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quarta-feira, 30 de abril de 2014

Tema de Redação - UFG - 2003

Tema de Redação - UFG - 2003

Instruções

            A redação apresenta três propostas de construção textual. Você deve escolher uma das modalidades discursivas, indicadas abaixo, para produzir o seu texto:
            a) discurso dissertativo-argumentativo — para produzir um artigo de opinião.
            b) discurso persuasivo — para redigir uma carta de leitor.
            c) discurso narrativo — para escrever um conto ou uma crônica.
            O tema é único para as três modalidades.
            Ele vem acompanhado de uma coletânea que fornece informações, argumentos e contra-argumentos para a defesa do seu ponto de vista. A coletânea tem o objetivo de auxiliá-lo no seu projeto de construção textual. Por meio dela, serão avaliadas sua capacidade de leitura e sua habilidade no tratamento das informações apresentadas. Assim, a leitura da coletânea é obrigatória. Você não deve, simplesmente, copiar frases ou parte delas, sem que essa transcrição esteja a serviço de seu projeto de texto.
            Se você optar pela carta de leitor — discurso persuasivo —, não a assine.

Tema

Política de cotas para negros na universidade: Reparação de uma injustiça histórica praticada contra os negros no Brasil e/ou manutenção das mesmas formas de discriminação racial?

Coletânea

1. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), do Ministério do Planejamento, sob a coordenação do economista Ricardo Henriques, fez um diagnóstico da desigualdade racial brasileira em todos os seus aspectos. A pesquisa deve ser concluída no fim de 2002. Os resultados mostram que as leis existentes de nada adiantam. Um trabalhador branco ganha, em média, R$ 573 mensais. O negro, R$ 262. Nos dados do Ipea, o branco passa mais tempo na escola (6,3 anos) do que os negros (4,4 anos). Entre adultos de 25 anos, a situação é a mesma: o negro estuda 6,1 anos e o branco 8,4. O Ipea concluiu também que, se os negros tivessem a mesma escolaridade dos brancos, ainda assim seus rendimentos seriam 30% menores, de R$ 407. A diferença é fruto da discriminação no mercado de trabalho e nesse campo não houve avanços no último século.

(ISTOÉ. São Paulo: Editora Três, 4 jul. 200l. p. 81.)

2. Por unanimidade, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) aprovou nesta quarta-feira (17) substitutivo do senador Sebastião Rocha (PDT-AP) favorável ao projeto de lei do senador José Sarney (PMDB-AP) que institui cotas para negros e pardos em concursos públicos, nas universidades e nos contratos de crédito educativo pelos próximos 50 anos. [...] A proposta destina um mínimo de 20% das vagas nas universidades públicas e privadas, nos concursos públicos e dos contratos do Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior (Fies) para pessoas que se declararem negras ou pardas. Porém, o projeto determina que as cotas devem variar de estado para estado, de acordo com a constituição étnica do estado onde o órgão público ou instituição de ensino superior esteja localizado. Para não haver descompasso entre o desempenho acadêmico de estudantes negros e os demais, o substitutivo determina que as faculdades implantem sistemas de acompanhamento para que os estudantes beneficiados pela proposta possam progredir no curso escolhido.

(Jornal da Mídia. Disponível em: www.jornaldamídia.com.br/notícias. Acesso em: 29 ago. 2002.)

3. Em tom professoral, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem que o Brasil tem “contas a ajustar com o passado colonial e escravocrata”. A declaração marcou as comemorações do Dia Mundial contra a Discriminação Racial. Na solenidade, foram anunciadas quotas de 20 bolsas de estudo por ano para o ingresso de negros no Instituto Rio
Branco, que prepara diplomatas brasileiros. Também foi criado o conselho científico Palmares, que analisará assuntos tecnocientíficos ligados à cultura afrobrasileira, e um grupo de trabalho destinado a analisar as antigas áreas de quilombos. Os três programas fazem parte do chamado conjunto de “ações afirmativas” do governo.

(Folha de S. Paulo, 22 mar. 2002. p. C-4.)

4. O governo brasileiro está pretendendo assumir posição favorável, em encontros internacionais, ao estabelecimento de cotas para negros nas universidades brasileiras. O ministro da Educação, Paulo Renato Souza, afirmou: “Não me oponho às cotas”, ressalvando, no entanto: “O recurso, sozinho, não resolverá o problema”. O problema a que se refere o ministro
é a necessária igualdade de oportunidades na hora da disputa por vagas no ensino público universitário. Quando um outro sistema de cotas foi anunciado, visando a destinar 50% das vagas nas universidades públicas a alunos do ensino médio oficial, o ministro Paulo Renato manifestou-se contrário à idéia porque a desigualdade na disputa pelas vagas no ensino superior é anterior ao momento do vestibular. Um ensino básico e médio fraco é que provoca a exclusão do candidato, deficiência que não seria removida, argumentava à época o ministro da Educação, com qualquer tipo de “ação afirmativa”. A situação não é diferente quando a origem do benefício é uma cota definida pela cor do candidato.

(O Estado de S.Paulo. Disponível em: www.estadão.com.br/editoriais. Acesso em: 29 ago. 2002.)

