Temas de Redação
- 1ª Fase – Unicamp – 2007
ORIENTAÇÃO
GERAL: LEIA ATENTAMENTE
O
tema geral da prova da primeira fase é Agricultura. A redação propõe três
recortes desse tema.
Propostas: Cada
proposta apresenta um recorte temático a ser trabalhado de acordo com as
instruções específicas.
Escolha
uma das três propostas para a redação (dissertação, narração ou carta) e
assinale sua escolha no alto da página de resposta.
Coletânea: A
coletânea é única e válida para as três propostas. Leia toda a coletânea e
selecione o que julgar pertinente para a realização da proposta escolhida.
Articule os elementos selecionados com sua experiência de leitura e reflexão. O
uso da coletânea é obrigatório.
ATENÇÃO
– sua redação será anulada se você desconsiderar a coletânea ou fugir ao
recorte temático ou não atender ao tipo de texto da proposta escolhida.
Apresentação
da coletânea
A
produção agrícola afeta as relações de trabalho, o uso da terra, o comércio, a
pesquisa tecnológica, o meio ambiente. Refletir sobre a agricultura significa
colocar em questão o próprio modo de configuração de uma sociedade.
1)
O açúcar
O
branco açúcar que adoçará meu café
nesta
manhã de Ipanema
não
foi produzido por mim
nem
surgiu dentro do açucareiro por milagre.
Vejo-o
puro
e
afável ao paladar
como
beijo de moça, água
na
pele, flor
que
se dissolve na boca. Mas este açúcar
não
foi feito por mim.
Este
açúcar veio
da
mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono
da mercearia.
Este
açúcar veio
de
uma usina de açúcar em Pernambuco
ou
no Estado do Rio
e
tampouco o fez o dono da usina.
Este
açúcar era cana
e
veio dos canaviais extensos
que
não nascem por acaso
no
regaço do vale.
Em
lugares distantes, onde não há hospital
nem
escola,
homens
que não sabem ler e morrem de fome
aos
27 anos
plantaram
e colheram a cana
que
viraria açúcar.
Em
usinas escuras,
homens
de vida amarga
e
dura
produziram
este açúcar
branco
e puro
com
que adoço meu café esta manhã em
Ipanema.
(Ferreira
Gullar, Dentro da noite veloz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975, p.
44, 45.)
2)
Se eu pudesse alguma coisa para com Deus, lhe rogaria quisesse dar muita geada
anualmente nas terras de serra acima, onde se faz o açúcar; porque a cultura da cana
tem sido muito prejudicial aos povos: 1°) porque tem abandonado ou diminuído a
cultura do milho e do feijão e a criação dos porcos; estes gêneros têm encarecido,
assim como a cultura de trigo, e do algodão e azeites de mamona; 2°) porque tem
introduzido muita escravatura, o que empobrece os lavradores, corrompe os
costumes e leva ao desprezo pelo trabalho de enxada; 3°) porque tem devastado
as belas matas e reduzido a taperas muitas herdades; 4°) porque rouba muitos
braços à agricultura, que se empregam no carreto dos africanos; 5°) porque
exige grande número de bestas muares que não procriam e que consomem muito
milho; 6°) porque diminuiria a feitura da cachaça, que tão prejudicial é do moral
e físico dos moradores do campo.
(Adaptado
de José Bonifácio de Andrada e Silva [1763-1838], Projetos para o Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 181, 182.)
3)
Uma parceria entre órgãos públicos e iniciativa privada prevê o fornecimento de
oleaginosas produzidas em assentamentos rurais paulistas para a fabricação de
biodiesel. De um lado, a parceria proporcionará aos assentados uma nova fonte
de renda. De outro, facilitará o cumprimento da exigência do programa nacional
de biodiesel que estabelece que, no Estado de São Paulo, 30% das oleaginosas
para a produção de biodiesel sejam provenientes da agricultura familiar, para
que as indústrias tenham acesso à redução dos impostos federais.
(Adaptado
de Alessandra Nogueira, “Alternativa para os assentamentos”. Energia Brasileira,
n° 3, jun. 2006, p. 63.)
4)
Parece que os orixás da Bahia já previam. O mesmo dendê que ferve a moqueca e
frita o acarajé pode também mover os trios elétricos no Carnaval. O biotrio,
trio elétrico
de última geração, movido a biodiesel, conquista o folião e atrai a atenção de
investidores. Se aproveitarem a dica dos biotrios e usarem biodiesel, os
sistemas de transporte coletivo dos centros urbanos transferirão recursos que
hoje financiam o petrodiesel para as lavouras das plantas oleaginosas, ajudando
a despoluir as cidades. A auto-suficiência em petróleo, meta conquistada, é
menos importante hoje do que foi no
passado. O desafio agora é gerar excedentes para exportar energias renováveis
por meio de econegócios que melhorem a qualidade do ambiente urbano, com ocupação
e geração de renda no campo, alimentando as economias rurais e redistribuindo
riquezas.
(Adaptado
de Eduardo Athayde, “Biodiesel no Carnaval da Bahia”. Folha de S. Paulo,
28/02/2006, p. A3.)
5)
Especialistas dizem que, nos EUA, com o aumento dos preços do petróleo, os
agricultores estão dirigindo uma parte maior de suas colheitas para a produção
de combustível
do que para alimentos ou rações animais. A nova estimativa salienta a crescente
concorrência entre alimentos e combustível, que poderá colocar os ricos
motoristas de carros do Ocidente contra os consumidores famintos nos países em
desenvolvimento.
(Adaptado
de “Menos milho, mais etanol”. Energia Brasileira, n° 3, jun. 2006, p. 39.)
6)
O agronegócio responde por um terço do PIB, 42% das exportações e 37% dos
empregos. Com clima privilegiado, solo fértil, disponibilidade de água, rica biodiversidade
e mão-de-obra qualificada, o Brasil é capaz de colher até duas safras anuais de
grãos. As palavras são do Ministério da Agricultura e correspondem aos fatos. Essa
é, no entanto apenas
metade da história. Há uma série de questões pouco debatidas: Como se distribui
a riqueza gerada no campo? Que impactos o agronegócio causa na sociedade, na
forma de desemprego, concentração de renda e poder, êxodo rural, contaminação
da água e do solo e destruição de biomas? Quanto tempo essa bonança vai durar,
tendo em vista a exaustão dos recursos naturais? O descuido socioambiental vai
servir de argumento para a criação de barreiras não-tarifárias, como a que
vivemos com a China na questão da soja contaminada por agrotóxicos?
(Adaptado
de Amália Safatle e Flávia Pardini, “Grãos na Balança”. Carta Capital,
01/09/2004, p.42.)
7)
No que diz respeito à política de comércio internacional da produção agrícola,
não basta batalhar pela redução de tarifas aduaneiras e pela diminuição de
subsídios concedidos aos produtores e exportadores no mundo rico. Também não
basta combater o protecionismo disfarçado pelo excesso de normas sanitárias. Este
problema é real, mas, se for superado, ainda restarão regras de fiscalização
perfeitamente razoáveis e necessárias
a todos os países. O Brasil não está apenas atrasado em seu sistema de controle
sanitário, em relação às normas em vigor nos países mais desenvolvidos. A
deficiência, neste momento, é mais grave. Houve um retrocesso em relação aos
padrões alcançados há alguns anos e a economia brasileira já está sendo punida
por isso.
(Adaptado
de “Nem tudo é protecionismo”. O Estado de S. Paulo, 14/07/2006, p. B14.)
8)
A marcha para o oeste nos Estados Unidos, no século XIX, só se tornou realidade
depois da popularização do arado de aço, por volta de 1830. A partir do momento
em que
o solo duro pôde ser arado, a região se tornou uma das mais produtivas do
mundo. No Brasil, o desbravamento do Centro-Oeste, no século XX, também foi
resultado da tecnologia. Os primeiros agricultores do cerrado perderam quase
todo o investimento porque suas sementes não vingavam no solo da região.
