CASSIANO RICARDO
– Nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1974.
– Formado em Direito, foi poeta, jornalista e ensaísta.
– Representante da primeira geração do Modernismo brasileiro, fez parte dos grupos modernistas “Verde-Amarelo” e “Anta”. Fundou depois o movimento “A Bandeira”, que se contrapunha ao Integralismo.
– Membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1937.
– Ligado inicialmente ao Parnasianismo-Simbolismo, logo aderiu ao movimento modernista.
– Obra nacionalista e lírica até o início dos anos 40.
– A partir da década de 40, renova sua literatura, produzindo obras de caráter introspectivo-filósofico.
– Enveredou pela poesia experimental e de vanguarda, participando do movimento concretista.
Depois de tudo
Mas tudo passou tão depressa
Não consigo dormir agora.
Nunca o silêncio gritou tanto
Nas ruas da minha memória.
Como agarrar líquido o tempo
Que pelos vãos dos dedos flui?
Meu coração é hoje um pássaro
Pousado na árvore que eu fui.
(Cassiano Ricardo)
Ficaram-me as penas
da sua asa, nas mãos encantadas.
Mas, que é a vida, afinal? Um voo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas.
Passou o vento mau, entre açucenas,
deixou-me só corolas arrancadas...
Despedem-se de mim glórias terrenas.
Fica-me aos pés a poeira das estradas.
A água correu veloz, fica-me a espuma.
Só o tempo não me deixa coisa alguma
até que da própria alma me despoje!
Desfolhados os últimos segredos,
quero agarrar a vida, que me foge,
vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos.
(Cassiano Ricardo)
Desejo
As coisas que não conseguem morrer
Só por isso são chamadas eternas.
As estrelas, dolorosas lanternas
Que não sabem o que é deixar de ser.
Ó força incognoscível que governas
O meu querer, como o meu não-querer.
Quisera estar entre as simples luzernas
Que morrem no primeiro entardecer.
Ser deus — e não as coisas mais ditosas
Quanto mais breves, como são as rosas
É não sonhar, é nada mais obter.
Ó alegria dourada de o não ser
Entre as coisas que são, e as nebulosas,
Que não conseguiu dormir nem morrer.
Só por isso são chamadas eternas.
As estrelas, dolorosas lanternas
Que não sabem o que é deixar de ser.
Ó força incognoscível que governas
O meu querer, como o meu não-querer.
Quisera estar entre as simples luzernas
Que morrem no primeiro entardecer.
Ser deus — e não as coisas mais ditosas
Quanto mais breves, como são as rosas
É não sonhar, é nada mais obter.
Ó alegria dourada de o não ser
Entre as coisas que são, e as nebulosas,
Que não conseguiu dormir nem morrer.
(Cassiano Ricardo)
É tarde, é muito tarde
II
"Table for one". Jack Vettriano. |
em coisas que não fiz.
A tarde é quase humana
quando em mim pousa. A tarde
atrozmente enfeitada
de cores, ainda arde;
porém, já não me engana.
É tarde. É muito tarde.
Só haveria um remédio.
Era o de ter prestado
mais atenção à vida.
Era eu ter consultado
mais vezes o relógio
Era o eu ter querido
mais a ti do que quis.
Mas gastei meu futuro
em coisas que não fiz.
É tarde. É muito tarde.
Bem sei que, muitas vezes,
O único remédio
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De continuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.
A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.
(Cassiano Ricardo)
Poética
[1]
Que é a Poesia?
Uma ilha
Cercada
De palavras
Por todos
Os lados.
[2]
Que é o Poeta?
Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu rosto.
Um homem
Que tem fome
Como qualquer outro
Homem.
(Cassiano Ricardo)
Canção para poder viver
Dou-lhe tudo do que como,
e ela me exige o último gomo.
Dou-lhe a roupa com que me visto
e ela me interroga: só isto?
Se ela se fere num espinho,
O meu sangue é que é o seu vinho.
Se ela tem sede eu é que choro,
no deserto, para lhe dar água:
E ela mata a sua sede,
já no copo de minha mágoa
Dou-lhe o meu canto louco; faço
um pouco mais do que ser louco.
E ela me exige bis, "ao palco"!
(Cassiano Ricardo)
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Estava lendo um livro de português e contemplei um poema do Cassiano Ricardo . Como os poemas dele são existencialistas profundos. Me remeteu a lembranças do Fernando Pessoa.
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