ESPM – 2011 – 1º Semestre – Prova de Língua Portuguesa
Texto
para as questões de 61 a 64:
As
minhas traições
SOU
UM traidor. Sou um hipócrita. Não tenho defesa. Nem perdão. Mas guardar segredo
é pior que partilhá-lo. Partilho.
Imagine
o leitor: eu, num círculo de amigos literatos, discutindo as últimas novidades
da “rentrée”. Subitamente, alguém fala sobre o futuro do livro. E elogia as
qualidades do livro eletrônico.
É
nesse preciso momento que eu faço cara de nojo, limpo o suor da testa com meu
lenço de renda e disparo um “jamais!” que faz tremer o salão. O meu mundo é o
mundo de Gutenberg: o mundo arcaico do papel e da tinta, não de “pixels”,
“bits” e outras barbaridades linguísticas. Livro eletrônico? É como fazer amor
com uma boneca insuflável.
“Um
livro é um livro”, disparava eu, em conhecido clichê. Nada substitui o objeto
físico que transportamos, dobramos, sublinhamos. Tocamos. Cheiramos. Por vezes,
rasgamos ou queimamos. A ideia de ler um romance, uma biografia, um mero ensaio
em suporte eletrônico chegava para cobrir a minha costela conservadora de um
horror herético. Nem morto.
Mas
então aconteceu: uma oferta familiar em dia de aniversário. Bateram à porta.
Entregaram a encomenda. Era o famoso Kindle da Amazon, com capa de pele,
bonitinho. Perigosamente bonitinho. Farejei o bicho com desconfiança primitiva.
Cocei o crânio com pasmo neandertal e senti-me um dos macacos de Stanley
Kubrick, na sequência inicial de “2001 – Uma Odisseia no Espaço”.
Como
se um objeto estranho tivesse vindo diretamente do futuro. Por milagre não
quebrei o aparelho com a força das minhas ossadas. Um livro eletrônico era aquilo?
“Jamais, jamais”, gritava a minha pobre consciência.
Os
dias passaram. O objeto, a um canto, mendigava a minha atenção sempre que
passava por ele. “Jamais, jamais”, repetia ainda. E sempre com menor convicção.
Uma
tarde, aproximei-me. Tentei ignorá-lo, lendo ostensivamente as “Páginas Amarelas”.
O objeto soltou um suspiro de tristeza, quem sabe de abandono. E eu, com caridade
cristã, decidi dedicar-lhe dois minutos de atenção, não mais. Liguei o Kindle. Com
enfado, fui lendo as instruções. E, por cada página lida, a pergunta
mefistofélica: experimentar nunca fez mal a ninguém, certo? Experimentei. Diretamente
do site da Amazon, fui importando livros grátis. Os clássicos gregos. Os
clássicos romanos. Algum Maquiavel, algum Hobbes, algum Swift. Os pensamentos
dePascal. Uma edição completa das peças do bardo. Tudo a preço zero. Em 60
segundos, a Biblioteca de Alexandria viajava até minha casa. O meu entusiasmo
começava a ser perigoso. Embaraçoso. Numa tarde, descarregara 50 livros. Outros
50 vinham a caminho.
E,
pior, já começara a ler um: a autobiografia de Tony Blair, que comprei a preço
reduzido. Lia. Inacreditavelmente, sublinhava. Mais inacreditavelmente ainda,
escrevia notas. Aquilo não era um livro. Era melhor que um livro. Que foi mesmo
que eu disse?
Hoje,
levo uma vida dupla. Em público, passeio os meus grossos volumes da
“Enciclopédia Britânica”, em gesto de resistência ao mundo virtual. Finjo.
Quando me falam nas virtudes do Kindle, ou do e-book, as minhas gargalhadas são
jocosas, ofensivas, delirantes. Mas são também forçadas e encenadas: chego em
casa e chamo logo pelo meu Kindle como quem chama pelo gato. E ele vem, pronto
para miar centenas e centenas de obras-primas. Se um dia a casa arder e eu
estiver em estado delirante, o leitor já sabe o que significa “Salvem o gato!
