Temas de Redação
- 1ª Fase – Unicamp – 2002
- Escolha
do tema: Escolha
um dos três temas propostos para redação e assinale sua escolha no alto da
página de resposta.
Você
deve desenvolver o tema conforme o tipo de texto indicado, segundo as instruções
que se encontram na orientação dada ao tema escolhido.
- Coletânea
de textos: Os
textos que acompanham cada tema foram tirados de fontes diversas e apresentam
fatos, dados, opiniões e argumentos relacionados com o tema geral TRABALHO. São
textos como aqueles a que você está exposto na sua vida diária de leitor de
jornais, revistas
ou livros, e que você deve saber ler e comentar.
Leia
a coletânea e utilize-a segundo as instruções específicas dadas para o tema
escolhido. Se quiser, pode valer-se também de informações que julgar
importantes, mesmo que tenham sido incluídas nas propostas dos outros temas ou
nos enunciados das questões desta prova.
TEMA A
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS A ESTE TEMA, SUA REDAÇÃO SERÁ
ANULADA.
O
trabalho humano tem assumido múltiplas dimensões ao longo da história. As
alternativas que têm sido postas à disposição ou que têm sido negadas aos
indivíduos ou à espécie permitem amplo leque de avaliações. Encontra-se tanto
uma defesa incondicional das virtudes da vida laboriosa quanto o elogio do ócio
ou a defesa de um tempo de trabalho apenas indispensável à sobrevivência. Levando
em conta as pressões históricas, sociais e mesmo psicológicas que condicionam
estas visões, exemplificadas nos textos desta coletânea, que permitem uma
discussão da questão em seus aspectos contraditórios, escreva uma dissertação
sobre o tema:
Trabalho:
fator de promoção ou de degradação.
1) No inverno, as formig gas
estavam fazendo secar o grão molhado, quando uma cigarra faminta lhes pediu
algo para comer. As formigas lhe disseram: “Por que, no verão, não reservaste também
o teu alimento?” A cigarra respondeu: “Não tinha tempo, pois cantava melodiosamente”.
E as formigas, rindo, disseram: “Pois bem, se cantavas no verão, dança agora no
inverno”.
(Esopo,
Fábulas Completas, trad. de Neide Skolka, São Paulo, Moderna, 1994.)
2) Uma estranha loucura apossa-se das classes operárias das nações onde impera a
civilização capitalista. Esta loucura tem como conseqüência as misérias
individuais e sociais que, há dois séculos, torturam a triste humanidade.
Esta
loucura é o amor pelo trabalho, a paixão moribunda pelo trabalho, levada até o
esgotamento das forças vitais do indivíduo e sua prole. Em vez de reagir contra
essa aberração mental, os padres, economistas, moralistas sacrossantificaram o
trabalho. Pessoas cegas e limitadas quiseram ser mais sábias que seu próprio
Deus; pessoas fracas e desprezíveis quiseram reabilitar aquilo que seu próprio
Deus havia amaldiçoado.
(Paul
Lafargue, O direito à preguiça, São Paulo, Kayrós, 2 ed., 1980.)
3) Arbeit macht frei (‘o trabalho liberta’, divisa encontrada nos portões do campo
de concentração de Auschwitz).
4) Em 1995 o Brasil tinha cerca de 300 mil voluntários engajados no Terceiro Setor
(fundações, associações comunitárias etc.) e mais 3 milhões espalhados por
organizações religiosas de todo o tipo (espíritas, pastorais da Igreja etc.). A
maioria são pessoas que mal se conhecem, mas que se dispõem a ajudar idosos,
inválidos, mães sem recursos, crianças abandonadas, de dia ou de noite, em
jornadas extras após o trabalho.
(Miguel
Jorge, “Voluntariado e cidadania”, O Estado de S. Paulo, 18/6/2001.)
5) Fotografia de Sebastião Salgado: escadas nas minas de ouro de Serra Pelada.
Brasil, 1986. (http://www.terra.com.br/sebastiaosalgado/p
op1/p08w.html)
6) Começa a surgir e a tomar contornos de reivindicação trabalhista o “direito à desconexão”: o direito para o assalariado de se desligar – fora do horário de trabalho, nos fins-de-semana, nas férias – da rede telemática, do arreio eletrônico que o liga ao patrão ou a sua firma.
