Prova de língua
portuguesa - UFG - 2002 - 1º fase
Questão 01 - Leia
abaixo as seguintes “definições”, publicadas no Jornal do Sint-UFG, em 7
ago. 2001.
Cálice –
ordem para ficar calado.
Esfera –
animal feroz amansado.
Exótico –
algo que deixou de ser ótico, passou a ser olfativo ou auditivo.
Karma –
expressão mineira para evitar o pânico.
Sabe-se
que o humor deriva, muitas vezes, da quebra de expectativa do interlocutor com
relação a quaisquer elementos e/ou níveis de linguagem.
Tendo
em vista as observações anteriores, é possível afirmar que
1-( ) com a definição “ordem para ficar calado”, a
palavra cálice expressa o sentido de um verbo pronominal, utilizado na forma
imperativa.
2-( ) as definições das palavras esfera e exótico
indicam, nesse contexto, a idéia de um estado anterior.
3-( ) na língua portuguesa, letras diferentes podem
representar o mesmo som, como c e s em cálice e cale-se
ou s e x em esfera e ex-fera.
4-( ) a definição de karma demonstra
estigmatização quanto ao falar do povo mineiro, generalizando a troca do l pelo
r.
Leia a tira abaixo. As questões 02 e 03 referem-se
a ela.
Hagar, o horrível. Folha de S. Paulo.
Ilustrada. 18 de jul. 2000. p.7.
Questão 02 - Com
base na análise da tira, pode-se afirmar que
1-( ) a linguagem icônica prevalece sobre a verbal,
uma vez que a anedota é mais ilustrada do que narrada verbalmente.
2-( ) os balões, que encerram a fala dos personagens,
constituem um recurso gráfico que indica o discurso direto e introduz o
diálogo.
3-( ) a imagem e o texto formam um sistema misto,
no qual o desenho e as palavras se articulam em uma relação complementar.
4-( ) a variação de planos das figuras nos
quadrinhos procura criar a ilusão de movimento na história, aproximando, assim,
a linguagem dos quadrinhos da linguagem
cinematográfica.
Questão 03 - Na
tira, os diálogos organizam-se em torno de processos lingüísticos, responsáveis
pela coerência da narrativa.
Sobre
tais processos, podem ser feitas as seguintes afirmações:
1-( ) A forma do futuro composto “vou mudar”, que
aparece no terceiro quadrinho, é pouco usada na fala dos brasileiros, que
preferem a forma simples “mudarei”.
2-( ) No primeiro quadrinho, na fala de Hagar,
percebe-se a elipse de parte da pergunta de seu interlocutor que poderia ser
repetida na resposta.
3-( ) O enunciado “Amanhã eu vou mudar de médico.”,
proferido por Hagar no último quadrinho, a despeito de romper com o uso do
discurso indireto, expressa o aconselhamento médico do dr. Zook.
4-( ) A enumeração dos conselhos do dr. Zook a
Hagar está organizada obedecendo ao que se chama de paralelismo, isto é, as
idéias são apresentadas com alguma equivalência sintática e semântica.
As questões 04 e 05 baseiam-se nos textos que
seguem.
Advantage
advantage [
d’va:ntid3] e , s. Vantagem, superioridade, primazia,
ato de comprar um carro de uma série especial equipado com motor 2.0 16v e 136
cavalos de potência, ar-condicionado, sistema de alarme antifurto, faróis de neblina,
computador de bordo, pintura perolizada, rodas de alumínio, além de duplo airbag
e teto solar como opcionais; proveito, ganho, benefício, lucro, inhapa; to
~, sob um aspecto ou sob um ângulo favorável, de maneira que realce a beleza ou
os méritos de alguém.
Astra Advantage. Seus desejos nunca foram tão bem traduzidos.
ISTOÉ.
Anúncio publicitário. 11 jul. 2001. p.4-5.
vantagem.
[Do fr. avantage, atr. da f. ant. avantagem.]
S.f. 1.
Qualidade do que está adiante ou é
superior. 2. Favor, benefício. 3. Primazia, superioridade. 4. Lucro,
interesse. 5. Ganho, proveito. 6. Vitória, triunfo.7. Bras.
Adicional, variável segundo o posto, função ou qualificações, pago aos
componentes das forças armadas.
