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sexta-feira, 29 de junho de 2012

Fagundes Varela

Fagundes Varela

- Nasceu em Rio Claro (RJ), em 1841, e faleceu em Niterói (RJ), em 1875.
- É o patrono da cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras.
- Cursou Direito em São Paulo e em Recife, sem, no entanto, concluir o curso.
- Pertenceu à segunda geração do Romantismo brasileiro, chamada de geração ultrarromântica, ou ainda geração mal do século, embora em sua poesia já apareçam muitos elementos da terceira geração, caracterizada pela poesia social, sendo por isso considerado por alguns críticos como um poeta de transição entre as duas gerações.
- Poeta que levou uma vida boêmia e desregrada, vindo a falecer aos 34 anos de idade.
- Entre seus temas favoritos figuram a angústia, a solidão, a melancolia, a saudade da pátria, a infância, a abolição da escravatura, a religiosidade.
- Seu poema mais famoso é “O Cântico do Calvário”, feito em homenagem ao filho que morreu com apenas três meses.


"Pensava em ti nas horas de tristeza,
Quando estes versos pálidos compus,
Cercavam-me planícies sem beleza,
Pesava-me na fronte um céu sem luz.

Ergue este ramo solto no caminho.
Sei que em teu seio asilo encontrará.
Só tu conheces o secreto espinho
Que dentro d’alma me pungindo está."


(Fagundes Varela)

Cântico do Calvário

À Memória de Meu Filho, morto a l l de Dezembro de 1863.

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!

(...)

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela,
E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!
Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minh'alma.


(Fagundes Varela)

SONETO - Desponta a estrela d’alva, a noite morre


Desponta a estrela d’alva, a noite morre.
Pulam no mato alígeros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.

Volúvel tribo a solidão percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo é luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flóreo bafo que o sertão perfuma!

Porém minh’alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
- Oh! mundo encantador, tu és medonho!

(Fagundes Varela)


"Night". 1903. Edward Okun.
Juvenília VII

Ah! quando face a face te contemplo,
E me queimo na luz de teu olhar,
E no mar de tua alma afogo a minha,
E escuto-te falar;

Quando bebo no teu hálito mais puro
Que o bafejo inefável das esferas,
E miro os róseos lábios que aviventam
Imortais primaveras,

Tenho medo de ti!... Sim, tenho medo
Porque pressinto as garras da loucura,
E me arrefeço aos gelos do ateísmo,
Soberba criatura!

Oh! eu te adoro como a noite
Por alto mar, sem luz, sem claridade,
Entre as refegas do tufão bravio
Vingando a imensidade!

Como adoro as florestas primitivas,
Que aos céus levantam perenais folhagens,
Onde se embalam nos coqueiros presas
As redes dos selvagens!

Como adoro os desertos e as tormentas,
O mistério do abismo e a paz dos ermos,
E a poeira de mundos que prateia
A abóbada sem termos! ...

Como tudo o que é vasto, eterno e belo;
Tudo o que traz de Deus o nome escrito!
Como a vida sem fim que além me espera
No seio do infinito.


(Fagundes Varela)

“Eu amo a noite quando deixa os montes
Bela, mas bela de um horror sublime,
E sobre a face dos desertos quedos
Seu régio selo de mistério imprime.”


(Fagundes Varela)


"A Maja vestida". Francisco Goya.
Estâncias

O que eu adoro em ti não são teus olhos,
Teus lindos olhos cheios de mistérios,
Por cujo brilho os homens deixariam
Da terra inteira o mais soberbo império.

O que eu adoro em ti não são teus lábios,
Onde perpétua juventude mora,
E encerram mais perfumes do que os vales
Por entre as pompas festivais da aurora.

O que eu adoro em ti não é teu rosto,
Perante o qual o mármor descorara,
E ao contemplar a esplêndida harmonia,
Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara.

O que eu adoro em ti não é teu colo,
Mais belo que o da esposa israelita,
Torre de graças, encantado asilo,
Aonde o gênio das paixões habita.

O que eu adoro em ti não são teus seios,
Alvas pombinhas que dormindo gemem,
E do indiscreto vôo duma abelha
Cheias de medo em seu abrigo tremem..

O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma,
Pura como o sorrir de uma criança,
Alheia ao mundo, alheia aos preconceitos,
Rica de crenças, rica de esperança.

São as palavras de bondade infinda
Que sabes murmurar aos que padecem,
Os carinhos ingênuos de teus olhos,
Onde celestes gozos transparecem!…

Um não sei quê de grande, imaculado,
Que faz-me estremecer quando tu falas,
E eleva-me o pensar além dos mundos,
Quando, abaixando as pálpebras, te calas,

E por isso em meus sonhos sempre vi-te
Entre nuvens de incenso em aras santas,
E das turbas solícitas no meio
Também contrito hei-te beijado as plantas.

E como és linda assim! Chamas divinas
Cercam-te as faces plácidas e belas;
Um longo manto pende-te dos ombros
Salpicado de nítidas estrelas!

Na doida pira de um amor terrestre
Pensei sagrar-te o coração demente…
Mas ao mirar-te, deslumbrou-me o raio…
Tinhas nos olhos o perdão somente!


(Fagundes Varela)


Soneto - Eu passava na vida errante e vago

Eu passava na vida errante e vago 

Elzbieta Brozek.
Como o nauta perdido em noite escura,
Mas tu te ergueste peregrina e pura
Como o cisne inspirado em manso lago,

Beijava a onda, num soluço mago,
Das moles plumas a brilhante alvura,
E a voz ungida de eternal doçura
Roçava as nuvens em divino afago.

Vi-te; e nas chamas de fervor profundo
A teus pés afoguei a mocidade
Esqueci de mim, de Deus, do mundo ! ...

Mas ai! Cedo Fugiste ! ... da saudade,
Hoje te imploro desse amor tão fundo
Uma idéia, uma queixa, uma saudade!


(Fagundes Varela)


www.veredasdalingua.blogspot.com.br

Leia também:
Caio Fernando Abreu - Fragmentos
“Os diferentes estilos” – Paulo Mendes Campos
“A disciplina do amor” – Lygia Fagundes Telles


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