6) Começa a surgir e a tomar contornos de reivindicação trabalhista o “direito à desconexão”: o direito para o assalariado de se desligar – fora do horário de trabalho, nos fins-de-semana, nas férias – da rede telemática, do arreio eletrônico que o liga ao patrão ou a sua firma.
(Luiz
Felipe de Alencastro, “A servidão de Tom Cruise, Metamorfoses do trabalho
compulsório”, Folha de S. Paulo, Caderno Mais!, 13/8/2000.)
7) A Nike é acusada de vender tênis produzidos em países asiáticos por mão-de-obra
aviltada. Um levantamento feito junto a quatro mil trabalhadores de nove das 25
fábricas que servem à empresa na Indonésia revelou que 56% dos trabalhadores
queixam-se de insultos verbais, 15,7% das mulheres reclamam de bolinas e 13,7%
contam que sofreram coerção física no serviço. Esse estudo foi realizado sob o co-patrocínio
da própria Nike. Outro levantamento, feito no Vietnã, mostrou que os
trabalhadores ganham US$ 1,60 por dia e teriam que gastar US$ 2,10 para fazer
três refeições diárias. Banheiros, só uma vez por dia. Água, duas vezes. O
descumprimento das normas de uso do uniforme é punido com corridas
compulsórias. Em outros casos, o trabalhador é obrigado a ficar de castigo,
ajoelhado. A fábrica da localidade de Sam Yang trabalha 20 horas por dia, tem
seis mil empregados, mas o expediente do médico é de apenas duas horas diárias.
(Elio
Gaspari, “O micreiro do MIT pegou a Nike”, Folha de S. Paulo, 4/3/2001.)
8) “O trabalho danifica o homem” (declaração de Maguila, lutador de boxe,
parodiando um conhecido provérbio).
9) O bom senso questiona: por que razão os homens dessas sociedades [...]
quereriam trabalhar e produzir mais, quando três ou quatro horas diárias de
atividade são suficientes para garantir as necessidades do grupo? De que lhes
serviria isso? Qual seria a utilidade dos excedentes assim acumulados? Qual
seria o destino desses excedentes? É sempre pela força que os homens trabalham
além das suas necessidades. E exatamente essa força está ausente do mundo
primitivo: a ausência dessa força externa define inclusive a natureza das
sociedades primitivas. Podemos admitir a partir de agora, para qualificar a
organização econômica dessas sociedades, a expressão economia de subsistência,
desde que não a entendamos no sentido de um defeito, de uma incapacidade,
inerentes a esse tipo de sociedade e à sua tecnologia, mas, ao contrário, no
sentido da recusa de um excesso inútil, da vontade de restringir a atividade
produtiva à satisfação das necessidades. [...] A vantagem de um machado de
metal sobre um machado de pedra é evidente demais para que nela nos detenhamos:
podemos, no mesmo tempo, realizar com o primeiro talvez dez vezes mais trabalho
que com o segundo; ou então executar o mesmo trabalho num tempo dez vezes
menor.
(Pierre
Clastres, A Sociedade contra o Estado, Rio de Janeiro, Livraria Francisco
Alves, 1973.)
10) É realmente muito triste para mim, hoje em dia, saber que os pastores não
conhecem essa tremenda verdade. E é doloroso pensar que eles continuarão,
uivando como cães, a disputar o “meu” e o “teu”, numa luta ferina e bestial.
Continuarão a viver dilacerando-se uns aos outros e cuspindo sangue, tragicamente,
em proveito de patrões que desconhecem. [...] Nosso sangue fervilhava no
esforço, regava a terra, coagulava-se. E nós estávamos contentes. Como
poderíamos desconfiar que o fruto de nosso sangue ia engordar as aves de rapina
das cidades, luzidias e repousadas, em suas casas confortáveis? Cada um de nós,
na mocidade, construía com vistas à velhice, sem saber que, numa sociedade como
a nossa, a velhice, com ou sem olival, seria tragicamente desprezada pelos
jovens! E cada um de nós entregava-se a esse demônio que derramava nos campos
nossas energias, espalhando-as conforme seu capricho, tornando-nos felizes sem
dilacerar assim nossa própria carne, esquecidos das calamidades e dos caprichos
da natureza.
