Tema de Redação - UFG - 2002
Instruções
- A questão de Redação apresenta
um tema único para as três modalidades — dissertação, carta argumentativa e narração.
Qualquer que seja a modalidade escolhida por você, considere o tema proposto.
- A fuga ao tema, em qualquer das
três propostas, implicará a ANULAÇÃO de sua redação.
- Esta prova traz uma coletânea de
textos. Por meio dela, será avaliada sua capacidade de leitura e sua habilidade
no tratamento das informações apresentadas. Assim, a consideração desses textos
é obrigatória: você não deve, simplesmente, copiar frases ou partes
delas, sem que essa transcrição esteja a serviço de seu projeto de redação.
Os textos das quatro últimas
questões discursivas, que precedem a questão de Redação, estão associados ao
tema.
Desse modo, considere-os também
como parte da coletânea.
- Se
você optar pela carta argumentativa, não a assine.
Tema
Os recentes atentados ocorridos nos
EUA chocaram grande parte do mundo. Imediatamente após sua ocorrência, especialistas
e pessoas comuns de diferentes países, etnias e crenças começaram a discutir as
razões e as consequências desses eventos. Apesar disso, sabe-se que essa
discussão é anterior aos atentados e terá desdobramentos que ainda se estenderão
por muito tempo e que são mais complexos do que os episódios tratados
isoladamente.
Portanto, atenção: as
informações que você vai receber e os outros e novos fatos dos quais você está
tendo conhecimento até agora não devem ser abordados separadamente, mas devem
ser considerados como um todo e de maneira mais aprofundada.
Em vista do exposto, você vai ler
uma coletânea, cujo tema é
Conflitos
entre centro e periferia: os atentados aos EUA são violência
terrorista contra a humanidade e/ou resistência contra o imperialismo ocidental?
Proposta A - Dissertação
Apoiando-se
na leitura da coletânea, elabore um texto dissertativo, no qual seja defendido
o seu ponto de vista a respeito do tema proposto.
Em
seu texto, exponha argumentos e contra-argumentos por meio dos quais você possa
analisar e interpretar as informações e os dados contidos na coletânea.
Proposta B - Carta argumentativa
Com
base no tema indicado, escreva uma carta argumentativa a uma das duas
personalidades indicadas a seguir, cujas opiniões estão transcritas na
coletânea:
a)
ao lingüista e ativista político Noam Chomsky, tentando convencê-lo de que os
incidentes ocorridos nos EUA foram, de fato, uma operação terrorista, motivada
pelo fanatismo religioso;
b)
ao filósofo e articulista Olavo de Carvalho, tentando convencê-lo de que há
razões sociopolíticas que devem ser consideradas em relação a esses episódios.
Proposta C - Narração
Como
você já deve saber, a narração é uma modalidade de texto usada para se contar
uma história.
Assim,
tendo como referência as informações da coletânea, escreva uma narrativa em primeira
ou terceira pessoa. Para elaborar o projeto de seu texto, você deve
levar em consideração as situações, os conflitos e os personagens que, de algum
modo, participaram dos eventos que estão relacionados ao tema desta prova. Em
vista disso, sugerimos como exemplos: os momentos compartilhados
por seqüestradores e passageiros dos aviões atirados contra as duas torres; a
oposição entre ocidentais e orientais no Oriente Médio; a relação entre
cristãos e fundamentalistas radicais nos EUA, entre outros.
Independentemente
da abordagem escolhida, você deve ter sempre em vista o tema da coletânea.
Coletânea
1
Do ponto de vista da geopolítica, a organização
espacial que caracteriza o capitalismo mundial é representada pelo centro (países
do Primeiro Mundo) e pela periferia (países do Terceiro Mundo). “Devemos
ter em vista ainda o fato de que o centro econômico nacional, quando
considerado sob um ângulo internacional, na realidade é uma parte da periferia
do sistema capitalista como um todo,
cujas metrópoles mundiais são Nova York, Tóquio, Londres, Berlim, Paris e
outras.
(J. W. Vesentini.
Sociedade e espaço. Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 1996,
p.186-7).
2
O termo imperialismo é usado “para designar a
prática, a teoria e as atitudes de um centro metropolitano dominante governando
um território distante”.
(Edward W. Said.
Cultura e imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.40).
3
Chorando sem parar, o imigrante dominicano Ruben
Ruiz, 30, conta que minutos antes da tragédia no WTC, foi com sua noiva, a
chinesa Lina Cheng, 30, à seguradora onde ela trabalhava, no 97º andar da torre
2. “Alguém disse que, quando as torres foram construídas, os engenheiros
garantiram que era uma obra eterna. Outro lembrou que disseram o mesmo do Titanic.”
Ruiz
repete sua história, com detalhes. “Ela quis chegar antes ao trabalho, e eu
subi junto. Quando senti o impacto no prédio vizinho, quis descer. Tentei
convencê-la a vir comigo mas, como a maioria das pessoas, ela decidiu fazer um
telefonema. Era inacreditável. Parecia que todo mundo no escritório decidira
telefonar.”
Ruiz
tomou o elevador, mas não passou do 56º andar. “O elevador parou. Em seguida,
ouvi uma explosão. O prédio tremeu. O chão subiu e quebrou em pedaços. Pensei
que era um terremoto. Saí correndo pelas escadas. Uma massa humana tentava
passar. Vi muita gente caída, com crise de nervos, paralisada. Duvido que
tenham conseguido se salvar.”
Assim
que Ruiz saiu, a torre 2 desabou. Horas depois, ele continuava sentado numa
calçada. Diz não ter esperança de reencontrar a noiva. Mas continua ali,
olhando para a coluna de fumaça, no lugar onde ficavam as duas torres.
(José Sacchetta. Folha
de S. Paulo. Especial. 13 set. 2001. p.11).
4
Será
que os mortos dos EUA são mais humanos que os da África? Onde está a fronteira
da humanidade?
(Brasileira
muçulmana, em entrevista ao telejornalismo da Rede Record, em 17 set. 2001).
5
Perplexo
e chocado, gostaria de me solidarizar com as famílias dos inocentes e com todo
o povo americano neste momento difícil.
Desejo
ainda que os autores desse crime hediondo, que atinge não somente aos EUA mas a
todos nós, democratas e civilizados, sejam identificados e severamente punidos.
(Lael Sampaio de Araújo (São Paulo,
SP). Folha de S. Paulo. Painel do Leitor. 13 set. 2001. p.3).
É
lamentável e doloroso o que aconteceu com os EUA, mas esse episódio sugere às
autoridades políticas e econômicas mundiais uma análise dos fatos.
O
modelo político e econômico vigente não dá conta de atender e, principalmente,
não respeita a necessidade de desenvolvimento, de fato, de todos os povos.
Pode-se manter um poderio mundial à custa da exploração e da miséria de muitos,
mas não se pode prever e controlar a ação dos homens, que muitas vezes realizam
o absurdo para se fazerem ouvir.
(Rosângela Aparecida de Moura (S.
José dos Campos, SP). Idem, ibidem).
7
Em
tempos de “paz”, “globalização” é praticamente sinônimo de “americanização”.
Grosso modo, os juros deles aumentam lá, e você não consegue mais pagar a
prestação de sua casa aqui.
Nestes
tempos de “guerra”, a “globalização” pode ficar ainda pior. Eles se matam aos
milhares por lá e por aí, e nós vamos pagar o pato aqui. [...]
O
mundo parou para assistir às explosões dos maiores símbolos do capitalismo, o
Pentágono (militar) e o World Trade Center (econômico). Depois, para refletir
sobre as motivações. Agora, para especular sobre desdobramentos. Tudo pode acontecer.
[...]
Como
“amigo e aliado” dos EUA, o Brasil provavelmente vai pagar um alto preço
econômico pela guerra alheia. Como “amigo e aliado” do Brasil, os EUA vão
entrar na nossa guerra quando o petróleo subir, os investidores sumirem, as bolsas
caírem, o dólar disparar e os empregos evaporarem? Amigo é para essas coisas.
(Eliane
Cantanhêde. Folha de S. Paulo. 13 set. 2001. p.2).
