FUVEST 2008 – 1º FASE – PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
ps. Foi mantida a numeração original da prova.
Texto para as questões de 40 a 42
Há muitas,
quase infinitas maneiras de ouvir música.
Entretanto, as três mais frequentes distinguem-se pela tendência que em
cada uma delas se torna dominante: ouvir com o corpo, ouvir emotivamente, ouvir
intelectualmente.
Ouvir com o
corpo é empregar no ato da escuta não apenas os ouvidos, mas a pele toda, que
também vibra ao contato com o dado sonoro: é sentir em estado bruto. É bastante
freqüente, nesse estágio da escuta, que haja um impulso em direção ao ato de
dançar.
Ouvir emotivamente, no fundo, não deixa de ser ouvir
mais a si mesmo que propriamente a música. É usar da música a fim de que ela
desperte ou reforce algo já latente em nós mesmos. Sai-se da sensação bruta e
entra-se no campo dos sentimentos.
Ouvir
intelectualmente é dar-se conta de que a música tem, como base, estrutura e
forma. Referir-se à música a partir dessa perspectiva seria atentar para a materialidade
de seu discurso: o que ele comporta, como seus elementos se estruturam, qual a
forma alcançada nesse processo.
Adaptado de J. Jota de Moraes, O que é música.
Questão 40 - De acordo com o texto, quando uma tendência de ouvir se torna
dominante, a audição musical
a) supõe a operação prévia da livre e consciente escolha de um dos três
modos de recepção.
b) estabelece uma clara hierarquia entre as obras musicais, com base no
valor intrínseco de cada uma delas.
c) privilegia determinado aspecto da obra musical, sem que isso
implique a exclusão de outros.
d) ocorre de modo a propiciar uma combinação harmoniosa e equilibrada
dos três modos de recepção.
e) subordina os modos de recepção aos diferentes propósitos dos
compositores.
Questão 41 - Nesse texto, o primeiro parágrafo e o conjunto dos demais
articulam-se de modo a constituir, respectivamente,
a) uma proposição e seu esclarecimento.
b) um tema e suas variações.
c) uma premissa e suas contradições.
d) uma declaração e sua atenuação.
e) um paradoxo e sua superação.
Questão 42 - Considere as seguintes afirmações:
I. Ouvir música com o corpo é senti-la em estado bruto.
II. Ao ouvir-se música emotivamente, sai-se do estado bruto.
Essas afirmações articulam-se de maneira clara e coerente no período:
a) Com o corpo, ouve-se música sentindo-a em estado bruto, ocorrendo o
mesmo se ouvi-la emotivamente.
b) Sai do estado bruto quem ouve música com o corpo, no caso de quem a
sente de modo emotivo.
c) Para sentir a música emotivamente, quem sai do estado bruto é quem a
ouve com o corpo.
d) Sai para o estado emotivo de ouvir música aquele que a ouvia no
estado bruto do corpo.
e) Quem ouve música de modo emotivo deixa de senti-la no estado bruto,
próprio de quem a ouve com o corpo.
Texto para as questões de 43 a 45
S. Paulo, 13-XI-42
Murilo
São 23 horas
e estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença que me prende, irmão
pequeno. Tomei com uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma
chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha infernal que me
inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalho! Faz quinze dias que
não faço nada, com o desânimo de apósgripe, uma moleza invencível, e as dores e
tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei
trabalhandinho por aí. (...)
Quanto a suas reservas a palavras do poema que lhe mandei,
gostei da sua habilidade em pegar todos os casos “propositais”. Sim senhor, seu
poeta, você até está ficando escritor e estilista. Você tem toda a razão de não
gostar do “nariz furão”, de “comichona”, etc. Mas lhe juro que o gosto
consciente aí é da gente não gostar sensitivamente. As palavras são postas de
propósito pra não gostar, devido à elevação declamatória do coral que precisa
ser um bocado bárbara, brutal, insatisfatória e lancinante. Carece botar um
pouco de insatisfação no prazer estético, não deixar a coisa muito
bem-feitinha.(...) De todas as palavras que você recusou só uma continua me desagradando
“lar fechadinho”, em que o carinhoso do diminutivo é um desfalecimento no grandioso
do coral.
Mário de Andrade, Cartas a Murilo Miranda.
Questão 43 - “... estou honestissimamente em casa, imagine! Mas é doença
que me prende, irmão pequeno.”
No trecho acima, o termo grifado indica que o autor da carta pretende
a) revelar a acentuada sinceridade com que se dirige ao leitor.
b) descrever o lugar onde é obrigado a ficar em razão da doença.
c) demarcar o tempo em que permanece impossibilitado de sair.
d) usar a doença como pretexto para sua voluntária inatividade.
e) enfatizar sua forçada resignação com a permanência em casa.
Questão 44 - No texto, as palavras “sinusitezinha” e “trabalhandinho” exprimem,
respectivamente,
a) delicadeza e raiva.
b) modéstia e desgosto.
c) carinho e desdém.
d) irritação e atenuação.
e) euforia e ternura.
Questão 45 - No trecho “...o gosto consciente aí é da gente não gostar
sensitivamente”, apresenta-se um jogo de idéias contrárias, que também ocorre
em
a) “dores e tratamento atrozes”.
b) “reservas a palavras do poema”.
c) “insatisfação no prazer estético”.
d) “a coisa muito bem-feitinha”.
e) “o carinhoso do diminutivo”.
Texto para as questões 46 e 47
No início do
século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe
– uma célebre análise do poder político, apresentada sob a forma de lições, dirigidas
ao príncipe Lorenzo de Médicis. Assim justificou Maquiavel o caráter professoral
do texto:
Não quero que se repute presunção o fato de um homem
de baixo e ínfimo estado discorrer e regular sobre o governo dos príncipes;
pois assim como os [cartógrafos] que desenham os contornos dos países se
colocam na planície para considerar a natureza dos montes, e para considerar a
das planícies ascendem aos montes, assim também, para conhecer bem a natureza
dos povos, é necessário ser príncipe, e para conhecer a dos príncipes é necessário
ser do povo.
Tradução de Lívio Xavier, adaptada.
Questão 46 - Ao justificar a autoridade com que pretende ensinar um príncipe a
governar, Maquiavel compara sua missão à de um cartógrafo para demonstrar que
a) o poder político deve ser analisado tanto do ponto de vista de quem
o exerce quanto do de quem a ele está submetido.
b) é necessário e vantajoso que tanto o príncipe como o súdito exerçam
alternadamente a autoridade do governante.
c) um pensador, ao contrário do que ocorre com um cartógrafo, não
precisa mudar de perspectiva para situar posições complementares.
d) as formas do poder político variam, conforme sejam exercidas por
representantes do povo ou por membros da aristocracia.
e) tanto o governante como o governado, para bem compreenderem oo
exercício do poder, devem restringir-se a seus respectivos papéis.
Questão 47 - Está redigido com clareza, coerência e correção o seguinte
comentário sobre o texto:
a) Temendo ser qualificado de presunçoso, Maquiavel achou por bem
defrontar sua autoridade intelectual, tipo um cartógrafo habilitado a desenhar
os contrastes de uma região.
b) Maquiavel, embora identificando-se como um homem de baixo estado,
não deixou de justificar sua autoridade diante do príncipe, em cujos
ensinamentos lhe poderiam ser de grande valia.
c) Manifestando uma compreensão dialética das relações de poder,
Maquiavel não hesita em ministrar ao príncipe, já ao justificar o livro, uma objetiva
lição de política.
d) Maquiavel parece advertir aos poderosos de que não se menospreze as
lições de quem sabe tanto analisar quanto ensinar o comportamento de quem
mantenha relações de poder.
e) Maquiavel, apesar de jamais ter sido um governante em seu livro tão
perspicaz, soube se investir nesta função, e assim justificar-se diante de um
príncipe autêntico.
Texto para a questão 48
A borboleta
Cada vez que o poeta cria uma borboleta, o leitor exclama:
“Olha uma borboleta!” O crítico ajusta os nasóculos e, ante aquele pedaço
esvoaçante de vida, murmura: – Ah!, sim, um lepidóptero...
Mário Quintana, Caderno H.
nasóculos = óculos sem hastes, ajustáveis ao nariz.
Questão 48 - Depreende-se desse fragmento que, para Mário Quintana,
a) a crítica de poesia é meticulosa e exata quando acolhe e valoriza
uma imagem poética.
b) uma imagem poética logo se converte, na visão de um crítico, em um
referente prosaico.
c) o leitor e o poeta relacionam-se de maneira antagônica com o
fenômeno poético.
d) o poeta e o crítico sabem reconhecer a poesia de uma expressão como
“pedaço esvoaçante de vida”.
e) palavras como “borboleta” ou “lepidóptero” mostram que há
convergência entre as linguagens da ciência e da poesia.
Texto para as questões 49 e 50
Meses depois fui para o seminário de S. José. Se eu pudesse
contar as lágrimas que chorei na véspera e na manhã, somaria mais que todas as
vertidas desde Adão e Eva. Há nisto alguma exageração; mas é bom ser enfático,
uma ou outra vez, para compensar este escrúpulo de exatidão que me aflige.
Machado de Assis, Dom Casmurro.
Questão 49 - Considerando-se o contexto desse romance de Machado de Assis,
pode-se afirmar corretamente que, no trecho acima, ao comentar o próprio
estilo, o narrador procura
a) afiançar a credibilidade do ponto de vista que lhe interessa
sustentar.
b) provocar o leitor, ao declará-lo incapaz de compreender o enredo do
livro.
c) demonstrar que os assuntos do livro são mero pretexto para a prática
da metalinguagem.
d) revelar sua adesão aos padrões literários estabelecidos pelo
Romantismo.
e) conferir autoridade à narrativa, ao basear sua argumentação na
História Sagrada.
Questão 50 - O “escrúpulo de exatidão” que, no trecho, o narrador contrapõe à
exageração ocorre também na frase:
a) No momento em que nos contaram a anedota, quase estouramos de tanto
rir.
b) Dia a dia, mês a mês, ano a ano, até o fim dos tempos, não tirarei
os olhos de ti.
c) Como se sabe, o capitão os alertou milhares de vezes sobre os
perigos do lugar.
d) Conforme se vê nos registros, faltou às aulas trinta e nove vezes
durante o curso.
e) Com toda a certeza, os belíssimos presentes lhe custaram os olhos da
cara.
Questão 51 - Considere as seguintes afirmações sobre três obras literárias:
Na primeira obra, o catolicismo apresenta-se como religião absoluta,
cujos princípios sólidos mais sobressaem ao serem contrapostos às desordens humanas.
Na segunda obra, diferentemente, ele aparece como religião relativamente
maleável, cujos preceitos as personagens acabam por adaptar a seus desejos e conveniências, sem
maiores problemas de consciência subseqüentes. Já na terceira obra, o
catolicismo comparece sobretudo como parte de um resgate mais amplo de valores
familiares e tradicionais, empreendido pelo protagonista.
Essas afirmações referem-se, respectivamente, às seguintes obras:
a) Dom Casmurro, Memórias de um sargento de milícias e Auto da barca do
inferno.
b) Memórias de um sargento de milícias, “A hora e vez de Augusto
Matraga” e Vidas secas.
c) “A hora e vez de Augusto Matraga”, A cidade e as serras e Memórias
de um sargento de milícias.
d) Auto da barca do inferno, Dom Casmurro e A cidade e as serras.
e) A cidade e as serras, Vidas secas e Auto da barca do inferno.
Questão 52 - Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e Iracema:
I. Em ambos os livros, a parte final remete o leitor ao início da
narrativa: em Vidas secas, essa recondução marca o retorno de um fenômeno
cíclico; em Iracema, a remissão ao início confirma que a história fora contada
em retrospectiva, reportando-se a uma época anterior à da abertura da
narrativa.
II. A necessidade de migrar é tema de que Vidas secas trata
abertamente. O mesmo tema, entretanto, já era sugerido no capítulo final
de Iracema, quando, referindo-se à
condição de migrante de Moacir, “o primeiro cearense”, o narrador pergunta:
“Havia aí a predestinação de uma raça?”
III. As duas narrativas elaboram suas tramas ficcionais a partir de
indivíduos reais, cuja existência histórica, e não meramente ficcional, é
documentada: é o caso de Martim e Moacir, em
Iracema, e de Fabiano e sinha Vitória, em Vidas secas.
Está correto o que se afirma em
a) I, somente. b) II, somente. c) I e II, somente. d) II e III, somente. e) I, II e III.
Questão 53 - Apesar de viver “um pouco ao sabor da sorte”, “sem plano nem
reflexão”, “movido pelas circunstâncias”, como uma espécie de “títere”
(expressões de Antonio Candido), o protagonista das Memórias de um sargento de milícias,
Leonardo (filho), como outras personagens do romance, mostra-se bastante
determinado quando se trata de
a) estabelecer estratégias para ascender na escala social.
b) assumir rixas, tirar desforras e executar vinganças.
c) demonstrar afeto e gratidão por aqueles que o amparam e defendem.
d) buscar um emprego que lhe garanta a subsistência imediata.
e) conservar-se fiel ao primeiro amor de sua vida.
Questão 54 - Entre os seguintes versos de Alberto Caeiro, aqueles que, tomados em
si mesmos, expressam ponto de vista frontalmente contrário à orientação
dominante que se manifesta em A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade,
são os que estão em:
a) “Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: / O valor está
ali, nos meus versos.”
b) “Eu nunca daria um passo para alterar / Aquilo a que chamam a
injustiça do mundo.”
c) “Como o campo é grande e o amor pequeno! / Olho, e esqueço, como o
mundo enterra e as árvores se despem.”
d) “Quando a erva crescer em cima da minha sepultura, / seja esse o sinal
para me esquecerem de todo.”
e) “Quem me dera que eu fosse o pó da estrada / E que os pés dos pobres
me estivessem pisando...”
Questão 55 - A frase em que todos os vocábulos grifados estão corretamente
empregados é:
a) Descobriu-se, há instantes, a verdadeira razão por que a criança se
recusava à freqüentar a escola.
b) Não se sabe, de fato, porquê o engenheiro preferiu destruir o pátio
a adaptá-lo às novas normas.
c) Disse-nos, já a várias
semanas, que explicaria o porque da decisão tomada às pressas naquela reunião.
d) Chegava tarde, porque precisava percorrer a pé uma distância de dois
à três quilômetros.
e) Não prestou contas à
associação de moradores, não compareceu à audiência e até hoje não disse por
quê.
GABARITO
40 – C 41 – A 42 – E 43 – E 44 – D 45 – C 46 – A 47 – C
48 – B 49 – A 50 – D 51 – D 52 – C 53 – B 54 – B
55 – E
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