Tema de Redação - UFG - 2006
Instruções
A prova de Redação apresenta três
propostas de construção textual. Para produzir o seu texto, você deve escolher
um dos gêneros indicados abaixo:
A – artigo de divulgação científica
B – crônica
C – carta aberta
O tema é único para os três gêneros
e deve ser desenvolvido segundo a proposta escolhida. Fuga do tema anula a
Redação.
A leitura da coletânea é obrigatória.
Ao utilizá-la, você não deve copiar trechos ou frases sem que essa transcrição
esteja a serviço do seu texto.
Independentemente do gênero
escolhido, o seu texto não deve ser assinado.
Tema:
Memória:
constitutiva do homem e formadora da identidade social
Coletânea
Uma memória coletiva se desenvolve a
partir de laços de convivência familiares, escolares, profissionais. [...] Que
interesse terão tais elementos para a geração atual? [...] Por muito que deva à
memória coletiva é o indivíduo que recorda. Ele é o memorizador e das camadas
do passado a que tem acesso pode reter objetos que são, para ele, e só para
ele, significativos dentro de um tesouro comum. [...] Se a memória da infância
e dos primeiros contatos com o mundo se aproxima, pela sua força e
espontaneidade, da pura evocação, a lembrança dos fatos públicos acusa, muitas
vezes, um pronunciado sabor de convenção. [...] Na memória política, os juízos
de valor intervêm com mais insistência. O sujeito não se contenta em narrar
como testemunha histórica “neutra”. Ele quer também julgar, marcando bem o lado
em que estava naquela altura da História, e reafirmando sua posição ou
matizando-a.
A memória dos acontecimentos
políticos suscita uma palavra presa à situação concreta do sujeito. O primeiro
passo para abordá-la, parece, portanto, ser aquele que leve em conta a localização
de classes e a profissão de quem está lembrando para compreender melhor a
formação do seu ponto de vista. [...] Há um modo de viver os fatos da História,
um modo de sofrê-los na carne que os torna indeléveis e os mistura com o
cotidiano, a tal ponto que já não seria fácil distinguir a memória histórica da
memória familiar e pessoal.
Bosi,
E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Edusp, 1987, p.
332-333, 371-385.
A campanha de salvamento de Abu
Simbel, alto Egito, foi fundamental para a consolidação do conceito de
patrimônio mundial, difundindo em todo o mundo a idéia de que a
responsabilidade pela preservação dos grandes monumentos – os tesouros do
patrimônio mundial – não toca apenas aos países onde eles se situam, mas sim a
todos os povos da terra, sem exceção.
PLANETA,
n. 395. São Paulo, ago. 2005, p. 45. [Adaptado]
[...] Já faz tempo eu vi você na rua
/ Cabelo ao vento, gente jovem reunida / Na parede da memória essa lembrança é
o quadro que dói mais / Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o
que fizemos / Ainda somos os mesmos e vivemos / Como nossos pais [...]
BELCHIOR.
Como nossos pais. Intérprete: REGINA, E. O mito. São Paulo: Universal Music,
1995. 1 CD. Faixa 3.

Gosto do passado. Década de 50. Numa
casa pobre, do bairro de Remédios, SP, crianças olham a chuva cair lá fora.
Irene é uma delas. Do fogão à lenha sobe o cheiro de alho frito. O aroma
perfuma a tarde. O avô de Irene faz miga, comida espanhola conhecida em
Portugal como sopa de pão. A tropa mirim se aquieta. [...] Era aniversário do
meu marido e eu estava servindo uma receita russa quando me lembrei da miga”,
conta a dona-de-casa Irene Cavallini, 61. Correu e incluiu a passagem no livro
“No vão da escada”, que publicou independentemente após fazer o curso “Resgatando
e escrevendo suas memórias”, do Colégio Santa Maria, SP. [...] “Resgatar a
própria história é um modo de se redescobrir e de registrar quem você é”, diz
Maria Aldina Galfo, professora do curso.
