MACIEL MONTEIRO
– Antônio Peregrino de Maciel Monteiro, 2º Barão de Itamaracá, nasceu em Recife, em 1804, e faleceu em Lisboa, em 1868.
– Doutorou-se em Medicina pela Universidade de Paris. Foi médico, jornalista, diplomata e político, exercendo diversos cargos públicos.
– Não teve nenhum livro publicado em vida. Sua pequena produção foi compilada somente no início do século XX.
– É o patrono da cadeira 27 da Academia Brasileira de Letras.
– Segundo o célebre crítico Silvio Romero, Maciel Monteiro foi um dos escritores cujas poesias já manifestavam as características da estética romântica, antes mesmo de Gonçalves de Magalhães.
– Obra de caráter essencialmente lírico-amoroso. Seu soneto mais famoso, “Formosa”, é presença constante em antologias poéticas sobre o século XIX.FORMOSA
"Angelica", Pino Daeni. |
Formosa, qual pincel em tela fina
Debuxar jamais pôde ou nunca ousara;
Formosa, qual jamais desabrochara
Na primavera rosa purpurina;
Debuxar jamais pôde ou nunca ousara;
Formosa, qual jamais desabrochara
Na primavera rosa purpurina;
Formosa, qual se a própria mão divina
Lhe alinhara o contorno e a forma rara;
Formosa, qual jamais no céu brilhara
Astro gentil, estrela peregrina;
Lhe alinhara o contorno e a forma rara;
Formosa, qual jamais no céu brilhara
Astro gentil, estrela peregrina;
Formosa, qual se a natureza e a arte,
Dando as mãos em seus dons, em seus lavores
Jamais soube imitar no todo ou parte;
Dando as mãos em seus dons, em seus lavores
Jamais soube imitar no todo ou parte;
Mulher celeste, oh! anjo de primores!
Quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!
(Maciel Monteiro)Quem pode ver-te, sem querer amar-te?
Quem pode amar-te, sem morrer de amores?!
ERA JÁ POSTO O SOL
Era já posto o sol. A natureza
Em ondas de perfume se banhava;
Aqui, pendia a rosa, além brilhava
Alguma flor de virginal pureza.
Nuvem sutil, de pálida tristeza,
Pelo cândido rosto lhe vagava.
Nas negras tranças do cabelo estava
Murcha e mais triste uma saudade presa.
Oh! pintor que a pintaste! Era mais bela
Que a lua deslumbrante de fulgores,
Surgindo dentre as sombras da procela!
Ao vê-la, aos meus olhos matadores,
Voou meu coração aos lábios dela,
Minh´alma ardente se banhou de amores.
(Maciel Monteiro)
UM SONHO
Ao embarque e partida de uma Senhora.
Ela foi-se! E com ela foi minh’alma
n’asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!
n’asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!
Voava a brisa e no atrevido rapto
frisava do Oceano a face lisa:
eu que a brisa acalmar tentava insano,
com meus suspiros alentava a brisa!
frisava do Oceano a face lisa:
eu que a brisa acalmar tentava insano,
com meus suspiros alentava a brisa!
No horizonte esconder-se anuviado
eu a vi; e dois pontos luminosos
apenas onde ela ia me mostravam:
eram eles seus olhos lacrimosos!
eu a vi; e dois pontos luminosos
apenas onde ela ia me mostravam:
eram eles seus olhos lacrimosos!
Pouco e pouco empanou-se a luz confusa,
que me sorria lá dos olhos seus;
e dalém ondulando uma aura amiga
aos meus ouvidos repetiu adeus!
que me sorria lá dos olhos seus;
e dalém ondulando uma aura amiga
aos meus ouvidos repetiu adeus!
Nada mais via eu, nem mesmo um raio
fulgir a furto a esperança bela;
mas meus olhos ilusos descobriram
numa amável visão a imagem dela.
fulgir a furto a esperança bela;
mas meus olhos ilusos descobriram
numa amável visão a imagem dela.
Esvaiu-se a visão, qual nuvem áurea
ao bafejar da vespertina aragem;
se aos olhos eu perdia a imagem sua,
no meu peito eu achava a sua imagem.
ao bafejar da vespertina aragem;
se aos olhos eu perdia a imagem sua,
no meu peito eu achava a sua imagem.
Ela foi-se! ... E com ela foi minh’alma
na asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!
na asa veloz da brisa sussurrante,
que ufana do tesouro que levava,
ia... corria... e como vai distante!
(Maciel Monteiro)
"Ao nascerdes, senhora, um astro novo
Vos inundou de luz, que inda hoje ensina,
No fogo desses vossos olhos belos,
Vossa origem divina.
No fogo desses vossos olhos belos,
Vossa origem divina.
O ar, que respirastes sobre a terra,
Foi um sopro de Deus embalsamado
Entre as flores gentis que vos ornavam
O berço abençoado.
Foi um sopro de Deus embalsamado
Entre as flores gentis que vos ornavam
O berço abençoado.
Ao ver-vos sua igual no empíreo os anjos
Hinos de amor cantaram nesse dia;
E o que se escuta, se falais, é o eco
Da angélica harmonia.
Hinos de amor cantaram nesse dia;
E o que se escuta, se falais, é o eco
Da angélica harmonia.
Gerada para o Céu, que o Céu somente
Da criação a pompa e o brilho encerra,
Das mãos do Criador vos escapastes,
Caístes cá na terra.
Da criação a pompa e o brilho encerra,
Das mãos do Criador vos escapastes,
Caístes cá na terra.
Um anjo vos seguiu para guardar-vos;
E quais gêmeos um no outro retratado,
Quem pode distinguir o anjo que guarda
Do anjo que é guardado?
E quais gêmeos um no outro retratado,
Quem pode distinguir o anjo que guarda
Do anjo que é guardado?
Só um raio do Céu arde perene
Sem que o tempo lhe apague o fulgor santo!
Por isso os vossos dons são sempre os mesmos,
O mesmo o vosso encanto.
Sem que o tempo lhe apague o fulgor santo!
Por isso os vossos dons são sempre os mesmos,
O mesmo o vosso encanto.
Em vós é tudo eterno. E se na fronte
(Tão bela sempre em tempos tão diversos!)
Uma c’roa murchar-se, é decerto
A c’roa dos meus versos.
(Tão bela sempre em tempos tão diversos!)
Uma c’roa murchar-se, é decerto
A c’roa dos meus versos.
Dos meus versos! Ah! Não! Que inextinguível
É o incenso queimado à divindade:
E ao canto que inspirais, vós dais, senhora,
Vossa imortalidade."
É o incenso queimado à divindade:
E ao canto que inspirais, vós dais, senhora,
Vossa imortalidade."
(Maciel Monteiro)
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