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domingo, 31 de agosto de 2014

UFG - 2012 - 2º Semestre - 1º Fase - Prova de Língua Portuguesa

Prova de Língua Portuguesa - UFG - 2012 - 2º Semestre - 1º Fase

LÍNGUA PORTUGUESA

Leia o texto a seguir para responder às questões 01 e 02.

Texto 1 - Devolva-me - (Renato Barros e Lílian Knapp)

Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim será melhor
Meu bem!
O retrato que eu te dei
Se ainda tens,
Não sei!
Mas se tiver
Devolva-me!
Deixe-me sozinho
Porque assim
Eu viverei em paz
Quero que sejas bem feliz
Junto do seu novo rapaz...
Rasgue as minhas cartas
E não me procure mais
Assim vai ser melhor
Meu bem!
O retrato que eu te dei
Se ainda tens
Não sei!
Mas se tiver
Devolva-me!
O retrato que eu te dei
Se ainda tens
Não sei!
Mas se tiver
Devolva-me!
Devolva-me!
Devolva-me!

Disponível em: <http://letras.terra.com.br>. Acesso em: 25 abr. 2012.

QUESTÃO 01 - Considerando-se os motivos para a escritura da carta, a afirmativa Assim será melhor, meu bem! sugere que

(A) o emissor tenta se convencer de que sua decisão é acertada.
(B) a destinatária da carta concorda com o desfecho dado ao romance.
(C) o romance se transformou em uma amizade imprevista.
(D) a carta é um meio eficiente para encerrar um relacionamento complicado.
(E) a mensagem introduz um final premeditado pelos correspondentes.

QUESTÃO 02 - Tendo em vista o espaço conflituoso das relações amorosas e a entrega afetiva pressuposta nesse tipo de relacionamento, a repetição dos versos finais favorece uma leitura ambígua, pois

(A) mostra a personalidade de uma pessoa volúvel que ora quer ficar sozinha, ora quer ficar acompanhada.
(B) permite o reconhecimento de um amante ciumento e indiferente à preservação de seu relacionamento.
(C) auxilia na identificação da imagem de honesta e rancorosa veiculada nas cartas da mulher amada.
(D) apresenta um homem fiel a seus princípios e violador das regras básicas da sua conduta amorosa.
(E) remete à entrega de uma fotografia e ao retorno a um estado psicológico anterior ao romance.

Leia o texto a seguir para responder às questões de 03 a 05.

Texto 2 - A carta-testamento de Getúlio Vargas

                Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.
                Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.
                Assumi o Governo dentro da aspiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.
                Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.
                Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.
                Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954.
Getúlio Vargas

Disponível em:<http://maniadehistoria.wordpress.com/carta-testamento-degetulio-vargas>. Acesso em: 30 abr. 2012.

QUESTÃO 03 - No trecho Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, Getúlio Vargas nega um fato para afirmar outro. Um efeito dessa estratégia retórica é

(A) explicar aos brasileiros as consequências dos atos de seus adversários.
(B) mostrar ao leitor a ilegitimidade dos ataques de seus inimigos.
(C) apontar para seus interlocutores os atos descomprometidos com o Brasil.
(D) defender a nação das forças contrárias envolvidas no processo de degradação de seu governo.
(E) explicitar a incompreensão dos seus atos administrativos pelos eleitores.

QUESTÃO 04 - Com o auxílio da intertextualidade, o locutor constrói uma autoimagem que foge ao político. Que imagem é essa e com que discurso a intertextualidade se estabelece?

(A) Justiceiro – discurso jurídico. (B) Militante – discurso sindicalista.
(C) Operário – discurso popular.   (D) Redentor – discurso religioso.  (E) Guerreiro – discurso militar.

QUESTÃO 05 - Todo testamento pressupõe uma herança. De acordo com o conteúdo do Texto 2, a herança de Getúlio Vargas é

(A) o ódio do povo.                     (B) a perseguição dos políticos.
(C) o perdão aos seus inimigos.   (D) a sua renúncia.                       (E) a sua morte.

Leia o texto a seguir para responder às questões de 06 a 08.

Texto 3 - A carta-renúncia de Jânio Quadros

                Fui vencido pela reação e, assim, deixo o governo. Nestes sete meses cumpri com o meu dever. Tenho-o cumprido, dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, o único que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.
                Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos,
inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.
                Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.
                Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.
                Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.
                Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria.

Brasília, 25 de agosto de 1961.
Jânio Quadros

Disponível em: <http://liberalspace.net/2009/08/25/carta-renuncia-de-janioquadros-25081961>. Acesso em: 27 abr. 2012.

QUESTÃO 06 - Para o leitor contemporâneo, levando-se em conta o tipo de governo que viria se instalar no Brasil em 1964, os agradecimentos dirigidos na carta-renúncia constituem

(A) uma metáfora, pois a luta operária deu o tom do governo de João Goulart.
(B) uma ambiguidade, pois a reforma de base promovida por Jango privilegiou os estudantes.
(C) uma ironia, pois sob a justificativa de restaurar a ordem no país os militares tomam o poder.
(D) um exagero, pois imediatamente após a renúncia o país voltou à harmonia político-social.
(E) um paradoxo, pois o governo de Jânio Quadros se caracterizou por favorecer as oligarquias dominantes.

