Temas de Redação
- 1ª Fase – Unicamp – 2009
O tema geral da prova da primeira fase é O homem e os animais. A redação propõe três recortes desse tema.
Propostas:
Cada
proposta apresenta um recorte temático a ser trabalhado de acordo com as
instruções específicas.
Escolha
uma das três propostas para a redação (dissertação, narração ou carta) e
assinale sua escolha no alto da página de resposta.
Coletânea:
A
coletânea é única e válida para as três propostas. Leia toda a coletânea e
selecione o que julgar pertinente para a realização da proposta escolhida.
Articule os elementos selecionados com sua experiência de leitura e reflexão. O
uso da coletânea é obrigatório.
ATENÇÃO
– sua redação será anulada se você desconsiderar a coletânea ou fugir ao
recorte temático ou não atender ao tipo de texto da proposta escolhida.
Apresentação
da Coletânea
De
acordo com a época e a cultura, o homem se relaciona de diferentes formas com
os animais. Essa relação tem sido motivo de intenso debate, principalmente no
que diz respeito à responsabilidade do homem sobre a vida e o bem-estar das
demais espécies do planeta.
Coletânea
1)
O fundamento jurídico para a proteção dos animais, no Brasil, está no artigo
225 da Constituição Federal, que incumbe o Poder Público de “proteger a fauna e
a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam os animais à
crueldade”. Apoiada na
Constituição, a Lei 9605, de 1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais,
criminaliza a conduta de quem “praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou
mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos”.
Contudo, perguntas inevitáveis surgem: como o Brasil ainda compactua, em meio à
vigência de leis ambientais avançadas, com tantas situações de crueldade com os
animais, por vezes aceitas e legitimadas pelo próprio Estado? Rinhas, farra do
boi, carrocinha, rodeios, vaquejadas, circos, veículos de tração, gaiolas, vivissecção
(operações feitas em animais vivos para fins de ensino e pesquisa), abate, etc.
– por que se mostra tão difícil coibir a ação de pessoas que agridem, exploram
e matam os animais?
(Adaptado
de Fernando Laerte Levai, Promotoria de Defesa Animal. www.sentiens.net,
04/2008.)
2)
A Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou, no início de 2008, uma lei que,
se levada à prática, obstruiria uma parte significativa da pesquisa científica
realizada na cidade por instituições como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), as
universidades federal e estadual do Rio de Janeiro e o Instituto Nacional do
Câncer (Inca). De autoria do vereador e ator Cláudio Cavalcanti, um destacado
militante na defesa dos direitos dos animais, a lei tornou ilegal o uso de
animais em experiências científicas na cidade. A comunidade acadêmica reagiu e mobilizou
a bancada de deputados federais do Estado para ajudar a aprovar o projeto de
lei conhecido como Lei Arouca. A lei municipal perderia efeito se o projeto
federal saísse do papel.
Paralelamente, os pesquisadores também
decidiram partir para a desobediência e ignorar a lei municipal. “Continuaremos
trabalhando com animais em pesquisas cujos protocolos foram aprovados pelos
comitês de ética”, diz Marcelo Morales, presidente da Sociedade Brasileira de
Biofísica (SBBF) e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),
um dos líderes da reação dos cientistas. A interrupção do uso de animais geraria
prejuízos imediatos com repercussão nacional, como a falta de vacinas (hepatite
B, raiva, meningite, BCG e febre amarela), fabricadas, no Rio, pela Fiocruz,
pois a inoculação em camundongos atesta a qualidade dos antígenos antes que
eles sejam aplicados
nas pessoas. “Também é fundamental esclarecer à população que, se essas
experiências forem proibidas, todos os nossos esforços recentes para descobrir
vacinas contra dengue, Aids, malária e leishmaniose seriam jogados literalmente
no lixo”, diz Renato Cordeiro, pesquisador do Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica
da Fiocruz. Marcelo Morales enumera outros prejuízos: “pesquisas sobre
células-tronco no campo
da cardiologia, da neurologia e de moléstias pulmonares e renais, lideradas por
pesquisadores da UFRJ, e de terapias contra o câncer, realizadas pelo Inca,
teriam de ser interrompidas”.
