FUVEST 2009 – 1ª FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
ps. Foi mantida a numeração original da prova.Observe a charge para responder às questões 10 e 11.
10
– A crítica contida na charge visa,
principalmente, ao
a)
ato de reivindicar a posse de um bem, o qual, no entanto, já pertence ao
Brasil.
b)
desejo obsessivo de conservação da natureza brasileira.
c)
lançamento da campanha de preservação da floresta amazônica.
d)
uso de slogan semelhante ao da campanha
“O petróleo é nosso”.
e)
descompasso entre a reivindicação de posse e o tratamento dado à floresta.
11
– O pressuposto da frase escrita no cartaz que compõe a charge é o de que a
Amazônia está ameaçada de
a)
fragmentação.
b)
estatização.
c)
descentralização.
d)
internacionalização.
e)
partidarização.
Texto
para as questões de 12 a 14
Eu
amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por
mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto
e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos
sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque
soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une,
nivela e agremia o amor da rua. É este
mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria
vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o
ódio, o egoísmo.
Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia. Os séculos passam, deslizam,
levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado
das gerações cada vez maior, o amor da rua.
(João
do Rio. A alma encantadora das ruas.)
12
– Em “nas cidades, nas aldeias, nos povoados”, “hoje é mais amargo o
riso, mais dolorosa a ironia” e “levando as coisas fúteis e os
acontecimentos notáveis”, ocorrem, respectivamente, os seguintes recursos expressivos:
a)
eufemismo, antítese, metonímia.
b)
hipérbole, gradação, eufemismo.
c)
metáfora, hipérbole, inversão.
d)
gradação, inversão, antítese.
e)
metonímia, hipérbole, metáfora.
13
– No texto, observa-se que o narrador se
a)
equipara ao leitor, por meio de sentimentos diversos como o amor, o ódio e o
egoísmo.
b)
distancia do leitor, porque o amor à rua, assim como o ódio e o egoísmo, é
passageiro.
c)
identifica com o leitor, por meio de um sentimento perene, que é o amor à rua.
d)
aproxima do leitor, por meio de sentimentos duradouros como o amor à rua e o
ódio à polícia.
e)
afasta do leitor, porque, ao contrário deste, valoriza as coisas fúteis.
14
– Prefixos que têm o mesmo sentido ocorrem nas seguintes palavras do texto:
a)
íntima / agremia.
b)
resiste / deslizam.
c)
desprazeres / indissolúvel.
d)
imperturbável / transforma.
e)
revelado / persiste.
Texto para as questões 15 e 16
Artistas, costureiras, soldadores e
desenhistas manejam ferro, madeira, isopor e tecido. No galpão do boi Garantido,
o do coração vermelho, todos se esmeram (nunca usam o verbo caprichar) para
preparar um espetáculo que supere o do rival. No ano passado, foi o Caprichoso,
o da estrela azul, o ganhador da disputa de bois-bumbá do famoso Festival de
Parintins, que todo final de junho atrai cerca de cem mil pessoas para a doce
ilha situada na margem direita do rio Amazonas. No curral da torcida caprichosa,
“alegoristas”, passistas e percussionistas preferem não dizer que uma nova
vitória está garantida. Dizem, sim, com todas as letras, que está assegurada.
(Fernanda
Pompeu. Caprichada e garantida.)
15
– As marcas lingüísticas e o modo de organização do discurso que caracterizam o
texto são, respectivamente,
a)
verbos no presente e no passado; descritivo-narrativo.
b)
substantivos e adjetivos; descritivo-dissertativo.
c)
substantivos; narrativo-dissertativo.
d)
frases nominais; apenas narrativo.
e)
adjetivos substantivados; apenas descritivo.
16
– De acordo com o texto, a escolha das palavras “esmeram” (linha 3) e
“assegurada” (linha 13) é motivada pelo
a)
despreparo dos habitantes de Parintins.
b)
antagonismo entre os dois grupos.
c)
desejo de falar difícil.
d)
entrosamento entre as duas equipes.
e)
sentido irônico contido nesses dois termos.
