Temas de Redação
- 1ª Fase – Unicamp – 2003
- Escolha
do tema: Escolha
um dos três temas propostos para redação e assinale sua escolha no alto da
página de resposta.
Você
deve desenvolver o tema conforme o tipo de texto indicado, segundo as
instruções
que
se encontram na orientação dada ao tema escolhido.
- Coletânea
de textos: Os
textos que acompanham cada tema foram tirados de fontes diversas e apresentam
fatos, dados, opiniões e argumentos relacionados com o tema geral:
EVOLUÇÃO/PROGRESSO.
São
textos como aqueles a que você está exposto na sua vida diária de leitor de
jornais,
revistas
ou livros, e que você deve saber ler e comentar.
Leia
a coletânea e utilize-a segundo as instruções específicas dadas para o tema
escolhido. Se quiser, pode valer-se também de informações que julgar
importantes, mesmo que tenham sido incluídas nas propostas dos outros temas ou
nos enunciados das questões desta prova.
TEMA A:
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS A ESTE TEMA, SUA REDAÇÃO SERÁ
ANULADA.
A
palavra “evolução” tem sido usada em vários sentidos, especialmente de mudança
e de progresso, seja no campo da biologia, seja nas ciências humanas. Tendo em
mente esses diversos sentidos, e considerando a coletânea abaixo, escreva uma
dissertação em torno da seguinte afirmação do filósofo Bertrand Russel
(Unpopular Essays, 1959):
A
mudança é indubitável, mas o progresso é uma questão controversa.
1) Evolução significa um desenvolvimento ordenado. Podemos dizer, por exemplo, que
os automóveis modernos evoluíram a partir das carruagens. Frequentemente, os
cientistas usam palavras num sentido especial, mas quando falam de evolução de
climas, continentes, planetas ou estrelas, estão falando de desenvolvimento
ordenado. Na maioria dos livros científicos, entretanto, a palavra se refere à
evolução orgânica, ou seja, à teoria da evolução aplicada a seres vivos. Essa
teoria diz que as plantas e animais se modificaram geração após geração, e que ainda
estão se modificando hoje em dia. Uma vez que essa mudança tem-se prolongado através
das eras, tudo o que vive atualmente na Terra descende, com muitas alterações,
de outros seres que viveram há milhares e até milhões de anos atrás.
(Enciclopédia
Delta Universal, vol. 6, p. 3134.)
2) Quando se focalizou a língua, historicamente, no século XIX, as mudanças que
ela sofre através do tempo foram concebidas dentro da idéia geral de evolução.
A evolução, como sabemos, foi um conceito típico daquela época. Surgiu ele nas
ciências da natureza, e depois, por analogia, se estendeu às ciências do homem.
(...) Do ponto de vista das ciências do homem em geral, a plenitude era
entendida como o advento de um estado de civilização superior, e os povos eram
vistos como seguindo fases evolutivas até chegar a uma final, superior, que
seria o ápice de sua evolução.
(Mattoso
Câmara, 1977. Introdução às línguas indígenas brasileiras. Rio de Janeiro, Ao
Livro Técnico. p. 66.)
3) Progresso, portanto, não é um acidente, mas uma necessidade... É uma parte da
natureza.
(Herbert
Spencer, Social Statics, 1850, cap. 2, seção 4.)
4) Ator 1 – Com o passar dos séculos – o homem sempre foi muito lento – tendo
desgastado um quadrado de pedra e desenvolvido uma coisa que acabou chamando de
roda, o homem chegou, porém, a uma conclusão decepcionante – a roda só servia
para rodar. Portanto, deixemos claro que a roda não teve a menor importância na
História. Que interessa uma roda rodando? A idéia verdadeiramente genial foi a
de colocar uma carga em cima da roda e, na frente, puxando a carga, um homem
pobre. Pois uma coisa é definitiva: a maior conquista do homem foi outro homem.
O outro homem virou escravo e, durante séculos, foi usado como transporte
(liteira), ar refrigerado (abano), lavanderia, e até esgoto, carregando os
tonéis de cocô da gente fina.
(Millôr
Fernandes. A História é uma história. Porto Alegre, LP&M, 1978.)
