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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Virgínia Victorino – Poemas

Virgínia Victorino
"Dance me to the end of love". Jack Vettriano.
Êxtase

Não sofras mais, amor, não digas nada!
Vem comigo; eu te levo. A noite é densa
e agora a voz do mar ficou suspensa,
dolorida, vibrante, apaixonada!

Não tarda muito a luz da madrugada...
Vem comigo! Não penses! Não se pensa!
Vem à conquista da aventura imensa,
vê, como eu vou, feliz e deslumbrada!

Um grande sonho me enlouquece e invade!
Vem procurar comigo a Eternidade
esse país tão vago, tão distante...

Vem, que eu busco o palácio da quimera
lá, onde seja eterna a primavera,
e a voz divina das estrelas cante!

(Virgínia Victorino)

Apaixonadamente

Fui compondo estes versos, absorvida
no ritmo da minh´alma, sempre ansiosa,
para neles ficar, triste ou gloriosa,
uma existência inteira resumida.

Assim os fiz, pela paixão vencida,
— e, porque fui vencida, vitoriosa... —
nesta febre constante de ambiciosa,
mágoa e prazer de toda a minha vida!

Cada verso é uma pedra mais que eu ponho
Na catedral imensa do meu sonho,
... ria embora do Sonho toda a gente!

A vida humana, seja ou não tranquila,
profunda ou não, — só poderá senti-la
quem a sentir apaixonadamente.

(Virgínia Victorino)

Renúncia

Fui nova, mas fui triste... Só eu sei
Como passou por mim a mocidade...
Cantar era o dever da minha idade,
Devia ter cantado e não cantei...

Fui bela... Fui amada e desprezei...
Não quis beber o filtro da ansiedade.
Amar era o destino, a claridade...
Devia ter amado e não amei...

Ai de mim!... Nem saudades, nem desejos...
Nem cinzas mortas... Nem calor de beijos...
Eu nada soube, eu nada quis prender...

E o que me resta?! Uma amargura infinda...
Ver que é, para morrer, tão cedo ainda...
E que é tão tarde já, para viver!...

(Virgínia Victorino)

"Lover´s spat". Marcus Stone
Medo
 
Ouve o grande silêncio destas horas!
Há quanto tempo não dizemos nada...
Tens no sorriso uma expressão magoada,
tens lágrimas nos olhos, e não choras!

As tuas mãos nas minhas mãos demoras
numa eloquência muda, apaixonada...
Se o meu sombrio olhar de amargurada
procura o teu, sucumbes e descoras...
 
O momento mais triste de uma vida
é o momento fatal da despedida,
- Vê como o medo cresce em mim, latente...

Que assustadora, enorme sombra escura!
Eis afinal, amor, toda a tortura:
- vejo-te ainda, e já te sinto ausente!

(Virgínia Victorino)

Confissão

Quando às vezes me queixo, não é nada
pelas loucuras que tens feito. Não!
A gente não domina o coração,
antes por ele é sempre dominada...

Sei que ainda em teus olhos, disfarçada,
vibra a chama da última paixão!
Que falas da saudade e da ilusão
numa voz triste, lenta, perturbada!

Tu procuraste sempre em toda a parte
emoções raras, e eu não posso dar-te
mais do que um calmo, um grande amor sem fim!...

Viveste horas febris, horas serenas...
Não as lamento, não. Lamento apenas
as que tu não guardaste para mim!

(Virgínia Victorino)

Orgulho

És orgulhoso e altivo.Também eu.
Nem sei bem qual de nós o será mais.
As nossas duas forças são rivais.
Se é grande o teu poder, maior é o meu.

Tão alto anda este orgulho! Toca o céu.
Nem eu quebro, nem tu. Somos iguais.
Cremo-nos inimigos. Como tais,
nenhum de nós ainda se rendeu.

Ontem, quando nos vimos, frente a frente,
fingiste bem esse ar indiferente,
e eu, desdenhosa, ri sem descorar...

Mas que lágrimas devo àquele riso!
E quanto, quanto esforço foi preciso
para, na tua frente, não chorar!