QUESTÃO 07 - Trechos como baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação e Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração exemplificam escolhas lexicais que atribuem à carta-renúncia uma característica elocutiva recorrente em obras do Romantismo, como em I-Juca Pirama. Essa característica e o seu objetivo no texto são, respectivamente,

(A) grandiloquência: promover a valorização exacerbada do conteúdo apresentado.
(B) adjetivação: produzir um estado de depreciação do locutor perante o interlocutor.
(C) sarcasmo: gerar um efeito de humor politicamente incorreto.
(D) telurismo: divulgar uma realidade idealizada pelo locutor.
(E) ufanismo: construir nos brasileiros um forte sentimento de amor à pátria.

QUESTÃO 08 - Jânio Quadros e Getúlio Vargas têm o povo como interlocutor e esse relacionamento é visível, em suas cartas, na mobilização das pessoas do discurso. Comparando-se essa mobilização nos textos 2 e 3, infere-se que

(A) Jânio Quadros, diferentemente de Getúlio Vargas, se inclui como integrante do povo.
(B) Getúlio Vargas, tal como Jânio Quadros, cita trechos da voz do povo como se sua fosse.
(C) ambos os políticos constroem um perfil baseado na covardia.
(D) ambos escrevem para uma camada popular específica.
(E) Getúlio Vargas, bem como Jânio Quadros, diminui a força da voz popular.

QUESTÃO 09 - Releia os textos 1, 2 e 3.
Aparentemente distantes com relação ao conteúdo abordado, os textos aproximam-se quanto às motivações para sua elaboração. Essa aproximação ocorre por meio

(A) do desprezo pela figura do destinatário, verificado no uso de palavras negativas.
(B) do chamamento à mudança de opinião, estimulado pelas circunstâncias.
(C) da desistência de um bem precioso ao remetente, provocada por forças externas à sua vontade.
(D) da conturbação da paz, configurado no embate de ideias contrárias aos seus interlocutores.
(E) do desejo de vingança, revelado no tom amargo de sua despedida.

QUESTÃO 10 - Leia o texto a seguir.

Texto 4 - Gerador de cartas de amor

Início
Escrevo esta carta pois há sentimentos que devem ser detalhados e memorizados, bem como vividos intensamente. E é exatamente o que vem acontecendo com a gente, desde o primeiro olhar, o primeiro beijo – a troca de amor que nos une. Escrever vai deixar registado em mim e em você o que nosso namoro significa. 
Meio
Há tempos, ou melhor, desde que nos conhecemos, a vida ficou mais colorida, com impulso de quero mais. E sei que foi este seu jeito de estar comigo, de viver a rotina e os momentos especiais com a mesma importância que torna nosso namoro único. 
Fim
Que neste dia dos namorados estejamos próximos, mais do que nunca, presentes no nosso universo particular e deixando a marca da felicidade no coração daqueles que passarem pelo nosso caminho.
Clique nas setas ao lado para escolher o início, meio e fim de sua carta, veja qual combinações mais condiz com seu amor e clique em Avançar

Disponível em: <http://www.baixaki.com.br/gerador-de-cartas-de-amor.htm>. Acesso em: 4 abr. 2012.

A proposta de um gerador de cartas de amor quebra certas particularidades dos textos dessa natureza. No entanto, o texto apresentado preserva uma característica tradicional do gênero, que é

(A) o suporte de veiculação da mensagem. 
(B) a pessoalidade do sentimento.
(C) a especificidade do interlocutor.            
(D) a exclusividade do conteúdo. 
(E) o tom melodramático.
LITERATURA BRASILEIRA

QUESTÃO 11 - No conto “Os dragões”, da Obra completa de Murilo Rubião, a quebra de verossimilhança externa, comum ao gênero fantástico, efetiva-se pela presença de animais mitológicos – os dragões – em meio ao espaço urbano. Todavia, a referida quebra não compromete a coerência da narrativa, visto que a presença de tais seres justifica-se por estabelecer uma

(A) comparação entre a organização familiar e os valores defendidos pela sociedade capitalista.
(B) simulação do universo mítico que existe apenas como produto da ficcionalização literária.
(C) sátira às relações econômicas exemplificadas no modo de vida das personagens mitológicas.
(D) negação da noção de normalidade representada no comportamento das personagens humanas.
(E) distinção entre os elementos considerados típicos do mundo real e do sobrenatural.

QUESTÃO 12 - Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, foi originalmente publicado em capítulos semanais, no jornal Correio Mercantil, entre os anos de 1852 e 1853, sob a forma de folhetim. O recurso que, utilizado pelo narrador, explicita a forma original de publicação do romance é a

(A) ironia, por meio da qual o narrador acentua o comportamento ridículo das personagens.
(B) retomada, que atualiza detalhes do enredo no presente da narração.
(C) celeridade, que caracteriza o ritmo da narrativa e a ação das personagens.
(D) síntese, pela qual se configuram os capítulos curtos e a rápida solução dos impasses do enredo.
(E) comicidade, por se referir sempre a acontecimentos já narrados.