5. [...] Hoje não é mais possível separar quem é patrão ou escravo pela cor da pele. Somos todos “misturados”. Nossa maior dúvida é: será que essas cotas não vão separar o que em meio milênio ainda não foi possível homogeneizar? Será que não vamos formalizar uma forma de racismo que poderia desaparecer se a escola pública fosse capaz de formar cidadãos na sua mais perfeita concepção e os colocasse em condições de serem aprovados sem condições especiais? A própria Constituição (artigo 5º) nos coloca em igualdade, por que então iniciar a segregação? Imagine fazer a inscrição para o concurso com duas filas — uma para negros e outra para brancos —, o início da separação. Como seriam vistos os negros aprovados nesse concurso? Seriam vistos como verdadeiramente capazes? Seriam marginalizados por terem sido beneficiados com 20 por cento das vagas? Pensando na infinidade de possíveis combinações dos genes humanos para formar uma cadeia de DNA, qual seria a interpretação da lei para irmãos de sangue, filhos de um casal em que um dos parceiros é negro e o outro é branco, que nasceram de “cores” diferentes? O mais “escurinho” terá direito a se inscrever entre os 20 por cento e o mais “clarinho” não terá? Como ficará a situação dos “pardos”? Gostaríamos que um jurista ou um deputado ou um senador nos iluminasse com o esclarecimento dessas dúvidas. Esperamos que essa lei que separa “pessoas” não seja aprovada, para que, no futuro, nossos filhos “café com leite” possam viver num país mais tolerante e livre de preconceitos.

Humberto Ferreira de Oliveira, estudante de Direito, e Margarete do Valle Werneck, farmacêutica. (CarosAmigos. São Paulo: Casa Amarela, ago. 2002. p. 6. [carta].)

6. A discussão de políticas afirmativas para a população negra, por exemplo, conta, entre seus adversários, com os melhores e mais renomados cientistas sociais do país. Esses argumentam que tais políticas contrariam os valores liberais (Reis, 1997) e ferem a inteligência nacional (DaMatta, 1997; Fry, 2000). Para eles, a ideia de adotar tais políticas é equivocada e simplista. Equivocada porque reforça identidades étnicas e raciais, que reificam o racismo; simplista porque contraria a nossa tradição cultural. Os intelectuais que defendem políticas antipobreza mais radicais, que levem em conta a discriminação racial e de gênero, seriam, portanto, ou pouco refinados para entender a complexidade da cultura brasileira, ou estariam contaminados ideologicamente pelo seu envolvimento com o movimento negro. O que esse autores ignoram ou omitem é que o povo brasileiro não rejeita políticas afirmativas, inclusive em sua forma extrema de cotas, tal como sugerem. Quem as rejeita são as classes médias e as elites, inclusive intelectuais. Em 1995, a já citada pesquisa do DataFolha sobre racismo detectou que os mais pobres e os menos escolarizados seriam favoráveis a tais políticas, posição que se inverte à medida que se perscrutam as camadas mais educadas e mais favorecidas (Telles e Bailey, 2001). Seria isso refinamento intelectual e cultural ou pura defesa de privilégios de classe?  (ver Tabela 3).

Tabela 3

OPINIÃO DOS BRASILEIROS SOBRE COTAS, SEGUNDO CLASSES DE RENDA E GRUPOS DE COR
Concordância ou não com cotas
Por cor
Por classes de renda
Total


até 10 SM
11 ou + SM Total

Brancos
Concordam
46,7%
69,5%
30,5%
100,0%
Discordam
53,3%
51,5%
48,5%
100,0%
Negros (pretos e pardos)
Concordam
51,5%
80,3%
19,7%
100,0%
Discordam
48,5%
65,1%
34,9%
100,0%

Fonte: DataFolha, 1995.

(GUIMARÃES, Antonio A. Guimarães. Classes, Raças e Democracia. São Paulo: Editora 34. p. 71-72.)

Propostas de Redação

A – ARTIGO DE OPINIÃO — DISCURSO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO

            Você leu textos que apresentam argumentos favoráveis e contrários à política de cotas para negros nas universidades brasileiras.
            Como se trata de uma questão controversa, a defesa de uma determinada posição seria o motivo para a produção de um artigo de opinião a ser publicado num jornal ou revista.
            Assim, você vai elaborar um artigo de opinião, imaginando que esteja escrevendo para um meio de comunicação impresso. Você terá, como interlocutores, os leitores desse veículo de informação. Portanto, o seu artigo deve buscar, por meio da argumentação, convencer os interlocutores a adotar determinada posição sobre uma idéia, refutando possíveis opiniões divergentes.

B – CARTA DE LEITOR — DISCURSO PERSUASIVO

            A carta de leitor é um texto que circula no contexto jornalístico, atendendo a diversos propósitos comunicativos: opinar, agradecer, reclamar, solicitar, elogiar, criticar, convencer, entre outros.
            Tendo em vista o uso do discurso persuasivo e,

a) sendo leitor da revista Caros Amigos,você vai escrever uma carta para Humberto Ferreira de Oliveira e Margarete do Valle Werneck, tentando convencê-los de que a política de cotas para negros ingressarem nas universidades realmente é uma forma de reparação histórica ou,
b) como leitor da Folha de S.Paulo, você vai escrever para Fernando Henrique Cardoso, visando a convencê-lo de que a política de cotas é mais um meio de manutenção das formas já existentes de discriminação racial.

C – CONTO OU CRÔNICA — DISCURSO NARRATIVO

            O texto narrativo envolve elementos, como personagem, tempo, espaço, ação, conflito e mudança de estado (transformação), que se associam na configuração da narrativa.
            Tendo em conta essa explicação, redija um conto ou uma crônica em primeira pessoa. Seja por meio de um conto ou de uma crônica, você deverá narrar a história de um estudante negro que ingressa na universidade pública utilizando o sistema de cotas.
            A origem social do estudante, sua formação anterior, o curso escolhido, o relacionamento com os colegas e com os professores, o desempenho nos estudos — tudo isso pode servir de base para a construção do seu texto.
            Além dessas indicações, determine um conflito que esse estudante vai viver na instituição, procurando contemplar as seguintes perguntas: qual foi a causa do conflito? quais são suas conseqüências imediatas e futuras?


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