Tema
de Redação - UFG - 2012 - 2º Semestre
A prova de redação apresenta três
propostas de construção textual. Para produzir o seu texto,você deve escolher
um dos gêneros apresentados a seguir:
A – Artigo de opiniao
B – Carta de leitor
C – Biografia
O tema é único para os três gêneros
e deve ser desenvolvido segundo a proposta escolhida. O texto deve ser redigido
em prosa. A fuga do tema ou cópia da coletânea anula a redação. A leitura da
coletânea é obrigatória. Ao utilizá-la, você não deve copiar trechos ou frases.
Quando for necessário, a transcrição deve estar a serviço do seu texto.
Independentemente do gênero escolhido, o seu texto NÃO deve ser assinado.
Tema:
O que as transformações da escrita revelam a respeito das transformações do
homem?
Coletânea
1.
2.
Um mundo sem escrita - Leila Minatti Andrade
Você já imaginou um mundo onde não
existisse a escrita? Como você iria escrever um bilhete, uma carta, uma
redação, uma dissertação ou uma tese? Não existiriam listas telefônicas, nem
livros, nem revistas e muito menos jornais, ou, se existissem, seriam só com
figuras, você já imaginou? Provavelmente não existiriam livrarias e bancas de revistas.
Se existissem professores, as aulas seriam, normalmente, expositivas, e não se
ouviriam as famosas frases: "Leiam tais textos para a próxima aula"
ou "vocês precisam ler mais". Ah, e também não existiriam escritores,
é óbvio. Histórias, romances, contos, poesias, só existiriam se fossem contadas
de gerações para gerações. Nada seria documentado, sendo assim, não teríamos
Certidão de Nascimento e muito menos Carteira de Identidade e Atestado de
Óbito. Pelo menos se poderia mentir a idade e não existiria a frase: "Não
acredita? Pode olhar na minha identidade". Também não existiriam as
expressões: "Seu texto parece uma colcha de retalhos", ou "O que
você escreveu está fora do contexto". E também ninguém cometeria um
"erro ortográfico".
Estes seriam alguns dos exemplos de
como seria um mundo sem escrita. Nas sociedades letradas de hoje, parece
inaceitável e incabível viver sem ela, mas em tempos remotos da civilização
ocidental era assim. É claro que o contexto da época era totalmente diferente
do de hoje; mesmo assim, foi por sentir uma extrema necessidade de representar graficamente
nossas ideias, sentimentos, opiniões, nossa história e para nos comunicar com
quem está distante, entre outras coisas, que surgiu a escrita. [...]
Escrever
e falar
Estamos tão acostumados a ler e a
escrever em nossa vida diária que, às vezes, esquecemos que nem todos escrevem
e leem como nós. Todavia, ainda hoje, para algumas pessoas, escrever pode se
restringir a assinar o próprio nome ou, no máximo, a redigir listas de palavras
ou recados curtos.
Antigamente a situação era ainda
pior, somente a elite tinha acesso à educação e, consequentemente, à escrita.
Quem necessitasse escrever uma carta, tinha que solicitar o trabalho dos
escribas. A escrita, hoje, já atinge praticamente todas as classes, embora
falte muito para que ela atinja toda a população. Embora seja imenso o número
de escritores, é ainda maior o número de leitores. Das pessoas que sabem escrever,
a maioria pouco utiliza a escrita e, quando a utiliza, é para coisas
elementares, como deixar bilhetes, mandar recados e escrever cartas. Muitos,
depois da invenção do telefone, pararam até de escrever cartas, já que falar
por telefone é mais prático e se tem uma resposta imediata, pois os
interlocutores estão "voz a voz", e a elaboração e produção da fala
ocorrem simultaneamente. Escrever é um ato solitário, leva mais tempo, exige,
talvez, um pouco mais de concentração, e o escritor tem de se preocupar com o
seu virtual leitor. Se não bastasse isso, a escrita é mais formal do que a fala. [...]