(Virgínia Victorino)

Despeito

Digo o que noutro tempo não diria:
Foi tudo um grande sonho enganador.
Nego o passado, e juro que esse amor
só existiu na tua fantasia.

Sinto a volúpia da mentira. A dor
não transparece. Nego. Que alegria!
Fiz crer ao mundo inteiro, por magia,
que és de todos os homens o pior...

Nunca me entonteceu esse sorriso
e, vê lá tu! se tanto for preciso,
nego também as cartas que escrevi.

Quero humilhar-te, enfim! Mas não compreendo
porque me exalto e choro e te defendo,
se alguém, a não ser eu, diz mal de ti.

(Virgínia Victorino)

Diferentes

"Fala comigo, amor. Conta-me tudo:"
Assim dizia a tua linda carta.
As saudades que sofre quem se aparta!
E como eu sou feliz, porque me iludo!

Custou-me que partisses. E, contudo,
murmurei ao sabê-lo: "Pois que parta.
Se o cansei, também eu me sinto farta.
E, se mudar, então também eu mudo."

Foste... Escreves... São raras as verdades...
E contas-me sem sombra de saudades:
"Passeio... mato o tempo, assim... assim..."

Comigo quase o mesmo se está dando:
mas, em.vez de ser eu que o vou matando,
o tempo é que me vai matando a mim...

(Virgínia Victorino)

Horas

Tem cada hora uma decifração.
As horas falam e têm gestos, côres.
Na hora da manhã - vê que esplendores! -
É diferente a sua vibração.

Repara bem na hora dos amores.
É um coração com outro coração.
Tem a hora maior palpitação.
Tem vida, movimentos e langores.

É cada hora um livro, e cada qual
da sua forma o lê: ou bem ou mal.
- Horas que vão e que não voltam mais!

Para mim há só duas. Males... bens...
É a hora dourada em que tu vens,
e a hora dolorosa em que te vais.

(Virgínia Victorino)

Quando te vi

A manhã era clara, refulgente.
Uma manhã dourada. Tu passaste.
Abriu mais uma flor em cada haste.
Teve mais brilho o sol, fez-se mais quente.

E eu inundei-me dessa luz ardente.
Depois não sei mais nada. Olhei... Olhaste...
E nunca mais te vi. . . - Raro contraste! –
A madrugada transformou-se em poente.

Luz que nasceu e apenas cintilou!
Deixou-me triste assim que se apagou,
às vezes fecho os olhos; vejo-a ainda...

E há tanto sol dourando esses trigais!
Olhaste, olhei, fugiste... Ai, nunca mais,
nunca mais tive outra manhã tão linda!

(Virgínia Victorino)

Soneto

Pelo sagrado amor que vem de ti,
amor que eu amo com amor sagrado;
pelo Ideal descoberto e realizado,
- bendita seja a hora em que te vi!

Pelas malditas horas que vivi
no desejo de amor tão desejado;
pelas horas benditas. ao teu lado,
- bendita seja a hora em que nasci!

Pelo triunfo enorme; pelo encanto
que me trouxeste, é que eu bendigo tanto
a hora suave que te viu nascer...

Amor do meu amor! Amor tão forte,
que se um dia sentir a tua morte,
será bendita a hora em que eu morrer!

(Virgínia Victorino)

"A coroação de Inês de Castro". Lima de Freitas.
Eterno Amor

Pedro, o grande amoroso, o eterno amante,
Aos pés d’ Inês, sozinho e triste diz:
Fez-me Cruel o muito que te quis,
e acho ainda que não te quis bastante.

Não me viste morrer. Partiste adiante
nem me viste chorar; foste feliz.
Subiste ao céu – formosa flor de liz,
sempre tão perto, embora tão distante!

O leito que te dei não te merece.
Devia tê-lo feito de uma prece,
De saudades, de rendas, ou luar...

Vai-me esperando. – A expiação redime. –
tenho na vida a expiação dum crime.
– O Santíssimo crime de te amar.

(Virgínia Victorino)

www.veredasdalingua.blogspot.com.br

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"Tempo que foge!" - Ricardo Gondim
“Receita de Ano Novo” – Carlos Drummond de Andrade

"O grande clandestino" - Aníbal Machado


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