QUESTÃO 13 - Leia o poema apresentado a seguir.

fogo-fátuo

o bombeiro
é o último
a entrar
em combustão

PEREIRA, Luís Araujo. Minigrafias. Goiânia: Cânone Editorial, 2009. p. 47.

A imagem construída no poema constitui o sentido de que

(A) as pessoas em perigo se desesperam, mas há quem suporte as dificuldades até o último instante.
(B) o incêndio representa as pressões sofridas ao longo da vida.
(C) os sujeitos se veem presos nas armadilhas do cotidiano.
(D) a morte emana das chamas do incêndio, mas o bombeiro ainda resiste.
(E) a combustão é o estopim ou limite da vida já sem alternativa.

QUESTÃO 14 - Leia o trecho apresentado a seguir.

ÁLVARES
A escrita existe desde sempre.
ZÉ PAULO
Errado. A escrita é uma invenção do século XIX e ela
está morrendo.
ÁLVARES
Você está delirando! A escrita é antiquíssima... Os chineses
já escreviam em ossos de animais, os babilônios em
tabletes de barro...
ZÉ PAULO
Minha sincera homenagem aos chineses e aos babilônios,
mas a escrita, a indústria da escrita, tal como a conhecemos
e a praticamos há até bem pouco tempo, é uma invenção
do século XIX.
ÁLVARES
Ah, você quer dizer a indústria gráfica, não a literatura.
ZÉ PAULO
É a mesma coisa.
ÁLVARES
O século XX afetou a sua cabeça!

MARTINS, Alberto. Uma noite em cinco atos. São Paulo: Editora 34, 2009. p. 80-81.

O trecho retirado da obra Uma noite em cinco atos, de Alberto Martins, apresenta pontos de vista antagônicos, o que permite associar a crítica dos poetas Zé Paulo e Álvares ao contexto histórico em que se inserem. Essa associação se expressa no seguinte confronto:

(A) Álvares, defensor do conservadorismo liberal, compreende a escrita apenas como um produto do tempo histórico; Zé Paulo, por sua concepção progressista, entende-a como resultado dos avanços tecnológicos do século XIX.
(B) Álvares se opõe à submissão da Literatura às máquinas representativas do progresso; Zé Paulo defende a arte associada ao desenvolvimento da indústria da escrita.
(C) Álvares defende a escrita e a literatura como fenômenos independentes do contexto histórico; Zé Paulo considera ambas como produtos da Revolução Industrial.
(D) Álvares, representante da poesia romântica, tem uma visão da escrita que remonta a povos ancestrais; Zé Paulo, sujeito da contemporaneidade, relaciona a invenção da escrita ao caráter mercadológico da arte.
(E) Álvares acusa a modernidade de corromper os ideais românticos de escrita; Zé Paulo procura resgatar a valorização da literatura contemporânea por meio da produção em série de livros.

QUESTÃO 15 - Leia os trechos apresentados a seguir.

I
As tribos vizinhas, sem força, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d'outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno de um índio infeliz.
[…]
Acerva-se a lenha da vasta fogueira,
Entesa-se a corda da embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.

DIAS, Gonçalves. I - Juca Pirama. Porto Alegre: LP&M Pocket, 2007. p. 11-12.

Glossário:

maracás: chocalho usado pelos indígenas em solenidades
ignavo: fraco, covarde
adunar: reunir
embira: cipó usado para amarração
maça: bastão ou porrete com que se sacrifica o prisioneiro
garboso: elegante, distinto

O poema I – Juca Pirama se destaca por representar um painel da cultura indígena. Nos versos transcritos, o elemento desse painel que se evidencia é:

(A) o confronto entre povos inimigos.
(B) a preparação de um ritual.
(C) o modo de vida cotidiano.
(D) a caracterização dos papéis tribais.
(E) a relação com a natureza.

QUESTÃO 16 - Leia os trechos apresentados a seguir.

A bicicleta flutua. Ele cometeu um erro. Esqueceu do quinto ponto delicado do percurso. As lajes de pedra cobertas de limo. […] Aderência praticamente nula. É um sabão.
[…] A gangue o desafia com xingamentos. Ele hesita. Não pode hesitar. O garoto no chão toma mais um chute na cabeça. O barbado vem em sua direção com um pedaço de pau. Mad Max está paralisado.

GALERA, Daniel. Mãos de Cavalo. São Paulo: Cia das Letras, 2006. p. 15; 150.

Como se percebe nos trechos transcritos, há na narrativa de Mãos de Cavalo a predominância da fragmentação, aspecto comum às obras literárias da contemporaneidade. Esse aspecto se manifesta por meio da

(A) linguagem exaltada, que acentua o caráter heroico das ações de Hermano.
(B) recorrência da metáfora, que insere na narrativa palavras de outro contexto de significação, gerando novos efeitos de sentido.
(C) presença da gradação, que traduz o sentimento de ansiedade da personagem diante de situações-limite.
(D) relação metonímica, que aproxima o referente da palavra que o substitui, criando novos sentidos no texto.
(E) economia de conectivos, que permite uma visualização cinematográfica das ações narradas por meio da justaposição de períodos curtos.

QUESTÃO 17 - Leia o trecho apresentado a seguir.

ZÉ PAULO
[...] Mas preciso alertá-lo: esta é uma cidade invisível...
ÁLVARES
Sempre foi.
ZÉ PAULO
Mas hoje está pior. Só com faro infravermelho, ou o ouvido
tortuoso de um peão, é possível encontrar a cidade onde
ela se encontra: ao rés do chão...
ÁLVARES
Isso é um poema?
ZÉ PAULO
Talvez.
ÁLVARES
Lá vem você... todo blasé.
ZÉ PAULO
O que eu quero dizer, Álvares, é que no seu tempo ela podia ser invisível porque era tão pequena, pacata e provinciana; mas hoje ela é mais de setecentas cidades, uma empilhada
em cima da outra, e os rios foram todos soterrados, já não é possível navegar. Por isso é preciso se aproximar com cuidado, abrindo os ouvidos para enxergar o caminho.
[…]
ZÉ PAULO
Ninguém sabe o que se passa no subsolo da cidade. Esgoto sanitário, esgoto industrial, água de lavagem, óleos lubrificantes, combustíveis e solventes... Ninguém sabe. Tudo nesta cidade foi feito de forma independente, ao deus-dará, sem levar em conta o que veio antes, o que virá depois. Isso vale também para os buracos de metrô, gás, eletricidade, informações... O fato é que ninguém sabe o que existe no subsolo. Do empreendimento imobiliário mais suntuoso ao buraco mais miserável, ninguém sabe em que cidade realmente está.

MARTINS, Alberto. Uma noite em cinco atos. São Paulo: Editora 34, 2009. p. 84-85; 88.

A descrição da cidade de São Paulo, em Uma noite em cinco atos, de Alberto Martins, estabelece uma comparação entre o desenvolvimento urbano e as transformações literárias no século XX. Essa comparação se efetiva no contraponto entre

(A) o adensamento populacional da metrópole e o esvaziamento de sentidos do fazer literário.
(B) os desníveis sociais decorrentes do fenômeno da metropolização e a ausência de interesse humano pela literatura.
(C) a poluição do ar causada pela circulação automobilística na cidade e o excesso de hermetismo na poesia.
(D) a contaminação resultante da ocupação desordenada do subsolo e a impossibilidade literária de enxergar o mundo em volta.
(E) as inundações resultantes da impermeabilização do solo e a liberdade formal da poesia na modernidade.

QUESTÃO 18 - No conto “Marina, a intangível”, da Obra Completa de Murilo Rubião, a narrativa em primeira pessoa explora, por meio da inacessibilidade atribuída à personagem-título, a angústia do escritor diante da vã tentativa de comunicar-se pela escrita. Ao recuperar tal temática, o autor vale-se de

(A) preciosismo, visto que as divagações do narrador-personagem materializam-se no uso de um vocabulário rebuscado.
(B) intertextualidade, na medida em que permite o diálogo entre o tema do conto e as diversas perspectivas da produção literária.
(C) metalinguagem, pois o tratamento que é dado ao tema está a serviço de uma reflexão sobre o próprio fazer literário.
(D) hermetismo, uma vez que o encadeamento de sentidos limita a compreensão da problemática explorada no conto.
(E) paradoxo, porque os pontos de vista expressos no texto estabelecem uma contradição entre os sentidos da criação literária.

QUESTÃO 19 - A literatura se articula à realidade, à história e aos fatos, na medida em que ela cria, e até funda, mundos imaginados. Gonçalves Dias, em I – Juca Pirama, ao criar um passado indígena para a nação brasileira,

(A) configura as personagens do poema a partir de seu convívio com os Timbira.
(B) retrata a história dos índios antes da colonização, ampliando a informação dos livros dos viajantes.
(C) representa o povo Timbira, compondo um mundo entre o real e o ficcional.
(D) recupera princípios da conduta dos Timbira, documentando a imagem cotidiana dessa nação indígena.
(E) reproduz o quadro de costumes dos índios que viviam no Brasil em sua época.

QUESTÃO 20 - No capítulo “6h23” de Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, é narrado um sonho de Hermano, no qual ele reencontra pessoas de diferentes épocas de sua vida. Nesse sonho, revela-se

(A) a frustração de Hermano diante da impossibilidade de comunicação com Adri.
(B) a superação das inseguranças pessoais de Hermano.
(C) a prosperidade financeira de Morsa, seu amigo de infância.
(D) o fascínio que ele sente por Renan, seu melhor amigo.

UFG - 2012 - 1º Semestre - 1º Fase - Prova de Língua Portuguesa

Prova de Língua Portuguesa - UFG - 2012 - 1º Semestre - 1º Fase

LÍNGUA PORTUGUESA

Leia o texto a seguir para responder às questões 01 e 02.

Texto 1
BEHR, Nicolas. Restos vitais. Disponível em: <http://www.nicolasbehr.com.br/>. Acesso em: 28 set. 2011. [Adaptado].