(Adaptado
de Fabrício Marques, Sem eles não há avanço. Revista Pesquisa Fapesp, no.144,
02/2008, pp. 2-6.)
3)
O Senado aprovou, em 9 de setembro de 2008, o projeto da Lei Arouca, que
estabelece procedimentos para o uso científico de animais. A matéria vai agora
à sanção presidencial. A lei cria o Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (CONCEA), que será responsável por credenciar instituições
para criação e utilização de
animais destinados a fins científicos e estabelecer normas para o uso e cuidado
dos animais. Além de credenciar as instituições, o CONCEA terá a atribuição de
monitorar e avaliar a introdução de técnicas alternativas que substituam o uso
de animais tanto no ensino quanto nas pesquisas científicas. O CONCEA será presidido
pelo Ministro da Ciência e Tecnologia e terá representantes dos Ministérios da
Educação, do Meio Ambiente,
da Saúde e da Agricultura. Dentre outros membros, integram o CONCEA a Sociedade
Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de
Ciências, a Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), a Federação
Nacional da Indústria Farmacêutica e dois representantes de sociedades protetoras
dos animais legalmente estabelecidas no país.
(Adaptado
de Daniela Oliveira e Carla Ferenshitz, Após 13 anos de tramitação Lei Arouca é
aprovada. Jornal da Ciência (SBPC), www.jornaldaciencia.org.br, 09/2008.)
4)
Grande parte de nossa sociedade acredita na necessidade incondicional das
experiências com animais. Essa crença baseia-se em mitos, não em fatos, e esses
mitos precisam ser divulgados a fim de evitar a consolidação de um sistema
pseudo-científico. As experiências com animais pertencem – assim como a
tecnologia genética ou o uso
da energia atômica – a um sistema de pesquisas e exploração que despreza a
vida. Um desses mitos é o de que tais experiências possibilitaram o combate às
doenças e assim permitiram aumentar a média de vida. Esse aumento, entretanto,
deve-se, principalmente, ao declínio das doenças infecciosas e à consequente
diminuição da
mortalidade infantil, cujas causas foram as melhorias das condições de
saneamento, a tomada de consciência em questões de higiene e uma alimentação
mais saudável, e não a introdução constante de novos medicamentos e vacinas. Da
mesma maneira, os elevados coeficientes de mortalidade infantil no Terceiro Mundo
podem ser atribuídos aos problemas sociais, como a pobreza, a desnutrição, e
não à falta de medicamentos ou vacinas. Outro mito é o de que as experiências
com animais não prejudicam a humanidade.
Na
realidade, elas é que tornam as atuais doenças da civilização ainda mais
estáveis. A esperança da descoberta de um medicamento por meio de pesquisas com
animais destrói a motivação das pessoas para tomarem uma iniciativa própria e
mudarem significativamente seu estilo de vida. Enquanto nos agarramos à
esperança de um novo
remédio contra o câncer ou contra as doenças cardiovasculares, nós mesmos – e
todo o sistema de saúde – não estamos suficientemente motivados para abolir as
causas dessas enfermidades, ou seja, o fumo, as bebidas alcoólicas, a
alimentação inadequada, o stress, etc. Um último mito a ser destacado é o de
que leigos, por falta de conhecimento especializado, não podem opinar sobre
experiências com animais. Esse mito proporcionou, durante dezenas de anos, um
campo livre para os vivisseccionistas. Deixar que os próprios pesquisadores julguem
a necessidade e a importância das experiências com animais é semelhante a
deixar que uma associação de açougueiros emita parecer sobre alimentação
vegetariana. Não serão justamente aqueles que estão engajados
no sistema de experiências com animais que irão questionar a vivissecção!
(Adaptado
de Bernhard Rambeck, Mito das experiências em animais. União Internacional
Protetora dos animais, www.uipa.com.br, 04/2007.)
