Tema de Redação - UFG - 2011 - 2º Semestre
A prova de redação apresenta três
propostas de construção textual. Para produzir o seu texto, você deve escolher
um dos gêneros indicados abaixo:
A – Artigo de opinião
B – Carta de leitor
C – Conto
O tema é único para os três gêneros
e deve ser desenvolvido segundo a proposta escolhida.
A fuga do tema anula a redação. A
leitura da coletânea é obrigatória. Ao utilizá-la, você não deve copiar trechos
ou frases sem que essa transcrição esteja a serviço do seu texto.
Independentemente do gênero escolhido, o seu texto NÃO deve ser assinado.
Tema: Entre a cultura
do individualismo e a manutenção de valores sociais
Coletânea
1.
Os ombros suportam o mundo - Carlos Drummond de Andrade
Chega
um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo
de absoluta depuração.
Tempo
em que não se diz mais: meu amor.
Porque
o amor resultou inútil.
E
os olhos não choram.
E
as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E
o coração está seco.
Em
vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste
sozinho, a luz apagou-se,
mas
na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És
todo certeza, já não sabes sofrer.
E
nada esperas de teus amigos.
Pouco
importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu
ombros suportam o mundo
e
ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As
guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam
apenas que a vida prossegue
e
nem todos se libertaram ainda.
Alguns,
achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam
(os delicados) morrer.
Chegou
um tempo em que não adianta morrer.
Chegou
um tempo em que a vida é uma ordem.
A
vida apenas, sem mistificação.
Disponível
em: <http://www.releituras.com/drummond_osombros.asp>. Acesso em: 21 mar.
2011.
2.
Indivíduo e sociedade
[…] Onde poderíamos encontrar, nas
grandes cidades, os chamados ritos de passagens para a vida adulta? Ante a
inexistência de uma comunidade coesa, que partilha com todos os seus membros
valores comuns, dificilmente poderemos encontrar um único ritual que marque
simbolicamente a passagem do adolescente para o universo adulto. Em uma
sociedade fragmentada, hierarquizada, capaz de comportar distintas
manifestações culturais, esses rituais apenas podem ser identificados e
apreendidos na trajetória individual de cada adolescente.
Conforme a história de vida, as
relações familiares, a situação financeira, as crenças religiosas e os laços de
sociabilidades, cada jovem armazenará em sua experiência de vida algum tipo de
evento simbólico que sinalizará sua entrada no mundo adulto. Por exemplo, o
vestibular, o trote, o serviço militar, o culto religioso ou até a maternidade precoce.
Ritual e religião
Em algumas tradições religiosas, o
jovem ingressa no mundo dos adultos depois de participar de uma elaborada cerimônia
religiosa. Na religião judaica, por exemplo, há o bar mitzvah, para os meninos
que completam 13 anos, e o bat mitzvah, para as meninas de 12. Julga-se que
esses adolescentes, já maduros nessas idades, são capazes de contribuir para a
sociedade à qual pertencem. Por isso, em um ritual que a todos reúne, os jovens
recitam trechos sagrados e seguem determinadas prescrições a fim de que,
publicamente, possam ser reconhecidos como pessoas preparadas para mais uma
etapa da vida.
Na Igreja Católica, a crisma,
considerada, ao lado do batismo e da eucaristia, um dos sacramentos da
iniciação cristã, apresenta um propósito semelhante. Meninos e meninas com mais
de 15 anos podem participar dos rituais a ser ungidos pelo padre ou bispo com
óleo sagrado, símbolo da purificação da alma, que vai abençoá-los e prepará-los
para maior compreensão dessa doutrina religiosa.
Evidentemente, para os jovens
inclinados a um caminho de reclusão, os rituais são um pouco mais elaborados. Ao
atravessarem os portões de um monastério ou de um convento, precisam deixar
para trás os antigos costumes da vida mundana. Por isso, em geral enfrentam um
período de noviciato, no qual precisam abandonar as vestes seculares e fazer
diversos votos (entre eles, o de abstinência sexual), com o intuito de poder
assumir efetivamente o compromisso de uma vida voltada para o cultivo da fé e
da compaixão. Depois do noviciato, caso estejam preparados, recebem um novo título,
conforme a doutrina de sua religião, que os qualifica para uma atuação maior em
sua comunidade espiritual.
EL
FAR, Alessandra. O olhar adolescente – mente e cérebro, n. 4. Dueto Editorial.
