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sexta-feira, 29 de maio de 2015

Texto: "De que ri a Mona Lisa?" — Affonso Romano de Sant´Anna

De que ri a Mona Lisa?

            Estou na Sala Da Vinci, no Louvre. Aqui penetrei encaminhado por uma seta que dizia "Sala Da Vinci". É como se fosse uma indicação para uma grande avenida no trânsito de uma cidade. Não que a seta seja apelativa ou extraordinária. Mas reconheço que nela está escrito implicitamente algo mais. E como se sob aquelas letras estivesse inscrito: "Preparem o seu coração para um encontro histórico com a Gioconda e seu indecifrável sorriso". E tanto é assim que as pessoas desembocam nesta sala e estacionam diante de um único quadro o da Mona Lisa. 
"Mona Lisa". Leonardo da Vinci.
            Do lado esquerdo da Gioconda, dezesseis quadros de renascentistas de primeiro time. Do lado direito, dez quadros de Rafael, Andrea del Sarto e outros. E na frente, mais dez Ticianos, além de Veroneses, Tintorettos e vários outros quadros do próprio Da Vinci.
            Mas não adianta, ninguém os olha.
            Estou fascinado com este ritual. E escandalizado com o que a informação dirigida faz com a gente. Agora, por exemplo, acabou de acorrer aos pés da Mona Lisa um grupo de japoneses: caladinhos, comportadinhos, agrupadinhos diante do quadro. A guia fala-fala-fala e eles tiram-tiram-tiram fotos num plic-plic-plic de câmeras sem flash. Sim, que é proibido foto com flash, conforme está desenhado num cartaz para qualquer um entender.
            E lá se foram os japoneses. A guia os arrastou para fora da sala e não os deixou ver nenhum outro quadro. E assim pessoas vão chegando sem se dar conta de que sobre a porta de entrada há um gigantesco Veronese,Bodas de Caná. E singularíssimo, porque o veneziano misturou a festa de Caná com a "última ceia". Cristo está lá no meio da mesa, num cenário greco-romano. O pintor colocou a escravaria no plano superior da tela e ali há uma festança com a presença até de animais.
            Entrou agora na sala outro grupo. São espanhóis e italianos. "Veja só os olhos dela", diz um à sua esposa, exibindo o original senso crítico. "De qualquer lado que se olha, ela nos olha", diz outro parecendo ainda mais esperto. "Mas, que sorriso!", acrescenta outro ainda. E se vão.
            Ao lado esquerdo da Mona Lisa reencontro-me com dois quadros de Da Vinci. Mas como as pessoas não foram treinadas para se extasiar diante deles, são deixados inteiramente para mim. São A Virgem dos Rochedos e São João Batista. Este último me intriga particularmente. É que este São João assim andrógino tem uma graça especial. E mais: tem o rosto muito semelhante ao de Santa Ana, do quadro Santa Ana, a Virgem e o Menino, no qual Freud andou vendo coisas tão fantásticas, que se não explicam o quadro pelo menos mostram como o psicanalista era imaginoso.
            Chegou um bando de garotos ingleses-escoceses-irlandeses, vermelhinhos, agitadinhos, de uniforme. Também foram postos diante da Mona Lisa como diante do retrato de um ancestral importante. Só diante dela. O guia falava entusiasmado como se estivesse ante o quadro de uma batalha. E ele ali, talvez, achando graça da situação.
            Enquanto isto ocorre, estou enamorado da Belle Ferroniêre, do próprio Da Vinci, que embora possa ser a própria Mona Lisa de perfil, ninguém olha.
            Chegou agora um grupo de jovens surdos-mudos holandeses. Postaram-se ali perplexos, o guia falou com as mãos e foram-se. Chegou um grupo de africanos. E repete-se o ritual. E ali na parede os vários Rafaéis, outros Da Vincis, do lado esquerdo os dezesseis renascentistas de primeira linha, do lado direito os dez quadros de Rafael, Andrea del Sarto e outros e na frente mais dez Ticianos, além dos Veroneses, Tintorettos etc., que ninguém vê.
            O ser humano é fascinante. E banal. Vêm para ver. Não veem nem o que veem, nem o que deviam ver. Entende-se. Aquele cordão de isolamento em torno da Mona Lisa aumenta a sua sacralidade. E tem um vigia especial. E um alarme especial contra roubo. Quem por ali passou defronte dela acionando sua câmera pode voltar para a Oceania, Osaka e Alasca com a noção de dever cumprido. Quando disserem que viram a Mona Lisa, serão mais respeitados pelos vizinhos.
            Mal entra outro grupo de turistas para repetir o ritual, percebo que a Mona Lisa me olha por sobre o ombro de um deles e sorri realmente.
            Agora sei de que ri a Mona Lisa.

(Affonso Romano de Sant´Anna)


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Tema de Redação – Cásper Líbero – 2013

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            Escreva um texto dissertativo (em prosa) no qual você analise os principais desafios que as grandes cidades brasileiras enfrentam atualmente para garantir a seus habitantes alguns valores essenciais ao pleno exercício da cidadania, como o gozo dos direitos civis e políticos, a igualdade de oportunidades e de condições, o respeito às diferenças (de classe econômica, religião, etnia, escolaridade, orientação sexual…) ou ainda outros valores que você julgue relevantes.

Observações:
1. Cuide para que seu texto não se transforme em um amontoado de frases feitas e clichês sobre o tema. Procure desenvolver um ponto de vista consistente e expressivo sobre a(s) questão(ões) a ser(em) abordada(s), expondo as ideias de modo coerente.
2. O texto deve ser escrito na variante culta (formal) da língua portuguesa. Portanto, não use gírias e certos recursos expressivos muito informais.
3. Embora se trate de um texto dissertativo, é plenamente possível que o candidato se expresse na 1ª, 2ª ou 3ª pessoas do discurso.



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Tema de Redação – Cásper Líbero – 2012

Tema de Redação – Cásper Líbero – 2012

Ser ou não ser

            Na atualidade, a imagem da juventude está marcada ao mesmo tempo pela ambiguidade e pela incerteza. Digo ambiguidade, pois se, de um lado, a juventude é sempre exaltada na contemporaneidade, cantada que é em prosa e verso pelas potencialidades existenciais que condensaria, por outro a condição jovem caracteriza-se por sua posição de suspensão no espaço social, que se materializa pela ausência de seu reconhecimento social e simbólico.
            Seria em decorrência disso que a incerteza é o que se delineia efetivamente como o futuro real para os jovens, em todos os quadrantes do mundo. É preciso destacar, antes de tudo, que a possibilidade de experimentação foi o que passou a caracterizar a condição da adolescência no Ocidente, desde o final do século 18, quando as idades da vida foram construídas em conjunção com a família nuclear burguesa, em decorrência da emergência histórica da biopolítica.
            Nesse contexto, a adolescência foi delimitada como o tempo de passagem entre a infância e a idade adulta, na qual o jovem podia empreender experiências nos registros do amor e das escolhas profissionais, até que pudesse se inserir no mercado de trabalho e se casar para reproduzir efetivamente as linhas de força da família nuclear burguesa. Desde os anos 1980, no entanto, essa figuração da adolescência entrou em franco processo de desconstrução, por diversas razões.
            Antes de mais nada, pela revolução feminista dos anos 1960 e 70, com a qual as
mulheres foram em busca de outras formas sociais de existência, além da condição materna. Em seguida, porque o deslocamento das mulheres da posição exclusivamente materna foi o primeiro combate decisivo contra o patriarcado, que forjou nossa tradição desde a Antiguidade. Finalmente, a construção do modelo neoliberal da economia internacional, em conjunção com seu processo de globalização, teve o poder de incidir preferencialmente em dois segmentos da população, no que tange ao mercado de trabalho. De fato, foram os jovens e os trabalhadores da faixa etária dos 50 anos os segmentos sociais mais afetados pela voragem neoliberal. Com isso, se os primeiros passaram a se inserir mais tardiamente no dito mercado, os segundos passaram a ser descartados para ser substituídos por trabalhadores jovens e mais baratos, pela precariedade que foi então estabelecida no mercado de trabalho.
            Foi em consequência desse processo que o tempo de duração da adolescência se alongou bastante, ficando então os jovens fora do espaço social formal e lançados perigosamente numa terra de ninguém. Assim, graças à ausência de inserção no mercado de trabalho, a juventude foi destituída de reconhecimento social e simbólico, prolongando-se efetivamente, não tendo mais qualquer limite tangível para seu término. Despossuídos que foram de qualquer reconhecimento social e simbólico, aos jovens restaram apenas o corpo e a força física. É por essa trilha que podemos interpretar devidamente a emergência e a multiplicação das formas de violência entre os jovens na contemporaneidade.
            Esse processo ocorre não apenas no Brasil e na América Latina, mas também em escala internacional. Pode-se depreender aqui a constituição de uma cultura agonística* na juventude de hoje. Assim, a violência juvenil transformou-se em delinquência, inserindo-se efetivamente no registro da criminalidade. No Brasil, os jovens de classe média e das elites passaram a atacar gratuitamente certos segmentos sociais com violência. De mulheres pobres confundidas com prostitutas até homossexuais, passando pelos mendigos, a violência disseminou-se nas grandes metrópoles do país.
            Ao fazerem isso, no entanto, seus gestos delinquentes inscrevem-se numa lógica social precisa e rigorosa. Com efeito, tais segmentos sociais representam no imaginário desses jovens a decadência na hierarquia social, sendo, pois, os signos do que eles poderão ser efetivamente no futuro, na ausência do reconhecimento social e simbólico que os marca. A cultura da força empreende-se regularmente em academias de ginástica, onde os jovens cultuam os músculos, não apenas para se preparar para os combates cotidianos da vida real, mas para forjar também um simulacro de força na ausência efetiva de potência, isto é, na ausência de reconhecimento social e simbólico, lançados que estão aqueles no desamparo.
            É nesse registro que se deve inscrever a disseminação do bullying na contemporaneidade. É preciso dizer, no que concerne a isso, que a provocação e a violência entre os jovens e crianças é uma prática social antiga. O que é novo, contudo, é a ausência de uma autoridade que possa funcionar como mediação no combate entre estes e aqueles, o que incrementou bastante a disseminação dessa prática de violência.
            Não obstante tudo isso, a juventude é ainda glorificada como a representação do que seria o melhor dos mundos possíveis. A juventude seria então a condensação simbólica de todas as potencialidades existenciais. Contudo, se fazemos isso é porque não apenas queremos cultivar a aparência juvenil, por meio de cirurgias plásticas e da medicina estética, mas também porque o código de experimentação que caracterizou a adolescência de outrora se disseminou para a idade adulta e para a terceira idade. Constituiu-se assim uma efetiva adolescência sem fim na tradição ocidental, onde se busca pelo desejo a possibilidade de novos laços amorosos e novas modalidades de realização existencial.

(Joel Birman, revista Cult n. 157, maio 2011).

*agonística: relativo a luta, conflito, combate.

            Tomando por base algumas questões desta prova acerca dos jovens na atualidade, escreva uma carta para o editor da revista que publicou o texto “Ser ou não ser” (trate-o simplesmente de “Caro editor”), na qual você se posicione criticamente em relação às principais ideias que o texto veicula.
            Nesta carta, defenda também seus pontos de vista sobre a juventude nos dias de hoje e procure invocar situações concretas ligadas à relação dos jovens com a escola, o esporte, a cultura, o lazer, a política, os projetos sociais e o mundo do trabalho. Fique atento para não se restringir a um simples relato.

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Crase

Crase

Em gramática, dá-se o nome de CRASE à junção de duas vogais iguais. A forma mais comum de crase é a fusão entre a preposição "a" e o artigo definido feminino "a". Lembrem-se, alunos, de que crase não é o nome do acento. O acento indicador da ocorrência de crase chama-se ACENTO GRAVE..

Regras da crase

Ocorre crase

- Fusão entre a preposição "a" e o artigo definido "a"

Assisti à peça dos meus amigos de infância.

- Fusão entre a preposição "a" e os pronomes demonstrativos "aquele", "aquela" e "aquilo"


- Indicação de horas

às 13h, à uma hora, às 12h.

- Expressões adverbiais femininas

às vezes, às pampas, à vontade, à revelia, à tarde, à noite, à primeira vista, às avessas, às escondidas, às escuras, às pressas, às tontas, à direita, à esquerda, à toa, à francesa, à beça, etc.

- Expressões prepositivas e conjuntivas femininas

à medida que, à proporção que, às custas de, à custa de, à procura de, à maneira de, à moda de, à espera de, à exceção de, etc.


Não ocorre crase

- Antes de verbos

- Antes de nomes masculinos

Exceção: caso haja as expressões "à moda de" ou "à maneira de",  implícitas ou não na oração.

Fez um gol à Romário.

- Antes de pronomes em geral

- Antes de numerais em geral

- Antes de palavras no plural que não requeira o artigo definido "as"

Uso opcional do acento grave indicador de crase

- Com a preposição até

- Pronome possessivo feminino - minha, sua, vossa,


Regras para nomes de lugares

A regra mais básica consiste na pergunta: Voltei de ou  voltei da. Caso a resposta seja "voltei da", significa que a localidade referida requer o artigo definido feminino "a", logo haverá a ocorrência de crase.

Vou a Alemanha. Voltei DA Alemanha.
Ocorre crase: Vou À Alemanha.

Vou a Argentina. Voltei DA Argentina.
Ocorre crase: Vou À Argentina.

Vou a Portugal. Voltei DE Portugal.
Não ocorre crase: VOU A PORTUGAL.

Vou a Marrocos. Voltei DE Marrocos.
Não ocorre crase: VOU A MARROCOS.

Nomes de cidades

Geralmente, nomes de cidades não admitem o artigo definido feminino "a", portanto não haverá a ocorrência de crase.

Vou a Porto Alegre. Voltei de Porto Alegre.

No entanto, caso haja alguma especificação em relação à cidade, haverá a ocorrência de crase.

Vou à maravilhosa Porto Alegre. Voltei da maravilhosa Porto Alegre.
Vou à Paris dos grandes museus. Voltei da Paris dos grandes museus.

Regra geral

Uma das formas mais precisas para se verificar a ocorrência de crase consiste em substituir a palavra feminina da expressão por uma masculina. Caso a palavra masculina requeira o artigo definido masculino "o", o termo feminino requererá o artigo definido feminino "a", resultando na obrigatoriedade do acento grave indicador de crase.

Exemplos:

Cheguei cedo ao colégio. / Cheguei cedo à escola.

Ela se dirigiu ao salão de jogos. / Ela se dirigiu a sala de estar.

Meu tio comprou o apartamento na praia. / Meu tio comprou a casa de praia

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Exercícios – Complete adequadamente as lacunas com a, à, as ou às.

1. “Como sugeriu o apóstolo Paulo, ___ verdade está subordinada ___ bondade.”

(Rubem Alves)

2. “Apesar da idade, não me acostumar ___ vida. Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. Sempre pela primeira vez, com ___ mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. Nascer todas ___ manhãs.” 

(Miguel Torga, in “Diário”,1982)

3. “Enquanto esperava os três apitos para retirar a lasanha ___ bolonhesa do microondas, Espinosa refletia sobre certo tipo de gente que se põe a sobrevoar a vida das pessoas como mosca-varejeira, sem decidir se fica ou vai embora, dando voos laterais e depois retornando sempre ao mesmo ponto.”

(Luiz Alfredo Garcia-Roza , in “Perseguido”)

4. “Faço parte de uma ínfima minoria integrada por monges trapistas, alguns matemáticos, noviças abobadas e uns poucos artistas, gente conservada na calda da mansidão ___ custa de poesia ou barbitúricos. Gente esquisita, que vive alheia nas frestas da realidade. Só assim conseguem entregar-se por inteiro ___quilo que consagraram como objeto de culto e devoção.”

(Marçal Aquino)

5. “Por três caminhos se chega ___ virtude: pela reflexão, que é o mais nobre; pela imitação, que é o mais fácil e pela experiência que é o mais amargo.”

(Confúcio)

6. "O universo não foi feito ___ medida do ser humano, mas tampouco lhe é adverso: é-lhe indiferente."

(Carl Sagan)

7. “Os americanos são pessoas que ficam felizes quando conseguem acrescentar uma casa ___ sua garagem.”

(John O’Hara)

8. "O professor se liga ___ eternidade. Ele nunca sabe quando cessa ___ sua influência."

(Henry Adams)

9. "Via-a distanciar-se irremediavelmente e só a sua fuga o impediria de vir ___ odiá-la. Precisava decifrá-la, devolvê-la ___ si mesma e em seguida ir embora, levando dela uma lembrança boa, amiga. Explicava-se agora o temor que sentira ___ primeiras tentativas de aproximação. Anita era diferente dele, não cogitava de preconceitos, não temia coisa alguma nem ninguém, estava ___ margem da vida como uma parasita que a correnteza não arrastou na sua vertigem."

(Mario Donato, in “Presença de Anita”)

10. “Cada momento de beleza vivido e amado, por efêmero que seja, é uma experiência completa que está destinada ___ eternidade. Um único momento de beleza e de amor justifica ___ vida inteira.”

(Rubem Alves)

11. “Quem sou eu? Deixemos de lado ___ interrogações. Sou um esboço ___ procura das cores...”

(Nizar Qabbani)

12. "Continuo achando graça nas coisas, gostando cada vez mais das pessoas, curiosa sobre tudo, imune ao vinagre, ___ amarguras, aos rancores."

(Zélia Gattai)

13. O livro é o portão de acesso
___ liberdade e ao saber.
E nem sequer cobra ingresso:
basta abri-lo, entrar… e ler!

(Antônio Augusto de Assis)

14. “Por isso os seus pas­sos os levam de regresso ___ casa, ___ veredas da infância, ao velho portão em ruí­nas, ___ poeira das primeiras, das únicas lágrimas.”

(Manuel António Pina)

15. “Se ___ gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada ___ costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos...”

(Manoel de Barros, in "Memórias Inventadas: A Infância")

16. Nada no mundo se repete. 
Nenhuma hora é igual ___ que passou. 
Cada fruto que vem cria e promete 
Uma doçura que ninguém provou. 

(Miguel Torga)

17. Retenho dentro da alma, preso ___ quilha 
Todo um mar de sargaços e de vozes, 
E ainda procuro no horizonte ___ ilha 
Onde sonham morrer os albatrozes... 

Venho de longe a contornar ___ esmo, 
O cabo das tormentas de mim mesmo.

(Paulo Bonfim)

18. Pálida ___ luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

(Álvares de Azevedo)

19. As coisas tangíveis 
tornam-se insensíveis 
___ palma da mão. 

Mas ___ coisas findas 
muito mais que lindas
essas ficarão.

(Carlos Drummond de Andrade)

20. Nunca tive os olhos tão claros 
e o sorriso em tanta loucura. 
Sinto-me toda igual ___ arvores: 
solitária, perfeita e pura. 

Aqui estão meus olhos nas flores, 
meus braços ao longo dos ramos: 
e, no vago rumor das fontes, 
uma voz de amor que sonhamos.

(Cecília Meireles)


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Tema de Redação – Cásper Líbero – 2011

Tema de Redação – Cásper Líbero – 2011


            Cada uma das obras obrigatórias que integram este exame vestibular veicula uma visão crítica acerca do homem e da sociedade, de modo geral, sendo que algumas delas aplicam essa crítica à sociedade brasileira, mais especificamente.
            Tomando por base, necessariamente, algumas das ideias veiculadas não só pelos livros e filmes como também pelos textos de Caio Prado Júnior em torno dos quais algumas questões foram elaboradas, redija um texto dissertativo em prosa no qual você apresente sua visão crítica (pessoal) da sociedade brasileira, apontando a viabilidade de algumas soluções para os problemas estruturais que o Brasil enfrenta desde sua constituição como nação.

Observações:
1. Cuide para que seu texto não se transforme em um amontoado de frases feitas e clichês sobre os problemas do Brasil. Procure desenvolver um ponto de vista consistente e expressivo sobre a(s) questão(ões) a ser(em) abordada(s), expondo as ideias de modo coerente.
2. O texto deve ser escrito na variante culta (formal) da língua portuguesa. Portanto, não
use gírias e certos recursos expressivos muito informais.
3. Embora se trate de um texto dissertativo, é plenamente possível que o candidato se
expresse na 1ª, 2ª ou 3ª pessoas do discurso.

Nota do blog:

As obras exigidas pela Cásper Líbero nesse ano foram:

Os filmes:

Abaixo os textos de Caio Prado Júnior presentes na prova.


            A Independência (que tem seu ponto de partida na transferência da corte portuguesa em 1808) assinala a estruturação do Estado Brasileiro, o que determina, com a configuração da nova individualidade nacional que o Brasil passava a apresentar, a grande e variada série de consequências que derivam da inclusão no próprio país e sobre a base exclusiva de nacionais, do seu centro político, administrativo e social. A inspiração, orientação e direção do conjunto da vida brasileira se farão daí por diante a partir de seu próprio interior onde se localizarão seus estímulos e impulsos, o que torna possível definir, propor e realizar as aspirações e interesses propriamente nacionais. Do ponto de vista estritamente econômico, destaquemos unicamente o que a estruturação do Estado nacional representaria como fator de ampliação das despesas públicas, com reflexo imediato nas particulares; e portanto de ativação de vida econômica e financeira, aumento da renda nacional e do consumo que isso representa. O efeito conjugado desses fatores resultará, em consequência da brusca transformação ocorrida, no profundo desequilíbrio financeiro e nas crises que caracterizam a vida do Império até meados do século. E constitui circunstância que influi poderosamente no sentido de estimular a integração nacional da economia brasileira. Isso será tanto mais sensível e de efeitos mais amplos, que acresce um fator de ordem político-administrativa a atuar no mesmo sentido. Até a Independência, as capitanias brasileiras, depois províncias e hoje Estados, se achavam dispersas e cada qual muito mais ligada à metrópole portuguesa que às demais. A administração sediada no Rio de Janeiro era de fato, no que respeita ao conjunto da colônia, puramente nominal, e sua jurisdição não ia realmente além da intitulada capital e sede do Vice-reinado e das capitanias meridionais. A transferência da corte torna o Rio de Janeiro efetivamente em centro e capital do país que se articulará assim num todo único. Essa situação se consolidará com a efetivação da Independência e a formação do Estado nacional brasileiro, que constituem assim a definitiva integração territorial do país antes disperso e interligado unicamente através e por via da metrópole.
            De maior proporção ainda, no que respeita à transformação da antiga colônia em
coletividade nacional integrada e organizada, são estes primeiros passos decisivos da incorporação efetiva da massa trabalhadora à sociedade brasileira que consistem na supressão do tráfico africano (1850) e seus corolários naturais: o estímulo à imigração europeia de trabalhadores destinados a suprir a falta de mão-de-obra provocada pela supressão daquele tráfico, e a abolição da escravidão (1888).

(Caio Prado Júnior. A revolução brasileira.)

            “Em conclusão, apesar das grandes transformações por que passou a economia brasileira, e que se vêm acentuando nestes últimos decênios, ela não logrou superar algumas de suas principais debilidades originárias, e libertar-se de sua dependência e subordinação no que respeita ao sistema econômico e financeiro internacional de que participa e em que figura em posição periférica e marginal. /.../ é um progresso que pela maneira como se realiza , ou se realizou até hoje, se anula em boa parte e se autolimita, encerrando-se em estreitas perspectivas. Isso porque se subordina a circunstâncias que, embora aparentemente distintas do antigo sistema colonial, guardam com esse sistema, na sua essência, uma grande semelhança. /.../ Em suma, /.../ o antigo sistema colonial em que se constituiu e evoluiu a economia brasileira, apesar de todo o progresso e as transformações realizadas, fundamentalmente se manteve, embora modificado e adotando formas diferentes.
            E o processo de integração econômica nacional, embora se apresente maduro para sua completa e definitiva eclosão, se mostra incapaz de chegar a termo e se debate em contradições que não consegue superar. Das contradições que no passado solapavam a economia brasileira, passamos a outras de natureza diferente, mas nem por isso menos graves. Essas contradições se manifestam sobretudo, e agudamente, como vimos, na permanência, e até no agravamento da tendência ao desequilíbrio de nossas contas externas, embora apresentando-se agora sob novas formas, e implicando diretamente a ação imperialista. São as nossas relações financeiras com o sistema internacional do capitalismo – e nisso se distingue a nossa situação atual da do passado – que comandam o mecanismo das contas externas do país. Não são mais unicamente as vicissitudes da exportação brasileira, como ocorria anteriormente, que determinam o estado daquelas contas. E sim sobretudo e decisivamente os fluxos de capitais controlados do exterior e que sob diversas formas (inversões, financiamentos, empréstimos, amortizações, rendimentos etc.) se fazem num e noutro sentido em função dos interesses da finança internacional. Ou por fatores de ordem política que em última instância também se orientam por aqueles interesses”.

PRADO, Jr. Caio. A revolução brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1966.

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