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segunda-feira, 11 de setembro de 2017

TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2010 – 2º Semestre

TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2010 – 2º Semestre


REDAÇÃO

Uma reflexão sobre o mal-entendido

O jornalista, o cronista, o poeta, todos já trataram, à sua moda, do mal–entendido. Agora é a sua vez de participar dessa discussão, refletindo sobre o mal-entendido nas relações sociais.
Com o objetivo de contribuir para a sua reflexão, selecionamos alguns textos que abordam essa questão. Leia-os com atenção e procure confrontar sua percepção e experiência com o que dizem os textos.
Produza um texto dissertativo-argumentativo no qual você expresse de forma clara, coerente e bem fundamentada sua concepção de mal-entendido.
Recomenda-se que os textos escolhidos sirvam apenas de auxílio à reflexão e não sejam copiados. Serão valorizadas, portanto, a pertinência e a originalidade de seus argumentos.
Você deverá contextualizar o tema, discutir posições e manifestar seu posicionamento.
O seu texto deve apresentar um título sugestivo e ter cerca de 25 linhas.

Textos selecionados

A mecânica do mal-entendido

É um truque conhecido da dramaturgia, sobretudo a burlesca, o da conversa cruzada, na verdade um mal-entendido desdobrável em que uma pessoa diz uma coisa e seu interlocutor, com ingenuidade ou malícia, entende outra, mas ambos seguem adiante assim mesmo, impávidos e desentendidos. O diálogo se sustenta quase indefinidamente porque há uma simetria artificial no desencontro das mensagens. Do espichamento da tensão assim gerada, e do caráter reiterativo e portanto antecipável das piadas, tira a comédia de erros aquela graça que a caracteriza e que tem numerosos apreciadores.
A mecânica do riso provocada pela conversa cruzada não é das mais sutis, o que se comprova vendo programas de humor popular [...] . O que normalmente ninguém leva em conta é o quanto de conversa cruzada existe em qualquer comunicação. Porque é claro que toda troca de mensagens entre pessoas tem sempre uma dose de mal-entendido. Esta pode ser gigantesca ou mínima; inexistente, jamais, porque sua inexistência significaria que a moldura de referências de quem fala é idêntica à de quem
ouve. Uma impossibilidade humana.

RODRIGUES, Sérgio. What língua is esta?: estrangeirismos, neologismos, lulismos & outros modismos. Rio de Janeiro:Ediouro, 2005, p 103.

Cão! Cão! Cão!

Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não via. Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado de um cão. O cão não muito grande mas bastante forte, de raça indefinida, saltitante e com um ar alegremente agressivo. Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efusão. "Quanto tempo!" O cão aproveitou as saudações, se embarafustou casa adentro e logo o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa. O dono da casa encompridou um pouco as orelhas, o amigo visitante fez um ar de que a coisa não era com ele. "Ora, veja você, a última vez que nos vimos foi..." "Não, foi depois, na..." "E você, casou também?" O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou pelo quarto e novo barulho de coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por parte do dono da casa, mas perfeita indiferença por parte do visitante. "Quem morreu definitivamente foi o tio... Você se lembra dele?" "Lembro, ora, era o que mais... não?" O cão saltou sobre um móvel, derrubou o abajur, logo trepou com as patas sujas no sofá (o tempo passando) e deixou lá as marcas digitais de sua animalidade. Os dois amigos, tensos, agora preferiam não tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se despediu, efusivo como chegara, e se foi. Se foi. Se foi. Mas ainda ia indo, quando o dono da casa perguntou: "Não vai levar o seu cão?" "Cão? Cão? Cão? Ah, não! Não é meu, não. Quando eu entrei, ele entrou naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. Não é seu, não?"

MORAL: QUANDO NOTAMOS CERTOS DEFEITOS NOS AMIGOS, DEVEMOS SEMPRE TER UMA CONVERSA ESCLARECEDORA.
FERNANDES, Millor. Fábulas fabulosas. Rio de Janeiro: Nórdica, 1991. p.102-3.

Mal-entendido pode ter gerado protestos e onda de violência na China
Folha Online - 09/07/2009 - 05h36

Um engano pode ter sido a origem dos confrontos registrados no noroeste da China nesta semana, que deixaram ao menos 156 mortos. Reportagem da agência de notícias Xinhua diz que dois jovens foram linchados em uma fábrica de brinquedos de Shaoguan (Cantão, sul do país) após um mal-entendido no episódio considerado o estopim dos protestos na região de Xinjiang.
Os dois jovens eram da etnia uigur, minoria muçulmana que ocupa grande parte das cidades de Xinjiang - uma vasta região que faz fronteira com o Paquistão, Afeganistão e outros países da Ásia Central. Eles morreram em 26 de junho, após serem espancados por chineses da etnia han, majoritária no país.
Pouco antes de os jovens funcionários da fábrica de brinquedos serem arrancados às pancadas dos quartos em que dormiam, uma jovem da etnia han havia entrado, por engano, no dormitório.
A jovem de 19 anos, chamada Huang Cuilian e trabalhadora da mesma fábrica, disse que tudo não passou de um engano. "Estava perdida, entrei no dormitório incorreto e gritei quando vi os uigures", disse.
Aparentemente, um dos uigures tentou brincar com ela e Huang fugiu correndo. "Depois me dei conta de que estavam apenas brincando", admitiu. Outros trabalhadores da etnia han que também dormiam na fábrica já haviam escutado os gritos da garota e saíam em busca dela. A briga que terminou com os dois jovens uigures mortos deixou ainda mais de 100 feridos. O governo abafou o episódio, o que irritou a comunidade uigur de Xinjiang.
As autoridades da província de Shaoguan disseram que as diferenças de cultura e idioma entre os locais e os uigures causam certo "isolamento" dessa comunidade, que conta com 800 trabalhadores na região.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u592771.shtml

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