FOLHA
DE S. PAULO. São Paulo, 8 set. 2005, p. 8. Equilíbrio. [Adaptado].
Imagine se existisse uma pílula da
memória. Apenas um simples comprimido seria suficiente para não esquecermos
nunca mais a data de aniversário do avô ou todos os detalhes daquela viagem de
verão. Pois essa milagrosa invenção já está sendo desenvolvida por cientistas
da Universidade da Califórnia, que afirmaram à revista New Scientist que ela
poderia ser usada na recuperação de pessoas em estado de cansaço, no tratamento
de pacientes com Alzheimer e até mesmo para aumentar o desempenho de pessoas
saudáveis.
FOLHA
DE S. PAULO. São Paulo, 8 set. 2005, p. 6. Equilíbrio.
E se pudéssemos tomar um remédio que
nos ajudasse a esquecer? Uma notícia divulgada no final de julho na revista
científica Nature revelou que um grupo de psiquiatras nos EUA acredita que
drogas do tipo bloqueadores beta, utilizadas largamente para tratar
hipertensão, agem “apagando memórias ruins”, se administradas no momento certo.
[...] Conta o psiquiatra Frederico Graeff, da Faculdade de Medicina da USP de
Ribeirão Preto: “a droga não faz esquecer um trauma, o que pode fazer é barrar
um fluxo emocional excessivo, a pessoa não revive os sentimentos”. “O
bloqueador beta inibe a ação da adrenalina e sua ‘prima’ no cérebro, a
noradrenalina. Se você tem uma experiência emocionalmente estimulante, você vai
liberar essas substâncias no corpo e no cérebro, e elas têm o papel de
determinar o quão fortemente as memórias serão lembradas. O bloqueador beta barra
a ação delas e enfraquece as memórias”, detalha James Mc-Gaugh.
GALILEU.
São Paulo, set. 2005, n. 170, p. 37-38. [Adaptado].
Preservar a vida é o mais arraigado
dos instintos. Na evolução das espécies, a seleção natural cuidou de eliminar os
incapazes de defendê-la com unhas e dentes.
Os seres humanos não constituem
exceção, mas, pelo fato de sermos animais racionais, aceitamos determinados
limites para a duração da existência; mantê-la a qualquer custo não nos parece sensato.
A perda irreversível da memória configura uma dessas situações. Incapazes de
lembrar quem somos e de entender o que se passa a nossa volta, de que vale a
condição humana?
VARELLA,
D. A memória da velhice. Folha de S. Paulo. São Paulo, 3 set. 2005, p. E12.
Atualmente, é triste a constatação
de que há pouca gente sensível à manutenção de nossos monumentos, sensível à
arquitetura produzida por nossos antepassados nessa cidade. [...] Infelizmente,
atualmente o descaso com esse patrimônio vem se tornando prática comum: a regra
é pô-lo abaixo. O que torna tudo pior é que em seu lugar surgem invariavelmente
construções pioradas em todos os sentidos: estética, funcional ou
economicamente. A situação é mais dramática no Centro da cidade, região em que
os edifícios têm maior valor histórico e mesmo arquitetônico. Pois ali casas,
sobrados e edifícios são postos abaixo para dar lugar a construções
provisórias, barracões, puxados ou mesmo a meros estacionamentos.
UNES,
W. Identidade art déco de Goiânia. São Paulo: Ateliê Editorial; Goiânia:
Editora da UFG, 2001, p. 20-21. [Adaptado].
Se o mundo do futuro se abre para a
imaginação, mas não nos pertence mais, o mundo do passado é aquele no qual,
recorrendo a nossas lembranças, podemos buscar refúgio dentro de nós mesmos,
debruçar-nos sobre nós mesmos e nele reconstruir nossa identidade. [...] O
tempo da memória segue um caminho inverso ao do tempo real: quanto mais vivas
as lembranças que vêm à tona de nossas recordações, mais remoto é o tempo em
que os fatos ocorreram.