FERREIRA, A. B de H. Novo Aurélio Século XXI.
3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
Questão 04 - Na
mensagem publicitária sobre o carro, há uma estratégia de venda que se apropria
da linguagem do dicionário. Considerando
os efeitos de sentido presentes nesse texto, julgue os itens:
1-( ) A apresentação das características do
automóvel sob a forma de um verbete de dicionário conta com o efeito de verossimilhança
que esse tipo de texto provoca no leitor.
2-( ) O termo traduzidos poderia ser
substituído por atendidos, porém o primeiro foi escolhido por causa da versão
da palavra estrangeira, apresentada pelo texto, que dá nome ao carro.
3-( ) No anúncio, há o pressuposto de que os
consumidores não gostam de obter vantagem.
4-( ) A logomarca, que aparece no final da
publicidade, funciona como uma representação não-verbal da assinatura da
empresa que produz o automóvel.
Questão 05 - Geralmente,
“na organização de um dicionário, enciclopédia ou glossário, o verbete é cada
uma das palavras com suas definições e exemplos” (Michaelis: moderno
dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 1998).
Tendo
em vista a afirmação acima, considere as alternativas a seguir:
1-( ) Na modalidade falada de muitas variedades do
português do Brasil, a palavra vantagem tende a ser pronunciada como vantagi
[vã’tagi].
2-( ) Nos verbetes de dicionário, comumente, a
vírgula separa sinônimos da mesma acepção, enquanto o ponto-e-vírgula e o ponto
separam acepções diferentes do termo comentado.
3-( ) Pela definição da palavra vantagem, em
suas diversas acepções, observa-se que ocorre uma correspondência de
significado com a palavra advantage.
4-( ) No verbete sobre a palavra vantagem, o
leitor obtém informações de ordem etimológica e semântica.
As questões 06 e 07 apoiam-se nos textos abaixo. Leia-os
com atenção.
Texto 1
SAGITÁRIO (22
nov. a 21 dez.)
Talvez você não agüente mais sustentar o
insustentável. Talvez se pergunte até quando terá de dar nó em pingo d’água. O
céu diz que será até o final de novembro, sendo que, em alguns momentos, como
esta semana, a pressão está maior. Continue otimista por mais algum tempo.
Folha de S. Paulo. 20 ago. 2001.
Texto 2
SAGITÁRIO (22/11
a 21/12)
Período propício para realizar as suas esperanças e
sonhos. Muita compreensão por parte do ser amado. Não perca as boas
oportunidades que a vida lhe oferece. O uso de sua capacidade pessoal torna
este dia muito benéfico para você.
O Popular.
20 ago. 2001.
Texto 3
A astrologia mescla um contorno irracional – a tese
de que seus prognósticos e conselhos procedem dos movimentos dos astros, aceita
com naturalidade pelos leitores – a um núcleo racional, o fornecimento de
conselhos pragmáticos e úteis para os problemas do cotidiano (não muito
diferentes das orientações das colunas de psicologia popular). A coluna
astrológica, mesmo tendo em vista uma provável atitude indulgente e desconfiada
de seus seguidores, procura satisfazer anseios de indivíduos que estão
convencidos de que outros (ou alguma força desconhecida) devem saber mais sobre
eles e sobre o que devem fazer do que eles próprios.
R. Musse. Fenomenologia da debilidade. Folha de
S. Paulo. Mais! 19 ago. 2000. p.12.
Questão 06 - Comparando
os textos 1 e 2, pode-se afirmar que
1-( ) o uso de alguns pronomes e do imperativo, nas
duas previsões, dá a ambos os textos um aspecto conversacional.
2-( ) a expressão “dar nó em pingo d’água”, no
primeiro texto, repete, em grande medida, a ideia expressa por “sustentar o
insustentável”, apresentada anteriormente.
3-( ) o cenário negativo apresentado por uma das
previsões permite caracterizá-la como pessimista, diferentemente da outra, que
é otimista.
4-( ) o aspecto místico da astrologia está mais
evidente no texto da Folha devido à presença do segmento “O céu diz
que...”, indicando a fonte dos conselhos.
Questão 07 - Com
base na análise dos textos, pode-se afirmar que
1-( ) por ser de natureza científica, o texto 3
valida a eficácia das previsões contidas nos textos 1 e 2, ao considerar que “a
astrologia mescla um contorno irracional a um núcleo racional”.