Internet
e a volta da língua escrita
Com o fenômeno da Internet aumentou,
e muito, o número de escritores. Quem sabe pelo fato de que a rede anima a
escrever, pois nela é difícil falar. Hoje, no Brasil, mais de um milhão de
pessoas estão ligadas à rede. Todos os dias milhares de novos brasileiros se
conectam à Internet e essa comunidade, evidentemente, se comunica entre si. Por
meio de e-mails, chats, ICQ, mIRC e outros programas de comunicação, milhares
de pessoas, todos os dias, trocam mensagens, piadas, fofocas, receitas,
confidências pessoais, etc., usando a língua escrita. Acredita-se que o número
de escritores aumentou porque os programas de comunicação da Internet são
inovadores, dispensam papel, envelope, selos e carteiro. No correio eletrônico,
por exemplo, o usuário da rede organiza um catálogo de endereços eletrônicos e,
ao escrever ou receber uma mensagem que considere que deva ser compartilhada
por todos, simplesmente clica em um botão que (re)envia a mesma mensagem para
todos os constantes do seu catálogo. Esta função dos programas de correio
eletrônico é importante porque faz a mensagem disseminar-se exponencialmente,
atingindo milhares, quiçá milhões de pessoas em algumas horas ou dias. Que
narrador poderoso! Tão poderoso que vê sua mensagem multiplicada praticamente a
um número não pronunciável de leitores, tantos podem ser eles. [...]
Na Internet, a escrita voltou a ser
usada com mais frequência pela proximidade com a língua oral e pela incrível
possibilidade de se comunicar com pessoas do mundo inteiro por um meio de
comunicação prático e barato. Entretanto, ainda assim existem muitas pessoas
que têm dificuldade de passar um e-mail e preferem falar ao telefone, mesmo pagando
mais caro, por não conseguirem escrever o que estão pensando ou por terem
preguiça, já que falar é mais rápido e fácil do que escrever.
Há empresas que proibiram que seus
funcionários se comunicassem usando e-mails, porque muita gente não estava
acostumada a escrever antes do surgimento da Internet e, por isso, surgiram
muitos mal-entendidos, já que a escrita não tem todos os recursos da linguagem
oral, não sendo possível ver a expressão do interlocutor, seus gestos e ouvir
sua voz. Uma frase pode parecer amena quando falada e extremamente pesada
quando escrita. Segundo Fischer, numa entrevista dada a uma revista de
circulação nacional, algumas empresas estão ensinando seus funcionários a
escrever em
e-mails, pois isso passou a ser uma necessidade (Fischer, 2000).
Disponível
em: <http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0101/12.html>. [Adaptado].
3.
Escrevendo torto por linhas certas - Débora Yuri
Um teclado na mão vale mais do que
mil canetas no estojo? S. J., 17 anos, acha que sim. Ela leva seu lapt para a
escola todos os dias.
"Prefiro escrever no
computador. Tenho facilidade para digitar, e fica mais organizado", diz
ela, que acha mais fácil estudar "fazendo tudo no laptop".
"Tiro dúvidas com meus amigos
pelo MSN, trocamos e-mails sobre anotações de aulas, falo on-line com os
professores. O computador também poupa um pouco os dedos. Chega de
calos!", continua ela, que só escreve à mão quando necessário ─ em geral,
durante provas escolares e aulas de redação.
Como S., muitos jovens sentem-se
mais à vontade digitando do que redigindo à mão.
Seria o prenúncio do fim da letra
manual? A atual geração não escreve em agenda e diário, mas em blog;
comunica-se por meios eletrônicos, com mensagens de texto por celular, MSN,
Orkut, Twitter ou e-mail.
Caligrafia para quê?
Educadores relutam em apostar na
extinção da caligrafia, mas admitem o desinteresse e a diminuição da prática.
"A escrita é um recurso que
jamais vai acabar, é como os livros, que não vão sumir, embora muita gente hoje
leia mais na internet. Só se aprende a escrever escrevendo e só se aprende a
ler lendo. O mundo totalmente informatizado não é para essa nem para as
próximas gerações", diz a psicopedagoga L. F.
Muitos jovens questionam a
importância de escrever à mão, diz L. "Quando um aluno fala que não precisa
disso, eu respondo que nem sempre ele terá um computador à disposição, que
ninguém fica conectado 24 horas por dia. Tem que saber escrever
manualmente."
Em uma determinada escola, os alunos
podem levar laptops para a sala de aula, com uma restrição: nada de entrar na
web. Nesse cenário, o maior vilão é o corretor ortográfico, criticado por
educadores mais conservadores.
"Eu oriento os meus alunos,
digo que essa ferramenta serve para chamar a atenção para um erro e ensinar o
correto. Não pode ser usada como um ato mecânico de corrigir. Existe espaço
para o computador e para o caderno na escola", diz L..
Outra
adepta da moda de trocar pesados cadernos por um computador portátil é M. S.,
16 anos. "O meu laptop é como um caderno com todos os meus cadernos e com
muito mais recursos. É mais prático anotar as aulas assim.