Salvem o gato!”.
Moral
da história? A internet foi a primeira grande revolução da minha existência
literária. Mas o livro eletrônico será a segunda ao introduzir a mais importante
divisão intelectual da vida.
Haverá
sempre livros que desejarei ter; e “ter” no sentido tangível do verbo: como
objetos físicos, artísticos, existenciais. Nesse sentido, as livrarias
continuarão a ser os únicos templos laicos que frequento com religioso fervor. Mas
depois existirão os livros que quero ler. Simplesmente ler. Não amanhã, ou
depois, ou um dia qualquer. Mas hoje. Agora. Já. O sonho de qualquer leitor
curioso, insaciável, ditatorial.
Regresso
ao início: sou um traidor. E no dia em que os meus amigos literatos, cansados
de minhas mentiras, vierem buscar-me para a fogueira, nada peço em minha
defesa. Espero apenas que poupem o gato.
(João
Pereira Coutinho, Folha de S. Paulo, 05/10/2010)
rentrée:
em francês, regresso, retorno, reentrada.
herético:
relativo a ou que envolve heresia.
QUESTÃO
61 - A
traição ou a hipocrisia que o narrador assume no início do texto estão ligadas
ao fato de:
a)
guardar segredo de sua visão preconceituosa sobre o livro eletrônico.
b)
não revelar para
os amigos literatos
sua aversão ao “e-book”.
c)
substituir definitivamente o livro tradicional de papel pelo livro virtual.
d)
ter uma postura de herege ante o livro eletrônico, não reconhecendo as
qualidades deste.
e)
render-se, depois de tantas críticas e resistência, aos atrativos do “Kindle”.
QUESTÃO
62 - A
frase que expressa um conceito paradoxal é:
a)
“para cobrir a minha costela conservadora de um horror herético.”
b)
“Cocei o crânio com pasmo neandertal...”
c)
“Hoje, levo uma vida dupla.”
d)
“as livrarias continuarão a ser os únicos templos laicos que frequento com
religioso fervor.”
e)
“Espero apenas que poupem o meu gato.”
QUESTÃO
63 - Ao
longo do texto, o narrador se mostra avesso ao “Kindle” (livro eletrônico). O
fato que explica sua primeira alteração de postura transparece em:
a)
“mendigava minha atenção”
b)
“O objeto soltou um suspiro de tristeza”
c)
“com caridade cristã”
d)
“experimentar nunca fez mal a ninguém”
e) “Salvem o gato!”
QUESTÃO
64 - Sobre
a frase: “Um livro é um livro”, pode-se afirmar que é um exemplo de:
a)
preterição, por tratar de um assunto ao mesmo tempo que se afirma que será
evitado.
b)
aforismo, por se tratar de uma sentença breve e conceituosa, uma máxima.
c)
tautologia, pelo fato de sujeito e predicado serem expressos com o mesmo termo
e mesmo conceito.
d)
lugar-comum ou chavão, por expressar um argumento ou ideia já muito conhecida
ou repisada.
e)
pleonasmo vicioso, pelo fato de a frase expressar um conteúdo redundante.
Texto
para as questões de 65 a 70:
A
massacrante felicidade dos outros
(...) Anos
atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antonio Cícero,
uma música que dizia: “Eu espero / acontecimentos / só que quando anoitece / é
festa no outro apartamento”.
Passei
minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava
acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das
características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz
como os outros são - ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso
deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
As
festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada
por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam
muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas
aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos
estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora
não está tão animada assim.
Ao
amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima
nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e
também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra
se refugiar no escuro raramente são divulgados. Pra consumo externo, todos são
belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores. “Nunca conheci quem tivesse
levado porrada / todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
Fernando
Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época
em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há
hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta.