BOBBIO,
N. O tempo da memória. Rio de Janeiro: Campus, 1997. Contracapa.
(Tudo
é sombra de sombras, com certeza [...]
Vão-se
as datas e as letras eruditas / na pedra e na alma, sob etéreos ventos, / em
lúcidas venturas e desditas.
E
são todas as coisas uns momentos / de perdulária fantasmagoria, / – jogo de
fugas e aparecimentos).
Das
grotas de ouro à extrema escadaria, / por asas de memória e de saudade, / com o
pó do chão meu sonho confundia.
MEIRELES,
C. Romanceiro da Inconfidência. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p.40.
Propostas
de Redação
A –
ARTIGO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
O artigo de divulgação científica
traz, numa linguagem acessível ao grande público, reflexões a respeito de
determinado tema investigado por uma comunidade científica. Geralmente, as
opiniões de estudiosos e os resultados das investigações se complementam ou se
opõem. Esse gênero se constitui a partir de uma seleção de informações e
comentários relevantes para se ter uma visão geral acerca do tema. No texto,
predominam sequências expositivo-argumentativas.
Imagine que você seja um jornalista
de uma revista de divulgação científica e escreva um artigo a respeito das
concepções de memória social, política, biológica etc. No projeto
argumentativo, considere as relações entre essas diferentes perspectivas, o
papel que esses tipos de memória exercem na formação do homem e na constituição
da identidade de um povo.
B –
CRÔNICA
A crônica pode apresentar tanto
características de um texto literário quanto de um texto jornalístico.
Impressões a respeito de fatos ou de situações do cotidiano são recriadas em um
texto que objetiva divertir o leitor e/ou trazer uma análise crítica. Nesse
gênero, predominantemente narrativo-expositivo, o narrador pode ser
participante ou não da história.
Imagine que você tenha tomado uma
pílula recém-lançada no mercado e isso gerou consequências nas suas relações
sociais (na família, no trabalho, na vida afetiva etc), pois entre os efeitos
da pílula, que age na memória, podem estar a lembrança e/ou o esquecimento de
fatos e pessoas interessantes. A partir dessa situação, escreva uma crônica para
ser publicada em um jornal de circulação local, considerando que a perda ou a recuperação
da memória pode influenciar a construção de sua identidade.
C –
CARTA ABERTA
O gênero carta aberta manifesta
publicamente, via meios de comunicação de massa, a opinião de um grupo de
pessoas a respeito de um problema. A intenção é persuadir o interlocutor a
tomar consciência do problema e se mobilizar para solucioná-lo. O texto denuncia
e analisa os fatos, sugere e reivindica ações resolutivas. A construção da
imagem do interlocutor e estratégias de convencimento determinam a
predominância no texto de aspectos de natureza expositivo-argumentativa.
Em nome de uma organização
não-governamental, preocupada com a preservação da identidade individual e
coletiva, redija uma carta aberta ao ministro da Cultura, para ser publicada em
um jornal de circulação nacional, denunciando a perda progressiva da memória nacional,
traduzida na deterioração do patrimônio histórico e cultural do Brasil. Exponha
fatos que comprovem esse descaso, revelado em atitudes da população e dos
órgãos governamentais, reivindique e sugira medidas que possam conter esse
grave problema.
Conheça as apostilas de literatura do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
ATENÇÃO: Além das apostilas, o aluno recebe também, GRATUITAMENTE, o programa em Powerpoint: 500 TEMAS DE REDAÇÃO
![]() |
Leia também:
Temas de redação – Mackenzie – 1º semestre - 2010Temas de redação – Mackenzie – 1º semestre - 2009
Temas de redação – Mackenzie – 1º semestre - 2008
Temas de redação da FUVEST de 2009 a 2012
Temas de redação - Unicamp - 2010