O Pavão
Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de
suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas
cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são
minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão
é um arco-íris de plumas.
Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o
máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu
esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.
Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de
tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus
olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
(Rubem Braga)
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
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