2-( ) segundo o texto 3, as colunas de horóscopo
funcionam como válvula de escape para satisfação dos desejos do indivíduo,
visto que prometem soluções milagrosas (“propício para realizar as suas
esperanças e sonhos.”, conforme o texto 2).
3-( ) o texto 3 concebe o leitor de colunas de
horóscopo como um indivíduo seguro e consciente de suas ações diárias, visão
que pode ser verificada nos textos 1 e 2.
4-( ) a relação da astrologia com a psicologia
popular, que o autor estabelece no texto 3, permite constatar a ausência de contradição
entre os textos 1 e 2.
Questão 08
1. Figueiredo entra da direita, observa as cocotes...
(A. Azevedo, A Capital Federal)
2. A moça carregou o piá nas costas e foi
até o pé de aninga na beira do rio. (M. de Andrade, Macunaíma)
3. Veio a cerveja e ambos, na mesa do restaurant,
fizeram um numeroso esforço para conversar. (Os melhores contos de Lima
Barreto)
4. Cheeseburguer com coca-cola e batatas
fritas. (Rubem Fonseca, A grande arte)
Nos
exemplos acima, ocorre a presença de palavras que foram emprestadas por outras
línguas.
Sobre
os empréstimos lingüísticos na língua portuguesa, pode-se afirmar que
1-( ) a despeito de ser falada por mais de 200
milhões de pessoas, o português é uma língua que não exerce influência sobre
outras culturas.
2-( ) na época dos descobrimentos e pelo contato
com realidades desconhecidas, para as quais não havia formas de nomeação dentro
do léxico existente, muitas palavras foram incorporadas à língua, como nanquim
e chá (China), batuque e girafa (África), tomate e
condor (América
espanhola), bonzo e gueixa (Japão), entre outros exemplos.
3-( ) anglicismo é o nome que se dá à contribuição vocabular
da língua inglesa à norma portuguesa do Brasil, exemplificado por palavras como
spray, shopping, show, stress, hardware, gay etc.
4-( ) na relação que o português do Brasil mantém
com as línguas faladas em seu território, como as indígenas e as dos
emigrantes, ocorre, via de regra, um intercâmbio igualitário.
Questão 09 - Violência
e erotismo são temas recorrentes no romance A grande arte, de Rubem
Fonseca. Tal recorrência pode ser explicada da seguinte forma:
1-( ) A violência é motivada tanto pela conjuntura
histórica do país, marcada pelo tráfico de drogas e pelo crime organizado,
quanto por ações individuais, ditadas por interesses pessoais.
2-( ) O erotismo é resultado da insistência numa
visão, quase sempre, grotesca e brutalizada da relação sexual, desencadeando
uma combinação explosiva de crime e instinto.
3-( ) A violência é exaltada como uma saída para os
impasses do país, pois somente a sua prática pode livrar o cidadão honesto de
um aparelho policial corrupto e da marginalidade econômica estimulada pelo atual
modelo social.
4-( ) O erotismo, cultivado com barbárie, pode ser
interpretado como uma clara manifestação de poder econômico, correspondente à
organização social contemporânea,
em que o sexo é utilizado como valor de troca.
Questão 10 - No
livro Prosas seguidas de odes mínimas, de José Paulo Paes, a expressão
poética
1-( ) é envolvida por um sentimentalismo, dada a
ênfase confessional, que assinala traços românticos persistentes em nossa
tradição lírica, como o excesso de subjetivismo.
2-( ) apresenta o mundo contemporâneo sob um ângulo
estritamente político, reforçando ideologias que a História classifica como
conservadoras.
3-( ) rompe com os limites tradicionais dos
gêneros, impossibilitando, pela ambigüidade intencional, a rígida demarcação
entre prosa e poesia.
4-( ) oscila entre o depoimento autobiográfico e o
testemunho crítico da realidade social.
Questão 11 - No
livro A viagem das chuvas e outros contos, de Jesus de Aquino Jaime, a
marca regional pode ser verificada
1-( ) na ambientação interiorana, que se caracteriza
pela valorização de cenários, preferencialmente rurais, e pela referência a
valores que definem o mundo sertanejo.
2-( ) no realce da dimensão pitoresca, alcançado
com o deslocamento de interesse do plano das ações para o processo metalinguístico
de construção do texto.
3-( ) na ligação entre o dado local e a
problemática social, presente no conto “Posseiro”, combinando a ambientação
interiorana com a perspectiva ideológica, ainda que velada.
4-( ) na drástica supressão do enfoque psicológico
das personagens, acentuando-se a dimensão folclórica observada na exaustiva
descrição de usos e costumes, graças, sobretudo, ao tratamento superficial do
mundo infantil.
Questão 12 - Os
contos de Lima Barreto revelam uma permanente visão crítica e irônica das
relações sociais observadas pelo autor.
Este
posicionamento pode ser percebido na crítica
1-( ) ao modelo sociopolítico da República Velha,
principalmente aos desmandos das oligarquias estabelecidas no poder e ao
autoritarismo desmedido de certos segmentos militares.
2-( ) aos mecanismos de dominação burguesa,
baseados na discriminação racial, na detenção de certos privilégios e no
repúdio a qualquer ímpeto reformulador.
3-( ) aos valores culturais cultivados por
determinados grupos sociais hegemônicos como a retórica parnasiana e a
literatura mundana em voga.
4-( ) à precariedade da ordem pública no tocante à ineficiência
da vida burocrática do país e à vulnerabilidade do cidadão comum diante de um
Estado corrupto e desorganizado.
Questão 13 - Em
Macunaíma, romance de Mário de Andrade, os traços definidores da
identidade nacional podem ser evidenciados
1-( ) na construção de um herói que se expressa nas
dimensões do humano e do mítico e nas várias facetas que caracterizam o homem
brasileiro.
2-( ) na fusão dos extremos: primitivo e moderno,
tradição e inovação.
3-( ) na exploração de vertentes da cultura
ameríndia e africana, em que se revisitam mitos, lendas, danças, cantos,
superstições, imprimindo ao romance um caráter rapsódico.
4-( ) na ênfase dada à língua nacional nas suas
diversas manifestações dialetais, valorizando, assim, uma das vertentes de
formação do povo brasileiro.
Questão 14 - Uma
das linhas temáticas da poesia de Gonçalves Dias é a lírica-amorosa. Nos
poemas marcados por essa vertente,
1-( ) aflora uma visão de amor típica do homem
ultrarromântico, com seu sentimentalismo exagerado, manifestado com grandes
lamúrias.
2-( ) há uma presença feminina que se vislumbra
diante do eu-poético como uma possibilidade de concretização do amor por ele
expresso.
3-( ) são apresentados sentimentos de amargura,
angústia, desencanto, que caracterizam o sentimento de amor do eu-poético.
4-( ) é revelada uma postura do eu-poético de
repúdio à fantasia e à idealização da mulher amada.
Questão 15 - O
romance A carteira do meu tio, de Joaquim Manuel de Macedo, representa
uma sátira alegórica à vida pública brasileira.
Essa
afirmação é confirmada
1-( ) pela alusão ao Segundo Império, revelando
fatos históricos e políticos próprios desse período, imprimindo à obra um valor
documental.
2-( ) pela crítica ao não-cumprimento da
Constituição brasileira, considerada “a defunta”.
3-( ) pela referência ao comportamento do político
brasileiro, numa síntese de aspectos relacionados com a ética e com a moral.
4-( ) pela defesa da Política de Conciliação, que
propunha a aliança entre o poder político e o povo.
Questão 16 - A
peça teatral A Capital Federal, de Artur Azevedo, retratando o contato
do homem do campo com os valores de uma grande cidade,
1-( ) exprime, em tom humorístico, as relações de artificialidade
e de interesses que marcaram a sociedade da Capital Federal nos últimos anos do
século XIX.
2-( ) revela artifícios de uma sociedade, em pleno
processo de modernização, responsáveis pelo desvio de conduta de pessoas que
compõem a família de matutos.
3-( ) exibe um desfecho em que são exaltados
valores próprios da vida citadina.
4-( ) demonstra que a simplicidade da família de
matutos é corrompida, devido aos apelos e aos encantos do Rio de Janeiro, o que
a encaminha para um processo irreversível de perda de identidade.
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