QUESTÃO 01 - As escolhas lexicais subvertem uma característica típica do gênero “receita” em favor da composição do poema de Nicolas Behr. Que característica é essa?

(A) Voz de comando do locutor, para instaurar os conflitos de geração.
(B) Uso de qualificadores, como “fervido” e “erótico”, para descrever os ingredientes da receita.
(C) Presença de elementos, como “e” e “ou”, para vincular as ações do leitor.
(D) Linguagem direta e objetiva, para promover a figurativização.
(E) Norma culta e formal, para compor as etapas da receita.

QUESTÃO 02 - Os versos “sirva o poema simples/ ou com ilusões” resumem a temática do texto. Essa temática e o recurso utilizado para expressá-la são, respectivamente,

(A) singularidade – paráfrase.      (B) carnavalização – ironia.
(C) musicalidade – metrificação.  (D) erotização – paródia.     (E) poeticidade – metalinguagem.

QUESTÃO 03 - Leia o texto a seguir.

Texto 2

Errata: correções a uma carta

Onde se lê “minha amadinha”, leia-se “prezada senhora”.
Onde se lê “para sempre”, leia-se “ruminando ressentimentos e vomitando mágoas”.
Onde se lê “te amo tanto”, leia-se “bater primeiro as claras em neve”.
Basta corrigir, não precisa responder...

SOARES, Jorge Coelho. Textos “quase poéticos”. In: Cult. São Paulo:Bregantini, ed. 152, nov. 2010. p. 74. [Adaptado].

Que sentimento motivou o eu lírico a elaborar a “errata”?

(A) Culpa por expressar ressentimentos a respeito de fatos passados.
(B) Arrependimento pelas declarações dirigidas à mulher amada.
(C) Tristeza por ter seu afeto menosprezado por sua musa inspiradora.
(D) Vaidade pelas sensações amorosas despertadas na destinatária da carta.
(E) Desespero pela falta de resposta às suas pretensões românticas.

Leia o texto a seguir para responder às questões de 04 a 06.

Texto 3

FAZER PLÁSTICO DE LEITE E VINAGRE

O melhor: conforme mostram os ingredientes, é biodegradável.

O plástico não é uma substância, é um estado de espírito. De espírito molecular: o que define o comportamento físico dos plásticos que a gente conhece é a sua natureza de polímeros, ou seja, o fato de eles serem formados por looongas cadeias de moléculas com a mesma unidade se repetindo por muitas e muitas vezes. Por isso mesmo, tanto faz se a fonte das supercadeias moleculares é o petróleo ou um bom leitinho.

DIFICULTÔMETRO
Tempo - 1 - 2 - 3 - 4 -5
Materiais - 1 - 2 - 3 - 4 -5
Habilidade - 1 - 2 - 3 - 4 -5

VOCÊ VAI PRECISAR DE:

s 0,5 litro de leite s 1 colher
s 1 frigideira s 20 ml de vinagre branco
s luvas de borracha s água
s 1 panela

PASSO A PASSO:
1- Coloque o leite na panela e comece a esquentá-lo em fogo brando. Não o deixe ferver. Quando estiver a ponto de borbulhar, adicione o vinagre.
2- Mexa a mistura até que apareçam calombos branco-amarelados nela, enquanto o líquido começa a clarear.
3- Desligue o fogo e espere a panela esfriar. Passe a mistura pela peneira de maneira a ficar apenas com os agregados.
4- Coloque a luva e lave os calombos com água. Você pode juntá-los numa única massa. Se apertados com firmeza, vão grudar uns nos outros.
5- Parabéns: você já tem seu plástico feito com caseína, uma proteína do leite. Dá para moldá-lo como quiser e fazer até utensílios de cozinha com ele. Mas saiba que o material não é muito resistente e quebra fácil.

LOPES, José. Superinteressante. São Paulo: Abril, jul. 2011, p. 33.

QUESTÃO 04 - No texto, a defesa do caráter biodegradável do plástico feito de leite e vinagre está baseada no fato de que

(A) a consistência dos elementos agregados facilita a sua manipulação.
(B) a mistura resulta de ingredientes bioquimicamente diferentes.
(C) o utensílio moldado com esse material tem boa aceitação no mercado.
(D) o plástico derivado do petróleo tem alto teor poluente.
(E) a peneiração da mistura ocorre em temperatura ambiente.

QUESTÃO 05 - No processo argumentativo, a expressão “looongas cadeias de moléculas” auxilia o leitor a

(A) reconhecer elementos organicamente elaborados.
(B) vislumbrar a repetição dos segmentos geradores dos polímeros.
(C) acatar um procedimento economicamente viável.
(D) antecipar pausas entre os experimentos científicos.
(E) construir o conceito de enzimas pautado em uma experiência caseira.

QUESTÃO 06 - Ao afirmar que “o plástico não é uma substância, é um estado de espírito”, o autor traz uma definição baseada

(A) na alteração de cor inerente à formação dos calombos.
(B) na variação do valor de pH da mistura.
(C) no resultado de um comportamento químico.
(D) no tempo exigido para a manipulação de uma substância.
(E) na diversidade de objetos moldados com a massa de caseína.

