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sábado, 30 de junho de 2012

Fatec 2006 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa

Fatec – Prova de Língua Portuguesa - 1º Semestre - 2006


Leia o texto, para responder às questões de números 43 a 45.

Enquanto um misto de tragédia e pantomima se desenrola aos nossos olhos atônitos, escrevo esta coluna meio ressabiada: como estará o Brasil quando ela for publicada, isto é, em dois dias? Estamos no meio de um vendaval desconcertante: numa mistura entre público e privado como nunca se viu, correntes inimagináveis de dinheiro sem origem ou destino declarados jorram sobre nós levando embora confiança, ética e ilusões.
O drama é que não somos arrastados por “forças ocultas” ou ventos inesperados. Devíamos ter sabido. Muitos sabiam e vários participaram – embora apontem o dedo uns para os outros feito meninos de colégio: “Foi ele, foi ele, eu não fiz nada, eu nem sabia de nada, ele fez muito pior”. Espetáculo deprimente, que desaloja de seu acomodamento até os mais crédulos.
Se mais bem informados, poderíamos ter optado diferentemente em várias eleições – mas nos entregamos a miragens sedutoras e idéias sem fundamento. Agimos como cidadãos assim como fazemos na vida: omissos por covardia ou fragilidade, por fugir da realidade que assume tantos disfarces. Deixamos de pegar nas mãos as rédeas da nossa condição de indivíduos ou de brasileiros, e isso pode não ter volta. Fica ali feito um fantasma pérfido: anos depois, salta da fresta, mostra a língua, faz careta, ri da nossa impotência. Não dá para voltar, nem sempre há como corrigir o que se fez de errado, ou que deixou de ser feito e causou graves mazelas.

(Lya Luft, É hora de agir. Veja, 27 de julho de 2005.)

Questão 43 - Quanto à organização das idéias no texto,

a) obedece à lógica de um texto de natureza jornalística, que tem o dever de informar sem expressar o ponto de vista do autor ou do jornal.
b) segue o modelo da crônica de costumes, com foco na percepção irônica da vida em sociedade.
c) observa o modelo clássico do texto literário, optando por tratar de temas universais em linguagem filosófica.
d) funda-se na relação entre apreciações de cunho pessoal e argumentos baseados em fatos.
e) centra-se na discussão da vida nacional, adotando o ponto de vista de observador que se abstém de expor avaliações.

Questão 44 - Assinale a alternativa em que o trecho do texto, reescrito, apresenta-se de acordo com os princípios de concordância e colocação pronominal da norma culta.

a) O drama é que “forças ocultas” ou ventos inesperados não o arrasta.
b) Sobre nós jorra dinheiro sem origem ou destino, em correntes que não se imaginam.
c) Escrevo essa coluna mais ressabiada, enquanto nossos olhos atônitos vê se desenrolar um misto de tragédia e pantomima.
d) Se desaloja até os mais crédulos de seu acomodamento, graças a esse espetáculo deprimente.
e) Poderia-se ter optado diferentemente, em várias eleições, se a população toda estivesse mais bem informado.

Questão 45 - Considere as orações em destaque e numeradas nos períodos abaixo.

Muitos sabiam e vários participaram – (I) embora apontem o dedo uns para os outros.
(II) Se mais bem informados, poderíamos ter optado diferentemente em várias eleições – (III) mas nos entregamos a miragens sedutoras e idéias sem fundamento.

Assinale a alternativa correta.

a) A oração (I) expressa condição e tem equivalente adequado em – mesmo apontando o dedo uns para os outros.
b) A oração (II) expressa modo e tem equivalente adequado em – a menos que fôssemos mais bem informados.
c) A oração (III) expressa conseqüência e tem equivalente adequado em –  entretanto nos entregamos a miragens sedutoras e idéias sem fundamento.
d) As orações (I) e (III) são sintaticamente equivalentes, e as conjunções que as introduzem podem ser corretamente substituídas por desde que.
e) As orações (II) e (III) expressam, respectivamente, condição e ressalva, e a (II) tem equivalente adequado em – caso fôssemos mais bem informados.

Leia o texto abaixo para responder às questões de números 46 a 48.

A velha Sinhá não sabia mesmo o que se passava com o seu marido. Fora ele sempre de muito gênio, de palavras duras, de poucos agrados. Agora, porém, mudara de maneira esquisita. Via-o vociferar, crescer a voz para tudo, até para os bichos, até para as árvores. Não podia ser velhice, a idade abrandava o coração dos homens. Pobre da Marta que o pai não podia ver que não viesse com palavras de magoar até as pedras. Por ela não, que era um resto de gente só esperando a morte. Mas não podia se conformar com a sorte de sua filha. O que teria ela de menos que as outras? Não era uma moça feia, não era uma moça de fazer vergonha. E no entanto nunca apareceu rapaz algum que se engraçasse dela. Era triste, lá isso era. Desde pequena via aquela menina quieta para um canto e pensava que aquilo fosse até vantagem. A sua comadre Adriana lhe chamava a atenção:
           – Comadre, esta menina precisa ter mais vida.
       Não fazia questão. Moça era para viver dentro de casa, dar-se a respeito. E Marta foi crescendo e não mudou de gênio. Botara na escola do Pilar, aprendeu a ler, tinha um bom talhe de letra, sabia fazer o seu bordado, tirar o seu molde, coser um vestido. E não havia rapaz que parasse para puxar uma conversa. Havia moças mais feias, mais sem jeito, casadas desde que se puseram em ponto de casamento. Estava com mais de trinta anos e agora aparecera-lhe aquele nervoso, uma vontade desesperada de chorar que lhe metia medo. Coitada da filha. E depois ainda por cima o pai nem podia olhar para ela. Vinha com gritos, com despropósitos, com implicâncias. O que sucederia à sua filha, por que Deus não lhe dera uma sina mais branda?, pensava assim a velha Sinhá enquanto na tenda o mestre José Amaro batia sola. Aquele ofício era doentio.

(José Lins do Rego, Fogo morto.)

Questão 46 - Considere os enunciados a respeito do fragmento:

I. As expectativas familiares de Sinhá frustram-se no momento em que percebe que o marido tem um gênio difícil.
II. A ausência de pretendente para se casar com Marta revela a Sinhá que ela não soubera educar sua filha.
III. A velha Sinhá se dá conta de que o marido vive uma crise cujas razões, porém, ela desconhece.
IV. A relação entre pai e filha, no momento das reflexões da velha Sinhá, está marcada pela violência verbal.
V. A velha Sinhá tem crises de choro ao perceber que sua família está se tornando desconhecida para ela.

São corretos os enunciados:

a) I, II e IV. b) II, IV e V. c) II e III. d) III e IV. e) I, III e V.

Questão 47 - Fogo morto, de José Lins do Rego, é um romance característico

a) do regionalismo romântico do século XIX, como se comprova pela descrição da personagem idealizada pelo sofrimento exagerado.
b) da ficção dos anos 30 e 40 do século XX, em que a observação do meio social não reduz o alcance da análise dos conflitos humanos.
c) da experimentação dos anos 20 do século XX, uma vez que o autor critica os valores da família burguesa e sua inadequação aos padrões culturais.
d) do regionalismo realista-naturalista de finais do século XIX, pois o comportamento das personagens é determinado pelo meio natural.
e) da prosa de vanguarda dos anos 60 do século XX.

Questão 48 - Substituindo-se os termos sublinhados em – Nunca apareceu rapaz nenhum que se engraçasse dela –, assinale  a alternativa na qual a regência nominal e/ou verbal se apresenta de acordo com a norma culta.

a) Nunca surgiu rapaz nenhum que com ela se encantasse.
b) Nunca soube de rapaz nenhum que se interessasse dela.
c) Nunca ouviu falar sobre rapaz nenhum que lhe admirasse.
d) Nunca a apresentaram rapaz nenhum que lhe amasse.
e) Nunca conheceu a rapaz algum que namorasse com ela.

GABARITO

43 – D   44 – B   45 – E  46 – D   47 – B  48 – A

www.veredasdalingua.blogspot.com.br



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