Se você escreve errado, deleta, não precisa apagar ou riscar tudo", diz.
M. admite que tem dificuldade para
escrever à mão. "Eu estudava numa escola britânica onde todos os alunos
tinham laptop desde a oitava série. Minha letra não é muito boa, não treinei
caligrafia", conta ela, que sonha com provas digitalizadas.
R. E., 16 anos, só troca o
computador pelo papel quando é obrigado. "No futuro, vou precisar mais do computador
do que de caligrafia. Mas eu sempre me esforço para fazer letras bonitinhas nas
redações", diz.
Para a psicopedagoga R. C., diretora
de uma equipe de diagnóstico e atendimento clínico, o computador ajuda a
camuflar falhas.
"Algumas crianças têm
dificuldade na escrita manual e, quando conhecem o computador, esses problemas
desaparecem. É preciso ter uma escrita que seja compreensível para os outros.
Depois que isso estiver sedimentado, pode-se usar o computador sempre."
Essa geração não escreve menos, ao
contrário ─ só não escreve mais à mão, compara D. V., diretora de escola.
"O [escritor] Mário Prata falou uma vez que essa geração escreve muito
mais do que as anteriores. No meu tempo, era impensável um jovem ficar quatro
horas seguidas lendo e escrevendo."
Disponível
em: <http://www.faberludens.com.br/pt-br/node/1478>. [Adaptado].
4.
5.
Máquina escrevendo - Clarice Lispector
Sinto que já cheguei quase à
liberdade. A ponto de não precisar mais escrever. Se eu pudesse, deixava meu
lugar nesta página em branco: cheio do maior silêncio. E cada um que olhasse o
espaço em branco, o encheria com seus próprios desejos.
Vamos falar a verdade: isto aqui não
é crônica coisa nenhuma. Isto é apenas. Não entra em gênero. Gêneros não me
interessam mais. Interessa-me o mistério. Preciso ter um ritual para o
mistério? Acho que sim. Para me prender à matemática das coisas. No entanto, já
estou de algum modo presa à terra: sou uma filha da natureza: quero pegar,
sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou
uma só. Antes havia uma diferença entre escrever e eu (ou não havia? Não sei).
Agora mais não. Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que
sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo.
Crônicas
para jovens: de escrita e vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2010. p. 57-58.
6.
Narradores de Javé: o filme - Sônia Regina da Luz Matos
“Narradores de Javé”, produzido no
Brasil, por Bananeiras Filmes, em 2003; escrito e dirigido pela brasileira
Eliane Caffé. Os críticos de cinema o descrevem como uma comédia dramática,
baseada em fatos jornalísticos. Tendo como principais atores: José Dumont,
atuando como Antônio Biá, o escrevedor das memórias orais do povo. Nelson
Xavier, como Zaqueu, um dos lideres da comunidade de e narrador da história de
Javé anos após o “acontecido”.
[…]
O filme inicia com Zaqueu, narrando
a história da cidade de Javé, anos depois desta ser inundada pela represa. A
história que Zaqueu conta aconteceu no sertão da Bahia, estando a comunidade de
Javé ameaçada por uma inundação da hidrelétrica, construída na região. Para
tentar impedir esta tragédia, os moradores do povoado resolveram escrever sua
história e tentar transformá-la em patrimônio histórico, a ser preservado. Essa
história tinha que ser escrita através de um documento científico: um dossiê.
Mas quem poderia escrevê-la? O único adulto da comunidade, alfabetizado e bom
nas “escrituras”, era Antônio Biá (José Dumont). Foi ele o escolhido para
escrever este documento “científico”, embora a comunidade de Javé não confiasse
nele. O povo o chamava de “sacanajeiro, enganadô”. Porque as pessoas de Javé o
chamavam assim? Zaqueu conta que no passado ele, o Biá, usou do poder da
escrita para enganar as pessoas. Ele era funcionário do único posto de correios
da cidade. Por ser uma comunidade não alfabetizada, o correio passou a ser um
local, quase sem função social, as pessoas não utilizavam a tecnologia da
escrita no seu cotidiano. Antônio Biá percebe a ameaça de ficar sem seu
emprego, pois o correio estava para ser fechado, pela ausência de uso da
escrita. Então, ele cria a estratégia para não perdê-lo. Passa a escrever
cartas para outras localidades, em nome das pessoas do Vale de Javé. Fofocas
eram o conteúdo das cartas, como bem relata Zaqueu: “Ele aumentava os fatos
acontecidos com malícia e difamando. Mas tudo era feito com graça e sapiência
do ofício de escrever”. Ao ser descoberta sua farsa, foi expulso do centro
deste vilarejo. Mas a mesma comunidade que o expulsou, há tempos atrás, naquele
momento, precisava de “seus serviços”. Zaqueu afirma que ele teria que escrever
o documento científico de Javé, pois ele é tido com um bom escritor: “Se
Antônio Biá escreve mentira, escreve muito bem!!! E para fazê um dossiê, tem
que fazê uma juntada de escrita das coisas que aconteceram por aqui... Ouvindo
a nossa gente contando pela boca, a história verdadeira, a científica”. Depois
dessas declarações, Antônio Biá foi obrigado a aceitar o cargo de escrevedor. O
povo passa a contar, narrar as memórias orais, na esperança de salvá-los da moderna
tecnologia, a hidrelétrica, que fará o povoado desaparecer nas águas.
