados são inocentes.
c) nenhuma escolha é isenta de responsabilidade.
d) não há como discordar da lei do mais forte.
e) não há culpa em quem aperfeiçoa as leis da natureza.

4. Neste texto, o parágrafo em que ocorrem elementos descritivos expressos por meio de frases nominais é o:

a) primeiro. b) segundo. c) terceiro. d) quarto. e) quinto.

(FUVEST) – Texto para as questões de 5 a 18.

17 de julho

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo: 
- Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas-de-leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas... 
E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona trazia entre os dedos esta pérola: 
“Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia-idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M. R...., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.” 
Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma cousa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! dizem as sagradas letras; mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só. 
E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, farto de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as cousas do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla. 
Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: “Não é a tempestade que me aflige, é o enjôo do mar.” Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjôo. Vês que a travessia ainda é longa, porque a tua idade está entre trinta e dous e trinta e oito anos, o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, “a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego”. Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia. 

(Machado de Assis, texto publicado na coluna “A Semana”, 1892)

5. Em qual dos elementos abaixo se baseia a imagem mais recorrente no texto? 

a) água     b) terra     c) ar     d) fogo     e) sol

6. No trecho “Ficam desde já excluídos os sonhadores...”, entende-se que os sonhadores ficam excluídos do grupo dos que:

a) têm condições de serem escolhidos. 

b) desejam comprar um bilhete de loteria. 

c) sacrificam os outros. 

d) querem um diálogo de amor. 

e) amam o mistério.

7. No trecho “...precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível.”, o “mal” é: 

a) a falta de amor.     b) o tédio da solidão. 
c) o enjoo de mar.     d) a saudade do casamento.   e) a aproximação da velhice.

8. De acordo com o texto, o cronista teve desejo de ver a viúva porque: 

a) ela era distinta e interessante. 

b) ela possuía bens que a tornavam independentes. 

c) ela lhe parecia superior às outras mulheres. 

d) ela estava triste e precisava de consolo. 

e) ele também estava cansado de viver só.

9. De acordo com o texto, o capitão:

a) pretendia, por motivos pessoais, deixar suas funções de guarda do imperador. 

b) não suportava mais a solidão das prolongadas viagens marítimas. 

c) tinha a saúde abalada pelo sacudir constante do navio. 

d) estava aborrecido porque tinha conflitos com seus companheiros de trabalho. 

e) devia procurar a solução para o seu problema dentro de si mesmo.

10. Infere-se do texto que, na opinião do cronista:

a) a viúva, tendo sido feliz no primeiro casamento, desejava retomar no segundo o ritmo daqueles dias que se haviam ido. 

b) o primeiro marido da viúva fora uma pessoa séria e aborrecida, que poucas alegrias lhe dera enquanto vivo. 

c) a viúva pretendia encontrar, no segundo casamento, uma vida mais cheia de aventuras e viagens emocionantes. 

d) o verdadeiro objetivo da viúva era constituir uma fortuna razoável, juntando suas posses às do futuro marido. 

e) a morte do primeiro marido deixara na vida de sua mulher um vazio que ela desejava preencher com outro casamento.

11. De acordo com o texto:

a) o eventual pretendente à viúva deve procurar resposta a sua carta na redação do jornal. 

b) a viúva, ou alguém em seu lugar, procurará na redação a carta do eventual pretendente. 

c) o jornal veiculará novo anúncio, em respostas aos eventuais pretendentes da viúva 

d) a viúva deixará na redação do jornal uma carta, em resposta ao pretendente eventualmente escolhido. 

e) um novo anúncio fará saber ao eventual pretendente que a viúva oportunamente o procurará.

12. Entre os excertos abaixo, assinale aquele em que o autor cria uma metáfora de “vida”:

a) ... como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais 

b) ... o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. 

c) ... a meia-idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor púrpurea e o viço eterno. 

d) ... a travessia ainda é longa, o mar é agitado, o navio joga muito. 

e) ... o remédio é a solidão, a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego.

13. A frase do capitão em sua carta a Sêneca – referida em discurso indireto – apresentaria, em discurso direto, a seguinte forma: 

a) Sinto tédio, mas como se há de curar! 

b) Quero curar-me do tédio que sinto. 

c) Como hei de curar-me do tédio que sinto? 

d) Sente-se um tédio, mas como curá-lo! 

e) Qual há de ser a cura para o tédio que sinto?

14. A transformação passiva da frase “A religião te inspirou esse anúncio.” apresentará o seguinte resultado: 

a) Tu te inspiraste na religião para esse anúncio. 

b) Esse anúncio inspirou-se na tua religião. 

c) Tu foste inspirado pela religião nesse anúncio. 

d) Esse anúncio te foi inspirado pela religião. 

e) Tua religião foi inspirada nesse anúncio.

15. “Eu não sou o homem que tu procuras, mas desejava ver-te, ou quando menos, possuir o teu retrato.” 

Se o pronome tu fosse substituído por Vossa Excelência, em lugar das palavras grifadas no trecho acima transcrito teríamos, respectivamente, as seguintes formas: 

a) procurais, ver-vos, vosso. 
b) procura, vê-la, seu. 

c) procura, vê-lo, vosso. 

d) procurais, vê-la, vosso. 

e) procurais, ver-vos, seu.

16. “Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida.” 

Se a primeira frase fosse volitiva, e o segundo e terceiro verbos grifados conotassem ação no plano da realidade, teríamos, respectivamente, as seguintes formas verbais: 


a) fiquem, amassem, procurassem. 
b) ficavam, tenham amado, tenham procurado. 

c) ficariam, amariam, procurariam. 

d) fiquem, amam, procuram. 

e) ficariam, tivessem amado, tivessem procurado.

17. “Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia-idade.” 

O segmento grifado poderia ser substituído, sem alteração do sentido da frase, por: 

a) desde que imponhas.       b) se bem que impões. 

c) contanto que imponhas.  d) conquanto que imponhas.    e) porquanto impões.

18. Foram formadas pelo mesmo processo as seguintes palavras do texto: 

a) vendavais, naufrágios, polêmicas. 

b) descompõem, desempregados, desejava. 

c) estendendo, escritório, espírito. 

d) quietação, sabonete, nadador. 

e) religião, irmão, solidão.



GABARITO

1 - D,   2 – A,  3 – C,   4 – A,   5 – A,    6 – A,  7 – B,   8 – C,    9 – E,
10- E, 11 – B, 12 – D, 13 – B, 14 – D, 15 – B, 16 – D, 17 – E, 18 - D

9 comentários:

  1. amei responde essas questões e muito bom sempre ler um pouco amei o texto 17 de julho.beijos

    ResponderExcluir
  2. Estou com dúvidas sobre Orações Subordinadas Adjetivas , poderia explicar-me :?

    ResponderExcluir
  3. Olá, Júlia! Verifique esse post sobre as adjetivas:

    http://veredasdalingua.blogspot.com.br/search/label/Ora%C3%A7%C3%B5es%20Subordinadas%20Adjetivas

    ResponderExcluir
  4. Olá tudo bem, gostaria de saber porque a 9 é a E?

    ResponderExcluir
  5. O CONCEITO DOS PROCESSOS DE DENOTAÇAO E CONOTAÇAO QUAIS SAO

    ResponderExcluir