8
A modernidade que tanto elogiamos e desejamos nos
deu a penicilina, o cinema, a psicanálise, os automóveis e também duas guerras
mundiais, o caos urbano e o terrorismo político. O mundo moderno proclamou a
morte de Deus só para instituir o fanatismo político, o reino da divisão
inexorável, o governo do demônio.
Num
nível superficial, tudo se passa como se a modernidade tivesse desbaratado os
sistemas de crenças tradicionais, fazendo com que o mundo ficasse mais flexível
e menos movido a hipocrisia. Mas a verdade é bem outra, pois a gente se esquece
de que, quando a sociedade liquida com uma diferença, ela logo institui outra.
Deste
modo, a modernidade tem amortecido as lealdades nacionais (que são cívicas e
territoriais) mas, em compensação, tem aguçado os pertencimentos locais de
cunho religioso ou étnico.
(Roberto DaMatta. Torre
de Babel. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. p.36-37).
9
Antes
de chegar ao chão o último tijolo do World Trade Center, um enxame de “especialistas”
e “analistas internacionais”, todos notoriamente simpáticos ou filiados a
movimentos de esquerda, já acorreu aos canais de TV e às páginas de jornais
para:
1. Atenuar a má impressão de um
crime monstruoso, legitimando-o como “conseqüência natural” da intransigência e
do militarismo do governo Bush.
2. Ressaltar além de toda a
medida a “vulnerabilidade” dos EUA, contrastando-a com a imagem do poder
econômico americano. A primeira dessas coisas é desinformação, a segunda é
guerra psicológica. [...]
Essas
duas opiniões, repetidas em nossa mídia com uniformidade exemplar, não são
interpretações ou explicações de um ato de guerra: são parte integrante dele.
Seus divulgadores não se distinguem, moralmente e talvez nem politicamente, dos
planejadores e executores
da operação assassina.
(Olavo de
Carvalho, Época. Nº 174, 17 set. 2001. p. 110).
10
Jornal do Brasil — A sociedade americana dificilmente
será a mesma depois da última terça-feira. O que vai mudar na cabeça das
pessoas?
Chomsky — Os atentados foram um divisor de
águas para os Estados Unidos e para o Ocidente de um modo geral. [...] Por ser
o primeiro ataque ao território, representa uma grande mudança. O mesmo é verdadeiro
para a Europa e o Ocidente de um modo geral. A Europa passou por guerras
sangrentas, mas foram internas. O sul — o que hoje chamamos de Terceiro Mundo,
as ex-colônias — nunca atacou a Europa, mas foi atacada por ela por centenas de
anos. Esta é, portanto, a primeira vez que a História toma uma outra direção:
as grandes potências guerreiras são as vítimas e não os perpetradores. É uma mudança
gigantesca.
[...]
Jornal do Brasil — Então, como as Forças Armadas,
com seus métodos convencionais, poderão lidar com este tipo de inimigo?
Chomsky — [...] Estes são problemas que
terão de ser tratados encarando-se as questões que levam a esta situação. Elas
crescem a partir de alguma coisa. Não se trata de justificativa para o crime,
mas elas nascem de alguma coisa, não surgem do nada. Vêm de uma enorme reação
popular de hostilidade em relação às políticas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha
para a região. Tome por exemplo o Iraque. Não se sabe quantas pessoas morreram
por causa das sanções. Uns dois anos atrás, a então secretária de Estado
[Madeleine] Albright, diante do número de meio milhão de crianças mortas, disse:
“Bem, este é um preço alto mas estamos dispostos a pagá-lo.” Imagine o que
sentem as pessoas da região. Pense nos territórios ocupados. As pessoas no
Ocidente podem decidir não prestar atenção, mas as pessoas lá na região
definitivamente prestam atenção e sabem muito bem quem é o responsável.
Helicópteros, aviões militares e mísseis atacam alvos civis nos territórios
ocupados. São helicópteros, aviões militares e mísseis americanos — e eles
sabem disto.
(Entrevista de
Noam Chomsky concedida a Gabriela Máximo. Jornal do Brasil. 16 set.
2001. p.14)).
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