QUESTÃO 07 - Leia o cartaz a seguir.

Texto 4
Disponível em:<www.bc.ufg.br>. Acesso em: 21 set. 2011.

Uma das estratégias para o convencimento do leitor do cartaz está baseada na

(A) oposição entre genialidade e vandalismo.
(B) relação entre alegria e serenidade.
(C) combinação entre otimismo e pessimismo.
(D) distinção entre livro e pintura.
(E) separação entre ocupação e ócio.

Releia os Textos 1, 2, 3 e 4 para responder às questões de 08 a 10.

QUESTÃO 08 - Os textos apresentados aproximam-se quanto à participação dos integrantes no processo interlocutivo, caracterizada pela

(A) identificação do interlocutor.
(B) troca de papéis entre locutor e interlocutor.
(C) presença de um mediador.
(D) falta de uma voz de autoridade e poder.
(E) interlocução direta.

QUESTÃO 09 - Nos textos, predomina um mesmo tipo de sequência textual. Esse tipo é identificado e definido, respectivamente, como:

(A) injuntivo – apresentação de procedimentos a serem seguidos, a fim de se alcançar determinado objetivo.
(B) narrativo – reconstrução de uma sequência de acontecimentos ancorada no espaço e no tempo.
(C) descritivo – detalhamento de objetos e paisagens com vistas à ambientação de ações.
(D) argumentativo – defesa de um argumento para persuadir alguém a aderir a um ponto de vista.
(E) expositivo – explicitação de fatos e ideias, a fim de justificar determinados conteúdos.

QUESTÃO 10 - Uma característica vincula os textos apresentados ao mesmo universo discursivo. Que recurso auxilia o estabelecimento dessa vinculação?

(A) Enumeração dos elementos descritivos de determinado evento.
(B) Escolha de informações relevantes para definir o projeto de texto.
(C) Opção pelo modo imperativo para orientar o interlocutor.
(D) Combinação das palavras pertencentes ao mesmo campo semântico.
(E) Recorrência da negação como elemento de referenciação textual.
LITERATURA BRASILEIRA

QUESTÃO 11 - Leia o trecho apresentado a seguir.

                Com os emigrados de Portugal veio também para o Brasil a praga dos ciganos. Gente ociosa e de poucos escrúpulos, ganharam eles aqui reputação bem merecida dos mais refinados velhacos: ninguém que tivesse juízo se metia com eles em negócios, porque tinha certeza de levar carolo*. A poesia de seus costumes e de suas crenças, de que muito se fala, deixaram-na da outra banda do oceano; para cá só trouxeram maus hábitos, esperteza e velhacaria, e se não, o nosso Leonardo pode dizer alguma coisa a respeito. Viviam em quase completa ociosidade; não tinham noite sem festa.

*Levar carolo: ser enganado; ser passado para trás.

ALMEIDA, Manuel Antônio de. Memórias de um sargento de milícias. São Paulo: Martin Claret, 1999. p. 35.

Quanto ao posicionamento do narrador, esse trecho constitui uma exceção no contexto do romance. O que lhe confere esse caráter de exceção é o fato de o narrador

(A) declarar-se contrariamente à vinda dos ciganos para o Brasil, pois, no geral, ele se mostra favorável à aculturação promovida pelos “emigrados de Portugal”.
(B) ressentir-se da falta de poesia dos costumes e das crenças ciganas, pois essa poesia já inspirara anteriormente a obra de escritores do Romantismo.
(C) queixar-se dos “maus hábitos, esperteza e velhacaria” das gentes ciganas, aos quais atribui as más inclinações do protagonista Leonardo.
(D) responsabilizar a falta de escrúpulos dos ciganos pela decadência moral da sociedade fluminense, na qual aponta a reprodução dessa conduta inescrupulosa.
(E) emitir um juízo crítico severo e depreciativo sobre o povo cigano, já que a imparcialidade constitui a regra de seu ponto de vista.

QUESTÃO 12 - Os gêneros textuais circulam no mundo com características próprias e exercem determinadas funções sociais, em conformidade com as quais os gêneros literários se transformam e se reconfiguram. Nesse sentido, em I – Juca Pirama, de Gonçalves Dias, a função social do gênero épico de exaltar um povo ou retratá-lo em sua totalidade deixa de se realizar plenamente porque

(A) o protagonista do poema, o prisioneiro Tupi, representa ideais ainda presentes no século XIX.
(B) os escritores do século XIX já não se dedicam a longas narrativas em versos.
(C) o tempo do poema, no enredo narrado, desenvolve ações em sentido linear.
(D) os leitores do século XIX já não se sentem representados em narrativas heroicas.
(E) o espaço representado – as selvas tropicais brasileiras – expressa valores de uma cultura extinta.

QUESTÃO 13 - No conjunto de poemas de Minigrafias, de Luís Araujo Pereira, o tom predominante de ironia e humor faz com que

(A) o estar no mundo do eu lírico seja sarcástico em relação à vida.
(B) o entendimento de mundo do eu lírico se restrinja ao seu ponto de vista.
(C) a perspectiva do eu lírico interfira na compreensão do mundo.
(D) a compreensão do eu lírico seja ambígua a respeito do mundo.
(E) a visão de mundo do eu lírico seja discordante da que prevalece na sociedade.

QUESTÃO 14 - Leia os trechos apresentados a seguir.

ZÉ PAULO
Álvares, essa é a nossa condição. Hoje só existe poesia no inútil, no inacabado...
ÁLVARES
No meu tempo já era assim.
ZÉ PAULO
Eu sei, mas não havia ainda o Grande Ciclo da Produção e do Consumo.
[…]
ZÉ PAULO
[…] horário de pico é aquele em que se atinge o máximo congestionamento das vias...
[...]
ÁLVARES
Mas como aconteceu tudo isso?
ZÉ PAULO
Aconteceu como acontece com todas as cidades da América. É muito simples: elas foram entregues aos automóveis... Ou melhor, aos combustíveis fósseis!
[…]
ÁLVARES
[...] Existem fontes imemoriais, é a elas que devemos recorrer...
[...]
ÁLVARES
O que é isso?
ZÉ PAULO
Material para escavação.
ÁLVARES
E posso saber o que é que vamos escavar?
ZÉ PAULO
Alguma dor não contaminada.

MARTINS, Alberto. Uma noite em cinco atos. São Paulo: Editora 34, 2009. p. 49; p. 73; p. 81; p. 96-97.

Os questionamentos sobre o fazer literário presentes nos trechos transcritos interagem com a crítica de Zé Paulo à realidade das cidades da América. Essa interação torna-se evidente, pois

(A) o modo como Zé Paulo define “horário de pico” torna-se metáfora da condição ambígua da poesia contemporânea, fiel a fontes fossilizadas de inspiração e resultante do “Grande Ciclo da Produção e do Consumo”.
(B) a crítica ao excessivo uso dos combustíveis fósseis que, por sua origem, deveriam ser gastos com parcimônia, estende-se à da produção literária em massa, que também esgota recursos criativos não renováveis.
(C) a ideia da poluição causada pelo uso abusivo de combustíveis fósseis remete à contaminação das “fontes imemoriais” da inspiração poética, o que resulta na inutilidade característica da poesia contemporânea.
(D) o fim dos combustíveis fósseis, fontes não renováveis de energia, e o esgotamento da inspiração poética no século XXI justificam-se igualmente no excesso de exploração das fontes originais de produção.
(E) o “máximo congestionamento” a que se refere Zé Paulo atinge tanto as vias urbanas quanto as de inspiração, o que justifica a tarefa da “escavação” em busca das “fontes imemoriais” da criação poética.

QUESTÃO 15 - Em Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, o emprego do fluxo de consciência cria um efeito de fusão da fala da personagem à do narrador. Esse efeito está explícito no seguinte trecho:

(A) "'Não esquenta, eu sou médico'. Nunca em sua vida aquelas palavras tinham soado tão artificiais saindo de sua boca. Eu sou um médico." (p. 153)
(B) "A mão dela espalhou na pele a gota vermelha que tinha escorrido quase até o umbigo. Hermano gravou a cena toda mentalmente. Sabia que jamais ia esquecer aquilo." (p. 142)
(C) "Era Naiara, a irmã menor do Bonobo. Ele começou a ver tudo de fora, como uma câmera instalada no teto do quarto." (p. 139)
(D) "Hermano fazia de tudo para evitar Naiara em público. Se afastava imediatamente quando ela aparecia, e se as circunstâncias não permitiam, dava um jeito de não trocarem palavra." (p. 164)
(E) "Reconhecia a irracionalidade dessa sensação, mas sabia também que a razão não tem poder sobre certas emoções e portanto cultivou a sensação de traição sem procurar sufocá-la." (p. 163)

QUESTÃO 16 - Murilo Rubião, em sua Obra completa, tece críticas a determinadas situações observadas por ele em seu contexto histórico, mas que alcançam diversas realidades políticas do século XX. Nesse sentido, no conto “A cidade” observa-se uma crítica que

(A) metaforiza, na acusação de conspiração sofrida pelo protagonista, os regimes políticos autoritários que restringem a liberdade de expressão dos cidadãos, como o ocorrido no salazarismo, em Portugal.
(B) evidencia, ao apresentar o apoio dos moradores à prisão do protagonista, as práticas de favorecimento e cooptação da população por meio de uma agenda populista, a exemplo da Espanha franquista.
(C) alegoriza, na reação dos moradores e da polícia em relação à chegada de um personagem que causa repugnância, as práticas de segregação de um grupo étnico, a exemplo do Apartheid, na África do Sul.
(D) permite, pela observação do comportamento violento dos policiais na narrativa, comparar a atitude de tais personagens a ações de repressão, como as da Gestapo, a polícia política da Alemanha nazista.
(E) enfatiza, por estabelecer uma rivalidade entre os moradores e o protagonista, as disparidades socioculturais entre nações vizinhas, como o ocorrido na ocupação da Palestina por Israel.