5)
A violência exercida contra os animais suscita uma reprovação crescente por
parte das opiniões públicas ocidentais, que, freqüentemente, se torna ainda
mais vivaz à medida que diminui a familiaridade com as vítimas.
Nascida
da indignação com os maus-tratos infligidos aos animais domésticos e de
estimação, em uma época na qual burros e cavalos de fiacre faziam parte do
ambiente cotidiano, atualmente a compaixão nutre-se da crueldade a que estariam
expostos seres com os quais os amigos dos animais, urbanos em sua maioria, não
têm nenhuma proximidade física: o gado de corte, pequenos e grandes animais de
caça, os touros das touradas, as cobaias de laboratório, os animais
fornecedores de pele, as baleias e as focas, as espécies selvagens ameaçadas pela
caça predatória ou pela deterioração de seu habitat, etc. As atitudes de
simpatia para com os animais também variam, é claro, segundo as tradições
culturais nacionais. Todavia, na prática, as manifestações de simpatia
pelos animais são ordenadas em uma escala de valor cujo ápice é ocupado pelas
espécies percebidas como as mais próximas do homem em função de seu
comportamento, fisiologia, faculdades cognitivas, ou da capacidade que lhes é
atribuída de sentir emoções, como os mamíferos. Ninguém, assim, parece se
preocupar com
a sorte dos arenques ou dos bacalhaus, mas os golfinhos, que com eles são por
vezes arrastados pelas redes de pesca, são estritamente protegidos pelas
convenções internacionais. Com relação às medusas ou às tênias, nem mesmo os membros
mais militantes dos movimentos de liberação animal parecem conceder-lhes uma dignidade
tão elevada quanto à outorgada aos mamíferos e aos pássaros. O antropocentrismo,
ou seja, a capacidade de se identificar com não-humanos em função de seu suposto
grau de proximidade com a espécie humana, parece assim constituir a tendência
espontânea das diversas sensibilidades ecológicas contemporâneas.
(Adaptado
de Philippe Descola, Estrutura ou sentimento: a relação com o animal na
Amazônia. Mana, vol.4, n.1, Rio de Janeiro, 04/1998.)
6)
Manifestação de militantes da ONG Vegan Staff na 60ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), www.veganstaff.org, 07/2008.
PROPOSTAS DE REDAÇÃO
Proposta
A
Leia
a coletânea e elabore sua dissertação a partir do seguinte recorte temático:
O
uso de animais em experimentação científica tem sido muito debatido porque
envolve reivindicações dos cientistas e dos movimentos organizados em defesa
dos animais, assim como mudanças na legislação vigente.
Instruções:
1-
Discuta o uso de animais em experimentação científica.
2-
Trabalhe seus argumentos no sentido de apontar as controvérsias a respeito
desse uso.
3-
Explore os argumentos de modo a justificar seu ponto de vista sobre essas
controvérsias.
Proposta
B
Leia
a coletânea e elabore sua narrativa a partir do seguinte recorte temático:
Os
movimentos organizados em defesa dos animais têm sensibilizado uma parcela da
sociedade, que busca adotar novas condutas, coerentes com princípios de
responsabilidade em relação às diversas espécies.
Instruções:
1-
Imagine uma personagem que decide mudar de hábitos para ser coerente com sua
militância em defesa dos animais.
2-
Narre os conflitos gerados por essa decisão.
3-
Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.
Leia
a coletânea e elabore sua carta a partir do seguinte recorte temático:
As
controvérsias sobre o uso de animais em experimentação científica não se
encerraram com a recente aprovação, pelo Senado, da Lei Arouca, que cria o
CONCEA.
Instruções:
1-
Escolha um ponto de vista em relação ao uso de animais em experimentação científica.
2-
Argumente no sentido de solicitar que seu ponto de vista prevaleça na atuação
do CONCEA.
3-
Dirija sua carta a um membro do CONCEA que possa apoiar sua solicitação.
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Leia também:
Temas
de redação – Unicamp – 1998
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