São Paulo, [s.d.], p. 17-20.
3.
Bem comum passa pela educação e solidariedade - Marina Dias
O bem comum é o objetivo que une os
homens em sociedade e determina o modo como devem se organizar. A atual era
individualista que vivemos, com bases na especulação financeira, coloca-se
contrária ao coletivismo e, consequentemente, à prática do bem comum. Para
discutir a aplicação desse conceito e entender sobre os caminhos que levam à
solidariedade, o Espaço Cidadania entrevistou Luiz Roberto Alves, que
atualmente é professor titular do Programa de Pós-graduação em Administração e
coordenador acadêmico da Cátedra de Gestão de Cidades da Universidade Metodista
de São Paulo.
Espaço Cidadania: As pessoas estão
preocupadas com o bem comum ou voltadas para os interesses particulares?
Luiz Roberto Alves: Eu não
generalizaria. As maiorias lutam pelo seu espaço, ganho, sobrevivência. No
entanto, organizações e movimentos sociais em todo o mundo se movimentam pelo
ambiente saudável, por reivindicações de políticas de qualidade, pela
transparência nas coisas públicas e pelo direito à migração, ou por fazer da saúde
um direito universal.
Espaço Cidadania: Por que o
coletivismo enfatiza o bem comum?
Luiz Roberto: Em vez de pensar o
coletivismo, prefiro pensar os projetos comunitários. Pensar comunitariamente é
uma tendência minoritária, mas forte, como condição para nos localizarmos na
globalidade com identidade.
Espaço Cidadania: Quais são as
formas de atingir o bem comum nessa sociedade individualista?
Luiz Roberto: Visar e buscar o bem
comum implica participar de ações de educação social e de cultura política em
nossas cidades. Fazer, como diria Paulo Freire, leituras de palavra e mundo.
Descobrir novos códigos de relações humanas e fazer a crítica do tipo de
sociedade em que fomos envolvidos. Denunciar o “financismo” que
agora
nos rouba as economias e os sacrifícios feitos em décadas. Educar as novas
gerações para a solidariedade e para o entendimento da cultura como construção
de valores simbólicos a favor do que é comum, local e universal a um só tempo,
próximo e distante.
Disponível
em: <http://www.metodista.br/cidadania/numero-63/entrevista>. [Adaptado].
4.
Solteiro até que a morte nos separe - Ronaud Pereira
Ontem a noite, assistindo à
televisão, pulando de canal em canal, por acaso, parei num programa daqueles de
cunho religioso, mas muito atual, com ares de programa pop onde discutiam a
opção de permanecer solteiro nos dias de hoje. O tema era: “A gente pega mas
não se apega” e a questão era: “Medo da decepção, falta de opção ou convicção?”.
Pelo telefone as pessoas respondiam a essa questão e até me surpreendi com o
resultado. Eu acreditava que a falta de opção ganharia ênfase, mas ficou com
nenhum voto, ao passo que o medo da decepção das pessoas com seus pares ficou
com 90% dos votos dos telespectadores.
Eu vejo essa opção de permanecer
solteiro motivada por todos os três itens da questão levantada acima, e não somente
por um. Temos medo da decepção, já que conhecemos bem a natureza humana e
sabemos que os comportamentos se repetem. Se temos medo de nos decepcionar, é
evidente que é por não encontrarmos uma opção (alguém) melhor que afaste de nós
esse medo e nos torne confiantes num futuro a dois. Todos os bons partidos já
estão casados, ouvi uma vez. Por fim, ficamos convictos de que é melhor estar
só do que mal acompanhado, o que ainda é uma grande verdade.
Hoje fala-se que vivemos numa
sociedade muito individualista, como se algum dia essa sociedade tivesse sido plenamente
coletivista. Lênin bem que tentou. Mas o russo trabalhador, que fazia sua
parte, não gostou de saber que pagava indiretamente a comida do outro
compatriota preguiçoso que não queria saber de nada. O Capitalismo permaneceu
porque incentiva o esforço individual. E muito além disso, o Capitalismo
permaneceu porque nada mais é do que a institucionalização da natureza humana,
que é individualista desde sempre. O que há de coletivo em nosso comportamento
é mais estimulado por fatores alheios à nossa vontade do que por um sentimento
genuíno de fraternidade. E esse individualismo se manifesta em todos os
aspectos da nossa vida,
financeira
(descaradamente), mas também na vida amorosa e afetiva (aqui meio que
mascarada).
