Tema de Redação - UFG - 2003
Instruções
A redação
apresenta três propostas de construção textual. Você deve escolher uma das
modalidades discursivas, indicadas abaixo, para produzir o seu texto:
a) discurso dissertativo-argumentativo — para produzir um artigo de opinião.
b) discurso persuasivo — para redigir uma carta de
leitor.
c) discurso narrativo — para escrever um conto ou uma
crônica.
O tema é único
para as três modalidades.
Ele vem
acompanhado de uma coletânea que fornece informações, argumentos e
contra-argumentos para a defesa do seu ponto de vista. A coletânea tem o
objetivo de auxiliá-lo no seu projeto de construção textual. Por meio dela,
serão avaliadas sua capacidade de leitura e sua habilidade no tratamento das
informações apresentadas. Assim, a leitura da coletânea é obrigatória. Você não deve, simplesmente,
copiar frases ou parte delas, sem que essa transcrição esteja a serviço de seu projeto
de texto.
Se você optar
pela carta de leitor — discurso persuasivo —, não a assine.
Tema
Política de cotas para negros na universidade: Reparação de uma injustiça histórica praticada contra os negros no
Brasil e/ou manutenção das mesmas formas de discriminação racial?
Coletânea
1. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), do
Ministério do Planejamento, sob a coordenação do economista Ricardo Henriques,
fez um diagnóstico da desigualdade racial brasileira em todos os seus aspectos.
A pesquisa deve ser concluída no fim de 2002. Os resultados mostram que as leis
existentes de nada adiantam. Um trabalhador branco ganha, em média, R$ 573
mensais. O negro, R$ 262. Nos dados do Ipea, o branco passa mais tempo na
escola (6,3 anos) do que os negros (4,4 anos). Entre adultos de 25 anos, a
situação é a mesma: o negro estuda 6,1 anos e o branco 8,4. O Ipea concluiu
também que, se os negros tivessem a mesma escolaridade dos brancos, ainda assim
seus rendimentos seriam 30% menores, de R$ 407. A diferença é fruto da
discriminação no mercado de trabalho e nesse campo não houve avanços no último
século.
(ISTOÉ. São Paulo: Editora Três, 4 jul. 200l. p. 81.)
2. Por unanimidade, a Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ) aprovou nesta quarta-feira (17) substitutivo do senador
Sebastião Rocha (PDT-AP) favorável ao projeto de lei do senador José Sarney
(PMDB-AP) que institui cotas para negros e pardos em concursos públicos, nas
universidades e nos contratos de crédito educativo pelos próximos 50 anos.
[...] A proposta destina um mínimo de 20% das vagas nas universidades públicas
e privadas, nos concursos públicos e dos contratos do Fundo de Financiamento ao
Estudante de Ensino Superior (Fies) para pessoas que se declararem negras ou
pardas. Porém, o projeto determina que as cotas devem variar de estado para
estado, de acordo com a constituição étnica do estado onde o órgão público ou
instituição de ensino superior esteja localizado. Para não haver descompasso entre
o desempenho acadêmico de estudantes negros e os demais, o substitutivo
determina que as faculdades implantem sistemas de acompanhamento para que os
estudantes beneficiados pela proposta possam progredir no curso escolhido.
(Jornal da Mídia. Disponível em: www.jornaldamídia.com.br/notícias. Acesso em: 29
ago. 2002.)
3. Em tom professoral, o presidente Fernando Henrique Cardoso
disse ontem que o Brasil tem “contas a ajustar com o passado colonial e
escravocrata”. A declaração marcou as comemorações do Dia Mundial contra a
Discriminação Racial. Na solenidade, foram anunciadas quotas de 20 bolsas de
estudo por ano para o ingresso de negros no Instituto Rio
Branco, que prepara diplomatas brasileiros. Também foi criado o
conselho científico Palmares, que analisará assuntos tecnocientíficos ligados à
cultura afrobrasileira, e um grupo de trabalho destinado a analisar as antigas
áreas de quilombos. Os três programas fazem parte do chamado conjunto de “ações
afirmativas” do governo.
