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terça-feira, 11 de setembro de 2012

Texto: "Fita Verde no Cabelo" - Guimarães Rosa

Fita Verde no Cabelo (nova velha estória)

    Havia uma aldeia em algum lugar, nem maior nem menor, com velhos e velhas que velhavam, homens e mulheres que esperavam, e meninos e meninas que nasciam e cresciam. 
    Todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto. Aquela, um dia, saiu de lá, com uma fita inventada no cabelo.
   Sua mãe mandara-a, com um cesto e um pote, à avó, que a amava, a uma outra e quase igualzinha aldeia. 
   Fita-Verde partiu, sobre logo, ela a linda, tudo era uma vez. O pote continha um doce em calda, e o cesto estava vazio, que para buscar framboesas.
    Daí, que, indo, no atravessar o bosque, viu só os lenhadores, que por lá lenhavam; mas o lobo nenhum, desconhecido nem peludo. Pois os lenhadores tinham exterminado o lobo. 
   Então ela, mesma, era quem se dizia: 
   Vou à vovó, com cesto e pote, e a fita verde no cabelo, o tanto que a mamãe me mandou. 
   A aldeia e a casa esperando-a acolá, depois daquele moinho, que a gente pensa que vê, e das horas, que a gente não vê que não são. 
  E ela mesma resolveu escolher tomar este caminho de cá, louco e longo e não o outro, encurtoso. Saiu, atrás de suas asas ligeiras, sua sombra também vindo-lhe correndo, em pós. 
  Divertia-se com ver as avelãs do chão não voarem, com inalcançar essas borboletas nunca em buquê nem em botão, e com ignorar se cada uma em seu lugar as plebeinhas flores, princesinhas e incomuns, quando a gente tanto por elas passa. 
    Vinha sobejadamente. 
   Demorou, para dar com a avó em casa, que assim lhe respondeu, quando ela, toque, toque, bateu: 
      –  Quem é? 
     – Sou eu... - e FitaVerde descansou a voz.   Sou sua linda netinha, com cesto e com pote, com a fita verde no cabelo, que a mamãe me mandou. 
    Vai, a avó difícil, disse:   Puxa o ferrolho de pau da porta, entra e abre. Deus ate abençoe. 
    FitaVerde assim fez, e entrou e olhou.
   A avó estava na cama, rebuçada e só. Devia, para falar apagado e fraco e rouco, assim, de ter apanhado um ruim defluxo. 
   Dizendo:  
     –  Depõe o pote e o cesto na arca, e vem para perto de mim, enquanto é tempo. 
    Mas agora FitaVerde se espantava, além de entristecer-se de ver que perdera em caminho sua grande fita verde no cabelo atada; e estava suada, com enorme fome de almoço. Ela perguntou:
     Vovozinha, que braços tão magros, os  seus, e que mãos tão trementes! 
   – É porque não vou poder nunca mais te abraçar, minha neta....   a avó murmurou. 
     – Vovozinha, mas que lábios, aí, tão arroxeados. 
     – É porque não vou nunca mais poder te beijar, minha neta... - a avó suspirou.
    Vovozinha, e que olhos tão fundos e parados, nesse rosto encovado, pálido? 
   – É porque já não estou te vendo, nunca mais, minha netinha.... - a avó ainda gemeu.
   FitaVerde mais se assustou, como se fosse ter juízo pela primeira vez. Gritou:  Vovozinha, eu tenho medo do Lobo!...
    Mas a avó não estava  mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste e tão repentino corpo. 

(Guimarães Rosa)

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Affonso Romano de Sant´Anna – Poemas
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