O escrevedor de memórias já estava
contratado, urgentemente, ele precisava ouvir os relatos das memórias, das
histórias orais feitas pelos narradores de Javé, isto é, os moradores e as
moradoras deste Vale. Nesta fase do filme, Biá passa a visitar as casas dos
moradores e pedir-lhes que conte os fatos acontecidos: “Conte as lembranças
javélicas, históricas e pré-históricas, para gente pôr no livro a odisseia do
Vale de Javé”, falava o sacanajeiro!
Javé e seu povo. Eles e elas, moços
e moças, crianças, velhos, velhas, mulheres e homens, negros e negras, em sua
maioria; poucos brancos e muitos mestiços, todos nordestinos; se diziam
esperançosos ao narrarem as memórias de sua Javé. Histórias contadas de várias
versões, enredos, e cenários; desde guerreiros e guerreiras, heroínas e heróis,
mendigos homens sofredores de “dor de corno”. Tinha até quem dissesse que os
“javélicos e javélicas” vieram da África. Apesar desta variedade de fatos e de
versões, o fundador da cidade, o javélico Indalécio e Mariadina, sempre
apareciam nas prosas das autonarrativas do Vale. A história da vida deste
povoado é a história das narrativas que ouviram, viram, e quase nada
escreveram. A cada narrador uma outra história. A mesma Javé tinha sentidos
diferentes, tanto para aquele que contava quanto para aqueles que ouviam.
Produzindo assim multiplicidade de histórias e diferentes efeitos de sentidos.
Somos constituídos e atravessados pelas nossas histórias e pelo que narramos
delas.
Disponível
em: <http://www.telacritica.org/NarradoresDeJave.htm>. [Adaptado].
7.
A escrita no século XXI (ou talvez além disso) - Luiz Carlos Cagliari
Até meados do século XVIII, mais da
metade dos livros existentes no mundo eram escritos em chinês. A China produz
material escrito há cerca de 4.500 anos! O sistema de escrita chinês passou de
ideográfico para uma mistura de caracteres de natureza ideográfica e
fonográfica (Sampson, 1983). Como o chinês é uma língua tipicamente monossilábica,
o caráter ideográfico se manteve sempre de forma muito saliente. O aspecto
fonográfico veio para facilitar a leitura, tirar ambiguidades, necessariamente
para transcrever nomes próprios de palavras estrangeiras e, mais raramente,
para dar conta de neologismos. A partir das missões cristãs do século XVI, um
contato mais aberto entre o Oriente e o Ocidente levou muita gente a querer
substituir o sistema de escrita chinês pelo alfabeto latino. Além de ser uma
estupidez ignorar uma produção cultural invejável, produzida no sistema chinês
de escrita, de um preconceito com relação à cultura geral dos outros, era,
ainda, uma ideia sem fundamento científico achar que o alfabeto latino é um sistema
de escrita melhor do que o sistema chinês. Antes de mais nada, é preciso
esclarecer que qualquer sistema de escrita serve para escrever qualquer língua.
A escrita chinesa foi usada para escrever o coreano e o japonês, que são línguas
muito diferentes do chinês. Sem dúvida, o alfabeto é um sistema muito
interessante, útil e prático na cultura Ocidental, justamente porque tal
cultura foi montada com a ajuda desse sistema. Apesar de tanto esforço em
querer acabar com sistema de escrita chinês, o máximo que se conseguiu foram
sistemas de transliteração que permitem um uso mais adequado de comércio entre
o Oriente e o Ocidente, sobretudo no endereçamento postal e na ortografia dos nomes
próprios chineses usados pelos ocidentais em sua escrita alfabética.