(Gavino
Ledda, Pai Patrão, Rio de Janeiro, Círculo do Livro, s.d.) [Padre Padrone é um
romance de 1975, que deu origem ao filme dos irmãos Taviani, com o mesmo
título. Trata da dura vida de trabalho do filho de um camponês da Sardenha.]
11) O argumento é conhecido, justo e internacional: por lei, as crianças devem
estar na escola, e não trabalhando 12 horas por dia; empresários inescrupulosos
recorrem ao trabalho infantil, pagando salários indecentes; portanto, é preciso
uma lei para impedir essas injustiças. A questão é: qual lei? No caso
brasileiro, a lei pode levar as crianças a perder o emprego e a não ganhar nada
em termos de aprendizado profissional. Portanto, para que se cumpra a lei, os menores
de 16 anos deverão ser despedidos. [...] A verdadeira alternativa, para muitos
adolescentes, não é estudar ou trabalhar, mas trabalhar ou não. As famílias
pobres precisam dessa renda, que a lei acaba confiscando.
(Adaptado
de Carlos A. Sardenberg, “Boas intenções que matam”, O Estado de S. Paulo,
18/6/2001.)
TEMA
B
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS A ESTE TEMA, SUA REDAÇÃO SERÁ
ANULADA.
Leia
o texto abaixo, parte de um depoimento de “Luiz Castilhos, branco, natural do
Estado do Rio, de 42 anos, solteiro, sabendo ler e escrever”, em que ele relata
a briga que teve com “Joaquim de Souza, mulato, de 32 anos, casado,
analfabeto”. O depoimento consta nos autos do processo criminal no qual foi réu
este último, no Rio de Janeiro, em 1910.
“[declara]
que trabalhava no trapiche Comércio à rua da Saúde, onde também trabalhava
Joaquim Antonio de Souza; que o trabalho que na ocasião faziam o declarante,
Joaquim e outros era pesar carne-seca; que então ali chegando um homem que não
é vagabundo pediu a Joaquim um pedaço de carne para comer; que Joaquim como
resposta disse ao homem que pedia que fosse pedir à puta que o pariu; que o
declarante fazendo ver a Joaquim que havia muita carne e que por conseqüência
um pedaço que desse ao homem para comer em nada prejudicaria ao dono da
mercadoria, Joaquim voltando-se para o declarante mandou-o também à puta que o pariu;
que em vista do mau humor de Joaquim o declarante retirou-se do trapiche visto
como naquele
momento terminaria o trabalho do dia; que em seguida o declarante foi à
pagadoria receber a sua diária; que ao voltar da pagadoria Joaquim
desfechou-lhe quatro ou cinco tiros [...]”
(Extraído
de Sidney Chaloub, Trabalho, Lar e Botequim: O Cotidiano dos trabalhadores no
Rio de Janeiro da Belle Époque, São Paulo, Brasiliense, 1986, p.105.)
O
depoimento acima transcrito contém elementos que permitem a construção de uma
narração: personagens, uma situação problemática e um desfecho. Inspirando-se
nos dados desse depoimento, escreva uma narração
•
em terceira pessoa;
•
com personagens e elementos da situação construídos com base no texto;
•
que contenha, além do desfecho constante no depoimento, um segundo desfecho,
com fatos ocorridos posteriormente aos relatados e que tenham alguma relação
com trabalho.
-
Não esqueça que você pode valer-se de informações da coletânea geral e dos
enunciados das questões desta prova para escrever sua narração.
TEMA C
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS A ESTE TEMA, SUA REDAÇÃO SERÁ
ANULADA.
Considerando
especialmente as informações contidas na matéria jornalística transcrita abaixo,
escreva uma carta a um interlocutor de sua escolha (por exemplo, a um
sindicalista, a um político, a um empresário) sugerindo que ele se empenhe na
aprovação de um projeto de lei que acabe com as horas extras. Nesta
carta, você deverá, necessariamente, especificar os principais pontos do projeto
de lei que gostaria de ver aprovado. Lembre-se
de que você deverá identificar claramente seu destinatário e organizar seus
argumentos,
a fim de convencê-lo a acatar sua sugestão.