5) Na história evolucionária, relativamente curta, documentada pelos restos
fósseis, o homem não aperfeiçoou seu equipamento hereditário através de
modificações corporais perceptíveis em seu esqueleto. Não obstante, pôde
ajustar-se a um número maior de ambientes do que qualquer outra criatura,
multiplicar-se infinitamente mais depressa do que qualquer parente próximo
entre os mamíferos superiores, e derrotar o urso polar, a lebre, o gavião, o
tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle do fogo e pela habilidade de
fazer roupas e casas, o homem pode viver, e vive e viceja, desde o Círculo
Ártico até o Equador. Nos trens e carros que constrói, pode superar a mais
rápida lebre ou avestruz. Nos aviões, pode subir mais alto que a águia, e, com
os telescópios, ver mais longe que o gavião. Com armas de fogo, pode derrubar animais
que nem o tigre ousa atacar. Mas fogo, roupas, casas, trens, aviões,
telescópios e revólveres não são, devemos repetir, parte do corpo do homem.
Pode colocá-los de lado à sua vontade. Eles não são herdados no sentido
biológico, mas o conhecimento necessário para sua produção
e uso é parte do nosso legado social, resultado de uma tradição acumulada por
muitas gerações, e transmitida, não pelo sangue, mas através da fala e da
escrita.
(Gordon
Childe.A evolução cultural do homem. Rio de Janeiro, Zahar, 1966. p. 39-40.)
6) O homem pode ser desculpado por sentir algum orgulho por ter subido, ainda que
não por seus próprios esforços, ao topo da escala orgânica; e o fato de ter
subido assim, em vez de ter sido primitivamente colocado lá, pode dar-lhe
esperanças de ter um destino ainda mais alto em um futuro distante.
(Charles
Darwin, A descendência do homem. www.gutenbergnet)
7) ... por causa de nossas ações, os ecossistemas do planeta estão visivelmente evoluindo
de formas não previstas pelos seres humanos. Algumas vezes, as mudanças parecem
pequenas. Tomemos o caso das rãs e das salamandras nas Ilhas Britânicas. Os
invernos estão mais quentes nessa região, devido a mudanças de clima causadas
pelos seres humanos. Isso significa que as lagoas onde aqueles animais se
reproduzem estão mais quentes. Assim, as salamandras (Triturus) começaram a se
acasalar mais cedo. Mas as rãs (Rana temporaria) não. De modo que a desova das
rãs está virando almoço das salamandras. É possível que as lagoas britânicas em
que há salamandras continuem por dezenas e dezenas de anos cada vez com menos
rãs. E então, um dia, o ecossistema da lagoa desmorona...
(Adaptado de Alanna Mitchell, “Bad Evolution”, The
Globe and Mail Saturday, 4/5/2002.)
8) Em que consiste, em última análise, o progresso social? No desenvolvimento do
melhor modo possível dos recursos havidos da natureza, da qual tiramos a
subsistência, e no apuro dos sentimentos altruísticos, que tornam a vida cada
vez mais suave, permitindo uma cordialidade maior entre os homens, uma
solidariedade mais perfeita, um interesse maior pela felicidade comum, um
horror crescente pelas injustiças e iniquidades...
(Manuel
Bonfim, A América Latina: Males de origem. Rio de Janeiro/Paris, H. Garnier,
s/d.)
TEMA
B
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS A ESTE TEMA, SUA REDAÇÃO SERÁ
ANULADA.
No
século XXII, um cientista resolve criar o “homem perfeito”. Para tanto,
desenvolve um “acelerador genético”, capaz de realizar em pouco tempo um
processo que supostamente duraria milênios. Aplica o engenho a um pequeno
número de cobaias humanas que, à idade propícia, são inseridas na sociedade,
para cumprirem seu “destino”. Dessas cobaias, uma suicidou-se, outra tornou-se
um criminoso, outra, presidente da república. A quarta é você, a quem cabe
atestar o êxito ou o fracasso do experimento.
Componha
uma narrativa em primeira pessoa que contenha
- ações
que justifiquem o desfecho das histórias de seus companheiros;
- um
desfecho inteiramente diferente para sua própria história.
TEMA C
ATENÇÃO:
SE VOCÊ NÃO SEGUIR AS INSTRUÇÕES RELATIVAS A ESTE TEMA, SUA REDAÇÃO SERÁ
ANULADA.