Uma crítica severa e precipitada do
caráter estranho e rebuscado da escrita chinesa, na opinião de alguns, apareceu
bem recentemente, quando os computadores pessoais tornaram-se de fácil
aquisição para grande parte das pessoas. No início, os Apples precisavam ser
programados a cada uso através de programas que empregavam o teclado
alfanumérico. Naquele momento, muitos começaram a achar que a escrita
ideográfica iria dar lugar definitivamente à escrita alfabética. Mas, isto era
apenas uma falsa aparência para quem não conhecia, de fato, como programar.
Programas como Basic e Pascal (para não falar do Fortran, Cobol, etc.) traziam,
na verdade, uma ameaça à escrita alfabética. Além dos números (em abundância
nesses programas) que são exatamente iguais aos caracteres da escrita chinesa,
misturados às letras das palavras, os programas logo desenvolveram um enorme
sistema de abreviatura e de siglas. As letras já não tinham mais o valor
fonográfico para transcrever palavras, mas um valor ideográfico de
identificação semântica. Com o advento do PC Macintosh e do Windows, a
programação através do teclado ficou quase toda substituída pela programação
via mouse. Neste caso, pequenos programas foram transformados em ícones. Ou
seja, agora, apertar um botão do mouse sobre um ícone pode equivaler a ativar
um pequeno texto. Por trás dos ícones existe um programa feito em linguagem C,
mas a isso o usuário comum não tem acesso, nem precisa saber ou se preocupar.
Para suas finalidades, basta saber como controlar o uso do mouse sobre os ícones.
Por sua vez, a natureza dos ícones é diversa. Num aplicativo como o Word, há
letras como N para negrito, flechas para indicar que há outras opções,
pictogramas como o desenho de uma impressora para indicar o comando de imprimir,
linhas que representam tipos de formatação, etc. Além disto, há palavras
escritas alfabeticamente como rótulos de conjuntos de comandos agrupados.
Aquilo que parecia indesejável, que
era o excesso de caracteres das escritas ideográficas, como o chinês, ficou
superado pela expansão enorme da capacidade de armazenamento da memória dos
computadores. Nesse momento, o alfabeto ficou muito lento, difícil e
indesejável, porque os caracteres ideográficos necessitam apenas de um aperto
do mouse, ao passo que escrever uma palavra necessita de uma série de
movimentos, tendo, ainda, o risco de se cometer algum erro de grafia e estragar
o comando. Clicar sobre um mouse, além de rápido, é muito mais seguro. Os fatos
acima nos levam a algumas ponderações importantes sobre a situação da escrita
no futuro. Há três aspectos a serem considerados: 1) os sistemas de escrita, 2)
os materiais de escrita e 3) a atividade de ler e de escrever no contexto
cultural em que tais atividades se inscrevem.
Com relação aos sistemas de escrita
(Cagliari, 1996), está em jogo a sempre presente luta entre escrita ideográfica
e fonográfica e entre escrita pictográfica e escrita não figurativa. Do ponto
de vista teórico, não há nada a acrescentar: os usos da escrita até hoje já
exploraram bastante as possibilidades de todos os sistemas.
[…]
A telinha da tevê será o local da
escrita no futuro, além de ter outras finalidades. Os computadores
re-inventarão o livro, agora, no formato eletrônico. Segurar uma caneta para
escrever vai ser um gesto desconhecido. Papel vai ser um material associado
mais a outras coisas do que a veicular escrita. Os textos voltarão a ser
basicamente orais ou
convertidos em orais para uso comum. A forma gravada nada mais será do que uma
memória eletrônica. A forma gráfica da escrita estará reduzida a comandos que
escreverão discursos orais e decodificarão textos escritos e gravados. Assim
como comandamos a fala, prestando atenção à semântica do que se diz e não à
forma como se diz, do mesmo modo a escrita do futuro será conduzida de forma
semelhante. Os textos falados serão gravados de acordo com a fala das pessoas
ou adaptados a uma determinada variedade, à escolha. Isto irá eliminar, na
verdade, a escrita tal qual a conhecemos hoje. A gravação sonora dispensa o uso
de sistemas de escrita, necessitando apenas de controle eletrônico. A ortografia
ficará restrita às formas de superfície, de comando. Dicionários ortográficos
serão substituídos por dicionários de variação linguística e, eventualmente, de
línguas diferentes, para traduções. Se a escrita é, de fato, uma forma de
representação gráfica da linguagem oral, continuará sendo uma forma de
representação, mas deixará de ser gráfica.