- Não
esqueça que você pode valer-se de informações da coletânea geral e dos
enunciados
das questões desta prova para escrever sua carta.
- Ao
assinar a carta, use iniciais apenas, de forma a não se identificar.
PRODUÇÃO:
Horas extras impedem a criação imediata de 4,9 milhões de empregos no país, calcula
economista
Cresce
prática de hora extra na economia de SP
Segundo
pesquisa Seade-Dieese, 40,3% dos assalariados já ultrapassam a jornada de 44
horas semanais
SÃO
PAULO. A recuperação da economia vem se sustentando em boa parte com o uso de
horas extras no trabalho. Segundo pesquisa da Fundação Seade e do Dieese,
40,3% dos assalariados da Região Metropolitana de São Paulo trabalharam, em
março, além da jornada de 44 horas semanais fixada na Constituição, contra
35,6% no mesmo mês de 2000. No comércio, foram nada menos do que 52,3%; e na
indústria 40,9% prolongaram o expediente. No setor de serviços, o percentual
foi de 36,2%.
O
economista Mário Pochmann, secretário extraordinário do Trabalho de São Paulo,
calcula que se a jornada fosse cumprida seriam criados imediatamente 4,9
milhões de postos de trabalho no país, mais do que o suficiente para acabar com
o contingente de 1,02 milhão de desempregados das seis regiões metropolitanas
pesquisadas pelo IBGE.
FIESP:
contratar tem custo alto
Pochman
utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad), do
IBGE, realizada em 1999. Esta indicou que cerca de 27 milhões de brasileiros,
de um total de 70 milhões de ocupados à época, trabalhavam mais que a jornada
legal.
–
No Brasil, a exceção virou regra e comprometeu a criação de novos postos de
trabalho – diz o Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), João
Felício.
Essa
cultura sobrevive tanto em tempos de economia aquecida quanto de recessão.
Para
as empresas, o recurso das horas extras evita o risco de contratações em
momentos de incerteza, além de reduzir custos trabalhistas.
–
Os custos de contratação e demissão são muito altos no Brasil – justifica o
empresário
Roberto Faldini, diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(Fiesp).
A
legislação prevê que um trabalhador faça até duas horas adicionais por dia
útil, além
de oito no sábado e oito no domingo, num total de até 26 horas extras semanais.
Mas a maioria dos trabalhadores encara esse expediente como forma de
complementar renda e aceita propostas de aumento de jornada.
–
Isso derruba qualquer tentativa dos sindicatos de desestimular a prática das
horas
extras
– afirma o diretor-técnico do Dieese, Sérgio Mendonça.
Paulo
Roberto Garcia Silva Júnior, de 20 anos, metalúrgico de São Paulo, é um exemplo
dessa tendência. Há oito meses, foi contratado para trabalhar das 6h às 15h30m,
por R$ 370,00 mensais. Hoje, no entanto, consegue quase o dobro fazendo horas
extras diárias e folgando só um domingo por mês.
–
Procuro fazer o máximo de horas extras para ganhar mais – diz o operário.
O
excesso não é uma prática exclusiva dos empregadores. No fim do ano passado, o presidente
da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, descobriu que os cerca
de 700 funcionários do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo faziam mais de
cinco mil horas extras por mês. Paulinho proibiu essa prática no Sindicato e a
qualidade do atendimento, segundo ele, não diminuiu. Agora, o sindicalista quer
propor ao ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, que adote medidas
restringindo o uso de horas extras pelas empresas.
Além
de comprometer a geração de empregos, as horas extras também prejudicam a
produtividade,
aumentando os riscos de acidentes de trabalho. De acordo com o levantamento mais
recente do Ministério da Previdência e Assistência Social, o número de mortes
em acidentes de trabalho em 1999 foi de 3.923, representando um aumento de 3,6%
em relação a 1998.
(Marcelo
Rehder, O Globo, Caderno Economia, 8/5/2001, p.25.)
Leia também:
Temas de redação – Unicamp – 1998
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