(Folha de S. Paulo, 22 mar. 2002. p. C-4.)
4. O governo brasileiro está pretendendo assumir posição
favorável, em encontros internacionais, ao estabelecimento de cotas para negros
nas universidades brasileiras. O ministro da Educação, Paulo Renato Souza,
afirmou: “Não me oponho às cotas”, ressalvando, no entanto: “O recurso,
sozinho, não resolverá o problema”. O problema a que se refere o ministro
é a necessária igualdade de oportunidades na hora da disputa por
vagas no ensino público universitário. Quando um outro sistema de cotas foi
anunciado, visando a destinar 50% das vagas nas universidades públicas a alunos
do ensino médio oficial, o ministro Paulo Renato manifestou-se contrário à
idéia porque a desigualdade na disputa pelas vagas no ensino superior é
anterior ao momento do vestibular. Um ensino básico e médio fraco é que provoca
a exclusão do candidato, deficiência que não seria removida, argumentava à
época o ministro da Educação, com qualquer tipo de “ação afirmativa”. A
situação não é diferente quando a origem do benefício é uma cota definida pela
cor do candidato.
(O Estado de S.Paulo. Disponível em: www.estadão.com.br/editoriais. Acesso em: 29 ago.
2002.)
5. [...] Hoje não é mais possível separar quem é patrão ou escravo
pela cor da pele. Somos todos “misturados”. Nossa maior dúvida é: será que
essas cotas não vão separar o que em meio milênio ainda não foi possível
homogeneizar? Será que não vamos formalizar uma forma de racismo que poderia
desaparecer se a escola pública fosse capaz de formar cidadãos na sua mais
perfeita concepção e os colocasse em condições de serem aprovados sem condições
especiais? A própria Constituição (artigo 5º) nos coloca em igualdade, por que
então iniciar a segregação? Imagine fazer a inscrição para o concurso com duas
filas — uma para negros e outra para brancos —, o início da separação. Como
seriam vistos os negros aprovados nesse concurso? Seriam vistos como
verdadeiramente capazes? Seriam marginalizados por terem sido beneficiados com
20 por cento das vagas? Pensando na infinidade de possíveis combinações dos
genes humanos para formar uma cadeia de DNA, qual seria a interpretação da lei
para irmãos de sangue, filhos de um casal em que um dos parceiros é negro e o
outro é branco, que nasceram de “cores” diferentes? O mais “escurinho” terá
direito a se inscrever entre os 20 por cento e o mais “clarinho” não terá? Como
ficará a situação dos “pardos”? Gostaríamos que um jurista ou um deputado ou um
senador nos iluminasse com o esclarecimento dessas dúvidas. Esperamos que essa
lei que separa “pessoas” não seja aprovada, para que, no futuro, nossos filhos “café
com leite” possam viver num país mais tolerante e livre de preconceitos.
Humberto Ferreira de Oliveira, estudante de Direito, e Margarete
do Valle Werneck, farmacêutica. (CarosAmigos. São Paulo: Casa Amarela, ago. 2002. p. 6. [carta].)
6. A discussão de políticas afirmativas para a população negra,
por exemplo, conta, entre seus adversários, com os melhores e mais renomados
cientistas sociais do país. Esses argumentam que tais políticas contrariam os
valores liberais (Reis, 1997) e ferem a inteligência nacional (DaMatta, 1997;
Fry, 2000). Para eles, a ideia de adotar tais políticas é equivocada e
simplista. Equivocada porque reforça identidades étnicas e raciais, que
reificam o racismo; simplista porque contraria a nossa tradição cultural. Os
intelectuais que defendem políticas antipobreza mais radicais, que levem em
conta a discriminação racial e de gênero, seriam, portanto, ou pouco refinados
para entender a complexidade da cultura brasileira, ou estariam contaminados
ideologicamente pelo seu envolvimento com o movimento negro. O que esse autores
ignoram ou omitem é que o povo brasileiro não rejeita políticas afirmativas,
inclusive em sua forma extrema de cotas, tal como sugerem. Quem as rejeita são
as classes médias e as elites, inclusive intelectuais. Em 1995, a já citada
pesquisa do DataFolha sobre racismo detectou que os mais pobres e os menos
escolarizados seriam favoráveis a tais políticas, posição que se inverte à
medida que se perscrutam as camadas mais educadas e mais favorecidas (Telles e
Bailey, 2001). Seria isso refinamento intelectual e cultural ou pura defesa de
privilégios de classe? (ver Tabela 3).