Disponível
em: <http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/cagliari.html>. [Adaptado].
8
.
Disponível
em: <http://fischer-blogdofischer.blogspot.com.br/2011/10/o-avesso-do-avesso.html>;
<www.rizomas.net>.
Propostas
de redação
A
– Artigo de opinião
O artigo de opinião é um gênero do
discurso argumentativo que tem a finalidade de expressar o ponto de vista do
autor a respeito de um determinado tema. A validade da argumentação é evidenciada
pelas justificativas de posições assumidas pelo autor ao apresentar informações
e opiniões que se complementam ou se opõem. No texto, predominam sequências
expositivo-argumentativas.
Escreva um artigo de opinião
posicionando-se em relação ao tema O que as transformações da escrita revelam a
respeito das transformações do homem?. Seu artigo de opinião deve ser passível
de publicação em um jornal impresso de circulação nacional. Defenda seu ponto
de vista, apresentando argumentos que evidenciem fatores socioculturais que
justificam os padrões de escrita de cada época e sociedades letradas.
B
– Carta de leitor
De natureza
persuasivo-argumentativa, a carta de leitor é um gênero discursivo no qual o
leitor manifesta sua opinião sobre assuntos publicados em jornal, revista ou em
outro veículo de comunicação, dirigindo-se ao editor ou ao autor de um texto
publicado. O texto da carta é caracterizado pela construção da imagem do
interlocutor e por estratégias de convencimento. Os argumentos do autor buscam
convencer o destinatário a acatar o seu ponto de vista e suas ideias.
Escreva uma carta de leitor a um
jornal de circulação nacional, posicionando-se em relação a declaração de Luiz
Carlos Cagliari (Texto 7) de que a escrita deixará de ser gráfica. Para
escrever seu texto, relacione essa declaração com o tema O que as transformações
da escrita revelam a respeito das transformações do homem?. Para construir seus
argumentos, relacione dados e fatos que possam convencer o seu interlocutor a
acatar o seu ponto de vista. Para escrever sua carta, considere as
características interlocutivas próprias desse gênero.
NAO IDENTIFIQUE O REMETENTE DA
CARTA.
C
– Biografia
O gênero discursivo biografia é
composto de uma narração que busca reconstituir os fatos mais relevantes da
vida de uma pessoa ou personagem, que, geralmente, alcançou a celebridade por
meio de suas ações. A biografia tem como público, na maioria das vezes, pessoas
curiosas que se interessam pelo lado mais humano da história e que, por meio da
leitura, podem sentir-se mais próximas das personagens que admiram. Por se
tratar de um texto de natureza narrativa, seu autor possui uma certa liberdade
para se expressar, visto que as cenas criadas por ele são recriações de uma
dada realidade, o que admite um componente ficcional, permitindo a exploração
de recursos de linguagem para valorizar o texto. O texto biográfico objetiva
proporcionar ao leitor a reconstituição, o mais real possível, de uma imagem da
personalidade cuja vida está sendo contada. Por isso, as citações funcionam
como um interessante recurso, porque permitem incorporar ao texto a “voz”
daquela pessoa, associando-a a momentos importantes da sua vida.
Escreva a biografia de um escritor
(fictício), cujas ações relativas à divulgação e reflexão
sobre a temática O que as transformações da escrita revelam a respeito das transformações
do homem o tenham colocado em lugar de destaque na literatura. Para justificar
o registro da história do biografado, produza o texto destacando os principais
acontecimentos e as mais significativas realizações do escritor na literatura.
Conte a história do escritor, demonstrando como sua obra propõe e reforça o
movimento de transformação que atinge o homem e a escrita ao mesmo tempo. Por
meio de fatos ocorridos, de falas da personagem e de sua interação com outras personagens,
explicite o ponto de vista do escritor sobre as transformações do homem
reveladas pela escrita.
Conheça as apostilas de literatura do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
ATENÇÃO: Além das apostilas, o aluno recebe também, GRATUITAMENTE, o programa em Powerpoint: 500 TEMAS DE REDAÇÃO
![]() |
Leia também:
Tema de Redação - UFG – 2001
Temas de redação – Mackenzie – 1º semestre - 2008
Temas de redação da FUVEST de 2009 a 2012
Temas de redação - Unicamp - 2010
Temas de redação – Enem – 2010 – 2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário