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segunda-feira, 12 de março de 2012

Cassiano Ricardo

CASSIANO RICARDO

– Nasceu em São José dos Campos, SP, em 1895, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1974.
– Formado em Direito, foi poeta, jornalista e ensaísta.
– Representante da primeira geração do Modernismo brasileiro, fez parte dos grupos modernistas “Verde-Amarelo” e “Anta”. Fundou depois o movimento “A Bandeira”, que se contrapunha ao Integralismo.
– Membro da Academia Brasileira de Letras, eleito em 1937.
– Ligado inicialmente ao Parnasianismo-Simbolismo, logo aderiu ao movimento modernista.
 Obra nacionalista e lírica até o início dos anos 40.
– A partir da década de 40, renova sua literatura, produzindo obras de caráter introspectivo-filósofico.
 Enveredou pela poesia experimental e de vanguarda, participando do movimento concretista.


Depois de tudo

Mas tudo passou tão depressa
Não consigo dormir agora.
Nunca o silêncio gritou tanto
Nas ruas da minha memória.
Como agarrar líquido o tempo
Que pelos vãos dos dedos flui?
Meu coração é hoje um pássaro
Pousado na árvore que eu fui.

(Cassiano Ricardo)



Ficaram-me as penas

O pássaro fugiu, ficaram-me as penas
da sua asa, nas mãos encantadas.
Mas, que é a vida, afinal? Um voo, apenas.
Uma lembrança e outros pequenos nadas.

Passou o vento mau, entre açucenas,
deixou-me só corolas arrancadas...
Despedem-se de mim glórias terrenas.
Fica-me aos pés a poeira das estradas.

A água correu veloz, fica-me a espuma.
Só o tempo não me deixa coisa alguma
até que da própria alma me despoje!

Desfolhados os últimos segredos,
quero agarrar a vida, que me foge,
vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos.

(Cassiano Ricardo)


Desejo

As coisas que não conseguem morrer
Só por isso são chamadas eternas.
As estrelas, dolorosas lanternas
Que não sabem o que é deixar de ser.

Ó força incognoscível que governas
O meu querer, como o meu não-querer.
Quisera estar entre as simples luzernas
Que morrem no primeiro entardecer.

Ser deus — e não as coisas mais ditosas
Quanto mais breves, como são as rosas
É não sonhar, é nada mais obter.

Ó alegria dourada de o não ser
Entre as coisas que são, e as nebulosas,
Que não conseguiu dormir nem morrer.

(Cassiano Ricardo)

É tarde, é muito tarde

II

"Table for one". Jack Vettriano.
Gastei o meu futuro
em coisas que não fiz.

A tarde é quase humana
quando em mim pousa. A tarde
atrozmente enfeitada
de cores, ainda arde;
porém, já não me engana.
É tarde. É muito tarde.

Só haveria um remédio.
Era o de ter prestado
mais atenção à vida.
Era eu ter consultado
mais vezes o relógio
Era o eu ter querido
mais a ti do que quis.

Mas gastei meu futuro
em coisas que não fiz.
É tarde. É muito tarde.

(Cassiano Ricardo)

A rua

Bem sei que, muitas vezes,
O único remédio
É adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
A dívida, o divertimento,
O pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
De continuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
Numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
Esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.

A esperança
Nunca é a forma burguesa, sentada e tranquila da espera.
Nunca é figura de mulher
Do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.

(Cassiano Ricardo)

Poética

[1]

Que é a Poesia?
             Uma ilha
             Cercada
De palavras
             Por todos
             Os lados.

[2]

Que é o Poeta?
                    Um homem
Que trabalha o poema
Com o suor do seu rosto.
                    Um homem
               Que tem fome
Como qualquer outro
                    Homem.

(Cassiano Ricardo)


Canção para poder viver

Dou-lhe tudo do que como,
e ela me exige o último gomo.

Dou-lhe a roupa com que me visto
e ela me interroga: só isto?

Se ela se fere num espinho,
O meu sangue é que é o seu vinho.

Se ela tem sede eu é que choro,
no deserto, para lhe dar água:

E ela mata a sua sede,
já no copo de minha mágoa

Dou-lhe o meu canto louco; faço
um pouco mais do que ser louco.

E ela me exige bis, "ao palco"!

(Cassiano Ricardo)


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Pedro Kilkerry - Poemas
"A viajante" - Rubem Braga
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Um comentário:

  1. Estava lendo um livro de português e contemplei um poema do Cassiano Ricardo . Como os poemas dele são existencialistas profundos. Me remeteu a lembranças do Fernando Pessoa.

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