Nesta
era de exaltação de celebridades - reais e inventadas - fica difícil mesmo
achar que a vida da gente tem graça. Mas tem. Paz interior, amigos leais,
nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído
na nossa biografia. (...) Compensa passar a vida comendo alface para ter o
corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo
na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um
milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando
as unhas do pé?
Favor
não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista. As melhores
festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.
(MARTHA
MEDEIROS, jornalista e escritora, colunista do jornal "Zero Hora" e de "O Globo")
QUESTÃO
65 - Todas
as metáforas espaciais usadas no texto estão no mesmo plano semântico, exceto:
a)
“outros apartamentos” b)
“grama do vizinho”
c) “em algum lugar” d) “mesmo barco” e) “festa lá fora”
c) “em algum lugar” d) “mesmo barco” e) “festa lá fora”
QUESTÃO
66 - Os
versos de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa): “Nunca conheci quem
tivesse levado porrada / todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”
confirmam ironicamente:
a)
o sentimento de rejeição sofrido pelo indivíduo ante a felicidade contagiante
da sociedade.
b)
a imaginação fértil da maioria das pessoas em relação ao sucesso e felicidade
alheios.
c)
a comemoração, por toda a sociedade, do próprio êxito financeiro e amoroso.
d)
a exaltação do triunfo das pessoas ante as adversidades da vida.
e)
a ocultação, por parte do ser humano, de suas angústias, aflições ou fraquezas.
QUESTÃO
67 - As
frases interrogativas no penúltimo parágrafo são:
a)
parábolas que querem provocar no leitor uma reação mais vibrante em relação à
vida.
b)
perguntas retóricas que questionam os estereótipos vigentes relacionados à felicidade.
c)
alegorias que buscam uma postura mais crítica do leitor para os modelos de
felicidade.
d)
monólogos interiores que revelam as dúvidas da autora sobre a melhor forma de
felicidade.
e)
solilóquios que extravasam de maneira ordenada e lógica os pensamentos e
emoções da autora.
QUESTÃO
68 - “Favor
não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.” Levando em
conta o texto, o termo em destaque possui melhor definição em:
a)
que produz sensação intensa.
b)
que desperta viva admiração ou entusiasmo; espetacular; formidável.
c)
que há divulgação e exploração, em tom espalhafatoso, de matéria capaz de
emocionar ou escandalizar.
d)
que há surpresa ou grande impressão devida a um acontecimento raro, incomum.
e)
que produz fato de grande comoção moral; emocionante.
QUESTÃO
69 - No
texto, aquilo que pode ser considerado “falsos holofotes” são os(as):
a)
“amigos leais” b)
“nossas músicas” c)
“livros” d)
“paixões e fortunas” e)
“estes versos”
QUESTÃO
70 - O
texto todo faz alusão ao recorrente jogo entre ser e parecer praticado pela sociedade.
A passagem que não expressa diretamente esse enfoque é:
a)
“Passei minha adolescência com esta
sensação...”
b)
“é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias.”
c)
“Os notáveis alardeiam muito suas vitórias...”
d)
“Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos,
sedutores.”
e)
“Nesta era de exaltação de celebridades – reais ou imaginárias...”
QUESTÃO
71 - Assinale
a opção em que a manchete de jornal não apresenta duplo sentido.
a)
Envergonhado, Papa Bento 16 condena abusos de crianças nos EUA
a)
Golfo do México: barreira nos EUA não contém óleo que vazou
c)
Amiga de Eliza diz que o goleiro Bruno a ameaçou
d)
Rodízio completa 15 anos com efeito quase nulo sobre ar de SP
e)
Bolsa paulista tem pior dia em 6 semanas com pessimismo externo
QUESTÃO
72 - Hipálage,
segundo Massaud Moisés, “designa um expediente retórico próprio da poesia,
mediante o qual uma palavra troca o lugar que logicamente ocuparia na sequência
frásica por outro, junto de um termo ao qual se vincula gramaticalmente.” Em
todas as frases abaixo, ocorre essa figura de linguagem, exceto em uma.