Texto
para as questões de 17 a 20
Vestindo
água, só saído o cimo do pescoço, o burrinho tinha de se enqueixar para o alto,
a salvar também de fora o focinho. Uma peitada. Outro tacar de patas. Chu-áa! Chu-áa... — ruge o rio, como chuva
deitada no chão. Nenhuma pressa! Outra remada, vagarosa. No fim de tudo, tem o
pátio, com os cochos, muito milho, na Fazenda; e depois o pasto: sombra, capim
e sossego... Nenhuma pressa. Aqui, por ora, este poço doido, que barulha como
um fogo, e faz medo, não é novo: tudo é ruim e uma só coisa, no caminho: como
os homens e os seus modos, costumeira confusão. É só fechar os olhos. Como
sempre. Outra passada, na massa fria. E ir sem afã, à voga surda, amigo da
água, bem com o escuro, filho do fundo, poupando forças para o fim. Nada mais,
nada de
graça; nem um arranco, fora de hora. Assim.
(João
Guimarães Rosa. O burrinho pedrês, Sagarana)
17
– Em trecho anterior do mesmo conto, o narrador chama Sete-de-Ouros de “sábio”.
No excerto, a sabedoria do burrinho consiste, principalmente, em
a)
procurar adaptar-se o melhor possível às forças adversas, que busca utilizar em
benefício próprio.
b)
firmar um pacto com as potências mágicas que se ocultam atrás das aparências do
mundo natural.
c)
combater frontalmente e sem concessões as atitudes dos homens, que considera
confusas e desarrazoadas.
d)
ignorar os perigos que o mundo apresenta, agindo como se eles não existissem.
e)
escolher a inação e a inércia, confiando inteiramente seu destino às forças do
puro acaso e da sorte.
18
– Quando nos apresentam os homens vistos pelos olhos dos animais, as narrativas
em que aparecem o burrinho pedrês, do conto homônimo (Sagarana), os bois de
“Conversa de bois” (Sagarana) e a cachorra Baleia (Vidas secas) produzem um
efeito de
a)
indignação, uma vez que cada um desses animais é morto por algozes humanos.
b)
infantilização, uma vez que esses animais pensantes são exclusivos da
literatura infantil.
c)
maravilhamento, na medida em que os respectivos narradores servem-se de
sortilégios e de magia para penetrar na mente desses animais.
d)
estranhamento, pois nos fazem enxergar de um ponto de vista inusitado o que
antes parecia natural e familiar.
e)
inverossimilhança, pois não conseguem dar credibilidade a esses animais dotados
de interioridade.
19
– No conto de Guimarães Rosa a que pertence o excerto, a presença de um animal
que é “sábio” e forma juízos supõe uma concepção da natureza
a)
contrária àquela que é expressa pelo Anjo, no Auto da barca do inferno.
b)
idêntica à de Jacinto (A cidade e as serras), que se converte ao culto da
natureza virgem e intocável, quando escolhe a vida rural.
c)
contrária à que, predominantemente, se afirma na poesia de Alberto Caeiro,
heterônimo de Fernando Pessoa.
d)
idêntica àquela que é exposta pelo autor de Vidas secas, no prefácio que
escreveu para o livro.
e)
semelhante à que se manifesta, sobretudo, nos capítulos finais de Memórias de
um sargento de milícias.
20
– Como exemplos da expressividade sonora presente neste excerto, podemos citar
a onomatopeia, em “Chu-áa! Chu-áa...”, e a fusão de onomatopéia com aliteração,
em
a)
“vestindo água”. b)
“ruge o rio”. c)
“poço doido”. d)
“filho do fundo”. e)
“fora de hora”.
Texto
para as questões de 21 a 23
Assim
se explicam a minha estada debaixo da janela de Capitu e a passagem de um
cavaleiro, um dandy, como então
dizíamos. Montava um belo cavalo alazão, firme na sela, rédea na mão esquerda,
a direita à cinta, botas de verniz, figura e postura esbeltas: a cara não me era
desconhecida. Tinham passado outros, e ainda outros viriam atrás; todos iam às
suas namoradas. Era uso do tempo namorar a cavalo. Relê Alencar: “Porque um estudante
(dizia um dos seus personagens de teatro de 1858) não pode estar sem estas duas
coisas, um cavalo e uma namorada”. Relê Álvares de Azevedo. Uma das suas poesias
é destinada a contar (1851) que residia em Catumbi, e, para ver a namorada no
Catete, alugara um cavalo por três mil-réis...
(Machado
de Assis. Dom Casmurro.)
21
– As formas verbais “Tinham passado” e “viriam” traduzem idéia,
respectivamente, de anterioridade e de posterioridade em relação ao fato expresso
pela palavra
a)
“explicam”. b)
“estada”. c)
“passagem”. d)
“dizíamos”. e)
“montava”.
22
– Com a frase “como então dizíamos”, o narrador tem por objetivo,
principalmente,
a)
comentar um uso lingüístico de época anterior ao presente da narração.
b)
criticar o uso de um estrangeirismo que caíra em desuso.
c)
marcar o uso da primeira pessoa do plural.
d)
registrar a passagem do cavaleiro diante da janela de Capitu.
e)
condenar o modo como se falava no passado.
23
– Considerando-se o excerto no contexto da obra a que pertence, pode-se afirmar
corretamente que as referências a Alencar e a Álvares de Azevedo revelam que,
em Dom Casmurro, Machado de Assis
a)
expôs, embora tardiamente, o seu nacionalismo literário e sua conseqüente
recusa de leituras estrangeiras.
b)
negou ao Romantismo a capacidade de referir-se à realidade, tendo em vista o
hábito romântico de tudo idealizar e exagerar.
c)
recusou, finalmente, o Realismo, para começar o retorno às tradições românticas
que irá caracterizar seus últimos romances.
d)
declarou que o passado não tem relação com o presente e que, portanto, os
escritores de outras épocas não mais merecem ser lidos.
e)
utilizou, como em outras obras suas, elementos do legado de seus predecessores
locais, alterando-lhes, entretanto, contexto e significado.
24
– Em um poema escrito em louvor de Iracema, Manuel Bandeira afirma que, ao
compor esse livro, Alencar “
"[...]
escreveu o que é mais poema
Que
romance, e poema menos
Que
um mito, melhor que Vênus.”
Segundo
Bandeira, em Iracema,
a)
Alencar parte da ficção literária em direção à narrativa mítica, dispensando
referências a coordenadas e personagens históricas.
b)
o caráter poemático dado ao texto predomina sobre a narrativa em prosa, sendo,
por sua vez, superado pela constituição de um mito literário.
c)
a mitologia tupi está para a mitologia clássica, predominante no texto, assim
como a prosa está para a poesia.
d)
ao fundir romance e poema, Alencar, involuntariamente, produziu uma lenda do
Ceará, superior à mitologia clássica.
e)
estabelece-se uma hierarquia de gêneros literários, na qual o termo superior,
ou dominante, é a prosa romanesca, e o termo inferior, o mito.
25
– Dos termos sublinhados nas frases abaixo, o único que está inadequado ao
contexto ocorre em:
a)
O mundo está na iminência de enfrentar o recrudescimento da fome devido à
escassez de alimentos.
b)
Para atender a todos os interessados no concurso, foi preciso dilatar o prazo
das inscrições.
c)
Ao fazer cópias de músicas e filmes pela internet, é preciso ter cuidado para
não infringir a lei.
d)
O município que se tornou símbolo da emigração brasileira para os EUA tenta se
adaptar ao movimento migratório inverso.
e)
A cobrança de juros excessivos, com o objetivo de aferir lucro exagerado,
desestimula o crescimento da produção.
GABARITO
10
– E 11 – D 12 – D 13 – C 14 – C 15 – A 16 – B 17 – A
18
– D 19 – C 20 – B 21 – C 22 – A 23 – E 24 – B 25 – E
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