Periodicamente,
ao longo da história, pensadores têm afirmado que a humanidade chegou a um
ponto definitivo (o “fim da história”). O artigo abaixo, parcialmente adaptado,
que Denis Lerrer Rosenfield publicou no jornal Folha de S. Paulo em 28/06/2002,
de certo modo retoma essa afirmação.
A
POÇÃO MÁGICA
O
mundo mudou depois de 11 de setembro. A administração Bush, inicialmente
voltada para um fechamento dos EUA sobre si mesmos, cujo símbolo era o projeto
de escudo interbalístico, que protegeria essa nação de mísseis
intercontinentais, afirma-se agora claramente como imperial. Sua doutrina
militar sofreu uma alteração substancial. Doravante, a prioridade são ataques
preventivos, que eliminem os focos terroristas no mundo, ameaçando e atacando
os Estados que lhes dêem cobertura e, sobretudo, que tenham armas químicas e
biológicas. (...)
Talvez
o mundo, no futuro, mostre que o problema da democracia passa pela influência
que países, empresas, sindicatos e meios de comunicação venham a exercer sobre
a opinião pública americana – que pode, ela sim, mudar os rumos do império. Não
esqueçamos que a Guerra do Vietnã terminou devido à influência decisiva da
opinião pública americana sobre o centro de decisões políticas. Os países
deverão se organizar para atuar sobre a opinião pública americana.
Se
essa descrição dos fatos é verdadeira, nenhuma política futura poderá ser
baseada em um confronto direto com os EUA ou em um questionamento dos
princípios que regem essa nação. A autonomia, do ponto de vista econômico,
social, militar e político, pertence ao passado. Poderemos ter nostalgia dela,
mas seu adeus é definitivo. O que não significa, evidentemente, que tenhamos de
acatar tudo o que de lá vier; é imperativo reconhecer, porém, que a realidade
mudou e que embates radicais estão fadados ao fracasso.
Na
época do Império Romano, o general César ou os imperadores subsequentes não estavam
preocupados com o que se passava na Gália. Seus exércitos vitoriosos exerciam
uma superioridade inconteste. Era mais sensato negociar com eles do que
enfrentá-los. Se uma Gália moderna achar que pode deixar de honrar contratos,
burlar a democracia, fazer os outros de bobos, mudando seu discurso a cada dia
ou cada mês, sua política se tornará imediatamente inexequível.
Contudo,
se, mesmo assim, esse povo decidir eleger um Asterix, convém lembrar que foi
perdida para sempre a fórmula da poção mágica e suas últimas gotas se
evaporaram no tempo.
Escreva
uma carta, dirigida ao Editor do jornal, para ser publicada. Após identificar a tese
central do texto de Rosenfield,
a)
caso concorde com o ponto de vista do autor, apresente outros argumentos e
fatos que o reforcem;
b)
caso discorde do ponto de vista do autor, apresente argumentos e fatos que o
contradigam.
Para
realizar essa tarefa, além do texto anterior, considere também os que se
seguem:
- Ao
assinar a carta, use iniciais apenas, de forma a não se identificar.
1) Ao ver um cordeiro à beira do riacho, o lobo quis devorá-lo. Mas precisava de
uma boa razão. Apesar de estar na parte superior do rio, acusou-o de sujar a
água. O cordeiro se defendeu:
–
Como eu iria sujar a água, se ela está vindo daí de cima, onde tu estás?
–
Sim, mas no ano passado insultaste meu pai, replicou o lobo.
–
No ano passado, eu nem era nascido...
Mas
o lobo não se calou:
–
Podes defender-te quanto quiseres, que não deixarei de te devorar.
(Adaptado
de Esopo, Fábulas. Porto Alegre, LP&M.).
2) Então saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias,
de Gate, da altura de seis côvados e um palmo. (...) Todos os israelitas, vendo
aquele homem, fugiam diante dele (...). Davi disse a Saul: “... teu servo irá,
e pelejará contra ele”. (...) Davi meteu a mão no alforje, e tomou dali uma
pedra e com a funda lha atirou, e feriu o filisteu na testa, e ele caiu com o
rosto em terra. E assim prevaleceu Davi contra Golias, com uma funda e uma
pedra.
(Adaptado
de I Samuel, 17, 4-50.)
3) Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem
sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
(Karl
Marx, O 18 Brumário de Luís Bonaparte... Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977).
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
Temas de redação – Unicamp – 1998
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Temas de redação – Unicamp – 1998
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