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quarta-feira, 30 de julho de 2014

UFG - 2009 - 1º Semestre - 1º Fase - Prova de Língua Portuguesa

Prova de Língua Portuguesa - UFG - 2009 - 1ºsemestre - 1ºfase



Leia a charge para responder às questões de 01 a 03.


QUESTÃO 01 - Na charge, o termo carnívoro sugere uma classificação que

(A) presume uma dieta alimentar baseada tanto em proteína animal quanto em proteína vegetal.
(B) compara os humanos que se alimentam de carne aos animais que são carnívoros.
(C) separa os animais da ordem dos herbívoros dos da ordem dos carnívoros.
(D) denuncia a fragilidade física daqueles que se alimentam de carne.
(E) mostra que as diferenças alimentares não impedem a convivência social em um restaurante.

QUESTÃO 02 - A charge faz uma crítica aos defensores da alimentação vegetariana, produzindo um efeito de humor e ironia por

(A) prever novas formas de restrição a práticas de consumo ainda aceitáveis.
(B) sugerir hábitos sociais que estão de acordo com as previsões do Apocalipse.
(C) recuperar antigos costumes alimentares abandonados pela sociedade atual.
(D) propor regras como garantia de boas maneiras à mesa.
(E) discriminar o indivíduo que foge dos padrões de vida saudável.

QUESTÃO 03 - É possível associar a crítica feita na charge à seguinte opinião sobre o tabagismo:

(A) “Hoje, sabe-se como os receptores cerebrais funcionam. Quem não entende isso, o nervosismo, a ansiedade, não pode combater o tabagismo [...] 'Respira fundo, conta até dez que passa – a vontade vem, mas depois passa'. Depois de quanto tempo? Isso é um
papo idiota”. (J. I., cardiologista. Folha de S. Paulo, 07 set. 2008).
(B) “Pelo que me falou, você fuma mais depois do almoço e depois do café. Então você precisa reduzir o café e evitar fumar após o almoço”. (Atendente do 0800 do Ministério da Saúde, respondendo a indagações de um suposto fumante. Idem).
(C) “Você não pode obrigar o fumante a parar de fumar. Como você não pode obrigar o prefeito a fazer o programa [de prevenção]”. (L. W. L., diretora do Cratod. Idem).
(D) “Considerar o fumante um sintoma de um problema social é desumanizar suas necessidades e direitos. Isso leva a uma cultura em que as pessoas implicam com as outras para obter mudanças”. (T. C., prof. da Universidade de Panw (Indiana-EUA). Idem).
(E) “A gente faz [campanha] educacional sempre. Eu mesmo, no Ministério da Saúde, proibi a propaganda, que era propaganda enganosa (...). Introduzimos as fotos nos maços de cigarro como advertência. E o fumo caiu no Brasil. Agora, precisa continuar as medidas”. (J. S., ex-ministro da Saúde. Idem).

QUESTÃO 04 - Leia o trecho da obra Memorial de Aires apresentado a seguir.

24 de agosto.
Qual! Não posso interromper o Memorial; aqui me tenho outra vez com a pena na mão. Em verdade, dá certo gosto deitar ao papel coisas que querem sair da cabeça, por via da memória ou da reflexão. Venhamos novamente à notação dos dias.
[...]
Se eu não tivesse os olhos adoentados dava-me a compor outro Eclesiastes, à moderna, posto nada deva haver moderno depois daquele livro. Já dizia ele que nada era novo debaixo do sol, e se o não era então, não o foi nem será nunca mais. Tudo é assim contraditório e vago também.

ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. São Paulo: Ática, 2007. p. 65-66.

Ao dizer em seu texto que “nada era novo debaixo do sol”, o autor emprega a

(A) reificação, para questionar a autoria dos textos da Bíblia.
(B) ambigüidade, para ilustrar a oposição de idéias presente no livro do Eclesiastes.
(C) intertextualidade, para comparar a produção de seu memorial a um livro da Bíblia.
(D) contradição, para mostrar a modernidade de sua obra em relação ao Eclesiastes.
(E) negação, para reafirmar a presença da novidade nos textos bíblicos e nos romances modernos.

QUESTÃO 05 - No ano de 1907, Machado de Assis inicia a produção do seu último romance, Memorial de Aires. Essa obra

(A) privilegia o gênero crônica por apresentar anedotas em sua estrutura composicional.
(B) é organizada segundo a estrutura clássica do gênero épico.
(C) inaugura o gênero novela por ter uma trama formada por vários conflitos.
(D) constitui um gênero primário por se aproximar do gênero conto moderno.
(E) integra os gêneros diário e carta como forma de composição da trama.