Johanna Döbereiner descobriu que bactérias poderiam ser utilizadas para
diminuir a necessidade de gastos com adubos químicos.
A descoberta permitiu a expansão de culturas subtropicais em direção ao
Equador.
(Adaptado
de Eduardo Salgado, “Tecnologia a serviço do desbravamento”. Veja, 29/09/2004,
p. 100.)
9)
Devido às pressões de fazendeiros do Meio-Oeste e de empresas do setor agrícola
que querem proteger o etanol norte-americano, produzido com base no milho, contra
a competição do álcool brasileiro à base de açúcar, os Estados Unidos impuseram
uma tarifa (US$ 0,14 por litro) que inviabiliza a importação do produto
brasileiro. E o fizeram mesmo que o etanol à base de açúcar brasileiro produza
oito vezes mais energia do que o combustível fóssil utilizado em sua produção,
enquanto o etanol de milho norte-americano só produz 130% mais energia do que
sua produção consome. Eles o fizeram mesmo que o etanol à base de açúcar reduza
mais as emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa do que o etanol de
milho. E o fizeram mesmo que o etanol à base de cana-de-açúcar pudesse
facilmente ser produzido nos países tropicais pobres da Africa e do Caribe e
talvez ajudar a reduzir sua pobreza.
(Adaptado
de Thomas Friedman, “Tão burros quanto quisermos”. Folha de S. Paulo,
21/09/2006, p. B2.)
PROPOSTAS DE REDAÇÃO
Proposta
A
Leia
a coletânea e trabalhe sua dissertação a partir do seguinte recorte temático:
A
introdução de novas práticas agrícolas produz impactos de ordem social,
econômica, política e ambientaI, envolvendo conflitos de interesses de difícil
solução. Cabe a uma política agrícola consistente administrar esses conflitos,
propondo diretrizes que considerem o que plantar, onde, como e para que
plantar. Pensar sobre a geração de bioenergia é um desafio para a política
agrícola atual.
Instruções:
1)
Discuta o que significa destinar a produção agrícola brasileira para a geração
de bioenergia.
2)
Trabalhe seus argumentos no sentido de apontar os impactos positivos, negativos
e os impasses dessa destinação.
3)
Explore tais argumentos de modo a justificar seu ponto de vista.
Proposta
B
Leia
a coletânea e trabalhe sua narração a partir do seguinte recorte temático:
As
práticas agrícolas podem ser alteradas pela introdução de novas tecnologias,
pela redefinição de culturas agrícolas, pela mudança na destinação dos
plantios, pelas modificações na organização do trabalho. Tais alterações deixam
marcas profundas na paisagem física e humana das regiões do país.
Instruções:
1)
Crie um(a) personagem que viveu um processo de transformação na agricultura de
alguma região do Brasil.
2)
Narre as conseqüências desse processo de transformação na vida do(a) personagem
e descreva o cenário rural onde ocorreu.
3)
Sua história pode ser narrada em primeira ou terceira pessoa.
Proposta
C
Leia
a coletânea e trabalhe sua carta a partir do seguinte recorte temático:
A
relação da agricultura com o comércio internacional está marcada por barreiras
tarifárias, sanitárias, ambientais, que demandam constantes negociações entre os
produtores
agrícolas e o Estado.
Instruções:
1)
Escolha um produto agrícola brasileiro de exportação ou seu derivado.
2)
Argumente, a partir do ponto de vista de um produtor, contra uma barreira
internacional imposta a esse produto.
3)
Dirija sua carta a uma associação representativa do setor, solicitando medidas
efetivas.
OBS.:
Ao assinar a carta, use apenas suas iniciais, de modo a não se identificar
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Temas
de redação – Unicamp – 1998
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