UFBA
– 2002 – Prova de Redação
QUESTÃO
DE REDAÇÃO
INSTRUÇÕES:
• Responda
à questão com caneta de tinta azul, de forma clara e legível.
• Caso
utilize letra de imprensa, destaque as iniciais maiúsculas.
• O
rascunho deve ser feito no local apropriado do Caderno de Questões.
• Na
Folha de Resposta, utilize apenas o espaço destinado à resposta.
• Será
anulada a Redação
− redigida
fora do tema;
− apresentada
em forma de verso;
− assinada
fora do cabeçalho da folha;
− escrita a lápis ou de forma ilegível.
Inspirando-se
nos trechos da antologia abaixo, escreva um texto, dentro de sua perspectiva
pessoal, tentando responder à pergunta:
BAHIA, BAHIA, QUE LUGAR É ESTE?
A BAHIA
é:
... o
berço do Brasil e o coração da brasilidade onde mora um povo alegre e rico em
hospitalidade.
A BAHIA
tem:
...um
patrimônio artístico–cultural, na capital, no interior e no litoral, que é uma
encantadora
linguagem
do melhor das belas artes brasileiras;
...um
universo religioso explícito, que contempla a unidade na diversidade, invocando
com muitos nomes um único Deus criador da vida e do ecossistema;
...uma
Capital cujo nome identifica o seu incontido desejo de ser um LUGAR–SALVADOR da
dignidade
humana e promotor da prosperidade e da paz, conforme o Princípio do Senhor do
Bom Fim.
Dom
Gílio Felício, p.120. - Bispo Auxiliar de Salvador
A Bahia
está mais para a época do descobrimento do que para o século 21. Infelizmente,
a gente não pode dizer que a Bahia já está inserida no século 21, porque
existem grandes bolsões na Bahia que ainda são feudais. Atrasos sociais e
econômicos que remontam à época das capitanias. Mas existe um lado positivo
dessa ligação com o passado: sua raiz cultural (que é expressão já gasta),
aliada às suas origens étnicas diversas, conseguiram amalgamar uma marca que é
muito forte pela sua diversidade e que remonta sempre ao passado. Acho isso
fantástico em termos culturais: por mais tradição que ela carregue, ela é uma
cultura dinâmica, que se transforma.
Lia
Robatto, p. 31. - Coordenadora pedagógica da Usina de Dança do projeto Axé
É um
pedacinho de todo lugar. Do ponto de vista cultural, a Bahia tem a sorte de ter
um favorecimento afro, indígena e europeu. Todos puderam “correr” aqui com uma
certa liberdade.
Diferentemente
de outros lugares, a cultura negra tem uma presença marcante aqui. Até pelo
número,
já que a população negra é bem maior. Mas, ao mesmo tempo em que se encontram
traços dessa cultura espalhada por toda a cidade, também há toda uma população
vivendo ainda como escrava. As periferias são aldeias largadas à própria sorte.
Então, a negra sorrindo vestida de turbante de acarajé, dessa Bahia que pode
ser vendida pela Bahiatursa, tira o turbante, volta para casa e encontra seu
filho fumando maconha, roubando. Sua filha, ainda adolescente, grávida. Talvez nós
cuidemos muito do que chamamos o legado cultural africano, mas esquecemos de
cuidar desse povo.
Joselito
Crispim, p. 6. Grupo Cultural Bagunçaço
Para
nós, mulheres, negras, trabalhadoras domésticas, a Bahia é o estado das
desigualdades sociais e raciais, da perseguição aos trabalhadores informais, da
repressão da polícia, dos grupos de extermínio. É o estado onde ou moramos na
casa do patrão ou partimos para a ocupação, no meio dos ratos e das muriçocas,
sem saneamento, escola nem saúde.
Creusa
Maria de Oliveira, p. 5. Presidente do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas
O que
acontece hoje é um processo de mercantilização e de virtualização cada vez mais
forte da
Bahia
(...) O que o baiano quer ? É comer McDonalds, não acarajé. É botar sandalinha
no pé? Não, é botar tênis Nike. Mas não interessa dizer isso, porque a imagem
que vigora é a imagem da Bahia negra, tradicional, da natureza, da mística.
Isso faz parte da própria construção da representação que nós temos, nossa
representação coletiva, que é muito parecida com nossa representação
individual.
Roberto
Albergaria, p. 51. Professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas -
UFBA
Falta o
discurso coerente da cidade, pois o discurso incoerente, fragmentado e
analiticamente
indigente
já existe. Os próprios intelectuais ainda buscam as variáveis adequadas para
escrever essa pedagogia do urbano que codifique e difunda, em termos didáticos
e de maneira simples, o
emaranhado
de situações e relações com que o mundo da cidade transforma o homem urbano em instrumento
de trabalho e não mais em sujeito. Entretanto, todos os dados estão
praticamente em nossas mãos, para tentar reverter a situação.
Milton
Santos, p.1. Geógrafo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da USP
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