Assinale-a:
a)
“uma alvura de saia moveu-se no escuro” (Eça de Queirós)
b)
“Mandados da rainha, que abundantes / Mesas de altos manjares excelentes” (Camões)
c)
“apetite necrófago da mosca” (Augusto dos Anjos)
d)
“o riscar dos fósforos espavoridos” (Clarice Lispector)
e)
“de um povo heroico o brado retumbante” (Osório Duque Estrada)
QUESTÃO
73
A
famosa frase em inglês da propaganda da NIKE, num sentido literal, significa
“Apenas faça”. Num sentido mais amplo, significa “Faça sem perguntar o porquê”.
A imagem acima pode ter várias leituras. Assinale a única descabida:
a)
Há um flagrante contraste entre um garoto, imagem da pobreza (magro, sem camisa
e descalço), e um dos mais famosos ícones de consumo do mundo capitalista.
b)
A imagem do garoto pode lembrar que nem todos possuem acesso aos bens de
consumo da sociedade capitalista.
c)
O comportamento do garoto, poderia ser entendido como atitude de desprezo, de
rebeldia ou de irreverência para com aquilo que é símbolo de culto ao esporte
ou até de “status” (uso da marca).
d)
A propaganda, por intenção irônica, mostra um garoto cumprindo em atitude
aquilo que a frase ordena em inglês.
e)
O cachorro, olhando para a cena, simboliza inequivocamente a humanidade animalizada,
apenas plateia do conflito pobreza e riqueza.
ps. A prova da ESPM é extremamente bem elaborada
e com adequado grau de dificuldade ao vestibulando. Ainda assim, cabe apontar
um deslize gramatical na alternativa C. Há uma vírgula indevida entre o sujeito
e o verbo. A versão original da prova foi mantida, mas convém mostrar a forma
exigida pela norma culta: “O comportamento do garoto poderia...”.
QUESTÃO
74
Epigrama
2
És
precária e veloz, Felicidade.
Custas
a vir e, quando vens, não te demoras.
Foste
tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e,
para te medir, se inventaram as horas.
Felicidade,
és coisa estranha e dolorosa:
Fizeste
para sempre a vida ficar triste:
Porque
um dia se vê que as horas todas passam,
e
um tempo despovoado e profundo persiste.
(Cecília
Meireles)
Assinale
a afirmação errônea sobre o poema:
a)
Ao dialogar com a figura da Felicidade, o “eu” poético personifica-a.
b)
A Felicidade é caracterizada por elementos paradoxais.
c)
As horas foram inventadas como tentativa de substituição da Felicidade.
d)
Constata-se que o tempo é tão fugaz quanto a Felicidade.
e)
A Felicidade acaba sendo responsável pelo vazio existencial.
QUESTÃO
75 - Se
as formas verbais (no Presente do Indicativo) dos dois primeiros versos exprimissem
ordem, na mesma pessoa, teríamos respectivamente:
a)
sê, custa, vem, não te demores.
b)
seja, custa, vem, não se demore.
c)
sede, custai, vinde, não vos demoreis.
d)
sê, custa, venha, não te demoras.
e)
sê, custe, vem, não te demore.
QUESTÃO
76 - Assinale
a frase que apresente o melhor uso das vírgulas:
a)
Com o desenvolvimento econômico a participação dos serviços sofisticados,
aumenta e, em consequência, a participação da indústria de transformação cai.
b)
Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados
aumenta, e em consequência, a participação da indústria de transformação cai.
c)
Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados
aumenta, e, em consequência, a participação da indústria de transformação cai.
d)
Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados
aumenta, e, em consequência a participação da indústria de transformação cai.
e)
Com o desenvolvimento econômico, a participação dos serviços sofisticados
aumenta e em consequência, a participação da indústria de transformação, cai.
