TEMA DE REDAÇÃO – PUC-RIO – 2010 – 2º Semestre
Uma reflexão sobre o
mal-entendido
O jornalista, o cronista, o poeta, todos já trataram,
à sua moda, do mal–entendido. Agora é a sua vez de participar dessa discussão,
refletindo sobre o mal-entendido nas relações sociais.
Com o objetivo de contribuir para a sua reflexão,
selecionamos alguns textos que abordam essa questão. Leia-os com atenção e
procure confrontar sua percepção e experiência com o que dizem os textos.
Produza um texto dissertativo-argumentativo no qual
você expresse de forma clara, coerente e bem fundamentada sua concepção de
mal-entendido.
Recomenda-se que os textos escolhidos sirvam apenas
de auxílio à reflexão e não sejam copiados. Serão valorizadas, portanto, a
pertinência e a originalidade de seus argumentos.
Você deverá contextualizar o tema, discutir posições
e manifestar seu posicionamento.
O seu texto deve apresentar um título sugestivo e ter
cerca de 25 linhas.
Textos selecionados
A mecânica do mal-entendido
É um truque conhecido da dramaturgia, sobretudo a
burlesca, o da conversa cruzada, na verdade um mal-entendido desdobrável em que
uma pessoa diz uma coisa e seu interlocutor, com ingenuidade ou malícia,
entende outra, mas ambos seguem adiante assim mesmo, impávidos e desentendidos.
O diálogo se sustenta quase indefinidamente porque há uma simetria artificial
no desencontro das mensagens. Do espichamento da tensão assim gerada, e do
caráter reiterativo e portanto antecipável das piadas, tira a comédia de erros
aquela graça que a caracteriza e que tem numerosos apreciadores.
A mecânica do riso provocada pela conversa cruzada
não é das mais sutis, o que se comprova vendo programas de humor popular [...]
. O que normalmente ninguém leva em conta é o quanto de conversa cruzada existe
em qualquer comunicação. Porque é claro que toda troca de mensagens entre
pessoas tem sempre uma dose de mal-entendido. Esta pode ser gigantesca ou
mínima; inexistente, jamais, porque sua inexistência significaria que a moldura
de referências de quem fala é idêntica à de quem
ouve. Uma impossibilidade humana.
RODRIGUES, Sérgio. What língua is esta?:
estrangeirismos, neologismos, lulismos & outros modismos. Rio de
Janeiro:Ediouro, 2005, p 103.
Cão! Cão! Cão!
Abriu a porta e viu o amigo que há tanto não via.
Estranhou apenas que ele, amigo, viesse acompanhado de um cão. O cão não muito
grande mas bastante forte, de raça indefinida, saltitante e com um ar alegremente
agressivo. Abriu a porta e cumprimentou o amigo, com toda efusão. "Quanto
tempo!" O cão aproveitou as saudações, se embarafustou casa adentro e logo
o barulho na cozinha demonstrava que ele tinha quebrado alguma coisa. O dono da
casa encompridou um pouco as orelhas, o amigo visitante fez um ar de que a
coisa não era com ele. "Ora, veja você, a última vez que nos vimos
foi..." "Não, foi depois, na..." "E você, casou
também?" O cão passou pela sala, o tempo passou pela conversa, o cão entrou
pelo quarto e novo barulho de coisa quebrada. Houve um sorriso amarelo por
parte do dono da casa, mas perfeita indiferença por parte do visitante.
"Quem morreu definitivamente foi o tio... Você se lembra dele?"
"Lembro, ora, era o que mais... não?" O cão saltou sobre um móvel,
derrubou o abajur, logo trepou com as patas sujas no sofá (o tempo passando) e
deixou lá as marcas digitais de sua animalidade. Os dois amigos, tensos, agora
preferiam não tomar conhecimento do dogue. E, por fim, o visitante se foi. Se
despediu, efusivo como chegara, e se foi. Se foi. Se foi. Mas ainda ia indo,
quando o dono da casa perguntou: "Não vai levar o seu cão?"
"Cão? Cão? Cão? Ah, não! Não é meu, não. Quando eu entrei, ele entrou
naturalmente comigo e eu pensei que fosse seu. Não é seu, não?"
MORAL: QUANDO NOTAMOS CERTOS DEFEITOS NOS AMIGOS, DEVEMOS
SEMPRE TER UMA CONVERSA ESCLARECEDORA.
FERNANDES, Millor. Fábulas fabulosas. Rio de
Janeiro: Nórdica, 1991. p.102-3.
Mal-entendido pode ter gerado protestos e onda de
violência na China
Folha Online - 09/07/2009 - 05h36
Um engano pode ter sido a origem dos confrontos
registrados no noroeste da China nesta semana, que deixaram ao menos 156
mortos. Reportagem da agência de notícias Xinhua diz que dois jovens foram linchados
em uma fábrica de brinquedos de Shaoguan (Cantão, sul do país) após um
mal-entendido no episódio considerado o estopim dos protestos na região de
Xinjiang.
Os dois jovens eram da etnia uigur, minoria muçulmana
que ocupa grande parte das cidades de Xinjiang - uma vasta região que faz
fronteira com o Paquistão, Afeganistão e outros países da Ásia Central. Eles morreram
em 26 de junho, após serem espancados por chineses da etnia han, majoritária no
país.
Pouco antes de os jovens funcionários da fábrica de
brinquedos serem arrancados às pancadas dos quartos em que dormiam, uma jovem
da etnia han havia entrado, por engano, no dormitório.
A jovem de 19 anos, chamada Huang Cuilian e
trabalhadora da mesma fábrica, disse que tudo não passou de um engano.
"Estava perdida, entrei no dormitório incorreto e gritei quando vi os
uigures", disse.
Aparentemente, um dos uigures tentou brincar com ela
e Huang fugiu correndo. "Depois me dei conta de que estavam apenas brincando",
admitiu. Outros trabalhadores da etnia han que também dormiam na fábrica já
haviam escutado os gritos da garota e saíam em busca dela. A briga que terminou
com os dois jovens uigures mortos deixou ainda mais de 100 feridos. O governo abafou
o episódio, o que irritou a comunidade uigur de Xinjiang.
As autoridades da província de Shaoguan disseram que
as diferenças de cultura e idioma entre os locais e os uigures causam certo
"isolamento" dessa comunidade, que conta com 800 trabalhadores na
região.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u592771.shtml
Conheça as apostilas de gramática do blog Veredas da Língua. Clique em uma das imagens abaixo e saiba como adquiri-las.
ATENÇÃO: Além das apostilas, o aluno recebe também, GRATUITAMENTE, o programa em Powerpoint: 500 TEMAS DE REDAÇÃO
|
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário