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domingo, 12 de maio de 2019

TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2017 – 2º Semestre

TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2017 – 2º Semestre


REDAÇÃO

Dentre outras, encontramos, no “Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, as seguintes acepções para a palavra trabalho:
1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim.
2. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa ou empreendimento.
3. Exercício dessa atividade como ocupação, ofício, profissão etc.
4. Trabalho remunerado ou assalariado; serviço.
5. Econ. Atividade humana, considerada como fator de produção.

Seguindo as instruções abaixo, produza um texto dissertativo-argumentativo – com cerca de 25 linhas –, discorrendo sobre o que, na sua concepção, é o trabalho hoje em dia. Seu texto deve, obrigatoriamente, RESUMIR e COMENTAR alguma parte, de, pelo menos, um dos textos da prova, seja para concordar com ele, seja para discordar de seu teor –, acrescentando a devida referencialização. Dê um título criativo ao seu texto

TEXTO 1

Desde os primeiros séculos da colonização vemos mulheres à frente de pequenos negócios. Elas não só sustentavam suas casas, mas, ao contrário do que se acreditou por muito tempo, eram visíveis nas cidades. Estalajadeiras que “davam de comer em suas casas”, costureiras, tecedeiras, as que “tinham casa de vender coisas de comer e outras mercadorias”, “mestras de ensinar moças a lavrar e cozer”, além de taverneiras, aparecem na documentação da Inquisição em suas visitas a Salvador e Recife.
Padeiras? Muitas. Na Salvador do século XVIII, certa Domingas Simões Pinheiro era “juíza das padeiras”, por ser a mais antiga da cidade. Ali, uma relação de contribuintes do ano de 1648 traz o nome de nove mulheres donas de tavernas, padarias e vendas. Em São Paulo, onde se plantava trigo, a Câmara Municipal ameaçava aquelas que adulteravam o pão, misturando-lhe à massa farinha de mandioca e de milho branco. Na mesma cidade, padeiras mantinham constante litígio com as câmaras que controlavam o peso e o preço do pão. E elas recorriam a greves, petições, protestos e embustes para manter seus negócios e controlar, à sua maneira [...], o peso e o preço do pão!

DEL PRIORE, Mary, Histórias da gente brasileira: volume I: colônia. São Paulo: Leya, 2016. p. 99.

TEXTO 2

Revista do Livro: Onde foi o seu primeiro emprego no Rio?
Ferreira Gullar: Eu trabalhava no Jornal das Letras, e o João Condé, sabendo que eu estava a perigo, perguntou se eu não queria trabalhar na revista do Instituto de Aposentadoria dos Comerciários (IAPC), que era feita por ele. A revista era um cabide de emprego: “não trabalhavam” lá Otto Lara Resende, Breno Accioly, Hélio Pelegrino, Lucio Cardoso, todo mundo – só assinavam o ponto. O único que trabalhava era eu, porque, como não tinha onde ficar, lá pelo menos eu tinha mesa, máquina de escrever, telefone e tranquilidade total. E ainda recebia salário. Quando criaram a sala de imprensa do IAPC, fui trabalhar lá: fazia textos sobre seminários, leis referentes à previdência social. Depois desse período, comecei a trabalhar na revista Manchete.

GULLAR, Ferreira. Autobiografia Poética e outros textos. Belo Horizonte, Autêntica ed., 2015.

TEXTO 3

       “De acordo com o último cálculo, um jovem americano com nível médio de educação espera mudar de emprego 11 vezes durante sua vida de trabalho – e o ritmo e a frequência da mudança deverão continuar crescendo antes que a vida de trabalho dessa geração acabe. “Flexibilidade” é o slogan do dia, e quando aplicado ao mercado de trabalho augura um fim do “emprego tal como o conhecemos”, anunciando em seu lugar o advento do trabalho por contratos de curto prazo, ou sem contratos, posições sem cobertura previdenciária, mas com cláusulas “até nova ordem”. A vida de trabalho está saturada de incertezas.”

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro, Zahar ed.,2001.

TEXTO 4

Rodney Everts, como o chamarei aqui, é um jamaicano que veio para Boston quando tinha dez anos e subiu no trabalho à maneira antiga, de aprendiz a mestre padeiro e supervisor. Essa trajetória representa vinte anos de luta. Ele subiu por pura determinação e merecimento...
Recebeu bem a aposentadoria e a contratação da força de trabalho poliglota. Ele é responsável, na verdade, pela escolha da maioria dos novos padeiros, mas também fica furioso com a maneira como eles trabalham cegamente, embora entenda que o baixo nível de solidariedade e qualificação não é culpa dos trabalhadores. A maioria das pessoas que escolhe fica, no máximo, dois anos na padaria; os jovens trabalhadores, não sindicalizados, são especialmente transitórios. Rodney também fica furioso com a empresa por ela preferir esses trabalhadores não sindicalizados; ele está convencido de que, se fossem mais bem pagos, ficariam mais tempo. E fica furioso com a empresa por usar horários de “flexitempo” como um atrativo para o trabalho de nível inferior. Everts quer todo o pessoal junto na padaria, ao mesmo tempo, para cuidar dos problemas da melhor maneira possível. [...]

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Os padeiros têm uma vívida consciência de que executam tarefas muito simples, fazendo menos do que sabem. Um dos italianos me disse o seguinte:
- Na minha casa, faço pão mesmo, sou um padeiro. Aqui aperto botões.
Quando lhe perguntei por que não assistira ao seminário de Everts, respondeu:
- Não importa. Não vou ficar fazendo isso o resto da vida [...] ....................................................................................................................

A tecnologia na padaria é importante para essa fraca identidade com o trabalho, mas não exatamente como se esperava. Em vez de hostis, as máquinas, nesse local de trabalho, são planejadas para ser fáceis de usar: têm ícones visuais claros e janelas bem organizadas, que se assemelham ás telas dos computadores domésticos. Um vietnamita, que mal fala inglês, e que não tem um verdadeiro entendimento da diferença entre uma baguette e um croissant, pode operá-las. Há um motivo econômico para esses misturadores, prensas e fornos fáceis de usar: permitem à empresa contratar trabalhadores com salários mais baixos que antes, quando eram os trabalhadores, e não as máquinas, que detinham as qualificações – embora hoje todos tenham qualificações técnicas formais mais elevadas.
Acabei compreendendo que é a própria facilidade de uso da padaria que pode explicar em parte a confusão que as pessoas sentem sobre si mesmas como padeiras. Em todas as formas de trabalho, desde esculpir a servir refeições, as pessoas se identificam com tarefas que as desafiam: as tarefas difíceis. Mas, nesse local de trabalho flexível, com seus trabalhadores poliglotas sempre indo e vindo, e ordens radicalmente diferentes a cada dia, a maquinaria é o único verdadeiro padrão de ordem; e, por isso, tem de ser fácil para qualquer um, não importa quem, operar. A dificuldade é contraprodutiva num regime flexível. Por um terrível paradoxo, quando diminuímos a dificuldade e a resistência, criamos as condições próprias para uma atitude acrítica e indiferente por parte dos usuários.

p 81 a 85 (trechos adaptados) SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2009.


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