QUESTÃO
77
QUESTÃO
DE PONTUAÇÃO
Todo
mundo aceita que ao homem
cabe
pontuar a própria vida:
que
viva em ponto de exclamação
(dizem:
tem alma dionisíaca)
viva
em ponto de interrogação
(foi
filosofia, ora é poesia)
viva
equilibrando-se entre vírgulas
e
sem pontuação (na política)
O
homem só não aceita do homem
que
use a só pontuação fatal:
que
use, na frase que ele vive
o
inevitável ponto final.
(João
Cabral de Melo Neto)
Assinale
a afirmação inaceitável sobre o poema:
a)
A exclamação estaria relacionada a uma vida exuberante, prazerosa, arrebatada.
b)
Há um questionamento existencial sob vários pontos de vista humanos.
c)
Numa suposta vida atribulada, o homem deve buscar equilíbrio nas pausas.
d)
Na política, sugere-se que não há normas, espécie de liberdade total para
mandos e desmandos.
e)
O “inevitável ponto final” é metáfora da morte, ideia com a qual o homem não se
conforma.
QUESTÃO
78
CAPÍTULO
IV / UM DEVER AMARÍSSIMO
José
Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não
as havendo, servir a prolongar as frases.
(Machado
de Assis, Dom Casmurro)
José
Dias, caracterizado como o homem dos superlativos, é uma paródia, uma
caricatura da expressão verbal pomposa e oca, da subliteratura dos salões. Sua
retórica exagerada configura um discurso redundante, reduto de clichês, lugares-comuns,
adjetivos e advérbios inexpressivos.
(Fernando
Teixeira).
Das
frases proferidas pela personagem, assinale a que NÃO necessariamente se
enquadra na definição acima:
a)
“Sua mãe é uma santa, seu tio é um cavalheiro perfeitíssimo.” (XXV)
b) “... e vale sempre entrar no mundo ungido
com os santos óleos da teologia...” (LXI)
c)
“A viagem à Europa é o que é preciso, mas pode fazer-se daqui a um ou dois
anos...” (LXI)
d)
“... que vai pedir para sua mãe terníssima e dulcíssima a dispensa de Deus.”
(XCV)
e)
“... uma grande alma, espírito ativo, coração reto, amigo, bom amigo, digno da
esposa amantíssima que Deus lhe dera...”
(CXXVI)
QUESTÃO
79 - No
título “Um Dever Amaríssimo”, o termo em destaque significa:
a)
amar demais b)
de amavios (sedução, feitiço, encanto)
c)
amoroso d)
muito amaro (amargo) e)
de amante
QUESTÃO
80
POEMA
EM LINHA RETA
Nunca
conheci quem tivesse levado porrada.
Todos
os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E
eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu
tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente
sujo,
Eu,
que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu
que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que
tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que
tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que
tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que
quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu,
que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu,
que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu
que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu,
que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para
fora da possibilidade do soco;
Eu
que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu
que verifico que não tenho par nisto neste mundo.
Toda
a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca
teve um ato ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca
foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
(...)
(in:
“Poemas”, Álvaro de Campos, heterônimo
de Fernando Pessoa)
Assinale
a afirmação que não condiz:
a)
Poema desabafo em que o “eu” poético alude ironicamente ao fato de que só ele
confessa seus “delitos”.
b)
Há uma oposição inicial entre o poeta, associado a qualidades negativas, e os
campeões, associados a virtudes.
c)
A metáfora do “soco” é uma referência à própria falta de coragem, à própria
covardia.
d)
Depreende-se do poema que o que vigora na sociedade é a hipocrisia, e que o
“eu” poético é julgado e marginalizado em função disso.
e)
Devido a sua “sujeira”, o “eu” poético se sente um plebeu ante o caráter
principesco dos outros.
GABARITO
61
– E 62 – D 63 – D
64 – C 65 – D 66 – E
67 – B 68 – C 69 – D
70 – A
71
– D 72 – E 73 – E
74 – C 75 – A 76 – C
77 – B 78 – C 79 – D
80 – E
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