Tabela
3
OPINIÃO
DOS BRASILEIROS SOBRE COTAS, SEGUNDO CLASSES DE RENDA E GRUPOS DE COR
|
||||
Concordância
ou não com cotas
|
Por
cor
|
Por
classes de renda
|
Total
|
|
até 10 SM
|
11 ou + SM Total
|
|||
Brancos
|
||||
Concordam
|
46,7%
|
69,5%
|
30,5%
|
100,0%
|
Discordam
|
53,3%
|
51,5%
|
48,5%
|
100,0%
|
Negros
(pretos e pardos)
|
||||
Concordam
|
51,5%
|
80,3%
|
19,7%
|
100,0%
|
Discordam
|
48,5%
|
65,1%
|
34,9%
|
100,0%
|
Fonte:
DataFolha, 1995.
(GUIMARÃES, Antonio A. Guimarães. Classes, Raças e Democracia. São
Paulo: Editora 34. p. 71-72.)
Propostas de Redação
A – ARTIGO DE OPINIÃO — DISCURSO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO
Você leu textos
que apresentam argumentos favoráveis e contrários à política de cotas para
negros nas universidades brasileiras.
Como se trata de
uma questão controversa, a defesa de uma determinada posição seria o motivo
para a produção de um artigo de opinião a ser publicado num jornal ou revista.
Assim, você vai
elaborar um artigo de opinião, imaginando que esteja escrevendo para um meio de
comunicação impresso. Você terá, como interlocutores, os leitores desse veículo
de informação. Portanto, o seu artigo deve buscar, por meio da argumentação,
convencer os interlocutores a adotar determinada posição sobre uma idéia,
refutando possíveis opiniões divergentes.
B – CARTA DE LEITOR — DISCURSO PERSUASIVO
A carta de leitor
é um texto que circula no contexto jornalístico, atendendo a diversos
propósitos comunicativos: opinar, agradecer, reclamar, solicitar, elogiar,
criticar, convencer, entre outros.
Tendo em vista o
uso do discurso persuasivo e,
a) sendo leitor da revista Caros Amigos,você vai escrever uma carta
para Humberto Ferreira de Oliveira e Margarete do Valle Werneck, tentando
convencê-los de que a política de cotas para negros ingressarem nas
universidades realmente é uma forma de reparação histórica ou,
b) como leitor da Folha de S.Paulo, você vai escrever para Fernando Henrique Cardoso, visando a
convencê-lo de que a política de cotas é mais um meio de manutenção das formas
já existentes de discriminação racial.
C – CONTO OU CRÔNICA — DISCURSO NARRATIVO
O texto narrativo
envolve elementos, como personagem, tempo, espaço, ação, conflito e mudança de
estado (transformação), que se associam na configuração da narrativa.
Tendo em conta
essa explicação, redija um conto ou uma crônica em primeira pessoa. Seja por meio de um conto ou de
uma crônica, você deverá narrar a história de um estudante negro que ingressa
na universidade pública utilizando o sistema de cotas.
A origem social
do estudante, sua formação anterior, o curso escolhido, o relacionamento com os
colegas e com os professores, o desempenho nos estudos — tudo isso pode servir
de base para a construção do seu texto.
Além dessas
indicações, determine um conflito que esse estudante vai viver na instituição,
procurando contemplar as seguintes perguntas: qual foi a causa do conflito?
quais são suas conseqüências imediatas e futuras?
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