QUESTÃO 17 - Em I - Juca Pirama, de Gonçalves Dias, o andamento do enredo caracteriza uma obra híbrida entre o trágico e o épico porque

(A) os episódios expressam uma divergência entre os ideais românticos e a cultura indígena.
(B) as ações exprimem a fragilidade do prisioneiro e sua consequente punição, mas isso é superado por sua reação guerreira.
(C) as atitudes do herói explicitam uma indecisão entre a morte honrada e o salvamento do pai.
(D) os eventos narrados evidenciam o amor e a dedicação do prisioneiro ao pai, mas priorizam o sentimento tribal do guerreiro.
(E) o desenlace da narrativa representa uma convergência entre sentimento filial e ação guerreira.

QUESTÃO 18 - Leia os trechos a seguir.

Procura um apoio, mas não encontra. A tontura é demais. Cai no chão, sobre a calçada […]
[…]
“Que tombo, gurizinho. Não chora, não chora, deixa eu ver.”
[…]
“Deixa a vó ver. Não é nada.”
[...]
“Porque tem o sangue bom e o sangue ruim, sabia? O sangue ruim é esse sangue escuro que tá saindo aí, é sangue sujo, ele corre por fora, assim, perto da pele, entendeu?” […] “O sangue bom é diferente, é bem clarinho, quase rosa, e ele passa nas veias bem grossas, no fundo, por dentro da carne da gente, assim.”
[…]
Quanto mais pensa nisso, menos intenso é seu mal-estar diante dos machucados. Em sua imaginação há uma imagem elaborada de todas as veias e artérias percorrendo seu interior como uma rede de encanamento […]. Passa o dedo no sangue da perna e depois une as pontas do indicador e do polegar,
sentindo como colam uma na outra.

GALERA, Daniel. Mãos de Cavalo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 17; 18-19.

Mãos de Cavalo, de Daniel Galera, narra várias situações de queda, estabelecendo uma relação entre dor física e sofrimento psicológico. Nos trechos transcritos, essa relação ocorre em diálogo com um conhecimento biológico, a qual evidencia a associação entre

(A) a tontura sentida pela personagem, em decorrência da perda de sangue na queda, e a experimentação do prazer de não se abalar diante das situações difíceis impostas pela vida.
(B) o calibre da veia do garoto e a superação dos seus problemas físicos; o calibre da artéria, com maior pressão sanguínea, e os impasses psicológicos da personagem.
(C) o sangue pobre em HbO2 e sua capacidade de coagulação, indicada por sua viscosidade, e a absorção das experiências positivas e negativas relacionadas às quedas vividas pela personagem.
(D) o sangue pobre em HbO2 e o sofrimento físico que precisa ser superado; o sangue rico em HbO2, que circula pelas artérias, e o necessário aprendizado psicológico.
(E) a intensidade da perda de sangue pobre em HbO2 e a alteração do fluxo sanguíneo, decorrente da intensa atividade física, e a aprendizagem do prazer causado pela superação de um problema.

QUESTÃO 19 - Manuel Antônio de Almeida situa os acontecimentos narrados em Memórias de um sargento de milícias nas primeiras décadas do século XIX, período em que a sede da monarquia portuguesa se fixou no Brasil. Escrito à moda de uma crônica de costumes, esse romance

(A) reproduz, em quadros descritivos da sociedade carioca, o contexto histórico de seu tempo narrativo, comparando os aspectos negativos do reinado de D. João VI aos do Brasil de D. Pedro II.
(B) recria, por meio da crítica às instituições jurídicas e religiosas e da caricatura de seus tipos sociais mais expressivos, o contexto sócio-histórico vigente no Rio de Janeiro do início do século XIX.
(C) representa, na crítica à situação das personagens negras, o problema da escravidão no Brasil de D. João VI, defendida por setores dominantes da economia colonial e combatida pelos aliados ingleses.
(D) explicita, no modo como se refere à cultura do povo cigano, o problema da miscigenação resultante do processo de imigração iniciado no século XIX, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil.
(E) retrata, em imagens da corte joanina, aspectos culturais do Brasil colonial, opondo suas descrições literárias à história visual da vida privada no Brasil apresentada nas gravuras de Debret.

QUESTÃO 20 - Há diversas possibilidades de compreensão do fenômeno fantástico em Literatura. Tzvetan Todorov, em seu livro Introdução à literatura fantástica, afirma: “Há um fenômeno estranho que se pode explicar de duas maneiras, por meio de causas naturais e sobrenaturais. A possibilidade de se hesitar entre os dois criou o efeito fantástico.”

TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 1992. p. 31.

Nos contos de Murilo Rubião, o efeito fantástico, tal como afirma Todorov, efetiva-se por

(A) empregar as experiências incomuns das personagens e o tempo da narrativa para criticar a realidade política de sua época.
(B) indeterminar o desfecho, permitindo ao leitor uma interpretação excêntrica da história narrada.
(C) ampliar a fronteira da realidade, introduzindo elementos extraordinários no cotidiano narrado.
(D) construir um horizonte maravilhoso entre ficção e realidade, sugerindo uma deturpação dos fatos históricos.
(E) explorar situações absurdas que estabelecem uma distorção entre o espaço da narrativa e as ações das personagens.




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