De fato, somos seres individuais (ou
alguém já nasceu casado?), o que desanda é justamente essa necessidade imposta
a nós pelos outros de que precisamos achar um par, contrariando nossa natureza.
Não perguntam como estamos nos sentindo, perguntam por que não agimos como
eles. Aliás qualquer forma de imposição “força a
amizade”
– na gíria jovem. Se a sua natureza é viver acompanhado, e essa é natureza de
muitos, ótimo, vá à luta, ache o seu amor e seja feliz. Mas e se não for? E há
pessoas que realmente não nasceram para viver a dois. Nesse caso, o melhor é
assumir sua liberdade, manter-se independente, e ser feliz assim. O que há de mal?
O importante é fazer o que manda o coração e sentir-se bem consigo mesmo.
Sou um defensor da liberdade, mais
do que qualquer outro sentimento (para mim liberdade é antes de mais nada um
sentimento – há quem crie as próprias prisões). Vejo com alegria qualquer
progresso alheio que torne o sujeito mais independente do que antes. Mas as
pessoas se casam justamente porque não sabem o que fazer com sua liberdade – eu
digo, há quem crie suas próprias prisões. O casamento, um subterfúgio? Em
muitos casos, com certeza. Ele pode se tornar um refúgio para não precisarmos
mais encarar certas situações, ou melhor, para não termos mais de pensar. Você
nunca ouviu aquele ditadozinho ridiculamente verdadeiro: “Quem pensa, não casa.
Quem casa, não pensa!”?
Disponível
em:
<http://www.ronaud.com/arte-de-viver/solteiro-ate-que-a-morte-nos-separe/>.
[Adaptado].
[Adaptado].
5.
Sociedade narcisista - Luciana C. Berlinck
Nossa sociedade alimenta o gosto
pelo efêmero; passado e futuro não são referências psicológicas e sociais
predominantes, mas sim o presente como instante fugaz. Porém, a ordem humana
surge exatamente como capacidade para simbolizar, isto é, para lidar com o
ausente, e a primeira relação com a ausência é dada pela relação com o outro
sob a forma do tempo, seja como relação com o morto – relação com o que se
tornou ausente – seja como relação com a natureza por meio do trabalho, que
torna presente o que estava ausente. A temporalidade, relação com a ausência,
é, assim, decisiva para a realização do trabalho do luto, e a impossibilidade
dessa relação temporal é o que opera na melancolia e dificulta (quando não
impede) o trabalho de sua superação. Ora, a sociedade do efêmero, do tempo
reduzido ao instante presente fugaz abandonou a densidade e profundidade do tempo,
desencadeando a impossibilidade de simbolizar a ausência e, portanto, gerando
depressão, isto é, a melancolia.
A sociedade narcisista desvaloriza
culturalmente o passado, não sendo surpreendente que este apareça sob a forma
da "nostalgia", como se o passado fosse o mesmo que velhos estilos e
velhas modas sempre repostos pelo mercado como um bem de consumo volátil. De
fato, sem interesse pelo passado, o narcisista também não se interessa pelo
futuro, achando difícil a interiorização de associações e de lembranças felizes
com as quais poderia enfrentar a velhice que, no seu entender, sempre traz
tristeza e dor. A incapacidade para atar os laços do passado e do futuro coloca
a sociedade e os indivíduos na mesma condição de Narciso, incapaz de
amadurecer.
Também a ameaça de catástrofes (de
guerras de extermínio geral, desastres ecológicos irreversíveis, surgimento de
novos vírus etc.) tornou-se uma preocupação cotidiana. E, assim, justifica-se
viver o momento, o viver para si, e não para as gerações futuras. Perdeu-se o
sentido de continuidade histórica, na qual as gerações se sucediam
do
passado para o futuro. A sociedade sem futuro se dispõe a um narcisismo
coletivo. Nessa cultura do individualismo competitivo, o indivíduo é levado
pelo desejo desenfreado da felicidade, identificada ao sucesso, sendo este
identificado à supremacia pela eliminação do outro (eliminação que, se não é
física, é moral e profissional).