Leia o texto a seguir para responder às questões de 06 a 08.

O darwinismo da linguagem

            A teoria da evolução das espécies (1859), de Charles Darwin, influenciou o pensamento científico da época, com reflexos na lingüística. [...] A metáfora biológica, uma heresia para um século 20 mais atento aos aspectos sociais e culturais (numa palavra, “humanos”) da língua, hoje volta com força com os avanços da lingüística e das bio e neurociências. Se a lingüística do século 19 se ocupou da evolução histórica e a do 20, da organização estrutural da língua, há hoje a articulação de ambas as perspectivas para compreender a linguagem como fenômeno a um tempo cultural e biológico.
            Vários estudos nestas décadas correlacionam dados genéticos a culturais, especialmente a língua. Para o geneticista italiano Luigi Luca Cavalli-Sforza, a transmissão linguística faz parte da transmissão cultural. Segundo sua teoria da Eva Africana, se, analogamente ao genes, a língua se transmite de uma geração a outra (embora por meios diferentes), é possível que todas as línguas atuais descendam de uma língua falada na África há 200 mil anos. Segundo o biólogo britânico Richard Dawkins, fatos culturais (que ele chama “memes”) transmitem-se conforme a dinâmica da transmissão dos genes. Fatos lingüísticos e a própria língua seriam um caso particular de memes. [...]
            A linguagem altera a sociedade, que altera a linguagem. É por isso que a língua muda enquanto funciona (interage com o meio, com os falantes) e funciona enquanto muda. Se parasse de evoluir, cairia em desuso, pois não daria mais conta da mudança social.  Por outro lado, quando uma língua cai em desuso, deixa de evoluir e permanece fossilizada nos registros que deixou.
            O termo mutação linguística é um empréstimo tomado à biologia. Afinal, a inovação linguística ocorre segundo um princípio similar ao da mutação genética. Nos seres vivos, as moléculas de DNA produzem cópias de si mesmas. A falha nesse processo resulta numa cópia imperfeita da molécula original. Conforme o DNA prossegue se auto-replicando, essas falhas, ou mutações, vão se acumulando de modo que, após gerações, alterações significativas nos organismos já podem ser notadas.

BIZZOCCHI, Aldo. Língua portuguesa, São Paulo: Segmento, ano 3, n. 33, p. 56-58, jul. 2008. (Adaptado).

QUESTÃO 06 - O título do artigo “O darwinismo da linguagem” antecipa o entendimento de que

(A) tanto as espécies biológicas quanto as línguas podem ser compreendidas por suas evoluções.
(B) a genética da linguagem humana deve ser estudada fora da teoria biológica.
(C) o corpo humano e a linguagem são sistemas estruturados de forma estática.
(D) a linguagem e as espécies biológicas sofrem mutações dada a existência de uma genética comum.
(E) a língua se compara a um organismo vivo por se manter imutável diante do contato com outros seres.

QUESTÃO 07 - Pela leitura do texto, depreende-se a idéia de que a

(A) genética, assim como a lingüística, despreza o estudo da neurociência na compreensão da anatomia e fisiologia das línguas.
(B) genética e a lingüística classificam-se como disciplinas científicas responsáveis pelo desenvolvimento da linguagem em seu aspecto social.
(C) teoria darwinista fundamentada na genética representa, nos estudos da linguagem, uma subversão de seus aspectos biológicos.
(D) lingüística e a genética se aproximam na concepção da linguagem como um fenômeno de natureza cultural e biológica.
(E) metáfora biológica exclui de seus estudos as mutações semânticas que provocam o distanciamento linguístico entre os falantes.

QUESTÃO 08 - O penúltimo parágrafo do texto pode ser ilustrado por meio da seguinte afirmação:

(A) com o fim da escravidão, a palavra você, derivada de vossa mercê, passou a ser usada no Brasil.
(B) como resultado das adaptações a novos usos, a forma a gente passou a ser usada como pronome pessoal.
(C) a mudança da palavra treição para traição confirma a casualidade e a desconexão das mutações linguísticas.
(D) o uso da palavra largato no lugar de lagarto descarta a explicação dos princípios da mutação linguística.
(E) em português, a palavra mouse, derivada de rato em inglês, é a única forma de se referir a um dispositivo do computador.

Leia a tira para responder às questões 09 e 10.

QUINO. Mafalda. Tradução Andréa S. M. da Silva. São Paulo: Martins Fontes, 1990. p. 26-27.

QUESTÃO 09 - O uso das aspas duplas no terceiro quadro da tira indica que o locutor

(A) desconhece a voz do sujeito que escreveu a afirmação que é notícia do jornal.
(B) enfatiza a necessidade de paz mundial diante da agressividade das brincadeiras infantis.
(C) ironiza a diferença entre as fantasias infantis e o desarmamento nuclear.
(D) expressa seu pensamento enquanto faz a leitura da notícia de jornal.
(E) demarca uma outra voz que não a sua para produzir um efeito de credibilidade.

QUESTÃO 10 - A fisionomia da personagem no último quadro permite a compreensão de que

(A) as crianças superam os adultos quando se trata de criar fantasia.
(B) o imaginário infantil assegura o sucesso das grandes decisões mundiais.
(C) o mundo adulto é tão fantasioso quanto a imaginação infantil.
(D) as crianças propõem soluções para os conflitos do mundo adulto em suas fantasias.
(E) o universo infantil é tão artificial quanto a guerra inventada pelos adultos.

LITERATURA

QUESTÃO 11 - Leia o fragmento do poema “A morte de Tapir”, do livro Melhores poemas, de Olavo Bilac.

Que Tapir penetrou o seio da floresta.
Era de vê-lo assim, com o vulto enorme ao peso
Dos anos acurvado, o olhar faiscando aceso,
Firme o passo apesar da extrema idade, e forte.
Ninguém, como ele, em face, altivo e hercúleo, a morte
Tantas vezes fitou... Ninguém, como ele, o braço
Erguendo, a lança aguda atirava no espaço.
[...]
Quanta vez do inimigo o embate rechaçando
Por si só, foi seu peito uma muralha erguida,
Em que vinha bater e quebrar-se vencida
De uma tribo contrária a onda medonha e bruta!

BILAC, Olavo. Melhores poemas. Seleção Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 2003. p. 21-22.

Nesse poema, o parnasiano Bilac segue a tendência romântica da tematização do índio. O indígena bilaquiano aproxima-se daquele do Romantismo

(A) pela caracterização superficial.
(B) pelo comportamento rude.
(C) pela dimensão cotidiana.
(D) pelo aspecto heróico.
(E) pelo temperamento passional.

QUESTÃO 12 - Observe o quadro “Abaporu” (1928) de Tarsila do Amaral, reproduzido na contracapa do livro Tarsila, de Maria Adelaide Amaral. 
Na peça Tarsila, de Maria Adelaide Amaral, a protagonista presenteia Oswald por seu aniversário com o quadro “Abaporu”. Nessa ocasião, Mário de Andrade, diante da obra, refere-se a sua plasticidade, caracterizada por

(A) elementos nacionais que marcam uma perspectiva artística.
(B) figuras naturalistas que estabelecem um efeito de realidade.
(C) desenhos infantis que resgatam elementos da cultura popular.
(D) linhas simétricas que rompem com a tradição do Modernismo.
(E) formas proporcionais que marcam o equilíbrio da paisagem.

QUESTÃO 13 - Leia os fragmentos dos livros de Marina Colasanti e Maria Adelaide Amaral.

Como nós, pensa agora Marta, emendando o fio no exato ponto em que o havia partido, como nós. E vê-se, como se num filme, deitada na cama ao lado do marido, os dois dormindo alheios um do outro num sono que podia durar horas ou anos, dependendo apenas da maneira de contar o tempo.E dizer que começamos como libélulas, segue Marta. Tínhamos brilho, alguma transparência. Caçadores delicados, assim fomos no princípio. Chegamos a voar, a voar nos dias, na superfície dos dias feito as libélulas voam sobre a superfície dos lagos. Como íamos saber que aquilo era apenas o princípio? Só percebemos depois que acabou. E aí pareceu tão curto.

COLASANTI, Marina. É a alma, não é?. O leopardo é um animal delicado. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 9.

OSWALD – Um sujeito quantos anos mais novo que você? Vinte?
TARSILA – (Segura) Vinte e um!
OSWALD – Vamos lá, Trolyr... eu sou um homem muito mais interessante do que ele...  com a vantagem que você conhece melhor...
TARSILA – Acho que prefiro o risco do desconhecido.

AMARAL, M. Adelaide. Tarsila. São Paulo: Globo, 2004. p. 71.

Os contextos a que esses fragmentos pertencem delineiam perfis femininos – a personagem Marta, do conto “É a alma, não é?”, de Marina Colasanti, e a protagonista Tarsila, da peça teatral homônima, de Maria Adelaide Amaral. Assim, a voz de Marta e de Tarsila, respectivamente,

(A) constata a solidão no casamento; demonstra a visão inovadora dos valores sociais.
(B) manifesta o desejo de mudança; relaciona os conflitos do casamento aos valores profissionais.
(C) associa a crise conjugal aos fatos sociais; denuncia o preconceito ao amor na velhice.
(D) amplia o apelo erótico na vida conjugal; questiona a base social da identidade feminina.
(E) atrela a vida conjugal aos avanços femininos; expressa a superação de conflitos do passado.

QUESTÃO 14 - A confissão e o memorial são gêneros textuais praticados de modo artístico em A confissão, de Flávio Carneiro, e em Memorial de Aires, de Machado de Assis. Estão presentes em cada obra, respectivamente,

(A) a divulgação de ações censuráveis pela polícia e as recriações de memórias passionais.
(B) a inconsciência de crimes praticados e a construção de apontamentos imparciais.
(C) a anotação da vida recente e a ficcionalização de situações factuais.
(D) o reconhecimento de fatos verídicos e a confirmação de eventos pessoais.
(E) o relato de atos cometidos e as anotações de quadros comportamentais.

QUESTÃO 15 - Leia os fragmentos da peça Tarsila, de Maria Adelaide Amaral.

TARSILA – Eu também fiquei pobre, Mário. Como você deve saber, estou trabalhando na Pinacoteca.
MÁRIO – O que é a sua pobreza comparada com a minha, Tarsila? Você ainda tem a fazenda...
TARSILA – Sabe Deus quando poderei resgatar a hipoteca! A única coisa que eu tenho realmente é a minha arte, Mário...
[...]
OSWALD – Sabe que até as taças de cristal de minha mãe tive que empenhar? (Sacode a cabeça e bebe um gole) Eu fui amigo de Gleizes, De Chirico, Léger, Picasso, Cocteau,
Satie. Satie era parecido comigo, o humor dele fustigava a mediocridade e a burrice. [...]
TARSILA – Eu gostaria de poder ajudar você, mas só tenho a minha arte... escolha o quadro que quiser, Oswaldo...

AMARAL, M. Adelaide. Tarsila. São Paulo: Globo, 2004. p. 62 e 83.

Nos excertos, um evento de alcance coletivo é apresentado a partir de histórias particulares. Neles, a situação vivenciada pelas personagens relaciona-se com o seguinte acontecimento de ampla repercussão:

(A) a marcha da Coluna Prestes, em 1924.
(B) a eclosão da Revolução Liberal, em 1930.
(C) a queda da bolsa de Nova Iorque, em 1929.
(D) a realização da Semana de Arte Moderna, em 1922.
(E) a fundação do Partido Comunista Brasileiro, em 1922.

QUESTÃO 16 - Leia os textos “Inania verba”, de Olavo Bilac, e “Soneto do essencial”, de Afonso Felix de Sousa.

Inania verba

Ah! quem há de exprimir, alma impotente e escrava,
O que a boca não diz, o que a mão não escreve?
– Ardes, sangras, pregada à tua cruz, e, em breve,
Olhas, desfeito em lodo, o que te deslumbrava...

O Pensamento ferve, e é um turbilhão de lava:
A Forma, fria e espessa, é um sepulcro de neve...
E a Palavra pesada abafa a Idéia leve,
Que, perfume e clarão, refulgia e voava.

Quem o molde achará para a expressão de tudo?
Ai! quem há de dizer as ânsias infinitas
Do sonho? e o céu que foge à mão que se levanta?

E a ira muda? e o asco mudo? e o desespero mudo?
E as palavras de fé que nunca foram ditas?
E as confissões de amor que morrem na garganta?!

BILAC, Olavo. Melhores poemas. Seleção Marisa Lajolo. São Paulo: Global, 2003. p. 81.

Vocabulário:
Inania verba: palavras vazias

Soneto do essencial

A vida, a que não tens e tanto buscas,
terás, se te entregares à poesia;
se andares entre as pedras, as mais bruscas,
da escarpa a que te leva a rebeldia;

se deres mais ao sonho, com que ofuscas
as luzes da razão e o próprio dia,
o coração que pulsa, se o rebuscas,
no eterno... Ou pulsa um deus que em ti havia?

Que pobre o teu sentir, se não te salvas
perdendo-te de vez nas terras alvas
que chamam da mais alta das estrelas.

Se a tanto te ajudar o engenho e arte,
ao impossível possas elevar-te
subindo em emoções, mas por vivê-las.

SOUSA, Afonso Felix de. Nova antologia poética. Goiânia: Cegraf/UFG, 1991. p. 25.

Esses sonetos têm como tema a própria poesia, entretanto abordam aspectos diferentes do fazer poético. Respectivamente, o soneto de Bilac e o de Afonso Felix propõem

(A) o servilismo do poeta em relação à métrica; o abandono do poeta à inspiração.
(B) a existência de uma forma perfeita; a pobreza do sentimento expresso em poesia.
(C) o limite da palavra como meio de expressão; a poesia como possibilidade de uma vida autêntica.
(D) a indignação do poeta com a frieza formal; a dificuldade de uma existência consagrada à arte.
(E) a superioridade do sentimento em relação à palavra; a valorização da vida em detrimento da poesia.

QUESTÃO 17 - Leia o fragmento do romance Memorial de Aires.

Estou só, totalmente só. Os rumores de fora, carros, bestas, gentes, campainhas e assobios, nada disso vive para mim. Quando muito o meu relógio de parede, batendo as horas, parece falar alguma coisa, – mas fala tardo, pouco e fúnebre. Eu mesmo, relendo estas últimas linhas, pareço-me um coveiro.

ASSIS, Machado de. Memorial de Aires. São Paulo: Editora Ática, 2007. p. 81.

Esse contexto de velhice fatalista é detalhadamente descrito na narrativa, porém, uma atitude significativa do Conselheiro Aires torna positiva tal fase da vida, ao

(A) enamorar-se novamente quando corteja a jovem viúva Noronha.
(B) empenhar-se na escrita de um diário com suas impressões cotidianas.
(C) preocupar-se com questões sociais pertinentes à família imperial.
(D) dirigir-se ao interior do Rio de Janeiro para rever os amigos.
(E) interessar-se por questões políticas da Corte Portuguesa.

QUESTÃO 18 - O leopardo é um animal delicado, de Marina Colasanti, é uma coletânea de contos. Com relação aos aspectos temáticos, esses contos, predominantemente,

(A) investem as personagens de caráter elevado, imprimindo sentido épico às narrativas.
(B) adotam uma perspectiva do feminino, revelando a mulher alheia às mudanças.
(C) exploram os fatos nacionais, evidenciando as adversidades dos contextos sociais.
(D) incluem os acontecimentos triviais, atribuindo valores morais às histórias.
(E) apresentam uma variação de temas, enfocando as complexidades humanas.

QUESTÃO 19 - A obra A confissão, de Flávio Carneiro, está estruturada sob as formas de romance confessional e de suspense, cujas marcas estilísticas são, respectivamente,

(A) construção do verossímil e economia das descrições.
(B) rememoração dos fatos e previsibilidade do desfecho.
(C) disposição em diálogos e explanação de motivos.
(D) narração das experiências e elucidação de enigma.
(E) relativização do tempo e distanciamento do leitor.

QUESTÃO 20 - Leia o excerto do poema “A moça de Goiatuba”, do livro Nova antologia poética, de Afonso Felix de Sousa.

Mal rompeu o dia – a moça
foi levar café com leite
para o filho do patrão.
Sentada à beira da cama,
como fez sempre, esperava,
como fez sempre, que o moço
lhe reclamasse mais pão.
Mas o moço não queria
nem pão nem café com leite.
Queria – e com que paixão
dentro dos olhos! – queria-lhe
os peitinhos em botão.
[...]
Daí o moço pediu-lhe
que ela tirasse o vestido,
depois a combinação,
depois deitasse na cama,
que era bem quente o colchão.
Mas a moça riu e disse
não estar com frio não,
que o vestido que vestia
tirar não podia não,
[...]
E quando foram chamá-lo,
o moço tinha dormido
e não acordou mais não.

SOUSA, Afonso Felix de. Nova antologia poética. Goiânia: Cegraf/UFG, 1991. p. 78-79.

Nesse poema, filiado ao gênero lírico, é possível encontrar elementos do gênero narrativo. Entre esses elementos, destaca-se a presença de

(A) diálogos que exprimem conflitos.
(B) personagens que vivem a história.
(C) voz central que expressa sentimentos.
(D) linguagem que explora a sonoridade.
(E) versos que aproveitam o popular.

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