João
de Deus – Poemas
Que não ... Que sim
– Elisa,
se eu fora rico,
Tão
rico,
Que
por essa linda mão,
Tão
linda,
Te
desse riqueza infinda,
Que
dirias então?
– Que
não.
– E
se eu fosse um grande, um nobre,
Tão
nobre,
Que
por essa linda mão,
Tão
linda,
Te
desse nobreza infinda,
Que
me dirias então?
– Que
não.
– E
se em vez de lira, espada,
Falada,
Eu
trouxesse, e por tua mão
Tão
linda,
Te
desse uma glória infinda,
Que
me dirias então?
– Que
não.
Se
rico, nobre e soldado,
C'roado,
Fosse
rei e por tua mão
Tão
linda,
Desse
a c'roa e terra infinda,
Que
me dirias então?
– Que
não.
Ai
! qu'esperanças !... sendo eu pobre,
Tão
pobre,
Só
rico d'alma !... se enfim,
Tão
linda,
Mão
pedisse... inveja infinda,
Que
me dirias a mim?
– Que
sim.
(João
de Deus)
Amo-te
Muito, Muito!
Amo-te
muito, muito!
Reluz-me o paraíso
Num teu olhar fortuito,
Num teu fugaz sorriso!
Quando em silêncio finges
Que um beijo foi furtado
E o rosto desmaiado
De cor-de-rosa tinges,
Dir-se-á que a rosa deve
Assim ficar com pejo
Quando a furtar-lhe um beijo
O zéfiro se atreve!
E às vezes que te assalta
Não sei que idem, jovem,
Que o rosto se te esmalta
De lágrimas que chovem;
Que fogo é que em ti lavra
E as forças te aniquila,
Que choras, mas tranquila,
E nem uma palavra?...
Oh! se essa mudez tua
É como a que eu conservo
Lá quando à noite observo
O que no céu flutua;
Ou quando à luz que adoro
Às horas do infinito,
Nas rochas de granito
Os braços cruzo e choro;
Amamo-nos! Não cabe
Em nossa pobre língua
O que a alma sente, à mingua
De voz... que só Deus sabe!
(João de Deus, in “Campo de Flores”)
Reluz-me o paraíso
Num teu olhar fortuito,
Num teu fugaz sorriso!
Quando em silêncio finges
Que um beijo foi furtado
E o rosto desmaiado
De cor-de-rosa tinges,
Dir-se-á que a rosa deve
Assim ficar com pejo
Quando a furtar-lhe um beijo
O zéfiro se atreve!
E às vezes que te assalta
Não sei que idem, jovem,
Que o rosto se te esmalta
De lágrimas que chovem;
Que fogo é que em ti lavra
E as forças te aniquila,
Que choras, mas tranquila,
E nem uma palavra?...
Oh! se essa mudez tua
É como a que eu conservo
Lá quando à noite observo
O que no céu flutua;
Ou quando à luz que adoro
Às horas do infinito,
Nas rochas de granito
Os braços cruzo e choro;
Amamo-nos! Não cabe
Em nossa pobre língua
O que a alma sente, à mingua
De voz... que só Deus sabe!
(João de Deus, in “Campo de Flores”)
A
Vida
A
vida é o dia de hoje,
A
vida é ai que mal soa,
A
vida é sombra que foge,
A
vida é nuvem que voa;
Que
se desfaz como a neve
E
como o fumo se esvai:
A
vida dura um momento,
Mais
leve que o pensamento,
A
vida leva-a o vento,
A
vida é folha que cai!
A
vida é flor na corrente,
A
vida é sopro suave,
A
vida é estrela cadente,
Voa
mais leve que a ave:
Nuvem
que o vento nos ares,
Onda
que o vento nos mares,
Uma
após outra lançou,
A
vida - pena caída
Da
asa da ave ferida
De
vale em vale impelida
A
vida o vento levou!
(João
de Deus, in “Rosa do mundo”)
Beatriz
Tu
és o cheiro que exala
Ao
ir-se abrindo uma flor!
Tu
és o colo que embala
Suas
primícias de amor!
Tu
és um beijo materno!
Tu
és um riso infantil,
Sol
entre as nuvens do Inverno,
Rosa
entre as flores de Abril.
Tu
és a flâmula azul
Que
atam à flecha do raio
As
tempestades do sul!
Tu
és a nuvem de Agosto,
Meu
alvo velo de lã!
Tu
és a luz do sol-posto!
Tu
és a luz da manhã!
Tu
és a tímida corsa
Que
mal se deixa avistar!
Tu
és a trança que a força
Do
vento leva no ar!
És
a pérola que salta
Do
níveo cálix da flor!
És
o aljôfar que esmalta
Virgíneas
rosas de amor!
És
a roseira que a custo
Levanta
as rosas do chão!
És
a vergôntea do arbusto,
Anjo
do meu coração!
Tu
és a água das fontes!
Tu
és a espuma do mar!
Tu
és o lírio dos montes!
Tu
és a hóstia do altar!...
És
o pimpolho, és o gomo,
És
um renovo de amor!
Tu
és o vedado pomo!...
Tu
és a minha Leonor!
Tu
és a Laura que eu amo,
E
a minha Tábua da Lei,
E
a pomba que trouxe o ramo,
E
a margarida que achei!
És
o lírio, és a bonina
Dos
vales do meu país!
És
a minha Catarina!
És
a minha Beatriz!
(João de Deus)
O céu
Pátria
ditosa e linda, e onde o mal
Desaparece
ao meigo olhar do Amor,
Que
entre os seres do Além é sempre igual,
No
mesmo anseio santo e superior!
Lá
não se vê traição e cada qual
Urde
ali sua auréola de esplendor,
Doce
Mansão de Paz, imaterial,
Onde
impera a bondade do Senhor!
Porto
de Salvação para quem crê
Nessa
Praia do Azul, que se antevê,
Pelo
poder da Fé, na provação;
País
dos Céus, aonde o pecador,
Depois
de bem sofrer aí a dor,
Vai
ali encontrar Consolação.
(João
de Deus)
Morrer
No
momento angustioso de morrer,
Nem
o pranto pungente por se ver
Um
ser amado em horas da partida!...
A
morte é um sono doce; basta crer
Na
Paz do Céu, na Terra apetecida,
Para
se achar o Amor, a Luz e a Vida,
Onde
há trégua à tristeza e ao padecer.
Venturosa
região do espaço Além,
Onde
brilha a Verdade e onde o Bem
É
o fanal reluzente que conduz;
Mansão
de claridade e pulcritude,
Onde
os bons, que adoraram a Virtude,
Gozam
do afeto extremo de Jesus.
(João
de Deus)
Bondade
Vê-se
a miséria desditosa
Perambulando
numa praça;
Sob
o seu manto de desgraça
Clama
o infortúnio abrasador.
Eis
que a Fortuna se lhe esconde;
E
passa o gozo, muito ao largo;
E
ela chora, ao gosto amargo,
O
seu destino, a sua dor.
Mas
eis que alguém a reconforta:
É
a bondade. Abre-lhe a porta;
E
a fada, à luz dessa manhã,
Diz-lhe,
a sorrir: – Tens frio e fome‘?
Pouco
te importe qual meu nome,
Chega-te
a mim: sou tua irmã.
(João
de Deus)
A
Fortuna
Anda
a Fortuna por uma praça,
Fala
à Ventura com riso irmão,
E
mais adiante topa a Desgraça,
E
altiva e rude lhe esconde a mão.
Vaidosa
e bela, dá preferência
Ao
torpe egoísmo acomodatício,
E
entre as virtudes, na existência,
Escolhe
sempre flores do vício.
E
assim prossegue na desmarcada
Carreira
louca do vão prazer,
Como
perdida, e já sepultada,
No
esquecimento do próprio ser.
Depois,
cansada e já comovida,
Quando
só pede luz e amor,
Acorre
a Morte por dar-lhe a Vida,
E
vem a Vida por dar-lhe a Dor.
(João
de Deus)
Além
Além
da sepultura, a nova aurora
Luminosa
e divina se levanta;
Lá
palpita a beleza onde a alma canta,
À
luz do amor que vibra e revigora.
Ó
corações que a lágrima devora,
Prisioneiros
da dor que fere e espanta,
Tende
na vossa fé a bíblia santa,
E
em vossa luta o bem de cada hora.
Além
da morte, a vida tumultua,
O
trabalho divino continua...
Vida
e morte – exultai ao bendizê-las
Esperai
nos tormentos mais profundos,
Que
a este mundo sucedem-se outros mundos,
E
às estrelas sucedem-se as estrelas!
(João
de Deus)
Distribuía
o Mestre os dons divinos
Da
luz do seu Espírito sem jaça,
E
exclama, enquanto a turba observa e passa:
–
“Deixai virem a mim os pequeninos!...”
E
que na alma sincera dos meninos
Há
uma luz de ternura, amor e graça,
De
que o Senhor da Paz quer que se faça
O
sol da nova estrada dos destinos.
Vós,
que tendes a fé que ama e consola,
Fazei
do vosso lar a grande escola
De
justiça, de amor e de humildade!
As
conquistas morais são toda a glória
Que
a alma busca na vida transitória,
Pelos
caminhos da imortalidade.
(João
de Deus)
www.veredasdalingua.blogspot.com.br
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