O núcleo da sociedade narcisista é a
necessidade do espelho, isto é, das imagens. O indivíduo da cultura do
narcisismo é aquele que depende do espelho dos outros para validar sua precária
ou inexistente autoestima, traço que, como vimos, marca indelevelmente o
melancólico. Ficando a sós consigo mesmo, cresce sua insegurança,
pois
ele precisa de plateia e admiração. Se tomarmos a relação dos indivíduos com as
imagens produzidas pelos instrumentos produtores de realidade virtual e pelos
outros meios de comunicação de massa, veremos repetir-se exatamente o que se
passa no mito de Narciso.
A imagem midiática, espelho que
reflete uma imagem que deve ser desejada ou desejável, é, por sua irrealidade, inteiramente
inalcançável. Há um abismo entre o dever-ser da imagem e o ser do indivíduo
que, identificando-se com a imagem, sente-se distante de si e experimenta uma
perda contínua. Isso é tanto mais relevante para compreendermos a extensão
assumida pela melancolia (com o nome de depressão) quanto mais levarmos em
conta que as mensagens midiáticas, visando à sedução, operam com simulacros,
imagens do real intensificado, dotado de uma aparência mais real do que o
próprio real, para torná-lo absolutamente desejável.
Isso significa que a identificação
por meio do espelho ou da imagem inalcançável e absoluta impossibilita uma identidade
pessoal positiva ou afirmativa e instaura uma identidade negativa ou por falta.
Eis a razão por que um dos traços mais marcantes da experiência contemporânea é
o autoexame corporal e psíquico incessante com a finalidade de detectar
imperfeições, incorreções e faltas por comparação com a imagem hiperreal ou
virtual. Não poderia ser mais óbvia a consequência: tem um nome preciso uma
experiência contínua de falta e perda, de desconhecimento de si por
identificação negativa com um outro que é o próprio eu. Chama-se melancolia.
Disponível
em: <http://revistacult.uol.com.br/website/dossie/Default.asp?sqlPage=46>.
[Adaptado].
6.
Propostas
de redação
A
– Artigo de opinião
O artigo de opinião é um gênero do
discurso argumentativo que tem a finalidade de expressar o ponto de vista do
autor a respeito de um determinado tema. A validade da argumentação é
evidenciada pelas justificativas de posições assumidas pelo autor ao apresentar
informações e opiniões que se complementam ou se opõem. No texto, predominam
sequências expositivo-argumentativas.
Suponha que você foi convidado por
um jornal de circulação local para escrever um artigo de opinião a respeito do
papel do individualismo na formação do jovem contemporâneo. Defenda seu ponto
de vista, apresentando argumentos que evidenciem a oposição individualismo versus
coletivismo.
B
– Carta de leitor
De natureza
persuasivo-argumentativa, a carta de leitor é um gênero discursivo no qual o
leitor manifesta sua opinião sobre assuntos publicados em jornal, revista ou em
outro veículo de comunicação, dirigindo-se ao editor ou ao autor de um texto
publicado. O texto da carta é caracterizado pela construção da imagem do
interlocutor e por estratégias de convencimento. Os argumentos do autor buscam
convencer o destinatário a acatar o seu ponto de vista e suas ideias.
Escreva uma carta de leitor a um
jornal local, posicionando-se em relação às ideias sobre a cultura do
individualismo e a manutenção de valores sociais, defendidas por Luiz Roberto
Alves, professor titular do Programa de Pós-graduação em Administração e
coordenador acadêmico da Cátedra de Gestão de Cidades da Universidade Metodista
de São Paulo. Para construir seus argumentos, relacione dados e fatos que
possam convencer o seu interlocutor a acatar o seu ponto de vista.
Para escrever sua carta, considere
as características interlocutivas próprias desse gênero.
NÃO IDENTIFIQUE O REMETENTE DA
CARTA.
C
– Conto
O conto é um gênero do discurso
narrativo. Sua constituição formal é pouco extensa. Essa característica de
síntese exige um número reduzido de personagens, esquema temporal e espacial econômico
e um número limitado de ações. O narrador elabora o ponto de vista que sustenta
a trama. O enredo estabelece um único conflito. No desenvolvimento do texto, o
conflito poderá ou não ser solucionado.
Escreva um conto sobre
o tema Entre a cultura do individualismo e a manutenção de valores sociais. Para
escrever seu texto, imagine que você seja um individualista radical e se vê
forçado a viver uma experiência de coletividade extrema. A história que você
vai criar deve estabelecer um conflito que envolva a oposição individualismo versus
coletivismo.
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